31.12.10

Qual o contrário de chave de ouro?



Seja qual for, foi certamente com isso que o governo Lula se encerrou nesta sexta-feira: com a recusa em extraditar o terrorista italiano Cesare Battisti, acusado de matar quatro pessoas em seu país e por lá condenado à prisão perpétua. Dessa forma, consagra-se a tendência do governo em privilegiar pessoas pela sua ideologia, não por seus méritos. Por outro lado, comprova-se que a democracia brasileira passou no teste, 25 anos depois de sua volta (espera-se) definitiva. Quem resistiu a oito anos de governo Lula (que, apesar dos avanços econômicos e sociais, cometeu muitos erros em nome de um pensamento morto há décadas), pode muito bem resistir a quatro anos de governo Dilma, que começa neste sábado.

Feliz 2011, pra todos nós.

23.12.10

De cérebros e caracteres


  • Filme: A Rede Social (The Social Network, Estados Unidos, 2010)
  • Direção: David Fincher
  • Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Max Minghella, John Getz, Rashida Jones, Rooney Mara

As primeiras cenas de A Rede Social são bem representativas de como andamos tão frenéticos dentro de nossas cabeças, de tantas informações adquiridas em pouco tempo de vida sem ter o escopo necessário para ordená-las: uma conversa entre o protagonista e sua namorada, em que ele não para de falar um só instante sobre os mais variados assuntos da maneira mais aleatória possível, é a mais perfeita alegoria da juventude dos dias de hoje. A namorada fica cheia disso, termina o namoro e ele decide se vingar esculhambando-a em seu blog. Depois disso, decide criar um site para comparar a beleza das estudantes universitárias. A rede entope e cai em plena madrugada. O jovem gênio informático se torna uma revelação e é convidado por outros estudantes para uma parceria, a criação de algo novo na Internet. Tá, eu sei, esse parágrafo é meio confuso. Mas é assim mesmo que a coisa se desenvolve no filme, com uma rapidez digna de processador de última geração. E o espectador entende perfeitamente, desde que preste atenção. Mas a questão não é bem essa.

O filme conta a história da criação do Facebook segundo o roteiro baseado no livro Bilionários por Acaso, de Ben Mezrich (adaptação de Aaron Sorkin). O livro é conhecido por pintar um retrato nada lisonjeiro da criação do que é, atualmente, o maior portal de relacionamento da Internet mundial, com mais de meio milhão de usuários espalhados por todo o planeta, e que fez de seu criador e acionista majoritário, Mark Zuckerberg, o mais jovem bilionário do mundo. O filme mostra que várias pessoas, às vezes, se abdicam de valores morais para conquistarem o que querem, mesmo se vendo forçadas a fazer isso. Cabe ao espectador ver o filme e julgar por si.

17.12.10

Cara de pau sem limites (ou "Como contrariar Tiririca com espantosa facilidade")



Como sabemos, está acontecendo a diplomação dos eleitos no pleito de outubro último. O que nos dá a oportunidade de conferir o quanto nós, os eleitores, andamos um tanto desleixados (para dizer o mínimo) quando o assunto é escolher nossos representantes. E a lei, pelo visto, não anda ajudando muito.

Se a Lei da Ficha Limpa barrou vários políticos de conduta duvidosa, também não conseguiu fazer o mesmo com vários outros de comportamento comprovadamente ilícito. No Rio, Anthony Garotinho (PR-RJ) teve sua eleição para deputado federal confirmada pelo TSE, apesar das acusações contra ele. Em São Paulo, o também deputado Paulo Maluf (PP-SP), este reeleito, teve a cara de pau de dizer que a Justiça "funciona bem" ao ser diplomado, condição confirmada pelo próprio TSE depois que o TJ-SP derrubou a liminar que enquadrava o ex-governador e ex-prefeito na Lei da Ficha Limpa.

Ah, o eleito Tiririca (PR-SP) também foi diplomado. Ele afirmou querer seguir carreira na política, mas não soube dizer com clareza o que fará no cargo. Uma coisa é certa: os que tomarão posse em 2011 terão um belo reajuste salarial, recentemente aprovado por eles. Ou seja, contrariando o palhaço-deputado, sempre pode piorar.

7.12.10

Cada um tem os heróis que merece



O caso recente do site WikiLeaks, que vazou informações sigilosas sobre diversos governos e empresas ao redor do planeta, é bem significativo quando percebemos que há gente que, sabe-se lá o porquê, precisa porque precisa de heróis. Afinal, além de muita gente ignorar o teor de muito do conteúdo desses vazamentos (só filtrando o que lhe interessa), já se sabia (ou ao menos desconfiava) da grande parte das informações ali contidas, principalmente em relação ao governo dos Estados Unidos. Também não é novidade o quase apelo de governos árabes por uma intervenção norte-americana ao Irã, tampouco as preocupações com as relações iranianas com países latino-americanos.

A prisão do criador do WikiLeaks, Julian Assange, foi anunciada hoje em Londres. O ex-hacker australiano é acusado de crimes sexuais por promotores suecos. Tais acusações me parecem oportunistas e um tanto infundadas, mas serão julgadas pelas autoridades competentes. O problema é o quase messianismo que se formou em torno do seu nome nessas últimas semanas. Se tais acusações forem comprovadas, não se sabe o que irá acontecer.

25.11.10

É chegada a hora de a lei partir para o ataque



Desde o último final de semana, a Região Metropolitana do Rio vem sofrendo com ataques do crime organizado. Bandidos metralharam cabines policiais; incendiaram ônibus, caminhões e vans; estão impondo um clima de terror à região. Dizem que é uma consequência da implantação das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora, nos morros cariocas onde havia tráfico de drogas. O esquema de segurança do governo de Sérgio Cabral Filho vem sendo considerado um sucesso - talvez esse seja a única ação efetiva implantada por um governo fluminense no tocante à segurança dos cidadãos nos últimos 30 anos, pelo menos - e foi prometido ser colocado em prática em âmbito nacional, pela campanha da presidente eleita Dilma Rousseff.

Há muito tempo imagino que as UPPs seriam um começo para a diminuição dos níveis de violência que aterrorizam cariocas e fluminenses. Mas, pelo visto, tem um pequeno defeito: parece que o governo do estado e a secretaria de Segurança pacificaram as favelas sem antes planejar o que deveria fazer para segurar o asfalto. Ou seja: os bandidos saíram dos morros e, sem a fonte de renda que o tráfico de drogas (leia-se, o que é financiado pelos consumidores de substâncias ilícitas) representava para eles, decidiram apavorar os cidadãos das ruas. O resultado é isso que estamos vendo: pânico, caos, a sensação de insegurança reinante, isso sem falar na boataria generalizada que aumenta ainda mais o desespero.

Ainda há tempo de consertar, claro. As ações terroristas dos traficantes cariocas devem ser combatidas com o rigor que a situação exige. A decisão acertada de suspender as folgas de policiais até que a situação esteja resolvida é apenas um entre os inúmeros passos que terão que ser dados para que a cidade não fique mais à mercê da bandidagem. Pode demorar o tempo que for, mas o fato é que, do jeito que está, não pode mais continuar. Já que a marginalidade quer impor um regime de terror, é a hora da lei dar sua resposta e prevalecer, acima de tudo.

14.11.10

E o crime não compensou, desta vez



A Fórmula-1 sempre foi acusada de ser injusta com os leais - os dois primeiros dos sete títulos conquistados pelo alemão Michael Schumacher (em 1994 e 1995) não me deixam mentir. Mas, desta vez, outro piloto alemão deixou a sensação de que, sim, existe justiça no esporte. Sebastian Vettel, da equipe Red Bull, tornou-se o mais jovem campeão mundial dos 60 anos da categoria (aos 23 anos) ao vencer o Grande Prêmio dos Emirados Árabes, em Abu Dhabi, e superar o espanhol Fernando Alonso, da Ferrari, que ainda reclamou dos pilotos da Renault (equipe pela qual ganhou seus dois Mundiais) que não o deixaram passar...

A sensação de justiça se deu por causa do jogo sujo da Ferrari, que obrigou o brasileiro Felipe Massa a ceder a primeira posição ao colega de equipe no GP da Alemanha, apenas para que o espanhol continuasse com chances de título. Alonso cresceu no campeonato, depois do indecoroso jogo de equipe, que não foi seguido pela Red Bull. Os donos da equipe austríaca declararam que preferiam perder um campeonato honestamente a ganhá-lo de maneira pouco lisonjeira (basta lembrar que outro piloto seu, o australiano Mark Webber, também lutava pelo caneco).

O título de 2010 conquistado por Vettel demonstra que a honestidade deve estar acima de tudo, não só no esporte, mas também na vida.

10.11.10

A pipa do vovô não sobe mais?



Já faz algum tempo que o SBT anda meio perdido, entre mudanças repentinas na programação e programas de gosto duvidoso. A autodenominada "TV mais feliz do Brasil" não é a mesma da época em que chegava a incomodar a Globo na audiência (a tal "liderança absoluta do segundo lugar", tão em voga nos anos 80 do século passado), tendo perdido há tempos o posto de segunda maior emissora do país para a Record. Mas quando pensávamos que o fundo do poço tinha sido alcançado, eis que Silvio Santos e companhia aprontam mais uma das suas e cavam mais um pouquinho, com a informação de que um empréstimo milionário ao Banco Panamericano, pertencente ao Grupo Silvio Santos, estava em curso via Fundo Garantidor de Créditos. Diante desse fato, é só ligá-lo a outros ocorridos no mês passado.

Durante o segundo turno das eleições presidenciais, uma reportagem do SBT reduziu uma agressão de militantes petistas à caravana do candidato tucano José Serra a uma mera bolinha de papel. Na mesma época, uma afiliada da emissora no Nordeste marcou um debate entre os candidatos à Presidência no segundo turno. Inicialmente, caso houvesse desistência de um dos candidatos, haveria uma entrevista com o restante. Dilma Rousseff desistiu do debate e, ao invés de entrevistar José Serra, a emissora cancelou o programa...

Bem, não é preciso dizer mais nada.

5.11.10

Não, nós não podemos


Fazia um bom tempo que não se falava dele por aqui - há cerca de um ano, pra ser mais exato. A última vez em que escrevi sobre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com maior profundidade foi quando ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz no ano passado, pouco mais de oito meses depois de assumir o governo. Mas agora ele está de volta por um motivo até previsível: a ampla derrota sofrida pelos democratas nas eleições estaduais norte-americanas, nesta semana. O Partido Democrata perdeu para o Republicano grande parte dos governos estaduais e a maioria na Câmara, mantendo uma ínfima maioria no Senado. Ou seja, mais dificuldades para o governo Obama à vista.

Não, a crise que a maior potência do planeta ora sofre não começou no governo Obama. E reverter tudo o que Bush fez nos últimos quatro anos de seu mandato não ocorre de uma hora para outra. Mas para alguém que prometeu mudanças com pulso firme, a decepção não poderia ser maior. Porém, isso era até esperado, levando-se em consideração que governar um país da importância que têm os Estados Unidos não requer passes de mágica. Só que Obama foi muito aquém do que se poderia imaginar, graças ao pouco pulso que vem demonstrando em questões importantes como a própria economia, a saúde e a segurança nacional, tendo que descumprir inúmeras promessas de campanha.

Bem, a conta está sendo paga. E as consequências podem vir daqui a dois anos, quando Obama tentar a reeleição: seus índices de popularidades são mais baixos que os do seu antecessor, e o presidente certamente terá dificuldades para se reeleger (a não ser que uma Sarah Palin da vida acabe sendo a escolhida pelos republicanos, o que acho pouco provável).

4.11.10

Dilma, flanelinha de Lula?



É cedo para afirmar se Dilma Rousseff tentará a reeleição em 2014. Mas as impressões iniciais pós-eleição são de que a presidente eleita está lá apenas para guardar o lugar para uma provável volta do atual presidente ao poder, assim como fez Eurico Gaspar Dutra, que fez seu governo (1946-1951) ser uma mera transição para a volta do ex-ditador Getúlio Vargas ao Palácio do Catete.

Dessa forma, seria uma espécie de oficialização definitiva do paternalismo na política brasileira, escancarada na própria campanha de Dilma. Algo inerente no pensamento sul-americano em geral - basta lembrar do caso da presidente argentina Cristina Kirchner, que estava lá apenas para guardar a vaga do marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, cujo recente falecimento acabou abrindo uma lacuna e colocando um ponto de interrogação no futuro da política nacional. Se Dilma confirmar essa tendência e não tentar a reeleição daqui a quatro anos, dando espaço a Lula como desconfio que irá acontecer, restará ao eleitorado impedir o paternalismo pelas urnas. Conhecendo a população brasileira (que geralmente vota com o bolso, ou com o estômago, ao invés de usar a cabeça) como conhecemos, porém, será difícil.

3.11.10

E 2012, como será?

Passadas as eleições de 2010, as atenções se voltam para o pleito municipal de 2012. Dependendo do desempenho de Dilma Rousseff no cargo de presidente da República, pode até ser que a oposição finalmente marque posição, de olho nas eleições presidenciais de 2014.

No Rio, certamente Eduardo Paes (PMDB) tentará a reeleição, escorado pelo apoio do governador Sérgio Cabral Filho. Minha previsão é de que, pela primeira vez, PT e PDT não lançarão candidatos próprios à prefeitura do Rio, decidindo por apoiar Paes (lembrando o que ocorreu em 2010, quando os dois partidos apoiaram a reeleição de Cabral) e frustrando as expectativas dos que seriam fortes candidatos, como o deputado federal petista Alessandro Molon e o estadual pedetista Wagner Montes. A oposição terá como candidatos mais fortes o deputado federal Otávio Leite (PSDB), ex-vice-prefeito que contará com o apoio de PPS (que lançará seu vice, o colega de bancada Stepan Nercessian), DEM (que chega a cogitar a candidatura de Indio da Costa, candidato à vice-presidência dois anos antes) e PV (graças ao apoio do ex-deputado federal Fernando Gabeira, que decide por um período sabático na política); e o também deputado Chico Alencar (PSOL), visto como o grande nome da esquerda nas eleições municipais cariocas, tendo como vice o deputado estadual Marcelo Freixo. Haverá certa indefinição entre a reeleição de Paes, que contará com enorme coligação, no primeiro turno e a realização de um segundo turno, contra Leite ou Alencar.

Em São Paulo, o nome da situação (já que Gilberto Kassab, reeleito em 2008, não poderá concorrer) será o do senador Aloysio Nunes (PSDB), que contará com o apoio do ex-prefeito e ex-governador José Serra (que poderá tentar o Senado em 2014, enfrentando o petista Eduardo Suplicy) e do governador Geraldo Alckmin, além de PMDB e DEM. O nome do PT (apoiado por partidos como PDT, PSB e PCdoB) poderá ser o da também senadora Marta Suplicy, que tentará voltar à prefeitura da maior cidade do país. Estes dois nomes polarizarão as eleições paulistanas, também com indefinição de eleição já no primeiro turno (no caso, do candidato tucano).

1.11.10

O que esperar do governo Dilma



A eleição de Dilma Rousseff para a presidência da República confirma o alto potencial de Lula para mobilizar as massas - algo que, por sinal, ele vem demonstrando há décadas. O atual presidente superou grande parte dos prognósticos que havia meses antes do pleito e conseguiu transferir grande parte dos votos que normalmente lhe são atribuídos para a sua candidata, como se o eleitorado desse ao atual presidente um terceiro mandato.

Agora, é esperar que Dilma cumpra o que prometeu nesses quatro anos de governo, mesmo porque apoio político a ela não faltará (nunca um presidente iniciou seu mandato tendo uma parte tão grande do Congresso Nacional a seu favor, o que lhe dará facilidade para aprovar leis ou mesmo emendas constitucionais). Mais do que nunca, a presidente eleita terá que demonstrar que tem forças suficientes para tomar suas próprias decisões, mesmo porque o PMDB do vice Michel Temer está à espreita (desde a saída de José Sarney da Presidência, há 20 anos, que o partido não estava tão perto da cadeira presidencial).

Em seu discurso, Dilma prometeu respeitar a democracia e as instituições nacionais. Todos nós, os que demos nossas opiniões nas urnas, favoráveis a ela ou não, estamos de olho.

30.10.10

Por que votarei em José Serra



Está chegando o segundo turno das eleições presidenciais e, para mim, está cada vez mais claro que é uma campanha nivelada por baixo. Isso também tinha acontecido em 2006, mas desta vez ficou além do suportável. Nenhum dos candidatos à Presidência apresentou propostas convincentes ao longo da campanha, e no primeiro turno optei por Marina Silva (PV) por falta de opção melhor. Como a candidata verde não foi para o segundo turno, pela primeira vez votarei em candidatos diferentes para o mesmo cargo executivo, nos dois turnos. Já havia deixado no ar que, em caso de segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), meu voto iria para o candidato tucano por uma questão de coerência: a maior experiência administrativa do ex-governador paulista seria uma garantia de que o governo seria conduzido de forma mais austera, ao passo de que a ex-ministra-chefe da Casa Civil não me convence como administradora nem há garantias de que não haverá radicalização no processo democrático nos próximos quatro anos.

Mas que ninguém afirme que coloco a mão no fogo pela oposição. Como eu disse, essa foi uma campanha de baixo nível, a pior nesse quesito desde 1989. Os candidatos perderam tempo demais com questões bobas, como religião e aborto, e deixaram de se aprofundar em assuntos mais relevantes para os interesses nacionais. Ganhe quem ganhar amanhã, de todo modo, o certo é que o próximo ocupante do Palácio do Planalto terá trabalho para governar, já que certamente será visto com ceticismo pela grande maioria da população brasileira, por mais paradoxal que isso possa parecer. Mas é como se estivéssemos dentro de um avião: temos que torcer para que o piloto esteja em boas condições de fazer a máquina voar.

29.10.10

A patrulha PC ataca novamente


Já faz algum tempo que o Brasil anda de braços dados com o chamado pensamento PC (politicamente correto). Em 2005, por exemplo, o governo Lula tentou aprovar uma intragável cartilha que dizia o que deveríamos evitar falar no cotidiano para que, digamos, não feríssemos sensibilidades alheias - ao mesmo tempo em que o próprio presidente da República parecia fazer questão de transgredir as regras do próprio governo. A ideia era tão esdrúxula que, felizmente, não foi para a frente. Agora, o Conselho Nacional de Educação quer proibir que as escolas públicas indiquem o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, por considerar seu conteúdo... racista.

O caso mostra como o mundo anda uma chatice só. Antes ninguém se importava - ou mesmo percebia - quando havia anedotas sobre minorias por aí. Agora, o não-me-toquismo impera geral (eu já tinha falado sobre esse assunto aqui) - e o que é pior, ainda sob os auspícios do governo. Sabemos que o preconceito é um mal que deve sempre ser combatido, mas tem gente que exagera - ou, no popular, viaja na maionese ao dar vez a velhas paranoias racialistas. O que se pensava a respeito de certos grupos em uma época era uma coisa e o que pensa hoje é outra inteiramente distinta, mas não se pode patrulhar determinada obra clássica por ter sido escrita (seja por Monteiro Lobato ou por um escritor qualquer da esquina) em uma era diferente. Senão, não teremos como pensar por nós mesmos. Mas parece que muitos não entendem isso, ou não querem que entendam.

28.10.10

E aí, Dona Cristina vai dar conta?


A morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner, mais do que um acontecimento infeliz para um país vizinho, abre uma interessante discussão: como será que a viúva e atual presidente Cristina Kirchner vai se virar sem a influência do marido, que mesmo fora do poder continuava dando as cartas?

Isso de certa forma lembra o que ocorria no estado do Rio, quando a governadora Rosinha Matheus (2003-2007) foi eleita graças ao nome do marido Anthony Garotinho (1999-2002), que renunciou ao cargo para concorrer à presidência da República. Como Garotinho não foi eleito presidente e Rosinha se elegeu governadora em 2002, o consorte ficou atuando nos bastidores durante os quatro anos de mandato da esposa. O mesmo pode ocorrer no Distrito Federal, caso Weslian Roriz (esposa de Joaquim Roriz) se eleja governadora este ano. Ou seja, a laranjice conjugal, com altas cargas de populismo barato, é rotineira por estas bandas sul-americanas - a única política eleita sem ajuda do esposo foi a ex-presidente chilena Michelle Bachelet.

Resta saber o que será da Argentina no futuro, já que Néstor Kirchner (que, quando presidente, tinha altos números de popularidade e abriu mão de uma reeleição certa para lançar a própria esposa como candidata a sua sucessão, em 2007) era visto como favorito para as eleições presidenciais de 2011. Tanto pode ocorrer um fortalecimento à presidente (conhecida por brigar com a imprensa local) de modo que ela não se mostre mais tão dependente do estilo do falecido marido, quanto a oposição pode lançar um nome qualquer que seja suficiente para ganhar a próxima eleição. De todo modo, o próximo ano promete ser, digamos, bem emocionante para os argentinos...

22.10.10

Campanha de agressões e exageros



Cada vez mais convenço-me que esta é uma campanha extrema, a mais cheia de demonstrações de baixo nível desde aquele guerra entre Collor e Lula em 1989. As repetidas trocas de acusações entre os candidatos começam a desembocar para a violência, como a demonstrada contra cada um deles nesta semana - principalmente contra José Serra, atingido por um rolo de fita crepe na cabeça (embora a bolinha de papel contra ele atirada quinze minutos antes tenha tido maior destaque). Muito embora eu ache um exagero Serra ter feito exames tomográficos depois, fica evidente que militantes petistas não sabem dialogar e passar por adversários (ou "inimigos") sem provocar.

No dia seguinte, Dilma Rousseff quase foi atingida por dois balões de borracha cheios d'água. Olha, pessoal, eu sei que época de eleição é cheia de nervosismo. Mas agora a situação está demais: é chuva de dossiês, aborto, privatização, legados de um governo e de outro. Agora, é a questão sobre se um rolo de fita crepe atingiu a cabeça de Serra a ponto de feri-lo que virou o assunto do momento destas eleições. Temos que ficar calmos, antes que algo pior acabe acontecendo até o final do mês, o que não duvido nada que aconteça.

20.10.10

Nada se cria, tudo se copia



Em evidência nestas eleições, a imprensa carece de um pouco de imaginação quando se trata de fazer críticas. Vejam o exemplo ao lado: a revista Veja, simpática a José Serra, recentemente fez uma capa expondo uma contradição de Dilma Rousseff. Uma semana depois, a concorrente Istoé, mais simpática a Dilma, fez sua capa no mesmo estilo, expondo uma contradição de Serra. Não bastasse o fato expor uma rixa - que parece bem clara - entre as imprensas governista e oposicionista, evidencia que a segunda capa foi paródia da primeira, sendo que esta plagiou a primeira página do Extra de 24 de setembro passado.

Nas eleições, como na vida, nada se cria, tudo se copia.

19.10.10

Guerra de titãs... desdentados

O segundo turno das eleições presidenciais, levando-se em consideração a campanha dos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), em que um tenta desconstruir (senão destruir) a candidatura do outro, faz lembrar as hostilidades da campanha entre Collor e Lula, em 1989. Vinte e um anos atrás, ao menos havia o pretexto de que era a primeira eleição presidencial direta depois de quase três décadas. Mas agora, a troca de farpas entre os dois finalistas já começa a beirar o ridículo.

Ignorando o princípio da laicidade do Estado brasileiro, os candidatos parecem apelar a Deus para se eleger presidente do Brasil. Parece uma competição de qual candidato consegue atrair mais fiéis das mais diferentes religiões. A questão do aborto, explorada mais do que deveria, é apenas uma das desculpas que os candidatos usam para ataques pessoais. Enquanto isso, questões importantes como desenvolvimento sustentável, direitos das minorias e o tamanho da influência estatal sobre a vida da população ficam de lado.

Mas tem mais. Como o previsto, esta eleição virou um duelo de legados políticos. Pouco importa que qual presidente teve mais importância para o país, Fernando Henrique ou Lula. Seus governos se equivalem, um complementa o outro. Não há diferenças: no curto e subestimado governo de Itamar Franco (1992-1995), recentemente eleito senador (PPS-MG), começaram a ser construídos os alicerces do país que conhecemos hoje. FHC (1995-2003) e Lula (desde 2003) completaram esse destino, cada um a sua maneira. Mas o Brasil é assim: cada um quer o seu e o resto que se dane.

15.10.10

Imagine se ela estivesse atrás...



Essa eleição presidencial brasileira anda bem estranha, para dizer o mínimo. Neste segundo turno, a candidata Dilma Rousseff (PT), primeira colocada no primeiro turno com quase metade dos votos válidos, anda atirando na candidatura de José Serra (PSDB) como se estivesse atrás nas pesquisas, quando todos os institutos indicam exatamente o contrário. Seu programa de TV vive comparando o governo Lula com o de FHC, afirmando que este foi melhor em todos os aspectos (notadamente o social) do que o do antecessor. Um desavisado que veja o programa de Dilma seria capaz de afirmar que a eleição do dia 31 se tratará da luta do Bem (ela própria) contra o Mal (os "outros") que ditará os destinos do país nos próximos quatro anos, não de uma disputa presidencial.

Não é difícil detectar os motivos da intempestiva e agressiva campanha da candidata petista neste segundo turno. Ela, provavelmente, estava levando a campanha no piloto automático no decorrer do mês passado, alentada pelos 30 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, pela crise que acometia a candidatura tucana e, principalmente, pela possibilidade de ser eleita já no primeiro turno - muito mais por causa da alta popularidade do presidente Lula do que por seus próprios méritos. O fato de Dilma ter tido menos da metade dos votos válidos para presidente no último dia 3 (devido, entre outros fatores, ao chamado "efeito Marina", visto que a candidata verde ganhou muitos votos de indecisos nos últimos momentos) a acordou para a dura realidade, e ainda fez renascer a candidatura de Serra, que estava para baixo nas semanas anteriores à primeira eleição. Aos poucos, o eleitorado parece abrir os olhos para o programa pouco convincente de Dilma, assim como para a sua "luladependência" nesta campanha - nada garante que será diferente caso ela seja eleita e tome posse no primeiro dia do ano que vem.

Esta é a sexta eleição presidencial pós-redemocratização. Das cinco anteriormente realizadas, três delas também foram decididas no segundo turno. Em todas elas (1989, 2002 e 2006), o primeiro colocado no primeiro turno (Collor na primeira e Lula nas demais) foi eleito presidente. A possibilidade de algo inédito acontecer neste ano existe, já que nota-se que Serra está em tendência de subida, ao mesmo tempo em que Dilma parece cair. Isso explica a agressividade petista (lembrando os velhos tempos em que o PT ainda era oposição) numa eleição em que antes navegava em velocidade de cruzeiro, rumo a uma consagradora vitória que parecia líquida e certa. Mas pode muito bem resultar num histórico naufrágio eleitoral.

14.10.10

Verdades inconvenientes


  • Filme: Tropa de Elite 2 (Brasil, 2010)
  • Direção: José Padilha
  • Elenco: Wagner Moura, Maria Ribeiro, Irandhir Santos, André Ramiro, Sandro Rocha, Milhem Cortaz, Tainá Müller, Emílio Orciollo Neto, Seu Jorge, Pedro van Held

A continuação de uma das maiores pedradas do cinema nacional consegue o que parecia impossível: ser superior ao seu antecessor, que já era um filmaço. Se o primeiro escancarava a ligação de policiais com o crime e a luta de um comandante para combater esse estado de coisas, o segundo vai ainda mais longe e joga tudo de uma vez numa turbina aérea.

Desta vez, o agora coronel Nascimento ocupa a subsecretaria de Segurança do estado e segue lutando contra o famigerado "sistema", que mantém uma aliança do que deveria ser a lei com a criminalidade. O problema é que ele demora a perceber que um novo estilo de organização criminal vinha crescendo na Zona Oeste da cidade e era visto como redentor por muitos - mas era tão prejudicial à segurança dos cidadãos quanto o por ela combatido. Quando Nascimento descobre (de uma maneira não muito correta, por sinal), tem que dar o máximo para que não tenha sido tarde demais...

Os méritos do filme residem, mais uma vez, em mostrar as entranhas da corrupção e da prevaricação de uma forma nunca antes vista numa produção cinematográfica brasileira. Está tudo ali: secretários que se aliam a "justiceiros" para se dar bem, governantes omissos ou mal intencionados, políticos populistas e policiais corruptos. Algo que vemos todos os dias na vida real. Só faltava cada um desses fatos estar presente numa obra de ficção, de maneira contundente. Agora, não falta mais.

9.10.10

E se a eleição presidencial brasileira seguisse o modelo americano? (Parte 2)

Para os leitores mais antigos deste blog: lembram daquele texto que especulava sobre como seriam as eleições presidenciais brasileiras se elas seguissem o modelo que é seguido nos Estados Unidos, ou seja, de maneira indireta? Acabei de fazer uma contagem dos votos que cada unidade federativa (os 26 estados e o Distrito Federal) levaria para cada candidato (assim como lá, a soma dos deputados federais que cada um tem mais os três senadores).

Dessa forma, a candidata Dilma Rousseff (PT) seria eleita, já que foi a mais votada nos estados de Alagoas (12 delegados), Amapá (11), Amazonas (11), Bahia (42), Ceará (25), Espírito Santo (13), Goiás (20), Maranhão (21), Minas Gerais (56), Pará (20), Paraíba (15), Pernambuco (28), Piauí (13), Rio de Janeiro (49), Rio Grande do Norte (11), Rio Grande do Sul (34), Sergipe (11) e Tocantins (11), totalizando 403 votos num hipotético Colégio Eleitoral brasileiro.

José Serra (PSDB) foi o mais votado nos estados do Acre (11), Mato Grosso (11), Mato Grosso do Sul (11), Paraná (33), Rondônia (11), Roraima (11), Santa Catarina (19) e São Paulo (73), obtendo 180 votos no total. Já Marina Silva (PV) foi a mais votada no Distrito Federal, conquistando 11 votos.

Mas a votação é direta e ainda dá tempo de o tucano virar. Pesquisa do Datafolha divulgada neste fim de semana dá oito pontos de vantagem para a petista, 48 a 41 (em votos válidos, Dilma tem 54% das intenções, contra 46% de Serra). Mas ainda tem muita água para passar debaixo da ponte.

8.10.10

Megalomaníaco, porém honesto


  • Filme: Nosso Lar (Brasil, 2010)
  • Direção: Wagner de Assis
  • Elenco: Renato Prieto, Fernando Alves Pinto, Rosane Mulholland, Inez Viana, Rodrigo dos Santos, Werner Schünemann, Clemente Viscaíno, Othon Bastos, Ana Rosa, Chica Xavier, Nicola Siri

A maior bilheteria do cinema nacional na temporada (mais de 3,5 milhões de espectadores nas salas de todo o país) e mais caro filme brasileiro de todos os tempos (custou mais de R$ 20 milhões, com apenas uma pequena parte de dinheiro público, arrecadando até o momento cerca de R$ 31,5 milhões) pode ser um espetáculo de megalomania, como a projeção deixa bem claro - mas pelo menos é honesto em sua intenção de levar às telas a obra psicografada por Chico Xavier. Colabora para isso a atuação do protagonista, experiente ator de peças teatrais de temática espírita.

A história do médico que sofre as consequências de uma vida de excessos e de falta de cuidado com ele próprio, tendo que prestar contas com sua consciência após sua morte, peca um pouco pela superficialidade do roteiro. Sente-se que o filme ficou reduzido demais, apesar de ser bem claro em sua intenção - ficou com cara de "a seguir, cenas do próximo capítulo" em várias passagens. Mas não há que se negar que o filme tem uma qualidade técnica impressionante, muito acima do nível presente do cinema nacional. Pelos lucros que a produção vem tendo, nota-se que o investimento valeu a pena.

6.10.10

Quem disse que mulher-fruta não dá voto?



No Distrito Federal, algo que parecia inimaginável aconteceu: Weslian Roriz (PSC), sem experiência política nenhuma e que só está lá para substituir o marido Joaquim Roriz (que desistiu de se candidatar por estar sendo julgado com base na Lei da Ficha Limpa), está no segundo turno na eleição para o governo distrital contra Agnelo Queiroz (PT). Mesmo tendo desempenhos desastrosos em dois debates televisivos, a neocandidata conseguiu 440.128 votos (31,5% dos votos válidos) - o petista teve 676.394 (48,41%).

Mesmo com a confusão causada pela urna eletrônica (que tinha a foto de Joaquim Roriz e apenas o seu sobrenome, pois ele desistiu quando o sistema já estava pronto), nada justifica o fato de Weslian estar no segundo turno. Mesmo porque dá a impressão de que está sacramentada a laranjização da política brasileira: o voto em um determinado candidato mesmo sabendo que este não passa de mero fantoche de outro mais conhecido. Fica a impressão de que o eleitorado aceita políticos sem personalidade em nome de um pensamento paternalista.

Pelo menos o fato dá margem ao já extenso anedotário político nacional. A Mulher Melão não conseguiu se eleger deputada estadual no Rio de Janeiro. A Mulher Pera não conseguiu a eleição para deputada federal por São Paulo. Mas a Mulher Laranja ainda tem chances de se eleger governadora do Distrito Federal...

5.10.10

Acredite: o futuro está no Rio



Apesar de novamente não ter votado nele, demonstro certa simpatia pela reeleição de Sérgio Cabral Filho como governador do estado do Rio de Janeiro. Isso porque ele parece ter mostrado a capacidade de governar o estado por suas próprias convicções, ao contrário do que ocorre no governo federal - ainda por cima, com um mandato que, de certa forma, demonstra mais eficiência que o comum, um alento para uma população que sofreu durante décadas com populismos desenfreados de figuras como Chagas Freitas, Brizola, Moreira, Garotinho, Rosinha...

Todavia, ainda tenho restrições quanto ao governador reeleito, como a subserviência ao presidente Lula. Tenho a certeza de que Cabral seria mais eficiente se tivesse uma voz mais ativa nas relações com o poder federal. Mas o fato dele ser do PMDB pode ser um ganho, por incrível que pareça: ainda que o governador demonstre apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff no segundo turno, os laços de amizade que Cabral mantém com o tucano José Serra acabam abrindo portas para o estado. Seja quem for eleito no dia 31, o Rio apenas terá a ganhar: as muitas oportunidades que o estado ganhará nos anos 2010, como as mais importantes competições esportivas e a revitalização de pontos estratégicos de suas cidades mais importantes, representarão uma grande oportunidade de o atual ocupante do Palácio Guanabara fazer história.

4.10.10

O grande duelo político brasileiro começa agora

O segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), pode ser entendido como um sinal de que parte do eleitorado brasileiro dá importância à experiência administrativa de cada candidato, enquanto outra parte está agradecida pelas conquistas sociais do governo Lula - tanto que deu ao atual governo grande parte do Congresso Nacional. Ou seja, Dilma certamente contará com a maioria caso eleita, enquanto Serra terá que negociar - se bem que, no caso do PMDB, isso não deverá ser muito difícil. A tendência, apesar da boa vantagem da candidata da situação, é de forte equilíbrio, visto que a candidatura de Marina Silva (PV) cresceu muito na reta final e, com isso, a candidata verde passa a ter seu apoio cobiçado pelos dois finalistas, pois ele pode ser decisivo.

Muitos estados corroboraram o atual governo, como Pernambuco (que reelegeu, com larga margem de votos, o governador Eduardo Campos, do PSB, com 82,84%, e ainda elegeu dois senadores governistas: Armando Monteiro, do PTB, e Humberto Costa, do PT, desbancando Marco Maciel, do DEM) e Bahia (o mesmo em relação a Jaques Wagner, do PT, que teve 63,83%, ajudando a eleger senadores Walter Pinheiro, também do PT, e Lídice da Mata, do PSB).

Mas os dois maiores colégios eleitorais do país reafirmaram suas opiniões, na contramão do governo federal. Em São Paulo, Geraldo Alckmin foi eleito governador pela segunda vez, com pouco mais da metade dos votos válidos (50,63%), recuperando-se de fracassos eleitorais recentes; além disso, o também tucano Aloysio Nunes surpreendeu gratamente na corrida pelo Senado, obtendo o maior número de votos, desbancando o então favorito Netinho de Paula, do PCdoB (a outra senadora eleita, de forma até esperada, é a petista Marta Suplicy; aliás, são prometidas fortes emoções no Senado Federal a partir do ano que vem, já que um dos colegas de Marta é seu ex-marido Eduardo Suplicy). Em Minas Gerais, graças a um crescimento avassalador, o governador Antônio Anastasia, também do PSDB, foi reeleito também no primeiro turno, com 62,72% (com forte apoio do correligionário Aécio Neves, eleito senador e que faz um nome forte para 2014, caso Dilma confirme o favoritismo na eleição presidencial; o outro senador eleito é o ex-presidente Itamar Franco, do PPS).

Além disso, vários outros estados elegeram governadores de oposição no primeiro turno, como Paraná (Beto Richa, do PSDB, com 52,44%, apesar de os senadores eleitos serem de partidos governistas: Gleisi Hoffmann, do PT, e Roberto Requião, do PMDB), Rio Grande do Norte (Rosalba Ciarlini, do DEM, com 52,46%; o estado reelegeu como senadores Garibaldi Alves Filho, do PMDB, e José Agripino, também do DEM) e Santa Catarina (o senador Raimundo Colombo, do DEM, foi eleito com 52,72%; outro estado em que a oposição fez barba, cabelo e bigode, elegendo os senadores Luiz Henrique da Silveira, do PMDB, e Paulo Bauer, do PSDB).

No estado do Rio, foi a vez da afirmação do governo. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), como era de se esperar, foi reeleito com folga no primeiro turno, com 66,08% dos votos válidos (batendo os 61% da vitória de Leonel Brizola em 1990), tornando-se o primeiro governador reeleito da história do estado (também tinha se tornado o primeiro governador fluminense a tentar a reeleição). Além disso, Lindberg Farias (PT), ex-prefeito de Nova Iguaçu, se elegeu senador, com outro governista (Marcelo Crivella, do PRB) sendo reeleito para o cargo, numa disputa empolgante com outro pró-Lula, Jorge Picciani (PMDB). O destaque negativo foi a pífia votação dada ao ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), evidenciando a má fase de seu partido no estado - o Democratas elegeu apenas dois deputados federais (Arolde de Oliveira e o presidente nacional do partido, Rodrigo Maia) e uma deputada estadual (Graça Pereira).

No Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) foi eleito com 54,35%; no Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) se consagrou com 82,30%. Ou seja: pela primeira vez, todos os estados das regiões Sul e Sudeste elegeram seus governadores no primeiro turno.

Nos próximos dias, mais comentários sobre as eleições de 2010.

2.10.10

Declaração de voto

Pois bem: não sou muito de expor minhas intimidades rede mundial de computadores afora, pois adoto um estilo discreto. Mas neste caso abrirei uma exceção, mesmo porque é preciso ser franco num momento decisivo como esse. É necessário haver quem defenda suas convicções, e ter o direito de fazer isso. Refiro-me às escolhas que farei na urna eletrônica, neste domingo. Uma oportunidade de exercer o dever democrático, que deveria ser no máximo um direito. De todo modo, apesar de o modelo lulista, alimentado por bolsas-qualquer-coisa e quejandos, praticamente ser consagrado nas urnas, aqui estão os votos que darei na eleição de 3 de outubro, seguidos pelos motivos:

  • Deputado estadual: Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB, 45678) - O deputado estadual e ex-vice-governador Luiz Paulo tem experiência no ramo de transportes (é defensor da transformação dos trens em metrô de superfície) e defende a diminuição da carga tributária. Além disso, é notório fiscalizador dos gastos do Poder Executivo do estado. Está em seu segundo mandato seguido e é atuante na Assembleia Legislativa.
  • Deputado federal: Otávio Leite (PSDB, 4555) - O ex-vice-prefeito do Rio é dos mais atuantes deputados fluminenses na Câmara. Também defende a redução da carga tributária, e quer que a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 resultem em benefícios para o turismo no Rio, melhorando a estrutura aeroportuária da cidade.
  • Senadores: Cesar Maia (DEM, 251) e Marcelo Cerqueira (PPS, 233) - Sim, o terceiro mandato de Maia como prefeito do Rio foi ruim, todos sabemos disso. Mesmo assim, vejo nele mais prós do que contras na hora de votar para senador. Creio que, se ele for eleito, defenderá mais o estado do que Crivella ou Lindberg certamente defenderão um eventual governo Dilma, por mais prejudicial que isso seja para os interesses fluminenses. Já o voto em Cerqueira é mais como um protesto, pois não gosto de anular votos e esta disputa para senador pelo Rio, convenhamos, é bem fraquinha.
  • Governador: Fernando Gabeira (PV, 43) - É certo que Sérgio Cabral Filho será reeleito já neste domingo. Mas sua exagerada subserviência ao presidente Lula, desde sempre, me faz ficar com um pé atrás com ele, por mais que tenha sido um bom governador, o melhor desde a fusão - se bem que isso não era tão difícil de acontecer, visto que entre seus antecessores estavam Brizola, Marcello Alencar e o casal Garotinho. Por isso, decidi votar em Gabeira, por simbolizar a ética na política e pelas propostas mais convincentes e realistas, por menos chances de segundo turno que haja nesta eleição.
  • Presidente: Marina Silva (PV, 43) - Na boa? Não ando aguentando mais essa pseudobipolaridade toda entre PT e PSDB. Nenhum dos programas de Dilma e Serra me convence! Eu já tinha vontade de votar em um candidato nanico qualquer (tipo Eymael ou Levy Fidélix) só pra aumentar um pouco a possibilidade de segundo turno - como eu disse, anular o voto nem pensar. Mas decidi pela candidata do Partido Verde - mesmo discordando de muitas coisas do que ela diz, como a ênfase no tema ecológico, só pra dar um exemplo - pra dar aquele impacto no processo eleitoral. Esquerda por esquerda, que pelo menos assuma a Presidência uma esquerda coerente, não radical e que pensa um pouquinho a mais que o normal.

1.10.10

2006: O medo venceu a razão... e a omissão

As eleições de 2006 poderiam ter começado a ser decididas em 2005, quando o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou um esquema de corrupção dentro do governo Lula. O chamado mensalão consistia em pagamento mensal a deputados para votar a favor dos interesses do governo. Vários integrantes do governo federal caíram (como o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, braço direito de Lula e muito cotado na época como seu sucessor), dissidentes do PT formaram um novo partido (o PSOL)... Apenas a oposição não parece ter aproveitado o embalo. O preço seria pago no ano seguinte.

Oito candidatos à Presidência entraram em campanha, entre eles o presidente Lula, que tentava a reeleição - o PT contava com o apoio do recém-fundado PRB (partido do vice José Alencar e pertencente à Igreja Universal) e do PCdoB (o único partido, além do próprio PT, a apoiar Lula em todas as eleições presidenciais). Seus principais adversários eram o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB/PFL), a senadora alagoana Heloísa Helena (do PSOL, que conseguiu com que o radical PSTU participasse de uma coligação pela primeira vez em sua história; além disso, contou com o apoio do PCB, o que fez com que houvesse pela única vez até hoje uma frente ultraesquerdista numa eleição presidencial) e o senador brasiliense Cristóvam Buarque (PDT).

Entre os nanicos, a curiosidade estava com a candidata do PRP, Ana Maria Rangel: o TSE aprovou sua candidatura, mas ela se lançou candidata... contra a vontade do próprio partido! Depois, houve acusações de parte a parte: o partido pediu a exclusão da candidatura e chegou a ameaçar expulsá-la do partido, enquanto a candidata acusou o presidente do partido de pedir dinheiro a ela para que se candidatasse. Seu programa entrou no ar quando a campanha estava quase no meio e limitou-se a apresentar a candidata e sua família. Mesmo assim, Ana Maria Rangel conseguiu um surpreendente quinto lugar, com 126.404 votos (0,13%), mais do que José Maria Eymael (PSDC) e Luciano Bivar (PSL) juntos. O outro candidato, Rui Costa Pimenta (PCO), foi punido pelo TSE com a anulação de todos os votos a ele dados por irregularidades na prestação de contas na eleição anterior.

À medida em que a campanha avançava, ficava claro que o carisma de Lula era mais forte do que quaisquer escândalos que atingissem seu governo. Não importa o tamanho do problema: o presidente sempre tem um eleitorado cativo. Talvez seja creditado à ausência de Lula dos debates da TV e ao escândalo dos dossiês antitucanos o fato de ter havido segundo turno: o presidente conseguiu na primeira votação 46.662.365 votos (48,61% dos votos válidos), enquanto Alckmin teve 39.968.369 votos (41,64%). Heloísa Helena teve 6.575.393 (6,85%), e Buarque, 2.538.844 (2,64%).

O segundo turno foi, digamos, desigual: um governo que impôs o medo de que os adversários privatizassem as estatais caso eleitos, com uma oposição que parecia envergonhada com as conquistas do mandato anterior, aceitava o jogo da situação e praticamente entregou a eleição de mão beijada ao governo. O ápice foi a imagem de Alckmin quase fantasiado de garoto-propaganda do Banco do Brasil. Claro que não poderia mesmo ter dado certo: o ex-governador de São Paulo conseguiu menos votos no segundo turno que no primeiro (37.543.178, 39,17% dos votos válidos). Lula acabou reeleito com 58.295.042 votos (60,83%).

No estado do Rio, onze candidatos a governador tentaram o Palácio Guanabara. Desgastada com um governo muito criticado (talvez o pior desde a fusão de 1975), Rosinha Matheus decidiu não tentar a reeleição. Assim, lembrando a eleição presidencial de 1989, todos os candidatos se declararam oposição - inclusive o do próprio partido (PMDB), o senador Sérgio Cabral Filho (apoiado por PP, PTB e várias pequenas agremiações). Entre os principais adversários do favorito candidato, estavam o senador Marcelo Crivella (PRB), o veterano político (e rejeitado pelo próprio partido, que decidiu apoiar Garotinho, em 1998) Vladimir Palmeira (PT), o deputado federal (e então crítico de Lula) Eduardo Paes (PSDB), o futuro ministro (e presidente nacional de seu partido na época) Carlos Lupi (PDT) e o jornalista Milton Temer (PSOL, que repetiu a coligação nacional com PSTU e PCB). Mas uma surpresa cresceu na reta final e chegou ao segundo turno: a juíza e deputada federal Denise Frossard (PPS, apoiada por PFL e PV), cotada para se candidatar a prefeita do Rio dois anos antes e rejeitada pelo seu partido na época, o PSDB, que preferiu apoiar a reeleição de Cesar Maia (PFL). Frossard acabou em segundo lugar com 1.965.003 votos (23,8%), enquanto Cabral foi o primeiro colocado com 3.422.528 votos (41,4%). No Senado, Francisco Dornelles (PP), da coligação de Cabral, foi eleito, derrotando a favorita Jandira Feghali (PCdoB).

Começou a campanha do segundo turno e também a formação daquilo que conhecemos na política fluminense nos dias de hoje. Primeiramente, Cabral (que até então estava neutro na eleição presidencial) declarou seu apoio a Lula no segundo turno. Depois, o tucano Eduardo Paes, contrariando recomendação do seu partido na época (que apoiou Frossard), declarou apoio a Cabral, dizendo recusar-se a apoiar uma candidata apoiada pelo PFL, partido de seu ex-aliado e desafeto Cesar Maia. Isso tudo, combinado a uma declaração infeliz da candidata Frossard, de que votaria nulo na eleição presidencial depois de ver Alckmin (apoiado informalmente pelo PPS) recebendo o apoio de Anthony Garotinho e família, foi fatal para as pretensões da juíza. No segundo turno, Cabral foi eleito com 5.129.064 votos (68%), enquanto Frossard conseguiu 2.413.546 (32%).

30.9.10

2002: A esperança venceu o medo. Ou não?

As eleições de 2002, as primeiras do novo milênio, eram mais uma prova de fogo para a democracia brasileira. Afinal, havia a certeza de um novo presidente, já que Fernando Henrique Cardoso terminava seu segundo mandato. No menor número de candidatos à Presidência desde a redemocratização, houve seis postulantes ao Palácio do Planalto.

Pela quarta vez seguida, Luiz Inácio Lula da Silva se candidatou pelo PT, contando com o apoio de PL (que lançou o vice, o senador mineiro José Alencar), PCdoB, PMN e PCB. Seu principal adversário era o candidato do governo, o ex-ministro da Saúde, José Serra (PSDB), que contava com o apoio do PMDB (que lançou a vice, Rita Camata). Outros candidatos com chances eram o ex-governador cearense Ciro Gomes (PPS), candidato pela segunda vez consecutiva (coligado com PDT e PTB), e o ex-governador fluminense Anthony Garotinho (PSB), que nem completou seu primeiro e único mandato no Palácio Guanabara, indo diretamente para uma candidatura à presidência da República (com o apoio do PTC e do extinto PGT). Os demais candidatos eram da extrema-esquerda: José Maria de Almeida (PSTU) e o estreante Rui Costa Pimenta (PCO).

Olha que poderia haver mais candidatos: a então governadora maranhense Roseana Sarney (PFL), filha do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), era muito cotada para uma candidatura presidencial no início do 2002. Estava até empatada com Lula nas pesquisas pré-eleitorais. Mas uma operação da Polícia Federal no Maranhão acusou esquemas de corrupção ligando o governo estadual a empresas do marido da governadora. Com isso, Roseana desistiu da candidatura e, como todo o clã Sarney, passou a apoiar Lula - ao contrário das cúpulas pefelista e peemedebista, que apoiaram Serra, ainda que informalmente por parte do atual DEM. Além disso, outro ex-eterno candidato à Presidência, Enéas Carneiro (PRONA), também desistiu para tentar ser deputado federal por São Paulo (tinha se candidatado à prefeitura da capital paulista em 2000). Não só foi eleito como se tornou o deputado mais votado da história do país, praticamente enchendo a Câmara de pronistas - entre eles, Vanderlei Assis, também eleito deputado federal por São Paulo, apesar de nunca ter saído do Rio de Janeiro. Era o primeiro grande fenômeno bizarro do eleitorado paulista para a Câmara dos Deputados - "honrosamente" sucedido por Clodovil Hernandez (PTC) em 2006 e, provavelmente, por Tiririca (PR, coincidentemente resultado da fusão do próprio PRONA com o PL) este ano.

De fato, Lula estava em estado de graça naquela eleição. Mesmo assim, houve segundo turno: o candidato do PT obteve 39.455.233 votos (46,44% dos votos válidos), e o do PSDB, 19.705.455 (23,19%). Surpreendentemente, o discurso messiânico de Garotinho o levou à terceira colocação, com 15.180.097 votos (17,86%), enquanto Ciro, que ocupou-se de ser metralhadora giratória durante a campanha, conseguiu 10.170.882 votos (11,97%). Os demais candidatos, juntos, obtiveram 0,51% dos votos válidos.

Bem que o PSDB tentou no segundo turno, mas o fato é que poucos estavam satisfeitos com o governo FHC naquele ano. Nem o discurso do medo adiantou muito, mesmo porque o sentimento naquele ano (inclusive de minha parte) era de que deveria haver mudanças. Além disso, Lula parecia ter um discurso de austeridade política, amadurecido pelas seguidas derrotas eleitorais. Portanto, a eleição era apenas questão de tempo. E ela veio, graças a 52.793.364 votos (61,27%), a maior votação dada a um candidato a presidente na história do Brasil. José Serra teve 33.370.739 votos (38,72%).

No estado do Rio, o chamado "voto evangélico" estava em seu auge. E os candidatos que seguiam essa tendência se aproveitaram bastante disso. Garotinho, ex-governador, foi o candidato à Presidência mais votado no estado no primeiro turno, derrotando o fenômeno Lula. Entre os nove candidatos ao governo do estado, havia nomes experientes como a então governadora em exercício Benedita da Silva (PT, apoiada por PCdoB, PMN e PCB) e o eterno prefeito niteroiense Jorge Roberto Silveira (PDT, apoiado por PPS, PTB e outros partidos menores), além de uma ex-secretária de Cesar Maia, Solange Amaral (PFL, apoiada por PSDB e PMDB). Mas foi uma candidata inimaginável a vedete das eleições fluminenses: a ex-primeira-dama do estado, Rosinha Matheus, cuja única experiência política havia sido a Secretaria Estadual de Ação Social. Com o mesmo discurso populista de sempre, a candidata do PSB (apoiada pelos mesmos PTC e PGT, além de PPB, PSC e PRP, e dos extintos PSD e PST) conseguiu se eleger no primeiro turno, com 4.101.423 votos (51,3%) - apenas Leonel Brizola tinha conseguido isso, em 1990, e provavelmente Sérgio Cabral Filho o fará neste ano. Benedita acabou em segundo, com 1.954.379 votos (24,4%).

Seguindo a tendência do voto evangélico no auge naquele ano, o cantor e pastor da Igreja Universal, Marcelo Crivella (PL), sobrinho de Edir Macedo e então um antilulista (tanto que se recusou a participar da mesma coligação que apoiava Lula e apoiaria Benedita; hoje, é um dos mais ardorosos defensores do governo Lula, sendo o "candidato do coração" do presidente em qualquer eleição), acabou em segundo lugar na corrida para o Senado (o atual governador Sérgio Cabral, do PMDB, foi o outro eleito). A maior surpresa, contudo, ficou na terceira colocação: o pastor Manoel Ferreira (PPB, atual PP), chefe da Assembleia de Deus e apoiado por Rosinha, e que estava pouco cotado, inclusive pelas pesquisas de opinião. Ficou na frente de antes favoritos como o então senador Artur da Távola (PSDB), que tentava a reeleição; o vereador Edson Santos (PT), que se elegeria deputado federal quatro anos mais tarde e se tornaria ministro do governo Lula; e o ex-governador Leonel Brizola (PDT), sexto colocado na última eleição de sua vida - morreria dois anos mais tarde.

28.9.10

1998: Minha estreia presidencial

Dois anos depois do primeiro pleito de que participei (as eleições municipais de 1996), votei pela primeira vez em uma eleição nacional. Daquele momento em diante, participaria das eleições para presidente, governador, senador e deputados. Estava animado até certo ponto pela possibilidade de votar pela primeira vez para presidente da República, mas um tanto decepcionado pelos acontecimentos do ano anterior: a compra de votos pelo então governo para a aprovação da emenda que possibilitava aos membros do Executivo concorrerem à reeleição, que entraria em vigor naquele ano de 1998. Outra modificação era relativa às datas das votações: até então, o primeiro turno era sempre em 3 de outubro e o segundo, em 15 de novembro. Daquela eleição em diante, a primeira votação seria sempre no primeiro domingo, e a segunda, no último domingo de outubro.

Até aí, nada demais. Mas as eleições presidenciais, à medida que a campanha avançava, não me empolgaram nem um pouco. Como o esperado, o então presidente Fernando Henrique Cardoso tentou a reeleição juntamente com o vice Marco Maciel, numa coligação de seis partidos (PSDB, PFL, PPB, PTB, PSL e PSD). Sua mais forte concorrente era considerada a "chapa dos sonhos" da esquerda brasileira, composta por Luiz Inácio Lula da Silva (candidato pela terceira vez) e seu vice, o ex-governador gaúcho e fluminense Leonel Brizola, que havia sido candidato duas vezes ao Planalto. A coligação era, digamos, a nata do esquerdismo nacional na época (PT, PDT, PSB, PCdoB e PCB). Correndo por fora, o ex-governador cearense Ciro Gomes (ex-ministro da Fazenda), tendo como vice Roberto Freire, na coligação liderada pelo PPS e formada pelos hoje extintos PL e PAN.

Além destes três, mais nove candidatos tentaram a Presidência. Entre eles, Enéas Carneiro (PRONA), candidato pela terceira vez, assim como Lula. O ano marcou a primeira candidatura dos hoje xarás veteranos José Maria de Almeida (PSTU) e José Maria Eymael (PSDC), além da única candidatura de Alfredo Sirkis (PV) à Presidência - acabou em sexto com pouco mais de 210 mil votos, mas não ficou de mãos vazias: um vereador carioca foi eleito deputado e, como Sirkis era suplente, tomou posse em seu lugar. Além disso, uma dos candidatos era mulher, pela segunda vez: Thereza Ruiz (PTN), que ocupou grande parte de seu tempo no horário político a criticar o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf.

Eu não estava satisfeito com o governo FHC, e temia votar em Lula por causa de Brizola e seus governos no estado do Rio, cujas consequências se fazem sentir até hoje (aliás, muitos acreditam até hoje que a simples presença de Brizola na chapa foi determinante para a derrota de Lula em 1998). Por outro lado, o programa de Ciro Gomes me era o mais convincente, o que me fez lhe dar o voto. Mas Fernando Henrique Cardoso acabou reeleito no primeiro turno (assim como havia feito em 1994), com 35.936.540 votos (53,06% dos votos válidos), com Lula em segundo (21.475.218 votos, 31,71%) e Ciro em terceiro (7.426.190 votos, 10,97%). FHC foi o vitorioso no Distrito Federal e em quase todos os estados, exceto Ceará (onde Ciro chegou na frente), Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro (onde Lula obteve mais votos).

A vitória de Lula no Rio se deve, em grande parte, à aliança nacional forçada pelo diretório nacional petista, chefiado entre outros por José Dirceu - inicialmente, o candidato do PT ao governo do estado seria Vladimir Palmeira (que o seria, sem a mesma força política de então, oito anos mais tarde), mas a direção nacional praticamente obrigou o partido a se coligar com o PDT de Brizola, que lançou pela segunda vez seguida a candidatura de Anthony Garotinho ao governo. Os petistas indicaram a senadora Benedita da Silva como vice de Garotinho, e o PSB indicou o ex-prefeito carioca e então vereador Roberto Saturnino Braga como candidato da coligação (que também contava com PCdoB e PCB, ou seja, os mesmos cinco partidos da chapa nacional) ao Senado.

O então governador, o tucano Marcello Alencar, estava politicamente desgastado, num governo cheio de acusações de corrupção, e decidiu não tentar a reeleição, indicando seu vice, o colega de partido Luiz Paulo Corrêa da Rocha (apoiado por PMDB, PL e PSD); o candidato da coligação a senador era o ex-governador Moreira Franco (PMDB). Mas o candidato mais disposto a derrotar o favorito Garotinho era o ex-prefeito carioca Cesar Maia, que tinha encerrado o mandato elegendo seu sucessor, Luiz Paulo Conde, e tinha altas taxas de aprovação na capital fluminense. Ele era o candidato do então PFL (atual DEM), apoiado por PPB (atual PP) - que lançou o veterano político Roberto Campos como candidato ao Senado - e PTB. Treze candidatos se prontificaram a chegar ao Palácio Guanabara, recorde até hoje no estado do Rio após a fusão.

Como o esperado, Garotinho e Cesar chegaram ao segundo turno com certa facilidade: o candidato do PDT obteve 3.083.441 votos (46,9%), e o do PFL conseguiu 2.256.815 (34,3%), entre eles o meu. Também votei em Roberto Campos para senador, mas o eleito foi Saturnino Braga - que, no meio do mandato, se envolveria em uma polêmica com um ex-partido seu, o PDT (pelo qual foi eleito prefeito em 1985): foi acusado por um suplente, Carlos Lupi (atual ministro do Trabalho), de não ter cumprido um acordo na época da eleição, de dar o cargo a ele na metade do mandato. Saturnino admitiu a existência de tal acordo, mas se recusou a cumpri-lo, dizendo-se arrependido. Em 2006, foi impedido pelo PT (ao qual já estava filiado depois de sair do PSB) de tentar a reeleição - o partido preferiu apoiar Jandira Feghali, do PCdoB.

Voltemos a 1998. De pouco adiantou a fama de eficiente do candidato Cesar Maia: os votos do interior e a força pedetista ainda existente na época falaram mais alto. Garotinho foi eleito com 4.259.344 votos (58%), enquanto Cesar ficou com 3.087.117 (42%). Era o canto do cisne do PDT no estado do Rio e o início da Era Garotinho, tão nefasta quanto (ou ainda mais que) a Era Brizola foi (e, de certa forma, continua sendo) para a população fluminense.

25.9.10

Uma eleição real. Em todos os sentidos



As eleições de 1994 se realizaram e eu quase participei - fiquei por um ano, pois tinha 15 na época, e a idade mínima para um eleitor brasileiro é de 16. Ainda que sem poder votar, mais uma vez acompanhei o processo eleitoral. Pela primeira vez, os eleitores poderiam eleger presidente e governador no mesmo ano. Além disso, cada um poderia votar também em dois candidatos ao Senado, num deputado federal e num deputado estadual.

Dois anos depois da queda de Collor, o governo Itamar Franco lançou, através do ministro da Economia, um plano para conter a inflação e revitalizar a economia brasileira. Esse plano previa a troca da moeda (a quinta em oito anos), mas desta vez essa unidade monetária se mostraria mais forte e resistente. O plano deu certo e esse ministro se prontificou a candidatar-se à presidência da República. Ele era Fernando Henrique Cardoso, candidato pelo PSDB.

Ao contrário do exagero de 22 candidatos das eleições de 1989, em 1994 apenas oito candidatos se prontificaram a disputar a cadeira presidencial. Antes da campanha de fato começar, o favorito era o segundo colocado da eleição anterior, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas o sucesso do Plano Real, alavancado por uma onda de euforia que varria o país na época (o Brasil tinha sido campeão mundial de futebol depois de 24 anos, além de ser campeão mundial feminino de basquete), ajudou a campanha de Cardoso, eleito no primeiro turno com 34.364.961 votos (54,27% dos votos válidos), com Lula em segundo, com 17.122.127 votos (27,04%). Uma surpresa apareceu na terceira posição: Enéas Carneiro, do PRONA, conseguiu 4.671.457 votos (7,38%), na frente de nomes conhecidos da política brasileira, como os ex-governadores de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB); do Rio, Leonel Brizola (PDT); e de Santa Catarina, Esperidião Amin (PPR, atual PP). Os demais candidatos eram Carlos Antônio Gomes (PRN, atual PTC) e Hernâni Fortuna (PSC).

A consagração tucana na eleição presidencial se refletiu em grande parte da eleição para governador nos estados: vários importantes elegeram governadores do PSDB (como Mário Covas em São Paulo, Eduardo Azeredo em Minas, Marcello Alencar no Rio e Tasso Jereissati no Ceará) ou aliados (como o baiano Paulo Souto e a maranhense Roseana Sarney, pelo PFL). No Rio, oito candidatos disputaram o governo do estado, como o ator Milton Gonçalves, candidato pelo PMDB, e o general Newton Cruz, do extinto PSD. O segundo turno foi entre o candidato da situação, Anthony Garotinho (PDT), ex-prefeito de Campos dos Goytacazes, e o apoiado pelo governo federal, Marcello Alencar (PSDB), ex-prefeito do Rio e primeiro colocado no primeiro turno com 37,2% dos votos válidos (Garotinho teve 30,4%). No segundo turno, Alencar obteve 3.537.866 votos (56,1%), e Garotinho recebeu 2.771.074 votos (43,9%). No estado, os senadores eleitos foram Artur da Távola (PSDB) e Benedita da Silva (PT).

24.9.10

A corda, Brasil!



Sabe o interminável (e intragável) Joaquim Roriz, candidato do PSC ao governo do Distrito Federal? Ele estava sendo julgado com base na Lei da Ficha Limpa. Da aprovação dessa lei (lançada menos de um ano da eleição) depende a candidatura dele e de mais um monte de gente (como o candidato a deputado federal pelo PR-RJ, Anthony Garotinho, só pra citar um exemplo clássico). Pois bem: o julgamento no STF está empatado em 5 a 5. Diante de uma derrota (nem que seja "apenas" moral), Roriz decidiu inovar (ou não): anunciou sua renúncia à candidatura ao governo do DF e nomeou sua mulher, Weslian Roriz (também filiada ao PSC) no seu lugar...

Pelo visto, Lula e o próprio Garotinho (este, oito anos atrás) fizeram escola ao colocarem alguém que certamente nada entende de política e que só ganhará votos por ser do sexo feminino. Não que eu seja avesso a mulheres se candidatando, pelo contrário. Acho que Marina Silva, por exemplo, é uma candidata à Presidência muito mais digna que Dilma Rousseff. É que isso tudo me dá uma sensação de laranjice explícita, de cheque em branco, de governar pelo celular... Chamem do que quiserem.

Olha, eu não gostaria de estar na pele de um eleitor brasiliense qualquer. São oito candidatos ao governo do DF, que teve entre seus antecessores o próprio Roriz e José Roberto Arruda, que dispensa comentários. O concorrente mais próximo de Roriz (que liderava as pesquisas) é Agnelo Queiroz, do PT - conhecido por ser um dos piores ministros dos Esportes de todos os tempos. Os outros seis são completos desconhecidos. Não dá nem pra tapar o nariz diante da urna eletrônica, pelo visto. Desse jeito, só pedindo uma corda para se enforcar.

A tentação totalitária lulopetista



À medida em que mais denúncias de corrupção no governo vêm à tona pelos jornais e pela TV, cresce a certeza de que o que o PT menos preza é a liberdade de imprensa. Minto: só preza essa liberdade quando é para denunciar os outros, como houve no caso que levou ao impeachment de Collor, em 1992, ou nas notícias sobre a compra de votos que levou à aprovação da emenda da reeleição durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 1997.

Desde 2005, a imprensa cumpre o papel que é dado ao denunciar os inúmeros casos de corrupção do governo Lula (mensalão do José Dirceu, quebra de sigilo pelo Palocci, dólares na cueca de um assessor do Genoino, mais quebras de sigilo bancário, favorecimento pela Erenice Guerra...) e os governistas, aqueles que simpatizavam com a imprensa quando das denúncias contra governos anteriores, gritam "Golpismo!" da mesma forma que gritavam "Fora Sarney!", "Fora Collor!" e "Fora FHC!". O curioso é dois desses ex-presidentes, hoje, são aliados do atual governo.

O próprio presidente Lula contribui para esse estado de coisas, escorado pelos índices recordes de popularidade. Para usar uma frase famosa dele, nunca antes na história deste país um presidente foi tão intrometido no que se refere a eleger seu sucessor. Em 1994, Fernando Henrique teve o apoio do então presidente Itamar Franco, que teve papel discreto na sucessão - o mesmo se aplica ao próprio FHC na eleição de 2002, em que o candidato governista era o mesmo José Serra de hoje. Não se sabe se Serra teria mais chances de ser eleito há oito anos se Cardoso tivesse se empenhado mais na campanha, mas não podemos negar que o então presidente teve o papel digno que Lula não está tendo hoje.

21.9.10

Recordações de 1989



Em 1984, a população brasileira sonhava em voltar a eleger diretamente o presidente da República. Naquele ano, o movimento das Diretas Já tomou de assalto o país, com manifestações gigantescas nas maiores cidades brasileiras. Mas a emenda não passou, e o eleitorado teve que esperar cinco anos para fazer valer sua vontade. De certa forma, a espera valeu a pena.

As eleições presidenciais de 1989 foram as primeiras pós-redemocratização, e as primeiras depois de 29 anos - em 1960, Jânio Quadros foi eleito com votação massiva para renunciar ao cargo depois de apenas sete meses na Presidência. As eleições de 1989 registraram um recorde de candidatos, imbatível até hoje - nada menos do que 22 postulantes ao cargo, onde havia desde nomes conhecidos como Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS) e Ulysses Guimarães (PMDB); passando por famosos alternativos como Guilherme Afif Domingos (PL), Roberto Freire (PCB), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD) e Fernando Gabeira (PV); até bizarrices como José Alcides Marronzinho (PSP), Enéas Carneiro (PRONA) e Lívia Maria de Abreu (PN) - por sinal, a primeira mulher a concorrer à presidência da República. Nenhum dos candidatos - nem mesmo o do PMDB - queria atrelar seu nome ao do então presidente José Sarney (que assumiu o cargo em 1985, como vice de Tancredo Neves, impossibilitado de tomar posse por problemas de saúde; foi efetivado com a morte do eleito), com a popularidade em baixa. Mas um ex-governador de Alagoas, que tinha a alcunha de "caçador de marajás", e um deputado federal, conhecido líder sindical, foram as grandes estrelas daquelas eleições.

Fernando Collor (PRN) começou de forma discreta, com poucas intenções de voto - nos primeiros meses de campanha, Brizola, Covas e Ulysses eram vistos como favoritos. Mas a ostensiva campanha, focada no combate à corrupção quando governador alagoano (daí o apelido), somada ao apoio (declarado ou não) de gente graúda no mundo político e midiático, fez Collor subir nas pesquisas. Ao mesmo tempo, a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhava simpatia de grande parte da classe artística, fazendo que ela também crescesse no conceito popular. Mesmo assim, teve que lutar com Brizola para ir ao segundo turno - tanto que teve menos de 500 mil votos a mais que o pedetista no primeiro turno, realizado no dia 15 de novembro, dia que marcou o centenário da Proclamação da República. Brizola teve 11.168.228 votos; Lula, 11.622.673. Já Collor se garantiu no segundo turno com tranquilidade, com 22.611.011 votos.

O segundo turno conflagrou uma das maiores efervescências políticas da história brasileira. Ressalte-se que, naquela época, o mundo vivia grandes transformações. Naquele mês de novembro, ruiu o Muro de Berlim, contribuindo para a queda do império soviético, que liderava o bloco da Europa Oriental. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, houve quem relacionasse a candidatura de Lula com algo decadente como o comunismo. Além disso, a polarização então existente considerava que a eleição era um confronto de racionais contra meros sonhadores. Ainda houve a questão dos ataques pessoais dos dois lados, sendo que o mais famoso foi o uso por Collor, em seu programa eleitoral, da ex-mulher de Lula, que o acusou de querer abortar uma filha do casal. Isso tudo, somado à inexperiência e às convicções políticas de Lula (que realmente causavam medo a muitas pessoas), deram a vitória a Collor, em 17 de dezembro de 1989 - com 35.089.998 votos, contra 31.076.364 dados a Lula.

Collor assumiu o cargo em 15 de março de 1990. Foi um mandato polêmico, cheio de autopropaganda com demonstrações de vitalidade que acabariam se mostrando infrutíferas. O confisco da poupança dos brasileiros, logo nos primeiros dias de governo, como estratégia de combate à inflação, era uma amostra do que estava por vir. Em 1992, um irmão do presidente deu entrevista acusando-o de atos ilícitos, junto com o empresário Paulo César Farias. Paralelamente a isso, comprovações de corrupção surgiam por todos os lados. A situação do presidente ficou insustentável e, com isso, Collor sofreu processo de impeachment, o que causou seu afastamento do poder em 2 de outubro de 1992. Sucedido por Itamar Franco, renunciou a qualquer tentativa de voltar ao poder em 29 de dezembro daquele mesmo ano. Foi julgado e suspenso da política por oito anos.

Muitos dizem que a nossa primeira incursão presidencial depois de quase três décadas foi um fracasso. Contudo, isso tudo serviu para nosso amadurecimento político - que, segundo vejo, porém, foi meramente fugaz. Pelo que percebo, infelizmente, a população brasileira parece fazer questão de querer depender dos bolsas-qualquer-coisa da vida.

20.9.10

Uma campanha chocha



Alguém ainda tem dúvida de que a campanha presidencial deste ano é a mais chata e previsível desde a redemocratização? Ela beira o politicamente correto de tão irritantemente "amiguinha" dos candidatos entre si. São poucas as críticas contundentes, além das propostas possíveis. Dilma Rousseff, pelo visto, não deixará escapar a eleição já em 3 de outubro nem com um desastre eleitoral de mastodônticas proporções. José Serra e Marina Silva parecem não ter forças sequer para reagir.

Nada disso lembra as primeiras campanhas pós-redemocratização, como a de 1989, com as polêmicas do segundo turno entre Collor e Lula, ou mesmo a de 1994, quando Fernando Henrique Cardoso se elegeu com as mesmas condições de Dilma (apesar de não ter experiência administrativa, estava escorado em um governo popular, como era o de Itamar Franco naquela época, e em um eficiente programa econômico, o Plano Real, criado pelo próprio quando Ministro da Fazenda), embora com mais chão. Escreverei sobre isso nos próximos dias, para recordar as eleições anteriores e ativar um pouco mais isso aqui (ando sem tempo para atualizar, reconheço).

13.9.10

Os macacos Tiões da vida real



Não é de hoje que existe o chamado voto de protesto, para que os eleitores mostrem estar insatisfeitos com o processo eleitoral. São famosas as histórias do rinoceronte Cacareco, "eleito" vereador em São Paulo nos anos 50, e do macaco Tião, que teria acabado em terceiro lugar na eleição para prefeito do Rio, em 1988. Mas a adoção do voto eletrônico, em 1996, foi acabando com o hábito do eleitor mais galhofeiro de colocar o nome de um candidato inexistente na cédula para colocar na urna. Mas uma tendência surgida desde então parece alcançar seu auge neste ano: os chamados "candidatos que buscam assumidamente votos de protesto", sem nenhuma proposta que seja convincente ao eleitorado. E o pior é que vários deles têm chances reais de serem eleitos.

Um aviso já tinha sido dado em 2006, quando o estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandez foi eleito deputado federal em São Paulo, pelo nanico PTC (mudaria-se para o PP pouco antes de sua morte, em 2009). Neste ano, porém, a coisa está feia para quem quer seriedade na política: candidatos de todos os tipos, entre humoristas, ex-BBBs e gente sem nada melhor pra fazer tentam ganhar o seu voto, amigo eleitor que é a favor do contrário de tudo isso que aí está. O símbolo maior desse estado de coisas é outro candidato a deputado federal por São Paulo: Tiririca, do PR, que pede votos dizendo querer ser eleito exatamente para conhecer as funções de um deputado federal e tendo como slogan "Pior do que está, não fica". Ledo engano: como percebemos, sempre pode piorar.

O voto em papel parou de ser usado, oficialmente, em 2000 (só é utilizado quando as urnas eletrônicas titular e reserva quebram). Dez anos depois, porém, o voto de protesto ainda pode ser largamente utilizado. Com a diferença de que tais votos "engraçadinhos", outrora inofensivos, podem render eleitos. As consequências disso podem ser imprevisíveis.

6.9.10

Descomputadorizado



Na sexta-feira passada, o meu computador funcionava normalmente. No sábado, já não funcionava mais. Tá, ele não era um exemplo de vigor cibernético - era bem lento, demorava horas para abrir uma mísera página e nem o multimídia funcionava direito - mas ainda quebrava um galho. Até que, neste final de semana, ele se foi de vez. Apertei o botão e nada dele reagir.

Gostaria de que isso fosse um belo pretexto para comprar um computador novo, melhor, mais moderno... Enfim, uma máquina que funcione de verdade. Porém, acho que terei que esperar. Espero não aguardar tanto tempo. A propóstio: meu aniversário é no mês que vem. Quero muito que alguém me dê esse belo presente. ;-)

Obs.: Meu computador pifou, mas não está tão mal quanto a foto acima dá a entender. Ele ainda está inteiro, pelo menos. Peguei esta imagem dando sopa na Internet. Achei que seria um bom simbolismo da situação que ora enfrento.

30.8.10

O Rio no Senado: Assim, vai ficar difícil...



Qualquer eleitor fluminense mais esclarecido deve ter percebido que a atuação dos representantes do estado do Rio no Senado não é lá essa coisa toda. Francisco Dornelles (PP), Marcelo Crivella (PRB) e o quase inexistente Paulo Duque (PMDB) - que era o segundo suplente e só está lá porque Sérgio Cabral Filho foi eleito governador em 2006 e nomeou Régis Fichtner, o primeiro suplente, como chefe da Casa Civil - não vêm representando o estado com o vigor que deveriam ter, na minha modesta opinião. No que depender dos onze candidatos ao Senado que são apresentados aos eleitores, isso permanecerá por muito tempo.

Pelo visto, a base governista é representada por três candidatos - além de Crivella, que tenta a reeleição, há o ex-prefeito de Nova Iguaçu Lindberg Farias (PT) e o ex-presidente da ALERJ Jorge Picciani (PMDB); sobre este último, pesam nebulosas acusações de manter trabalho escravo em propriedades privadas. Na oposição, destacam-se o ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM) - apesar do desastroso terceiro mandato de prefeito (2005-2009), pode ser que seja uma boa saída para a oposição no Poder Legislativo - e o desconhecido Marcelo Cerqueira (PPS). Mais à esquerda, está o jornalista Milton Temer (PSOL). E tem também o ex-pagodeiro Waguinho (PTdoB), talvez seguindo uma certa tendência: em São Paulo, concorre ao Senado Netinho de Paula, do PCdoB. Ambos crescem nas pesquisas em seus estados - o paulista, bem mais, alcançando a "zona de eleição", ora ocupada por Marta Suplicy (PT) e Orestes Quércia (PMDB). Se forem eleitos, podemos ter certeza de shows de pagode no Congresso Nacional. Deus queira que seja apenas um pensamento ruim.

Segundo últimas pesquisas, há certa indefinição no quadro fluminense, com Crivella e Maia nas duas primeiras posições (neste ano, dois senadores serão eleitos), com Farias e Picciani tendendo a crescer. Em quem vou votar em 3 de outubro? O certo é que serão dois da oposição, mesmo para desequilibrar menos as forças pró-governistas. Um voto de consciência e o outro, mais de protesto mesmo. Ainda que ande difícil escolher entre os candidatos.

22.8.10

Mais uma vez, o PSDB faz tudo errado



Pelo visto, o PSDB está gostando de ser oposição - tanto que parece fazer questão de continuar por lá. Só isso explica as trapalhadas que os tucanos vêm cometendo nesta campanha presidencial, em que o candidato José Serra está bem atrás nas pesquisas da petista Dilma Rousseff, que caminha a passos largos para ser eleita logo no primeiro turno.

Talvez escaldada pela alta popularidade do presidente Lula, que evidentemente faz questão de colar seu nome ao de sua candidata, a campanha tucana apresenta Serra como uma mudança segura em relação ao atual ocupante do Palácio do Planalto. Até aí, nada demais: o problema é quando a própria propaganda da TV mostra o candidato tucano de um jeito mais "povão" e, ainda por cima, com imagens dele junto de Lula, como se os dois fossem aliados de longa data. Parece uma estratégia ousada, mas pode causar o efeito contrário e levar a candidatura a cair no ridículo. Os resultados iniciais estão nas pesquisas, com Dilma dobrando a diferença de pontos percentuais em relação a Serra.

Devem se recordar que, em 2006, a candidatura de Geraldo Alckmin naufragou por causa da negação dos tucanos em reconhecer os méritos das privatizações durante o governo FHC (1995-2003), inclusive com uso daquelas ridículas jaquetas do Banco do Brasil. Até parece que, para ser bem visto pelo eleitorado, o PSDB precisa se envergonhar de alguns fatos positivos ocorridos enquanto esteve no poder, como a maior possibilidade de estabilização da economia, que o governo Lula pegou para si e não quer largar mais...