Em 1996, eu estava prestes a completar 17 anos e tirei meu título de eleitor. Eu estava disposto a participar da primeira eleição municipal. Tanto que prestei atenção, muita atenção, mais do que já prestava antes, nos programas eleitorais da televisão.
Falando nisso, 1996 foi o primeiro ano em que as emissoras abertas transmitiram os programas eleitorais de cidades diferentes. Até 1992, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, as emissoras apenas exibiam o programa eleitoral da capital fluminense. A novidade, pra mim, era fascinante. Cada dia eu ficava em um canal diferente. Excelente oportunidade de conhecer as propostas de cada cidade.
Voltemos ao Rio, porém. Havia 14 candidatos à prefeitura da cidade, disputando a sucessão de Cesar Maia, que tinha sido eleito quatro anos antes pelo PMDB e trocado o partido pelo PFL lá pelo meio do mandato. Um dos assuntos da campanha era a candidatura do Rio a sede das Olimpíadas de 2004, e os Jogos de Atlanta, realizados no meio daquele mesmo ano, ajudaram a construir o clima.
Dentre os catorze candidatos, estavam o então deputado estadual e futuro governador Sérgio Cabral Filho (PSDB) e o deputado federal Miro Teixeira (PDT), além de Chico Alencar (PT), Sérgio Arouca (PPS) e Vanderlei Assis (PRONA), que ficaria, seis anos depois, conhecido por ter sido eleito deputado federal por São Paulo - mesmo morando no Rio - graças à expressiva votação obtida por Enéas Carneiro, presidente nacional do partido. Mas a grande sensação daquelas eleições seria um então obscuro secretário municipal do prefeito Cesar Maia.
O secretário de Urbanismo, Luiz Paulo Conde (PFL), viria do desconhecimento ao estrelato graças à ostensiva campanha do prefeito. No início da campanha, ele tinha apenas 3% das intenções de voto. Era a época do RioCidade, vasto programa de obras de embelezamento que tomou conta da cidade daquele ano - que, mais tarde, se tornaria meramente eleitoreiro, pois tais obras não se mostrariam um primor de conservação. Em alguns casos, no afã de mostrar-se arrojado, o RioCidade cometeu vários exageros - o maior deles em Ipanema, com um esdrúxulo obelisco e uma passarela que, literalmente, liga o nada a lugar algum. O Favela-Bairro também era uma das obras municipais da época, cuja continuidade Conde prometia em sua campanha.
De todo modo, as tais obras funcionaram. Tanto que a campanha de Conde cresceu e apareceu - inclusive no meu conceito. No primeiro turno, realizado no dia 3 de outubro (pela última vez, o primeiro turno eleitoral teve uma data fixa; dali em diante, ele seria realizado sempre no primeiro domingo de outubro), o candidato pefelista obteve a expressiva marca de 1.192.438 votos (40,28% dos votos válidos - uma das novidades daquela eleição, mas a maior delas foi, sem dúvida, o voto eletrônico, inicialmente apenas nas capitais e nas cidades com mais de 200 mil eleitores). O então tucano Cabral conseguiu 729.611 votos (24,64% dos votos válidos), classificando-se ao segundo turno.
Tendo um candidato do PFL e outro do PSDB no segundo turno do Rio, cidade onde as esquerdas sempre tiveram enorme tradição, claro que elas iriam chiar. Afinal, o Brasil era governado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, cuja política era vista como elitista, mesmo também sendo de esquerda. PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB e PSTU (o PCO ainda não existia na época) passaram a fazer campanha aberta pelo voto nulo. Na campanha de verdade, além da promessa de incentivo à candidatura carioca às Olimpíadas de 2004 - que seria mal-sucedida no ano seguinte, pois o Rio não passou da primeira fase -, promessas mirabolantes brotavam nas duas candidaturas. Entre elas, a de um veículo leve sobre trilhos, de Conde.
O segundo turno, realizado em 15 de novembro, mostrou a força que Cesar Maia tinha sobre o eleitorado carioca na época. Conde foi eleito por 1.735.415 cariocas (62,17% dos votos válidos), enquanto Cabral ficou com 1.055.993 votos (37,83% dos votos válidos). A eleição de um quase desconhecido para a prefeitura da segunda maior cidade do país (algo idêntico com o que ocorreu em São Paulo, com Celso Pitta, do PPB, apoiado pelo então prefeito Paulo Maluf) credenciou Maia a disputar o governo do estado do Rio, dois anos mais tarde. Como sabem, o vencedor seria o ex-prefeito de Campos, Anthony Garotinho, que derrotaria o ex-prefeito carioca no segundo turno. Mas isso é assunto pra daqui a dois anos...
P.S.: Antes que me perguntem, respondo logo que, para vereador, votei no Salgadinho - na verdade, o ator Rogério Cardoso, candidato pelo PSDB. O "apelido político" foi usado por Cardoso no ano anterior, como personagem da novela Explode Coração, de Glória Perez. Admito que votei mais pelo nome que pelas propostas, mas favor relevar - afinal, era a minha primeira eleição... Inicialmente, ele não foi eleito - obteve 11.653 votos. Mas, salvo engano, assumiria o cargo em 1999, aproveitando que um titular tinha sido eleito deputado. Entre várias coisas, conseguiu a chamada Lei da Orelhinha, que prevê a obrigatoriedade de exame auditivo em recém-nascidos, para prevenção de doenças. Tentou se reeleger em 2000, mas não obteve sucesso. Morreu em 2003, vítima de enfarte do miocárdio - na época, fazia sucesso como o Floriano do seriado A Grande Família.
P.S. 2: Como os cariocas já devem ter percebido, o tal veículo leve sobre trilhos - uma das bandeiras da candidatura de Conde - jamais saiu do papel.
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