31.1.10

RATO DE CINEMA

Quem me conhece, sabe que o cinema é uma de minhas maiores paixões. Por isso, a minha obsessão em assistir Avatar e não conseguir porque as salas todas estão lotadas - pelo menos as que passam a cópia a que quero assistir, em 3D e com legendas (a cabeçudice é outra característica minha).

Enquanto não consigo (pelo visto, vai levar tempo pro filme sair de cartaz, visto que é um estrondoso sucesso de bilheteria), vou assistir a outros de meu interesse. O filme que está ali embaixo, por exemplo, Onde Vivem os Monstros, que vi e achei bem simpático como filme "pseudoinfantil". Os que estrearam neste final de semana também estão na lista, mesmo que não entrem na lista de indicados ao Oscar, que será divulgada na terça-feira. Invictus, de Clint Eastwood, fala sobre a luta de um grande líder do nosso tempo (um líder de verdade, Nelson Mandela) para unir o povo de seu país no período pós-apartheid através da seleção sul-africana de rúgbi. Outro que me interessa é Zumbilândia, de Ruben Fleischer, comédia de terror elogiadíssima por onde passa. Num ano em que dez produções serão indicadas ao Oscar de melhor filme, certamente não irão faltar opções.

21.1.10

A ALEGORIA DA SOLIDÃO


  • Filme: Onde Vivem os Monstros (Where the Wild Things Are, Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Spike Jonze
  • Elenco: Max Records, Catherine Keener, Mark Ruffalo e vozes de James Gandolfini, Paul Dano, Catherine o'Hara, Forest Whitaker, Michael Berry Jr. e Chris Cooper

Quem nunca quis reinar sobre uma terra imaginária uma vez qualquer no início de sua vida, que atire o primeiro lápis de cera. O filme de Spike Jonze, baseado no livro infantojuvenil de Maurice Sendak, leva isso à risca ao contar a história de um pré-adolescente em crise que resolve fugir de casa e ter o seu próprio reino, num lugar muito distante de qualquer um que ele conheça. Um lugar onde ele possa superar a solidão com pinceladas de estranheza que funcione para isso.

O grande trunfo do filme, independentemente de ser fiel ou não ao livro que o originou, é o envolvimento da história sobre o espectador. Isso passa pela fotografia, pela trilha sonora, pelas atuações e locações... até pelos próprios monstros, que parecem assustadores mas são apenas gigantes peludões com os mais variados sentimentos humanos. A imaginação fértil do guri para ser rei parece não ter limites, até o momento em que ele descobre não ser bem assim.

Ao final do filme, não sabemos se isso ocorreu mesmo ou se foi apenas um sonho - não há nada que comprove a verossimilhança dos fatos ou o que dê a entender o que realmente houve. Compreensível: o mundo dos jovens é mesmo quase paralelo ao real. Por isso mesmo, é tão fascinante.

18.1.10

O MAIS CIVILIZADO DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS



Não é novidade pra ninguém que o Chile é o país que mais cresce na América Latina - tanto economicamente quanto politicamente. Vinte anos depois do fim da ditadura de Augusto Pinochet, uma das mais longas e sangrentas da região, o país banhado pelo Oceano Pacífico vem mantendo índices significativos de desenvolvimento, o que influi na qualidade de vida da população. Na política, os chilenos mostram que não embarcaram na onda populista que anda varrendo o território latino-americano nos últimos anos. Neste domingo, o empresário Sebastián Piñera, opositor da presidente Michelle Bachelet, foi eleito presidente no segundo turno, derrotando o candidato da situação, o ex-presidente Eduardo Frei (1994-2000), penúltimo antes da posse de Bachelet - não há reeleição no Chile.

Piñera é o primeiro político de origem conservadora a ser eleito presidente do Chile desde o fim da Era Pinochet (1973-1990) - Frei e Bachelet, além dos ex-presidentes Patricio Aylwin (1990-1994) e Ricardo Lagos (2000-2006), tinham tendência de esquerda. O presidente eleito tinha perdido para a própria Bachelet nas eleições de 2006. Os quatro presidentes do país nos últimos 20 anos seguiram à risca a política econômica aplicada nos últimos anos da ditadura, fazendo com que o país tenha crescimento vigoroso - algo parecido com o que ocorre aqui no Brasil, em relação às políticas econômicas dos governos FHC e Lula. Ao contrário do que poderá ocorrer por aqui, porém, a sucessão acabou sendo até de certa forma tranquila e civilizada.

Michelle Bachelet não se intrometeu na sucessão presidencial. Sabe que fez um bom governo e que a população lhe será grata, tanto que tem índices altíssimos de aprovação. Mesmo assim, o eleitorado chileno não considerou sua administração perfeita (nenhuma é, dizendo a verdade) e elegeu um opositor como seu sucessor. Como diz Orlando Tambosi, venceu a democracia. Isso serve de exemplo para o eleitorado brasileiro, que irá às urnas em outubro e precisa agir de acordo com a sua consciência. O grande temor, porém, é que o governo atual acabe influindo na eleição, não querendo largar o osso de jeito nenhum. Basta lermos o texto abaixo para que se tenha uma ligeira ideia do que digo.

17.1.10

JÁ ESTÃO COMEÇANDO A APELAR



Duas semanas depois de sua estreia nos cinemas, o filme Lula, o Filho do Brasil, dirigido por Fábio Barreto, não vem levando tantos espectadores aos cinemas como o esperado. Mesmo com números maiores que um lançamento comum (pouco mais de meio milhão de pessoas foram às salas assistir à produção até o momento), eles vêm sendo decepcionantes, levando-se em consideração que trata-se de uma superprodução, que estava coberta de expectativa e, acima de tudo, muitas pretensões - como a de, pelo menos, chegar perto da bilheteria obtida por 2 Filhos de Francisco: A História de Zezé di Camargo e Luciano (2005), de Breno Silveira (um filme semelhante em sua estrutura), que era a maior da chamada Retomada até o ano passado, com cerca de seis milhões de ingressos vendidos - foi ultrapassado em 2009 por Se Eu Fosse Você 2, de Daniel Filho. O alto carisma do presidente Lula, cuja história é em parte contada na película (embora o foco maior, até para tentar atrair alguns antilulistas, seja na mãe do então líder sindical, interpretada pela mesma Glória Pires do sucesso do ano passado), era um grande trunfo para atrair espectadores. Porém, não é isso o que se vê. Por isso, produtores e lulófilos tratam de se mexer para evitar o desastre - ou, pelo menos, evitar um prejuízo maior.

Sindicatos querem levar de graça seus afiliados aos cinemas para turbinar os números, emissoras de TV fazem merchandising do filme em seus programas (afinal de contas, como coprodutoras, não querem pagar um mico histórico), prefeitos e deputados governistas planejam massificar a exibição do filme levando-o a telas provisórias no interior do país. Mas o fato é que a alta popularidade do presidente da República não chegou aonde os cinemas estão, ou seja, pelo visto a classe média não se interessou em assistir a essa produção que chegou às salas fora de hora, em pleno ano de eleição. Faria mais sentido se estreasse em novembro, só depois das eleições presidenciais. Lançado nove meses antes (há planos de o DVD ser vendido a preço popular ainda em agosto ou setembro, isto é, em pleno calor da campanha), é encarado como peça de campanha política ou de culto à personalidade - algo apenas visto em regimes ditatoriais.

As críticas sobre o filme são divididas - algumas elogiam as atuações nele presentes, outras criticam os exageros nele contidos. Fica entre a homenagem e o messianismo. Mas não dá pra não associar a superprodução à campanha presidencial deste ano. Afinal, a pré-candidata da situação, Dilma Rousseff, anda precisando de uma certa ajuda. E as chances dela se eleger parecem depender do sucesso do filme, custe o que custar.

14.1.10

CÉREBRO E FORÇA BRUTA


  • Filme: Sherlock Holmes (Sherlock Holmes, Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2009)
  • Direção: Guy Ritchie
  • Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong, Eddie Marsan, Kelly Reilly, Hans Matheson

A mais nova transposição do detetive criado pelo escocês Arthur Conan Doyle para o cinema (já são contadas mais de duzentas, o que o faz o personagem mais retratado em celuloide), desta feita por Guy Ritchie, promove uma releitura do personagem, privilegiando uma maior ação - porém, sem abrir mão das famosas deduções do protagonista. Uma boa fusão do clássico com o moderno, algo bem guyritchieano, por assim dizer.

Um caso aparentemente insolúvel, que envolve uma sociedade envolvida em magia negra, é o mote para boas cenas, capazes de prender a atenção do espectador. Quem nunca leu um livro que tenha Holmes como personagem principal, como é o caso deste que vos escreve, pode curtir a película e ter a curiosidade pela leitura ativada. Quem já leu pode reconhecer os personagens (vividos em inúmeros filmes nos 105 anos anteriores) e perceber suas nuances e características.

13.1.10

BOLIVARIANISMO GALOPANTE



Tá, eu sei que o assunto do momento é o trágico terremoto que atingiu o Haiti, que pode ter sido responsável por centenas de milhares de mortes - entre elas, a da fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Mas não posso ficar indiferente à mais nova patacoada do governo federal, cada vez mais alinhado com que há de pior e mais populista na América Latina. Depois do desastroso desempenho da diplomacia brasileira desde a chegada de Lula e aliados ao poder, agora vem a tal Comissão da Verdade, que mais parece saído da obra literária 1984, de George Orwell - tanto no nome quanto nas intenções bem seletivas, se me entendem.

A tal Comissão tem a intenção de "examinar a violação de direitos humanos" durante a vigência do regime militar (1964-1985), mas apenas referindo-se a membros dos governos de então que praticavam torturas e outros crimes para obter informações a respeito dos que combatiam a ditadura. Seria justo se, do outro lado, também não houvesse os que, no auge da Guerra Fria, queriam derrubar um regime direitista para colocar no lugar uma ditadura de esquerda (eu já tinha escrito sobre esse assunto aqui). Mas justiça plena não é a especialidade do atual governo, como deu pra perceber...

Não por acaso, a polêmica causou um racha entre governistas e militares. Na virada do ano, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os chefes militares chegaram a apresentar carta de demissão ao presidente Lula, mas depois mudaram de ideia - com restrições. Levando-se em consideração que vários dos integrantes do atual governo fizeram parte de organizações terroristas (como o próprio ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foto acima; a ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff; o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins; e o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc), porém, a tensão entre as partes tem tudo para continuar.

Quando do pedido de extradição do terrorista italiano Cesare Battisti, o ministro da Justiça, Tarso Genro, declarou que havia um "fascismo galopante" na Itália, o que justificaria uma recusa pelo governo brasileiro em atender esse pedido. Mais fácil é declarar que, agora, há um bolivarianismo galopante em curso no Brasil, aproveitando a onda populista que ora varre a América Latina. Quem perde com isso, obviamente, é a nossa democracia.

9.1.10

QUE ASSUNTO?

Mal o ano virou, houve uma tragédia em Angra dos Reis. Pouco antes, Boris Casoy havia causado polêmica ao ofender garis ao vivo, sem se dar conta que o som estava aberto. Durante a virada do ano, numa ilhota do Caribe, a estrela Beyoncé (célebre valorizadora das mulheres e apoiadora do governo Obama) fez um show particular, pago pelo filho (acusado de agredir mulheres) do ditador líbio Muammar Kadafi (velho inimigo do governo norte-americano). Voltando ao Brasil, o governo Lula quer aprovar o Programa Nacional dos Direitos Humanos, que quer discuti-los de uma forma... hã... "humanitária", se é que vocês me entendem (e, principalmente, entendem o governo Lula). Pra completar a sucessão de desgraças a abrir a década, a seleção de futebol de Togo sofre um atentado e desiste de disputar a Copa Africana das Nações.

Olha, é tanta coisa acontecendo em tão pouco tempo que o início do ano de 2010 é tão confuso quanto o primeiro parágrafo deste texto.