31.12.08

O FIM DE UM ANO JÁ COM CHEIRO DE ANTIGÜIDADE

O ano termina, e nasce outra vez.

Você deve estar se perguntando: "Pô, Simone numa hora dessas?!". Calma, rapaz. Nada como um pouco de bom humor pra terminar o ano. Agora, vamos ao que interessa.

O ano de 2008 acaba hoje, e juntamente com o ano de 2009 nasce a Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Algo que já vinha sendo discutido há quase vinte anos, mas decidiram implantar só agora. Pois bem: é a grande oportunidade de ensinar o povo a escrever direito. Se bem que isso ocorreu em 1945 e 1971, e de nada adiantou. Mas, enfim...

Não temos infra-estrutura (a partir de amanhã, infraestrutura) suficiente para um ensino de qualidade, todos sabemos. Décadas passaram e, até agora, nada. Agora, temos uma nova oportunidade que, mais uma vez, estamos desperdiçando. A ortografia entra em vigor amanhã e pouquíssimos setores da educação e do setor privado se deram conta disso. Só agora, nos últimos dias do ano, é que começaram a falar do assunto. Ainda temos que agüentar (ou aguentar) isso.

Menos mal que temos até 31 de dezembro de 2012 pra nos adaptarmos às novas regras. Até lá, vale a ortografia dupla. De minha parte, começo a aderir já amanhã - como professor de Português formado, sinto-me na obrigação de escrever corretamente. Senão, fica tudo com o maior jeito de antigüidade... digo, antiguidade.

(Ainda não me conformo com o fim do trema, mas a gente vai acabar se acostumando.)

Feliz Ano Novo a todos!

P.S.: Agora que eu vi que esta foi a mensagem de número 400 deste A&B. Rumo à mensagem 500!

(Ops, cuidado com a obsessão...)

29.12.08

QUE ARQUEM COM AS CONSEQÜÊNCIAS



Uma guerra nunca é agradável, por mais necessária que possa parecer - ainda mais quando vitima inocentes. Por isso - e minha opinião é sincera -, dá um aperto no coração vermos os desdobramentos dos bombardeios israelenses a Gaza, em resposta aos lançamentos de foguetes do grupo terrorista Hamas ao sul do país vizinho, depois do fim de um frágil cessar-fogo de seis meses. Mas acreditem: isso tudo é conseqüência da intransigência do grupo palestino, que se nega a reconhecer a existência de Israel e faz de tudo (felizmente, de forma infrutífera) para tentar destruí-lo.

O que vemos por aí? Simples: o vitimismo dos pró-palestinos, como ocorre sempre. Esses que nunca choraram pelos mortos de 11 de Setembro. Ou pelos atentados em Báli, Madri ou Londres. Nem mesmo por Buenos Aires, Nairóbi ou Mumbai, derramaram uma furtiva lágrima. Tampouco o fizeram pela opressão chinesa aos tibetanos, ou a sudanesa sobre a população de Darfur. De forma incoerente, para dizer o mínimo, esses mesmos que destilam ódio a Israel e aos Estados Unidos, ainda que procurem um motivo para tal, choram lágrimas de esguicho pelos palestinos, civis que são vítimas dos... próprios palestinos. Todos sabem por que digo isso. Apenas alguns se recusam a concluir quais são os motivos.

O pior é que isso é algo tão encravado na consciência dessas pessoas que levará décadas, talvez séculos, para ser modificado. A simpatia com o terror antiamericano e anti-sionista (este, na verdade, um anti-semitismo mal disfarçado) é um mal que, a certo prazo, pode ameaçar a própria existência da civilização ocidental - não há nenhum exagero nisso. Os simpáticos ao terrorismo, pelo simples fato de usarem duas máximas execráveis (a de que os fins justificam os meios, e de que os inimigos de nossos inimigos são, automaticamente, os nossos amigos), são os piores tipos de formadores de opinião existentes. Podemos encontrar vários deles por aí, é só procurar. Não vou nem falar sobre a condenação do governo brasileiro à reação israelense - quem viu que o Itamaraty negocia com o Irã e se recusa a reconhecer as FARC como grupo terrorista, não se surpreendeu nem um pouco.

Para esses, eu digo: não querem a paz, ou ao menos a tolerância? Querem atacar contando com a simpatia das esquerdas internacionais ao ser atacado, invariavelmente usando civis como escudo? Que arquem com as conseqüências.

22.12.08

A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2010 JÁ COMEÇOU

Está no Noblat: "Em segredo, Dilma faz plástica em Porto Alegre". Você deve estar se perguntando: qual a importância disso?

Simples: a ministra da Casa Civil já prepara o terreno para se candidatar à Presidência em 2010. Para construir uma "nova imagem", fez essa plástica. Só não o fez em 2009 pra não dar muita pinta.

Não duvido nada que o Duda Mendonça tenha pago essa operação - e, se bobear, com cartão corporativo.

18.12.08

SAPATADA CARIOCA


Atendendo recomendação do Corpo de Bombeiros (que constatou que ainda faltam requisitos básicos de segurança para que esteja em funcionamento e, por isso, vetou a realização de eventos com público no local até que tudo esteja em ordem), a inauguração da Cidade da Música, que estava marcada para hoje, foi adiada pelo prefeito Cesar Maia, que sonhava em consolidar o local como o grande legado de seus últimos anos de mandato na prefeitura do Rio de Janeiro.

Mas a Cidade da Música entra para a história como o grande mico dessa passagem de Maia, pelo fato de ter levado cinco anos para ser construído e ter custado mais de meio bilhão de reais. O pior disso tudo é ter a certeza de que, não bastassem os gastos vultuosos e a obra de igreja que se instala há tempos em plena Avenida das Américas, uma das vias mais movimentadas da Barra da Tijuca, haverá sempre a impressão de que um elefante branco se instalou ali.

Há o risco de o local ter que ser inaugurado após a posse do novo prefeito, Eduardo Paes (desafeto declarado de Cesar Maia), o que representaria - guardadas as devidas proporções - uma verdadeira sapatada na Era Maia, que durou 12 anos, funcionou nos quatro primeiros, mas foi um fiasco nos oito últimos. Dessa sapatada, certamente, o atual prefeito não teria uma agilidade de George W. Bush pra desviar...

17.12.08

A NECESSIDADE É A MÃE DA CRIATIVIDADE

  • Filme: Rebobine, por Favor (Be Kind Rewind, Estados Unidos, 2008)
  • Direção: Michel Gondry
  • Elenco: Jack Black, Mos Def, Danny Glover, Mia Farrow, Melonie Diaz

O filme do diretor francês Michel Gondry (o mesmo do premiado Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) convida a ingressar no mundo do cinema de uma forma que nunca tínhamos visto antes.

Quando um acidente provoca o apagamento de todas as fitas VHS de uma locadora (uma das raras que ainda usam as velhas fitas de videocassete), os dois funcionários se vêem forçados a refilmar as produções, da maneira mais tosca possível. Inesperadamente, isso se torna um sucesso (até porque, apesar das parcas condições, as fitas são feitas de forma extremamente criativa), embora a atitude venha a causar alguns problemas. De todo modo, é o amor pela sétima arte que está sendo debatido nesta produção, de maneira original.

O inventivo roteiro homenageia aqueles que amam o cinema, por mais atabalhoados que possam parecer, fazendo-o de forma sublime.

16.12.08

PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR...

Por que será que todo famoso estrangeiro (seja ele artista, político ou qualquer um de fama mundial), quando vem ao Rio, vira um tremendo arroz-de-festa?

15.12.08

A VERDADEIRA "DANÇA DO QUADRADO"

Como sabem, mais um caso de dinheiro na cueca escandalizou o Brasil na semana passada. O nome do mais novo cuequeiro do Brasil - Enivaldo Quadrado - foi a inspiração para esta paródia da Dança do Quadrado, que tomou de assalto a Internet. Do jeito que está, só rindo pra não chorar.



-Aí, galera!
Tô chegando
Com a dança da cueca!
Pegue sua cueca
E quem for pego em flagrante
Vai pagar prenda, hein?
Vamos juntos!

Cada um na sua cueca! (8x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Real na sua cueca! (4x)
Real com giratória! (4x)
Mensalão na sua cueca! (4x)
Mensalão com giratória! (4x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Dólar na sua cueca! (4x)
Euro na sua cueca! (4x)
Franco suíço na sua cueca! (4x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Promissória na sua cueca! (4x)
Cheque voador na sua cueca! (4x)
BrOi na sua cueca! (4x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!
Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!
Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!
Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai, vai
Vai, vai, vai!

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

-Agora nós vamos relembrar
O Pan do Rio de Janeiro!
Vamos lá!

Vaia estrondosa na sua cueca! (4x)
Acidente aéreo na sua cueca! (4x)
Top-top na sua cueca! (4x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!
Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!

Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
É, ele mostrou como é que é!

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

-Vamos agora brincar
De imitar os bichinhos!

Sapo barbudo na sua cueca! (8x)
Hugo Chavez na sua cueca! (8x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Relaxa e goza na sua cueca! (4x)
Ponto G na sua cueca! (4x)
Sífu na sua cueca! (4x)

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!
Dança bonito,
Dança bonito
Dança bonito
Vai, vai!

Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
É, ele mostrou como é que é!
Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
Vai paquito, vai paquito!
É, ele mostrou como é que é!

Eu disse eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!
Eca-e-eca!
Cada um na sua cueca!

-Valeu galera!
Não pisa na linha, hein!
Fuuui!

CHAVE DE COURO


Com as quase sapatadas que levou de um repórter iraquiano no final de uma entrevista coletiva em Bagdá, o presidente norte-americano George W. Bush não poderia ter um desfecho mais apropriado para o seu governo, cujo segundo mandato foi dos mais desastrosos de que se tem notícia.

O atoleiro em que meteu as Forças Armadas de seu país no Iraque - com várias práticas questionáveis; talvez a única coisa certa tenha sido a derrubada de Saddam Hussein - e a mais forte crise econômica em décadas coroaram seu governo, que tem taxas recordes de reprovação de seu eleitorado. O que dá uma responsabilidade enorme a seu sucessor, Barack Obama - a quem tenho reservas, mas ainda assim dou um voto de confiança.

Mesmo assim, é inegável que houve uma ligeira evolução no Iraque pós-ditadura: será que o jornalista que atirou os sapatos (um famoso insulto árabe) em direção a Bush estaria "apenas" preso se os tivesse atirado em direção a Saddam?

13.12.08

BADERNA NÃO É EXCLUSIVIDADE NOSSA...



...e os fatos de Atenas estão aí pra provar.

Depois da morte de um adolescente por policiais na capital grega, protestos tomaram a cidade. O alvo é o governo, impopular e acusado de corrupção. O grande problema é que, no meio dos que fazem os protestos, estão baderneiros dispostos a fazer de tudo pra aparecer. Resultado: parte da cidade é destruída pelos revoltosos.

Isso lembra, de certa forma, atos de vandalismo causados durante protestos no Brasil, por exemplo. Por lá, há a desconfiança de que haja grupos anarquistas ou ultra-esquerdistas envolvidos com tais atos. De todo modo, os que protestam pacificamente têm todo o direito de fazê-lo. Já os que vandalizam, terão que se entender com a Lei.

9.12.08

A FARSA SE REPETE COMO OUTRA FARSA



O Brasil é mesmo um país impressionante. Três anos depois de um assessor de José Genoino (que, na ocasião, era presidente do PT) ser pego com dólares espalhados por todos os lados, inclusive na cueca, agora é a vez de um réu no caso do mensalão ser flagrado com euros espalhados por todos os lados... inclusive na cueca.

Brasileiro não aprende nada, mesmo. A farsa acaba de se repetir como outra farsa. Pelo menos uma coisa é inegável: os assessores-de-coisa-alguma, também conhecidos como "mulas financeiras", estão evoluindo. Em 2005, foram dólares. Agora, são euros, que valem muito mais. Se quiserem continuar a evolução, boa sorte. Diamantes e barras de ouro, segundo consta, costumam doer nas partes íntimas.

6.12.08

QUAL É O LIMITE DE UMA DECLARAÇÃO PRESIDENCIAL?



Já tinha escrito aqui que o presidente Lula, muitas vezes, leva ao desespero com suas declarações fora de hora, incompatíveis com alguém que ocupa o cargo de chefe de Estado e de Governo. Mas a língua solta (embora ainda um pouco presa) de Lula parece não conhecer limites, talvez empolgada com os índices recordes de aprovação popular de seu governo. Nesta semana, a boca lulista aprontou mais uma das suas.

Durante um discurso, no lançamento do Fundo Setorial do Audiovisual, no Rio, Lula passou de todos os limites do tolerável ao se referir à crise mundial. Ao comparar a relação entre ele e a crise à de médico e paciente, Lula disse que o aconselhável seria o médico dizer que iria recuperar o paciente. Até aí, nada demais. O problema foi o que ele disse depois: "Ou você diria ao paciente: 'Meu, sífu'?". Que eu me lembre, é a primeira vez que um presidente fala algo parecido com um palavrão num discurso oficial...

Cada vez mais autoconfiante, Lula se comporta como aquele metalúrgico bronco dos anos 70 que fazia greves durante o período do regime militar. O problema maior é que o atual presidente parece não se ter dado conta que o cargo que ocupa é muito diferente daquela época. Como diria o tio do Homem-Aranha, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Pelo que percebemos há tempos, Lula se comporta como um poderoso irresponsável. Pobres de nós, os que votamos e os que não votamos nele.

2.12.08

SE INVEJA MATASSE...


Buscando fazer um governo que seja ao menos bem visto como competente (assim como agradar a oposição, procurando ganhar um voto de confiança), o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, vem escolhendo grandes nomes para seu secretariado (correspondente aos ministérios no Brasil). Nesta segunda-feira, ele nomeou a senadora, ex-primeira-dama e ex-pré-candidata do Partido Democrata à presidência do país, Hillary Clinton, para a secretaria de Estado de seu futuro governo. Além disso, decidiu manter o atual secretário de Defesa, Robert Gates, no cargo.

Enquanto isso, aqui no Rio, o prefeito eleito Eduardo Paes mostra que mudou de partido e de "amigos", mas não deixou o fisiologismo de lado. Depois de nomear diversos deputados e vereadores de seu antigo partido, o PSDB (muitos de seus eleitores no segundo turno votaram em Paes por completa rejeição aos tucanos, que apoiavam seu adversário), como secretários de seu mandato, e de indicar como secretária de Cultura sua ex-adversária Jandira Feghali (PCdoB) - mesmo sem ela ter relação alguma com atividades culturais - Paes indicou (ou foi impelido a indicar) como secretário de Esporte e Lazer o deputado estadual Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, do seu partido, o PMDB.

Para quem não se lembra, Paes sucedeu Carvalho no cargo de secretário estadual de Esportes, Turismo e Lazer quando o governador Sérgio Cabral Filho assumiu o Palácio Guanabara, no início de 2007. A gestão de Chiquinho, secretário nos governos Garotinho e Rosinha, foi marcada como uma das piores do estado. Durante sua estadia no cargo, ele chegou a ser acusado de envolvimento com bandidos do Morro da Mangueira, embora nada tenha sido provado. Além disso, o Complexo Esportivo do Maracanã sofreu uma reforma longa, que mais parecia obra de igreja - o que, por exemplo, impediu que o Estádio Mário Filho recebesse jogos da Seleção Brasileira pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006, e fez com que o Mundial Feminino de Basquete, naquele mesmo ano, fosse transferido do Maracanãzinho para o ginásio do Ibirapuera (na época, repleto de goteiras), em São Paulo. O mesmo ginásio estava quase descartado para sediar os torneios de vôlei dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Eduardo Paes assumiu a secretaria no governo de Cabral, e muita coisa mudou, inclusive a credibilidade. As obras, que estavam quase paradas, prosseguiram em ritmo de aceleração recorde, o Maracanãzinho já estava pronto em julho de 2007, a tempo de sediar o Pan, e é hoje um dos ginásios mais modernos da América Latina. Em 2008, sediou o Mundial de Futsal.

Quando assumiu o cargo de secretário de Esportes, Turismo e Lazer, Eduardo Paes prometeu fazer um trabalho melhor do que o do antecessor, muito criticado. Não era nada difícil fazê-lo, é verdade, mas conseguiu com sobras - o que o credenciou a se candidatar à prefeitura do Rio neste ano, embora isso já estivesse previsto. Agora que foi eleito e prepara sua secretaria, Eduardo Paes mostra mais uma vez que já começou mal, embora ainda nem tenha tomado posse, nomeando como futuro secretário exatamente seu antecessor no cargo estadual - repito, um dos piores que já obtiveram pastas estaduais. Vá entender.

Comparando com a equipe que Obama vem montando em Washington, é fácil responder por que os Estados Unidos são o que são, o Brasil é o que é e, principalmente, por que o Rio é o que é. Se inveja matasse...

P.S.: Começou ontem e vai até o dia 31 a eleição do Mala do Ano de "A Trombada!", já em sua sexta edição. A sucessão de Hugo Chavez (vencedor do ano passado) promete ser emocionante, com os cinco indicados prometendo uma disputa equilibrada. Clique no link e dê seu voto.

28.11.08

A NOVA E NADA BEM-VINDA ERA DO TERROR GLOBALIZADO



É muita desgraça para uma semana só. Ao mesmo tempo em que, por aqui, o estado de Santa Catarina chora seus mortos na tragédia dos temporais em que foi atingido, lá fora uma série de atentados terroristas deixaram vítimas na cidade de Mumbai (ou Bombaim), centro financeiro e maior cidade da Índia, e também uma das maiores e mais populosas cidades do planeta.

Um desconhecido grupo terrorista, possivelmente treinado no vizinho e rival Paquistão, impôs o terror principalmente a estrangeiros que estavam na cidade, à procura de norte-americanos, britânicos e israelenses. Aliás, além do mais luxuoso hotel da cidade ter sido atacado, um centro cultural judaico foi invadido pelos radicais. A polícia local se encarregou de acabar com o seqüestro, ainda que cinco reféns tenham morrido. No momento, as atenções se voltam ao hotel Taj Mahal, onde está ainda um terrorista com reféns.

Os ataques dentro de um país que não tem um largo histórico de terrorismo (ainda que haja escaramuças, inclusive de ordem nuclear, com o vizinho Paquistão, com quem disputa o estado da Cachemira, o único indiano de maioria muçulmana), e tem uma sociedade amplamente misturada, leva a uma temerária conclusão: hoje em dia, os grandes atentados terroristas não estão restritos a ocorrer em um número limitado de países (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Espanha, Israel, Iraque), com algumas exceções (Indonésia, vários países africanos e, num passado não tão distante, Argentina). O caso da Índia, com uma série de ataques à moda da Al-Qaeda (fosse um tempo atrás, afirmaríamos que trataria-se de um ato do grupo de Osama bin Laden; hoje, não podemos ter essa certeza, visto que muitos estão aprendendo seus métodos com rapidez e eficiência), afirma que, hoje, nenhum país está livre de sofrer atentados terroristas de grande magnitude. Nem o Brasil.

E é a esse ponto que pretendo chegar. Nossa sociedade é multifacetada, miscigenada e suas parcelas, se não se respeitam, ao menos se toleram. Ou seja: um prato cheio para os radicais, que atacariam um país onde ninguém esperaria que pudesse haver um grande atentado. Não vejo ninguém no governo ou mesmo na nossa sociedade com disposição suficiente para tentar evitar um ato criminoso de gigantescas proporções. Não conseguimos nem mesmo segurar a criminalidade que nos açoita todos os dias, quanto mais um hipotético ataque de um grupo terrorista internacional. O pior é que haverá quem simpatize com tais atos, como há os que exaltam as "respostas dos oprimidos aos opressores"...

26.11.08

NOITES INFELIZES



  • Filme: Feliz Natal (Brasil, 2008)
  • Direção: Selton Mello
  • Elenco: Leonardo Medeiros, Darlene Glória, Paulo Guarnieri, Graziella Moretto, Lúcio Mauro, Fabrício Reis

A estréia do ator Selton Mello na direção de um longa-metragem se deu num filme que parece difícil de entender à primeira vista, mas merece um olhar poético do espectador.

Um homem cuja vida é um caos, que vive às turras com o irmão, é desprezado pelo pai e tem a mãe à beira da loucura passa a noite de Natal em família, momento em que só falta se perguntar o que faz ali. Arrependido, vai se encontrar naquela mesma noite com amigos que não via há tempos, buscando esquecer sua vida tão tumultuada, repleta de momentos ruins e difíceis de esquecer.

O enredo dá margem a diversas interpretações e faz o espectador questionar o que teria acontecido para o protagonista viver às sombras de sua própria consciência. Isso está subentendido no filme, cabe a quem assistir perceber o que é.

O próprio visual do filme dá uma sensação de impotência do ser humano. A fotografia aparentemente granulada dá a sensação de enfraquecimento do homem diante dos fatos da vida. Isso tudo constrói um filme denso e, como disse, difícil de ser compreendido à primeira vista. Porém, de todo modo, um belo filme.

23.11.08

E SE A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL BRASILEIRA SEGUISSE O MODELO AMERICANO?

Tudo bem, as eleições presidenciais norte-americanas foram realizadas no início deste mês - mas tem algo que sinto vontade de escrever.

O sistema eleitoral norte-americano, único no mundo, parece estranho à primeira vista. E é mesmo. Mas tem uma vantagem: o sistema de delegados, cuja quantidade varia por estado de acordo com o número da soma de deputados e senadores de cada um, é um ótimo indicador da importância de cada unidade da Federação dentro do país. Como bem lembrou o Serjão num texto recente, se tal sistema fosse adotado no Brasil não haveria projetos assistencialistas em profusão, como há no país - o governo não derramaria bolsa-qualquer-coisa num estado sem muita relevância caso ele valesse eleitoralmente menos. Ou seja, o populismo estaria desencorajado. De repente, pensei numa coisa: e se o sistema eleitoral americano (em que os candidatos à Presidência concorrem por estado, levando todos os delegados do estado em que seja vitorioso) fosse adotado no Brasil, como seriam as eleições presidenciais brasileiras?

Através de números oficiais do Tribunal Superior Eleitoral, simulei o que seriam eleições presidenciais seguindo o modelo americano desde 1994 (infelizmente, não tenho os números de 1989 divididos por estado). Levando-se em consideração que o número de delegados por estado seria o somatório do número de deputados federais com o de senadores, chegaríamos à impressionante quantidade de 594 votantes no Colégio Eleitoral - o que mostra que o número de parlamentares é excessivo no Brasil, visto que cada UF tem três senadores e, pelo menos, oito deputados federais (nos Estados Unidos, são apenas dois senadores por estado e há estados com apenas um único deputado - portanto, alguns estados têm três delegados no Colégio Eleitoral). O estado com o maior número de delegados seria São Paulo, com 73 (há 70 deputados federais paulistas na Câmara). Minas Gerais teria 56; o Rio de Janeiro, 49; a Bahia, 42; o Rio Grande do Sul, 34. Acre, Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins, com oito deputados federais cada, teriam o menor número de delegados: onze.

Por haver 594 delegados no total, um candidato precisaria de, pelo menos, 298 votos (metade mais um) para se eleger presidente do Brasil. Caso houvesse mais de dois candidatos eleitos pelos estados e nenhum deles alcançasse o "número mágico", haveria um segundo turno entre os dois mais votados.

Pois bem: em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) seria eleito com tranqüilidade da mesma forma que foi na eleição direta. O então ministro da Economia de Itamar Franco foi o mais votado em 25 das 27 unidades da Federação. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu apenas no Distrito Federal (11 delegados) e no Rio Grande do Sul (34 delegados). No total, FHC teria 549 votos no Colégio Eleitoral brasileiro, contra 45 dados a Lula.

Em 1998, embora com um pouco menos de folga, Fernando Henrique Cardoso seria reeleito presidente - como de certa forma foi, no primeiro turno. Mesmo com um governo um tanto contestado (como seria o de George W. Bush nos Estados Unidos, seis anos depois), FHC conseguiu ser o mais votado em 24 das 27 UFs. Lula foi o mais votado no Rio de Janeiro (49) e, novamente, no Rio Grande do Sul (34). Ciro Gomes (PPS) foi o mais votado no estado em que foi governador, o Ceará (25 delegados). No Colégio Eleitoral, Fernando Henrique teria 486 votos, Lula teria 83 e Ciro Gomes, 25.

Em 2002, Lula teria uma vitória ainda mais folgada da maneira indireta que teve na eleição real, em que teve que derrotar José Serra (PSDB) no segundo turno. O candidato tucano, curiosamente, acabaria em quarto lugar numa eleição à americana. Isso porque ele venceu em um estado que não daria muitos votos no Colégio - Alagoas, que daria 12 delegados. Ciro Gomes venceu novamente no Ceará. Anthony Garotinho (PSB) foi o mais votado no estado do Rio de Janeiro (ao passo que sua esposa Rosinha foi eleita governadora), e Lula foi o vitorioso no restante do país, obtendo 508 votos no Colégio Eleitoral. Garotinho seria o segundo colocado, com os votos dos 49 delegados fluminenses. Ciro Gomes teria os mesmos 25 votos de quatro anos antes; José Serra seria apenas o quarto colocado, com 12 votos.

Em 2006, teríamos a eleição indireta mais disputada, entre Lula e Geraldo Alckmin (PSDB). O ex-governador de São Paulo foi o mais votado em dez estados (Acre, 11; Goiás, 20; Mato Grosso, 11; Mato Grosso do Sul, 11; Paraná, 33; Rio Grande do Sul, 34; Rondônia, 11; Roraima, 11; Santa Catarina, 19; e São Paulo, 73) e no Distrito Federal (11 delegados). A surpresa gaúcha (Lula sempre tinha ganho no Rio Grande do Sul), porém, não seria suficiente para impedir a reeleição do petista - o fiel da balança seria o estado de Minas Gerais, com seus 56 delegados. Se Alckmin tivesse se beneficiado com os votos que reelegeram o governador Aécio Neves com folga no primeiro turno, teria sido eleito presidente. Mas como Lula venceu entre os mineiros, ficaria com 349 votos no Colégio, contra os 245 que seriam dados a Alckmin.

Brincadeira feita, voltemos ao mundo real. É o caso de pensar se seria diferente a atitude dos governos federais se cada unidade da Federação tivesse pesos diferentes para eleger o presidente da República... Como aqui cada cidadão vale um voto, só nos resta fiscalizar os nossos governantes.

20.11.08

PENSAM QUE É MOLEZA?



Quando Barack Obama estava em campanha para ser eleito presidente dos Estados Unidos, muitos tinham a esperança de que o então candidato democrata fosse uma espécie de mensageiro da paz - no atual governo, o de George W. Bush, houve muitos protestos por causa das guerras contra o terrorismo.

Como se apoiassem um Messias, vários "entendidos" em política internacional acreditavam que, num estalar de dedos dado no próximo dia 20 de janeiro (dia em que Obama tomará posse), os conflitos que envolvessem os Estados Unidos em todo o mundo (como os do Iraque e do Afeganistão) se encerrariam através do diálogo. Claro que não será assim - diálogo é importante, mas definitivamente não é tudo. Se de um lado há o poderio bélico e uma certa intransigência dos norte-americanos, do outro há fanáticos religiosos, terroristas, militantes comunistas, malucos de toda espécie. Pior, com a simpatia de muitos ao redor do mundo. Ou seja, o ódio antiamericano persistirá, de uma forma ou outra.

Uma prova disso se deu nesta quarta-feira, quando uma mensagem do grupo terrorista Al-Qaeda deu de ombros a qualquer possibilidade de conversa que Obama quereria fazer no exercício do cargo, acusando-o de ser "um negro que serve aos brancos", e de trair as origens negras e muçulmanas. A mensagem se baseava numa recente declaração de apoio de Obama a Israel, feita durante a campanha. Para eles, não há diferença alguma entre Bush e Obama, republicanos e democratas - tanto que alguns grandes atentados de Bin Laden e companhia foram cometidos quando o presidente ainda era Bill Clinton.

É, obamistas, vocês terão que se acostumar. Já que Barack Obama foi o mais votado na eleição presidencial, ele terá que assumir responsabilidades. Uma delas - talvez a mais importamte, mais até mesmo do que ajudar o seu país a superar a crise financeira mundial - é a de tentar conter o terrorismo. Na maioria das vezes, o diálogo de pouco adiantará para contê-lo. Será que, depois disso tudo, o mundo mudará?

13.11.08

O BONDE DO TERROR


  • Filme: 007: Quantum of Solace (Quantum of Solace, Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2008)
  • Direção: Marc Forster
  • Elenco: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric, Judi Dench, Giancarlo Giannini, Gemma Arterton, Jeffrey Wright

O mais novo filme da mais longa franquia de ação do cinema se adapta aos novos tempos, que pedem mais ação ainda - sem trair os ideais da série, porém. Pelo visto, a tentativa foi bem sucedida, visto que em poucos momentos a aventura cessa; o filme impõe ao espectador uma tensão constante.

Pela primeira vez na série, o início de um episódio é diretamente ligado ao final do anterior - o começo, por sinal, é demolidor, com uma frenética perseguição a James Bond por estradas italianas. O agente secreto, aliás, está mais bruto e cru que as mais "classudas" versões anteriores. Ele está movido pelo instinto de vingança causado por circunstâncias ligadas ao filme anterior, e encontra alguém que sente o mesmo que ele. É essa ligação que conduz os destinos do filme, até o seu final.

Alguns dizem que Bond está mais amargo do que nunca. Eu diria que é o sinal dos tempos. O comunismo não é mais o principal alvo do agente britânico, por razões óbvias. O mote principal deste filme é a sede de poder que move os seres humanos de má índole. E haverá mais coisas importantes com que Bond certamente irá se preocupar no futuro.

8.11.08

McCAIN CONTRA O LIMBO



Você, brasileiro com cerca de 30 anos de idade, já ouviu falar em Walter Mondale? Ou em Michael Dukakis? Ou em Bob Dole? Ainda se lembra de John Kerry?

Pois é. O senador republicano John McCain, recentemente derrotado por Barack Obama nas eleições presidenciais norte-americanas, terá que lutar contra uma escrita: a de ser esquecido pela opinião pública mundial nos anos seguintes à eleição. À exceção de Al Gore, derrotado em 2000 por George W. Bush (consagrado como grande estrela da causa ambiental e vencedor do Prêmio Nobel da Paz anos mais tarde), todos os candidatos derrotados na corrida pela Casa Branca nas últimas três décadas, pelo menos (contanto que não estivessem tentando a reeleição), caíram no esquecimento mundo afora.

Em 1972, o democrata George McGovern perdeu para o reeleito Richard Nixon, que renunciaria dois anos mais tarde, graças ao escândalo do Watergate. Nixon foi substituído por Gerald Ford, que perderia em 1976 para Jimmy Carter - que, por sua vez, desgastado pela Revolução Iraniana e pelo seqüestro de terroristas à embaixada norte-americana em Teerã, perderia em 1980 para Ronald Reagan. O ex-ator e ex-governador da Califórnia, considerado até hoje um dos melhores presidentes da história dos Estados Unidos, teve uma reeleição consagradora em 1984, derrotando o democrata - e vice de Carter - Walter Mondale, que pelo visto concorreu só pra cumprir tabela. A onda republicana que varreu os anos 80 beneficiou o vice de Reagan, George Bush - pai do atual presidente. Em outra eleição fácil, venceu Michael Dukakis, outro que despontou rumo ao anonimato.

Em 1992, Bush Sr. tentou se reeleger, mas perdeu para o democrata Bill Clinton. Em 1996, Clinton "aposentou" o senador por Kansas, Bob Dole. Em 2000, a única exceção entre os derrotados: o vice de Clinton, Al Gore, perdeu no Colégio Eleitoral para George W. Bush, mas levou a fama por onde passou, consagrando-se como defensor de causas ambientais. Em 2004, John Kerry, senador por Massachusetts (assim como era Dukakis), tentou tirar Bush pelo voto, mas não obteve êxito. Quatro anos depois, quase ninguém de fora dos Estados Unidos se lembra dele - assim como ocorre com McGovern, Mondale, Dukakis, Dole... e pode ocorrer com McCain.

Isso se deve, concluo, pela alta rotatividade existente na política norte-americana. O cenário político da nação mais rica do planeta parece se renovar a cada ciclo presidencial. Enquanto isso, aqui no Brasil, temos candidatos com chance real de se eleger por quatro ou cinco eleições seguidas, e nas próximas discute-se sobre o nome de alguém que perdeu há seis anos. Com uma política que quase não se renova, fica difícil pensar em novidades.

5.11.08

AGORA É OBAMA! E AGORA, OBAMA?


Confirmando seu amplo favoritismo, construído desde sua nomeação como candidato pelo Partido Democrata, o senador Barack Hussein Obama Jr. foi eleito, nesta terça-feira, presidente dos Estados Unidos da América. Pela primeira vez, um político de origem negra ocupará o cargo mais poderoso do planeta.

Uma catarse coletiva, uma grande sensação de euforia, atingiu o planeta com a eleição de Obama - em parte causada pelo ineditismo da situação, mas também com a certeza de que a Era Bush parece ter, definitivamente, chegado ao fim. O desastroso segundo mandato do atual presidente norte-americano certamente colaborou para a consagradora eleição de Obama, mas não foi o fator determinante. Isso pode ser credenciado à crise financeira mundial, que fez com que as propostas do candidato democrata fossem vistas pelo eleitorado como mais adequadas à economia do país.

Registre-se o comparecimento recorde dos eleitores, num país em que o voto não é obrigatório. Bateu um recorde que durava mais de um século, pelo que parece. Isso mostra que basta um incentivo extra para os eleitores saírem de casa para votar - e isso foi o que não faltou nos Estados Unidos, ao contrário das até certo ponto insossas eleições de 2000 e 2004. Por causa do confuso sistema eleitoral do país, em que cada estado adota um modelo diferente de votação, houve filas de até oito horas de espera - a essa altura, os norte-americanos devem estar morrendo de inveja das eleições brasileiras, em que quase não há filas...

Já escrevi aqui algumas vezes que a campanha de Obama guarda semelhanças com a de Lula aqui no Brasil, em 2002 - principalmente no assunto "esperança vencendo o medo". O mundo certamente dará um voto de confiança ao futuro presidente, e Obama faz por merecê-lo, pois lutou para isso. Basta esperar para ver se ele, na Casa Branca a partir de 20 de janeiro de 2009, cumprirá as promessas que fez ou ficará deslumbrado com o cargo, como ocorreu com alguém que nós, brasileiros, conhecemos muito bem... Se a segunda hipótese acontecer, basta lembrar que agora é em níveis mundiais.

3.11.08

NÃO FOI POR FALTA DE OPORTUNIDADE


  • Filme: Última Parada 174 (Brasil/França, 2008)
  • Direção: Bruno Barreto
  • Elenco: Michel Gomes, Cris Vianna, Marcello Melo Jr., Gabriela Luiz, Anna Cotrim, Tay Lopez

O longa de Bruno Barreto conta a história da vida do autor do mais impactante seqüestro do país no final do século passado - o do ônibus da linha 174, no Rio, em 12 de junho de 2000. E o faz de forma original, levemente baseada nos fatos reais - cruzando duas histórias que, se não são verdadeiras, bem que poderiam ser.

O roteiro do filme, de autoria do premiado Bráulio Mantovani (o mesmo de filmes que seguem quase o mesmo tema, como Cidade de Deus e Tropa de Elite), é bem estruturado, apesar de alguns pequenos furos - como o que dá a entender que o massacre da Candelária (do qual Sandro do Nascimento, o futuro seqüestrador, foi sobrevivente) e o seqüestro do 174 ocorreram no mesmo ano. O elenco tem poucos nomes conhecidos, e isso causa mais realismo nas cenas.

Coisas que parece que só eu percebi, pois não li nenhuma nota a respeito: houve afirmações de que o filme tentava justificar que a causa da violência era a falta de oportunidades dadas aos cidadãos. Mas o que mais eu vi na película foram oportunidades dadas ao sujeito. Só não as aproveitou porque não quis, preferiu barbarizar por aí. Só não precisava levar um monte de gente junto. Tem outra coisa: ando vendo demais ou o aspira Matias de Tropa de Elite fez lambança no BOPE três anos depois de ser promovido? Afinal de contas, o ator André Ramiro aparece também em Última Parada 174, no papel do negociador do batalhão especial da polícia durante o seqüestro, no que não fez muito sucesso em sua missão.

2.11.08

QUESTÃO DE TEMPO


Havia poucas chances, mas quase deu para Felipe Massa conquistar o título mundial de Fórmula-1 deste ano. Ainda que o britânico Lewis Hamilton merecesse o título desde o ano passado, não deixou de ter um certo gosto amargo a vitória do brasileiro em Interlagos, neste domingo. Hamilton precisava de um quinto lugar para ser campeão sem precisar de outros resultados, e o conseguiu nas últimas curvas da última volta - quando Massa já tinha cruzado a linha de chegada em primeiro - ao ultrapassar o alemão Timo Glock, que segurava o carro aos trancos e barrancos na pista molhada.

De todo modo, podemos afirmar: o Brasil tem para quem torcer na maior categoria do automobilismo mundial. O fato é que Felipe Massa sai deste ano maior e mais forte do que estava quando entrou, assim como ocorrera com o próprio Hamilton no ano passado. A partir deste instante, Massa se torna um dos favoritos a conquistar o título em 2009. Isso, se a Ferrari não atrapalhar.

30.10.08

E 2010, O QUE SERÁ?

As eleições municipais de 2008 passaram e, como sempre, haverá especulações acerca das próximas eleições, as de 2010. No Rio, mesmo tendo sido derrotado no segundo turno, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) foi o grande vitorioso deste pleito. Afinal, como disse Reinaldo Azevedo, ele fez sua estréia como político de massas - antes deste ano, era visto como "político de opinião". Tanto que muitos de seus eleitores cogitam uma candidatura de Gabeira a senador, daqui a dois anos. Como o eleitorado votará em dois candidatos ao Senado, as chances serão grandes. O atual prefeito Cesar Maia (DEM) também pensa no cargo, mas o nome dos meus sonhos é o da ex-deputada federal Denise Frossard (PPS). Afinal, há grande necessidade de nomes fortes, para que seja impedida a reeleição do senador Marcelo Crivella (PRB).

Entre os possíveis postulantes ao cargo de governador do estado do Rio, é possível que Sérgio Cabral Filho (PMDB) não tente a reeleição - embora as atuais circunstâncias apontem para tal - caso as relações com o governo Lula continuem intensas. Pode ser que ele seja candidato à presidência ou pelo menos a vice, com Dilma Rousseff (PT) na cabeça da chapa. Com isso, podem crescer as chances do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, candidatar-se a ocupar o Palácio Guanabara. Entre os prováveis adversários, um nome forte é o do prefeito reeleito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT). Não tenho idéia de quem poderá ser o candidato de uma hipotética chapa DEM/PSDB, mas pode ser o deputado federal democrata Índio da Costa ou o deputado estadual tucano Luiz Paulo Corrêa da Rocha (ex-vice-governador e candidato ao governo do estado em 1998), que foi vice de Gabeira neste ano. No PDT, a vice-prefeita eleita de Nova Iguaçu, Sheila Gama, começa a despontar.

Já na presidência da República... Olha, não tenho noção de quem possa ser o nome da oposição para disputar o cargo daqui a dois anos. No PSDB, sinceramente, acho pouco provável que o governador de São Paulo, José Serra, se candidate. Afinal, em 2006, ele deixou a prefeitura da capital paulista para conseguir o Palácio dos Bandeirantes - acho mais provável que tente a reeleição. O ex-governador Geraldo Alckmin está descartado. Ou seja, está para surgir um nome para os tucanos tentarem voltar ao poder nacional. Pode ser que esse nome venha do DEM, mas é pouco provável.

Este texto foi algo parecido com um que fiz há dois anos, exatamente após as eleições de 2006. Acertei poucos prognósticos, mas acertei em cheio em partes do terceiro e do quarto parágrafos - e quase acertei no início do quinto. Reparem que havia até um partido político novo, que acabou morrendo no nascedouro. Coisas da cláusula de barreira, que acabou não saindo do papel.

26.10.08

AGORA, É TORCER



Numa apuração emocionante (a mais equilibrada de todos os tempos na capital fluminense, como eu já tinha previsto no texto ali embaixo, quando disse que o vencedor seria eleito com menos de 51% dos votos válidos), Eduardo Paes (PMDB) é o novo prefeito do Rio de Janeiro. Com 50,83% dos votos válidos (1.696.195), o candidato derrotou o deputado federal Fernando Gabeira (PV), que obteve 49,17% (1.640.970).

Agora, é o momento de torcer. Torcer para que a tão alardeada união entre as três esferas de governo (nacional, estadual e municipal) funcione e beneficie a cidade do Rio. Torcer para a cidade não virar uma festa de políticos dispostos a aparecer o tempo todo, deixando mais uma vez a população de lado. Torcer para que seja estancada a decadência política e econômica da cidade. Torcer, enfim, por um bom mandato (ao menos, digno) de Eduardo Paes...

Nas outras duas cidades fluminenses em que houve segundo turno, vitórias do PT (com Paulo Mustrangi em Petrópolis, derrotando Ronaldo Medeiros, do PSB, com 65,10%) e PMDB (com Rosinha Matheus em Campos, vencendo Arnaldo Vianna, do PDT, com 54,47%).

  • POR TODO O BRASIL, NADA DE SURPRESAS

Nas outras cidades brasileiras em que houve segundo turno, também não houve grandes reviravoltas. Em São Paulo, uma chuva de votos reelegeu Gilberto Kassab (DEM) prefeito, com 60,72%, derrotando a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Em Belo Horizonte, depois de uma reação espetacular nas pesquisas, as urnas consagraram o candidato de coalizão entre o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel. Márcio Lacerda (PSB) é o novo prefeito da capital mineira, com 59,12%, ao vencer Leonardo Quintão (PMDB).

Em Salvador, João Henrique (PMDB) foi reeleito prefeito ao vencer Walter Pinheiro (PT), com 58,46% dos votos válidos. Outro reeleito foi José Fogaça (PMDB), com 58,95%, vencendo Maria do Rosário (PT).

  • DONDE SE CONCLUI QUE...

Em geral, nas capitais, os candidatos mais apoiados pelo governo federal não obtiveram muito êxito. Mesmo em cidades onde se saíram vitoriosos (como Rio e BH), os candidatos derrotados é que acabaram levando a fama. Isso propõe que a oposição tenha acabado de começar a construir uma fortaleza de reação para as eleições de 2010? Só o tempo dirá. O certo é que as próximas eleições podem ser imprevisíveis, mais uma vez - desta feita, em níveis nacionais.

25.10.08

SURPREENDA-ME, ELEITORADO CARIOCA!



Na noite desta sexta-feira, foi realizado o último debate entre os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV). Como nos demais debates, o candidato verde saiu-se melhor em suas propostas. Mas esta eleição que se realizará no próximo domingo promete ser a mais equilibrada de todos os tempos na cidade.

Isso se reflete nas próprias pesquisas de intenção de voto, que ficaram em empate técnico desde o reinício da campanha, após o final do primeiro turno. Gabeira ficou na frente na maior parte do tempo, mas Paes obteve a vantagem nesta última semana - talvez beneficiado com os apoios de partidos da base do governo, graças ao natural uso das máquinas administrativas. Contudo, o equilíbrio persiste, o que faz com que o pleito fique imprevisível.

A candidatura de Gabeira representa uma força que estava oculta, mas voltou com vigor: o voto jovem. A Internet ajudou muito a espalhar as propostas do candidato verde pela cidade, mesmo que com uma campanha de certa forma discreta, sem salamaleques. Ainda que não chegue a grande parte dos eleitores cariocas, já é um grande ganho, visto que Gabeira não conta com uma campanha milionária e ostensiva como a do peemedebista. Mesmo assim, em um cenário em que Paes ganharia com facilidade (considerando-se que o eleitorado carioca, em geral, sempre se atrelou ao populismo desenfreado, como atestam os Chagas-Freitas, Brizolas, Garotinhos e Maias da vida), não há absolutamente definição alguma de quem será eleito no domingo. A minha previsão é de que o vencedor terá menos de 51% (entre 50,01 e 50,99%) dos votos válidos.

Ou seja, Gabeira não tem absolutamente nada a perder. O deputado federal terá seu prestígio inabalado, mesmo que seja derrotado nas urnas domingo. Já Eduardo Paes, ainda que seja eleito, sairá chamuscado. Afinal, aliou-se a um balaio de gatos que certamente cobrará cargos como retribuição ao apoio dado a ele no segundo turno. Portanto, o eleitor carioca terá que pensar bem diante da urna, ao votar para prefeito. Escolherá entre uma candidatura que pensa a cidade como grande pólo de desenvolvimento, uma porta aberta para o mundo como o Rio sempre foi, ou apenas mais um cabide de empregos e presentes de amigo que, mais uma vez, deixará a cidade na rabeira, à mercê de todo tipo de fisiologismo barato.

Surpreenda-me, eleitorado carioca!

24.10.08

MINHAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: 2004

As eleições municipais de 2004, ao contrário das expectativas que havia quatro anos antes, eram repletas de pessimismo para o eleitorado carioca. Afinal, não existia candidato algum que pudesse satisfazer plenamente os anseios dos eleitores.

O segundo mandato de Cesar Maia como prefeito do Rio era cercado de críticas, principalmente no trato com os preparativos da cidade para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007. A prefeitura não podia contar com a ajuda do governo estadual, de Rosinha Matheus, e muito menos do presidente Lula, mais preocupado em tentar reeleger Marta Suplicy prefeita de São Paulo. Aliás, nos dois primeiros anos de seu mandato, Lula dedicou mais da metade de seu tempo e de seus esforços (inclusive políticos e financeiros) à capital paulista, o que gerou muitos protestos de várias partes do Brasil, inclusive do Rio (tanto o estado quanto a cidade). O que era comentado na época é que, se o Pan de 2007 (cuja sede foi definida em agosto de 2002, quando o presidente ainda era Fernando Henrique Cardoso) fosse em São Paulo e não no Rio, todas as instalações já teriam sido prontas três anos antes, o que deixaria os chineses vermelhos de inveja...

Pois bem. Se Cesar Maia (que também tentava a reeleição, pelo PFL) era criticado por grande parte da população, seus concorrentes não inspiravam a menor confiança. Entre outros, estavam o senador Marcelo Crivella (PL), pastor licenciado - ou não - da Igreja Universal do Reino de Deus; o então vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB), ex-aliado e agora desafeto de Cesar; e os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB) e Jorge Bittar (PT), que juntos já seriam fracos, quanto mais separados. Bittar manteve uma estranha coligação com o PTB (que lançara a vitoriosa candidatura de Cesar Maia quatro anos antes), cujos motivos seriam revelados no ano seguinte, com a crise do mensalão denunciada pelo então deputado federal e presidente do partido, Roberto Jefferson, que não recebeu sua parte e decidiu abrir o bico.

A campanha, como o esperado, foi no esquema todos-contra-um. Era mais enxuta - diferentemente das eleições anteriores, desta vez havia apenas 10 candidatos à prefeitura do Rio. Alguns meses antes do pleito, ainda na época de definição dos candidatos, a deputada federal Denise Frossard, que tinha sido a mais votada do estado em 2002, se desentendeu com o seu então partido, o PSDB. Seu presidente regional, o ex-governador Marcello Alencar, decidiu apoiar o prefeito Cesar Maia - inclusive nomeando seu candidato a vice, Otávio Leite. Isso causou a saída de Frossard das hostes tucanas, e seu apoio ao obscuro deputado estadual André Corrêa, do PPS. No ano seguinte, Frossard se filiaria ao partido de Roberto Freire, pelo qual concorreria ao governo do estado em 2006, apoiada por PV e... PFL! Não foi eleita (perdeu para o senador Sérgio Cabral Filho, do PMDB, no segundo turno), mas fez um bom nome para eleições futuras.

Voltemos a 2004. Com uma candidata forte a menos, nem é preciso dizer que Cesar Maia apenas administrou a campanha até o fim do primeiro turno, mesmo porque os adversários não inspiravam confiança, como já tinha escrito neste texto. Mesmo assim, a dúvida persistia, inclusive em mim. Na manhã do primeiro turno, 3 de outubro, ainda não tinha definido quem receberia meu voto para prefeito, ainda mais com um debate televisivo desastroso, repleto de acusações entre os cinco primeiros colocados que lá estavam, três dias antes. Pesei os prós e contras de cada um e, no final, optei pelo menos pior: o próprio prefeito, Cesar Maia. Entre o errado e o duvidoso, escolhi o duvidoso...

Muitos fizeram o mesmo - possivelmente com medo de que o senador Crivella fosse ao segundo turno. Deu resultado: desde que o segundo turno em eleições do Executivo foi adotado em 1989 (em eleições municipais, essa possibilidade existe desde 1992), pela primeira vez o prefeito do Rio foi eleito no primeiro turno. Além disso, houve o primeiro reeleito: Cesar Maia (PFL) venceu, com 1.728.853 votos (50,11% dos votos válidos). Marcelo Crivella (PL) ficou em segundo, com 753.189 votos (21,83%). O então vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB) foi o terceiro, com 385.848 (11,18%); a então deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) ficou em quarto, com 238.098 (6,90%); e o deputado federal Jorge Bittar (PT) foi o quinto, com 217.753 (6,31%). Resultados que marcaram a eleição mais nivelada por baixo da história da cidade do Rio de Janeiro.

23.10.08

MINHAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: 2000

As últimas eleições do século XX prometiam ser as mais equilibradas em muito tempo no Rio de Janeiro. Vários fatores em anos anteriores contribuíam para isso.

Derrotado por Anthony Garotinho (PDT) na eleição para governador do estado, dois anos antes, o ex-prefeito Cesar Maia queria voltar ao comando da cidade. O então prefeito, Luiz Paulo Conde, vinha tendo boa aceitação popular - tanto que o então deputado estadual Sérgio Cabral Filho (que trocara o PSDB pelo PMDB no ano anterior) desistiu de uma candidatura a prefeito, na qual ele teria muitas chances de se eleger, para apoiá-lo. Ou seja, os dois primeiros colocados nas eleições municipais anteriores, desta vez, estavam juntos. Uma aliança aparentemente imbatível, muitos pensavam. Pois é... Só faltou combinarem com o ex-prefeito.

Pouco tempo após a derrota nas eleições estaduais de 1998, Cesar e Conde se desentenderam, o que causou a saída de Maia do PFL e sua adesão ao PTB de Roberto Jefferson. O partido trabalhista, depois da Era Vargas, da ditadura militar (quando teve suas atividades suspensas) e da abertura política (quando foi recriado pelo grupo de Ivete Vargas, que derrotou o grupo de Leonel Brizola, que mais tarde criaria o PDT), nunca teve muita relevância no cenário político brasileiro, e no Rio não foi muito diferente. Portanto, a filiação de um forte nome como o de Cesar Maia acabaria por ser um alento para os petebistas, esperançosos em, finalmente, crescer num grande reduto político como o carioca.

Mas a luta não seria fácil. Desde o início da campanha de 2000, Conde era o líder absoluto das pesquisas de intenções de voto. Enquanto isso, Cesar Maia se engalfinhava pelo segundo lugar com a petista Benedita da Silva (vice-governadora na época), derrotada por ele no segundo turno oito anos antes. Como em 1996, havia 14 candidatos à prefeitura do Rio - entre eles, nomes experientes como o ex-governador Leonel Brizola (PDT), tentando reverter um pouco sua inevitável decadência política, que culminaria no seu fracassado projeto de se eleger senador, em 2002; incomuns como Alexandre Cardoso (PSB), que tentara se eleger prefeito de Duque de Caxias em 1996, e tentaria novamente fazê-lo em 2004; e ilustres desconhecidos como Gilberto Ramos (PPB), que foi traído descaradamente por um correligionário: o então deputado federal e futuro presidente do Vasco, Eurico Miranda, que declarou apoio a Conde.

Ligeiro momento pessoal: enquanto rolava o fim da campanha do primeiro turno, eram realizados em Sydney, na Austrália, os Jogos da XXVII Olimpíada da Era Moderna. A campanha brasileira foi um fiasco (depois de 24 anos, o Brasil não ganhou nenhuma medalha de ouro) e a cerimônia de encerramento foi realizada no dia da eleição, 1º de outubro. Varei a madrugada assistindo o último dia dos Jogos pela TV - quem me conhece, sabe que a minha tara pelas Olimpíadas não é segredo pra ninguém - e, logo depois da cerimônia de encerramento, fui votar. Eram cerca de oito horas da manhã. Pesei os prós e contras de cada candidato e optei por Cesar Maia. Na época, ele era visto como um bom administrador - a campanha dava ênfase a isso -, o que pesou na decisão. Para vereadora, votei em Patrícia Amorim, do PMDB. Deu certo: com mais 24.650 votos, ela foi eleita, sendo a segunda mais votada de seu partido.

Na eleição para prefeito, como esperado, Luiz Paulo Conde (PFL) ficou em primeiro lugar na primeira votação, com 1.124.915 votos (34,69% dos votos válidos). Cesar Maia (PTB) ficou com 747.132 votos (23,04%), seguido bem de perto por Benedita da Silva (PT), com 733.693 votos (22,62%). Ou seja: o segundo turno seria entre dois ex-aliados políticos. Afundado em sua cada vez mais crescente irrelevância política, Leonel Brizola (PDT) ficou em quarto, com 295.123 votos (9,10%). A curiosidade fica por conta do último colocado, Paulo Sérgio Ribeiro de Pinho, do então novato PCO: apenas 555 votos, 0,01% dos votos válidos. Nunca um candidato à prefeitura do Rio obteve tão poucos votos. Seria o início da trajetória de pífias votações obtidas pelos candidatos do eternamente nanico Partido da Causa Operária.

Pois bem: era a hora da verdade. Luiz Paulo Conde e Cesar Maia, o ocupante e o ex, disputariam o segundo turno das eleições municipais de 2000 no Rio de Janeiro. Como o previsto, Conde começou bem nas pesquisas; porém, logo depois, as coisas começaram a se equilibrar. A campanha foi bem agressiva, com acusações de ambos os lados, mas Conde mantinha a dianteira - ainda que por pouco - mesmo assim. Até que uma frase infeliz, dita por Conde num debate em uma rádio, começou a fazer sua campanha ruir. Falando a jornalistas, o então candidato à reeleição disse "mentir menos" que Cesar. Tudo que um candidato à prefeitura, numa campanha bem disputada, não precisaria falar. Nem precisa dizer que Cesar aproveitou isso.

O resultado viria no segundo turno, em 29 de outubro. Numa apuração emocionante, Cesar Maia foi, pela segunda vez, eleito prefeito do Rio de Janeiro. Obteve 1.610.176 votos (51,06% dos votos válidos), enquanto Conde conseguiu 1.543.327 votos (48,94%). A eleição de Cesar abriu caminho para sua volta ao PFL, conseguida logo após a saída de Conde do partido, no ano seguinte.

Mesmo tendo sido derrotado, Conde obteve certa notoriedade política, ainda que discretamente. Filiou-se ao PSB, juntamente com o grupo do então governador Garotinho. Em 2002, elegeu-se vice-governador, graças à eleição de Rosinha Matheus como governadora do estado. Com os Garotinhos e seu grupo, filiou-se ao PMDB, onde aderiu ao grupo de Cabral (que, àquela época, era senador) e concorreu novamente à prefeitura, em 2004. Mas isso é assunto pra outro texto.

22.10.08

MINHAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: 1996

Em 1996, eu estava prestes a completar 17 anos e tirei meu título de eleitor. Eu estava disposto a participar da primeira eleição municipal. Tanto que prestei atenção, muita atenção, mais do que já prestava antes, nos programas eleitorais da televisão.

Falando nisso, 1996 foi o primeiro ano em que as emissoras abertas transmitiram os programas eleitorais de cidades diferentes. Até 1992, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, as emissoras apenas exibiam o programa eleitoral da capital fluminense. A novidade, pra mim, era fascinante. Cada dia eu ficava em um canal diferente. Excelente oportunidade de conhecer as propostas de cada cidade.

Voltemos ao Rio, porém. Havia 14 candidatos à prefeitura da cidade, disputando a sucessão de Cesar Maia, que tinha sido eleito quatro anos antes pelo PMDB e trocado o partido pelo PFL lá pelo meio do mandato. Um dos assuntos da campanha era a candidatura do Rio a sede das Olimpíadas de 2004, e os Jogos de Atlanta, realizados no meio daquele mesmo ano, ajudaram a construir o clima.

Dentre os catorze candidatos, estavam o então deputado estadual e futuro governador Sérgio Cabral Filho (PSDB) e o deputado federal Miro Teixeira (PDT), além de Chico Alencar (PT), Sérgio Arouca (PPS) e Vanderlei Assis (PRONA), que ficaria, seis anos depois, conhecido por ter sido eleito deputado federal por São Paulo - mesmo morando no Rio - graças à expressiva votação obtida por Enéas Carneiro, presidente nacional do partido. Mas a grande sensação daquelas eleições seria um então obscuro secretário municipal do prefeito Cesar Maia.

O secretário de Urbanismo, Luiz Paulo Conde (PFL), viria do desconhecimento ao estrelato graças à ostensiva campanha do prefeito. No início da campanha, ele tinha apenas 3% das intenções de voto. Era a época do RioCidade, vasto programa de obras de embelezamento que tomou conta da cidade daquele ano - que, mais tarde, se tornaria meramente eleitoreiro, pois tais obras não se mostrariam um primor de conservação. Em alguns casos, no afã de mostrar-se arrojado, o RioCidade cometeu vários exageros - o maior deles em Ipanema, com um esdrúxulo obelisco e uma passarela que, literalmente, liga o nada a lugar algum. O Favela-Bairro também era uma das obras municipais da época, cuja continuidade Conde prometia em sua campanha.

De todo modo, as tais obras funcionaram. Tanto que a campanha de Conde cresceu e apareceu - inclusive no meu conceito. No primeiro turno, realizado no dia 3 de outubro (pela última vez, o primeiro turno eleitoral teve uma data fixa; dali em diante, ele seria realizado sempre no primeiro domingo de outubro), o candidato pefelista obteve a expressiva marca de 1.192.438 votos (40,28% dos votos válidos - uma das novidades daquela eleição, mas a maior delas foi, sem dúvida, o voto eletrônico, inicialmente apenas nas capitais e nas cidades com mais de 200 mil eleitores). O então tucano Cabral conseguiu 729.611 votos (24,64% dos votos válidos), classificando-se ao segundo turno.

Tendo um candidato do PFL e outro do PSDB no segundo turno do Rio, cidade onde as esquerdas sempre tiveram enorme tradição, claro que elas iriam chiar. Afinal, o Brasil era governado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, cuja política era vista como elitista, mesmo também sendo de esquerda. PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB e PSTU (o PCO ainda não existia na época) passaram a fazer campanha aberta pelo voto nulo. Na campanha de verdade, além da promessa de incentivo à candidatura carioca às Olimpíadas de 2004 - que seria mal-sucedida no ano seguinte, pois o Rio não passou da primeira fase -, promessas mirabolantes brotavam nas duas candidaturas. Entre elas, a de um veículo leve sobre trilhos, de Conde.

O segundo turno, realizado em 15 de novembro, mostrou a força que Cesar Maia tinha sobre o eleitorado carioca na época. Conde foi eleito por 1.735.415 cariocas (62,17% dos votos válidos), enquanto Cabral ficou com 1.055.993 votos (37,83% dos votos válidos). A eleição de um quase desconhecido para a prefeitura da segunda maior cidade do país (algo idêntico com o que ocorreu em São Paulo, com Celso Pitta, do PPB, apoiado pelo então prefeito Paulo Maluf) credenciou Maia a disputar o governo do estado do Rio, dois anos mais tarde. Como sabem, o vencedor seria o ex-prefeito de Campos, Anthony Garotinho, que derrotaria o ex-prefeito carioca no segundo turno. Mas isso é assunto pra daqui a dois anos...

P.S.: Antes que me perguntem, respondo logo que, para vereador, votei no Salgadinho - na verdade, o ator Rogério Cardoso, candidato pelo PSDB. O "apelido político" foi usado por Cardoso no ano anterior, como personagem da novela Explode Coração, de Glória Perez. Admito que votei mais pelo nome que pelas propostas, mas favor relevar - afinal, era a minha primeira eleição... Inicialmente, ele não foi eleito - obteve 11.653 votos. Mas, salvo engano, assumiria o cargo em 1999, aproveitando que um titular tinha sido eleito deputado. Entre várias coisas, conseguiu a chamada Lei da Orelhinha, que prevê a obrigatoriedade de exame auditivo em recém-nascidos, para prevenção de doenças. Tentou se reeleger em 2000, mas não obteve sucesso. Morreu em 2003, vítima de enfarte do miocárdio - na época, fazia sucesso como o Floriano do seriado A Grande Família.

P.S. 2: Como os cariocas já devem ter percebido, o tal veículo leve sobre trilhos - uma das bandeiras da candidatura de Conde - jamais saiu do papel.

19.10.08

GO WEST



Um fenômeno interessante é notado nas eleições municipais do Rio de Janeiro, principalmente no segundo turno. Os dois candidatos que disputam a cadeira de prefeito no Palácio da Cidade (Eduardo Paes, do PMDB, e Fernando Gabeira, do PV) parecem ter elegido a Zona Oeste da cidade como prioridade de campanha. Tanto que os dois quase não têm saído de lá.

A região, vista como a mais esvaziada em termos de recursos públicos e investimentos, assim como mais vitimada pela violência que as partes mais conhecidas da cidade, virou a grande meta para os candidatos à prefeitura. Os dois candidatos têm feito promessas e propostas para a região, garantindo que ela não ficará tão abandonada como parece a partir do ano que vem. Faltando uma semana para o pleito definitivo, a campanha na região está se intensificando cada vez mais. Isso porque tudo leva a crer que é na Zona Oeste que a eleição será decidida.

Os candidatos também têm seus motivos para caçar os votos, assim como também têm seus calcanhares-de-Aquiles. Paes foi subprefeito na região na época de Cesar Maia e Luiz Paulo Conde (lá pela metade da década passada), teve uma atuação marcante quando uma grande enchente atingiu a região - mas muitos se queixam de sua pouca presença depois de seu rompimento com Maia. Já Gabeira, que lançou sua candidatura à prefeitura em Bangu, luta contra a gafe cometida ao criticar a vereadora eleita e aliada Lucinha (PSDB), que tem base na região, quando chamou-a de analfabeta política. Mas tem marcado sua presença na Zona Oeste com suas propostas, assim como seu adversário.

Para quem se sentia à mercê do chamado poder paralelo (na mesma Zona Oeste, também há denúncias sobre milícias que exploram habitantes das favelas da região - ali, de forma mais intensa ainda -, e o tráfico também marca forte presença), as propostas dos dois candidatos são motivos de forte animação por parte do eleitorado da região. Resta saber se o vencedor cumprirá suas promessas a partir de janeiro.

18.10.08

PRA ELES, OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS. SEMPRE


Como sabem, o candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Eduardo Paes, por pura influência do governador Sérgio Cabral Filho, é apoiado pela base do governo federal - incluindo o PT, tão detonado por Paes há dois ou três anos (quando o então deputado federal ainda era do PSDB, que atualmente apóia o adversário Fernando Gabeira, candidato do PV).

Pelo visto, se os petistas ainda guardavam mágoas do candidato de Cabral, perdoaram-no rapidinho. Dispostos a não perder a bocada na capital fluminense (onde os quatro candidatos da base do governo federal - a saber, pela ordem de colocação: Marcelo Crivella, do PRB; Jandira Feghali, do PCdoB; Alessandro Molon, do próprio PT; e Paulo Ramos, do PDT - foram derrotados de forma humilhante), os militantes do Partido da Boquinha (a única coisa verdadeira que o ex-governador Anthony Garotinho falou na vida, diga-se) abraçaram a campanha de Paes com fervor.

Esta campanha municipal no Rio está sendo marcada por panfletos que configuram propaganda negativa contra candidatos - o que é condenado pela Justiça Eleitoral. No primeiro turno, vários candidatos à prefeitura do Rio sofreram com isso - inclusive Paes. Neste segundo turno, esse tipo de crime político atinge majoritariamente Gabeira, com vários desses panfletos exaltando o "orgulho suburbano" (baseado numa crítica do candidato verde, flagrada por jornalistas, a uma vereadora de sua coligação). Pois bem: vários desses panfletos - criticando o apoio do atual prefeito, Cesar Maia, à candidatura de Gabeira - foram pagos pelo PT. Leia mais aqui.

O detalhe é que o PT nunca apitou nada pelas bandas da cidade do Rio de Janeiro - tanto que nunca elegeu um prefeito na cidade, apenas nas vizinhas como Niterói e Nova Iguaçu. Governador, zero. Só vive da eleição de Benedita da Silva como senadora em 1994 e do largo número de votos dados a Lula como presidente. No que depender das pessoas esclarecidas desta cidade, vai perder de novo.

Mas não será fácil. Não fosse a população carioca, em sua maioria, chegada a rompantes de populismo, Gabeira certamente ganharia de lavada. Como deverá acontecer em São Paulo, com Gilberto Kassab (DEM) contra Marta Suplicy. E como, pelo visto, deverá ocorrer em Belo Horizonte, com Leonardo Quintão (PMDB) bem na frente do candidato-Frankenstein Márcio Lacerda (PSB), apoiado pelo governador tucano e pelo prefeito petista. Com certeza eles devem ter pensado que teriam capacidade para eleger até um poste, exatamente como Lula, Cabral etc. pensavam até bem pouco tempo atrás...

15.10.08

VALE TUDO. ATÉ JUNTAR HOMEM COM HOMEM



Como costuma acontecer em todo segundo turno que se preze, há vezes em que campanhas eleitorais descambam para o baixo nível. Como ocorreu em São Paulo, em que o programa televisivo de Marta Suplicy (PT) insinuou algo acerca da sexualidade do seu adversário, o atual prefeito da cidade, Gilberto Kassab (DEM), perguntando se ele era casado ou tinha filhos.

Não é relevante se determinado político é hétero, homo, bi ou pansexual, ou mesmo assexuado, contanto que faça um bom governo e atenda aos interesses da população. O prefeito Kassab está na prefeitura há dois anos e meio (desde a renúncia de José Serra para se candidatar ao governo do estado, em 2006), com altas taxas de aprovação da população paulistana e, até agora, ninguém questionou a sexualidade do indivíduo. O irônico é que tal questionamento veio logo de alguém que sempre pregou o respeito às minorias, como a ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy. Essa parte da campanha pegou tão mal que até os correligionários petistas a desaprovaram.

O pior para a candidata é que isso deverá ter o efeito contrário, acabando com as já poucas chances de eleição de Marta. Ela era vista, no primeiro turno, como a grande favorita para ganhar a primeira parte desta eleição, até por causa da divisão entre as candidaturas de Kassab e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Mas as coisas voltaram ao normal às vésperas do dia 5 de outubro, com o crescimento de Kassab e a sua conseqüente primeira colocação, à frente de Marta - donde se conclui que, se democratas e tucanos estivessem unidos desde o início (como o governador Serra queria desde o início, mas Alckmin bateu pé para se candidatar), o atual prefeito certamente teria levado a parada ainda no primeiro turno. Mas a reeleição de Kassab foi apenas adiada. Está na hora de os paulistanos mostrarem que não têm memória curta.

11.10.08

UM SEGUNDO TURNO SEM DEFINIÇÕES... EM TODOS OS SENTIDOS


A foto ao lado poderia simbolizar mais uma aliança eleitoral, de apoio dos governos federal e estadual, num segundo turno de eleição municipal - não fosse por um pequeno detalhe: o fato de Eduardo Paes, o candidato apoiado pelo governador e pelo presidente, ter detonado o governo federal há três anos, quando ele foi um dos destaques das CPIs que investigavam denúncias de corrupção naquele momento, assim como também quando candidato ao governo do estado do Rio, pelo PSDB, em 2006.

Possivelmente de olho em cargos num futuro governo (algo parecido com o que ocorreu há dois anos, em que o próprio Eduardo Paes, contrariando determinações de seu partido na época, decidiu apoiar Sérgio Cabral Filho no segundo turno da eleição para governador), partidos das bases estaduais e federais decidiram apoiar Paes no segundo turno contra Fernando Gabeira - que, por sua vez, optou por procurar eleitores ao invés de políticos, no que faz muito bem.

Mas voltemos ao assunto causado pela foto que ilustra este post. Diferentemente do que havia em eleições anteriores, parece que apoios de políticos não vêm interferindo tanto na escolha dos eleitores. Independentemente de alianças que pareçam estapafúrdias (como o apoio do PCdoB e da cúpula regional do PT ao candidato peemedebista à prefeitura do Rio), a atenção do eleitor está nas propostas dos candidatos. Os vários debates que haverá até o dia 24 certamente serão acompanhados com atenção e ajudarão a moldar a escolha do eleitorado.

O que chama a atenção é o total desprendimento de ideologias neste segundo turno carioca. Faz tempo que não há divisões entre direita e esquerda na política como um todo, e em alguns aspectos as correntes até chegam a se misturar (alguns esquerdistas mais radicais ainda se recusam a perceber isso), mas no Rio isso fica mais evidente. O PMDB é um partido de centro (na base de todos os governos federais desde a redemocratização), e Eduardo Paes não é exatamente um militante de esquerda - mas vários partidos de esquerda (como o PCdoB e o PSB) o apóiam. O PV e Gabeira são esquerdistas históricos, mas têm o apoio de setores liberais da política como os partidos que o acompanham na coligação (PSDB e PPS) e - particularmente neste segundo turno, de olho nas eleições federais e estaduais de 2010 - parte da cúpula do DEM, assim como de vários outros militantes de esquerda, como o arquiteto Oscar Niemeyer e a senadora Marina Silva (PT-AC). Vários que não morrem de amores pela esquerda, como é o caso deste que vos escreve, votaram e/ou votarão em Gabeira para prefeito do Rio neste ano.

Isso se explica por causa da situação calamitosa em que o Rio se encontra. Desde o início da campanha, a candidatura de Gabeira vem discutindo com os eleitores como melhorar a cidade, conquistando-os aos poucos. E isso ocorre de tal forma que nada parece abalar a candidatura, nem mesmo uma declaração meio fora de hora do candidato em relação a uma vereadora eleita (a mais votada da cidade), que faz parte de sua coligação e tem base na Zona Oeste, região em que Gabeira teve seu mais fraco desempenho.

De todo modo, as eleições no Rio estão totalmente indefinidas - em todos os sentidos. Mas, pra não perder o costume, vamos colocar o favoritismo no colo do Eduardo Paes...

P.S.: Validaram os votos de Arnaldo Vianna (PDT) em Campos. Ou seja, haverá segundo turno entre ele e Rosinha Matheus (PMDB), que já cantava vitória no primeiro turno. Ainda há esperança.

10.10.08

MUITO MAIS QUE UM FILME DE GUERRA


  • Filme: Trovão Tropical (Tropic Thunder, Alemanha/Estados Unidos, 2008)
  • Direção: Ben Stiller
  • Elenco: Ben Stiller, Jack Black, Robert Downey Jr., Jay Baruchel, Brandon T. Jackson, Matthew McConaughey, Steve Coogan, Tom Cruise

A quarta experiência de Ben Stiller na direção de um longa-metragem mostrou-se a mais bem-sucedida, com uma comédia que ironiza os bastidores do cinema e as suas superproduções. A piada começa mesmo antes do início "oficial" do filme, com trailers falsos com os atores-personagens do filme em produções anteriores.

O longa conta a história de um filme de guerra, cuja produção se mostra um verdadeiro fiasco, com todo tipo de problema possível: estouro no orçamento, ataques de estrelismo do elenco e dos produtores, diretor inexperiente que não consegue segurar os atores, o diabo. Para tentar salvar o filme de um iminente fracasso, o autor do livro que originou o roteiro, visto como herói de guerra no Vietnã (onde, aliás, a produção está sendo filmada), sugere ao diretor colocar os atores no meio da floresta, para dar o clima necessário. O diretor, sem outra alternativa, obedece... e aí, as coisas começam a piorar. De repente, os atores começam a enfrentar situações dignas de uma guerra de verdade - pensando que realmente estão estrelando um filme.

O mérito de Trovão Tropical está na sátira aos bastidores do cinema, tendo graça até nos exageros cometidos pelos atores retratados. Há de tudo - desde um ator consagrado que faz tratamento de pigmentação para não ver sua carreira afundar de vez (ou ser mais "aceito", vá saber...) até um ator-rapper que esconde mais coisas sobre sua vida que gostaria, passando por outro, em tratamento de recuperação, que sofre constantes crises de abstinência e não consegue largar o vício em heroína. O principal dos atores descobre-se conhecido e quase endeusado em um local inóspito do Sudeste Asiático por um papel que foi um estrondoso fiasco de crítica. No decorrer do filme, o espectador percebe que as coisas não são bem do jeito que ele pensava que eram, tanto entre os atores quanto entre as origens do próprio roteiro. Ou seja, quase um resumo de Hollywood atualmente.

Num momento em que as comédias do cinema norte-americano apelam para o humor mais rasteiro e escatológico, Trovão Tropical é muito bem-vindo para os amantes da qualidade no humorismo em celulóide. É daqueles filmes que fazem rir e pensar ao mesmo tempo, algo que anda tão raro e difícil nos dias de hoje.

6.10.08

...E O RIO RESPIRA ALIVIADO



Não poderia ser melhor o segundo turno nas eleições municipais no Rio de Janeiro. Para uma cidade que pensava seriamente em colocar como disputa final um duelo entre Marcelo Crivella (PRB) e Jandira Feghali (PCdoB), a decisão entre Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) é um grande alento.

Mesmo com uma urninha teimosa que não quer ser apurada de jeito nenhum até a escritura deste texto (até o momento, 99,99% das urnas foram apuradas na cidade), ficou decidido que o ex-secretário de Esportes, Lazer e Cultura do estado, apoiado pelo governador Sérgio Cabral Filho (mas nem tanto por Lula), e o deputado federal mais votado do estado em 2006 farão o segundo turno, no próximo dia 26. Inicialmente, Paes é o favorito para ocupar o Palácio da Cidade a partir de 1º de janeiro de 2009, mas Gabeira promete surpreender novamente. Que ninguém duvide disso.

Há uma grande discussão a respeito dos acordos e apoios que os candidatos poderão ter, que possam se refletir no eleitorado. Eduardo Paes, por exemplo, notorizou-se por bater forte no governo federal durante as CPIs de 2005, quando ainda era deputado federal pelo PSDB (que, nesta eleição, apóia Gabeira). Isso pode atrapalhar a trajetória eleitoral de Paes neste segundo turno, visto que sua polêmica mudança de partido, no ano passado, poderá ser interpretada como demonstração de oportunismo eleitoreiro. Além disso, a repentina mudança de opinião de Paes (que antes batia em Lula, e agora quer seu apoio) não é bem vista por muitas pessoas.

Por outro lado, Gabeira também poderá ter problemas neste segundo turno. O eleitorado de Marcelo Crivella, o terceiro colocado na eleição, tende a votar em Paes, na sua maioria, visto que não se identifica ideologicamente com as propostas do deputado federal - como se o prefeito pudesse ter atribuições de ocupantes do cargo legislativo. Além do mais, o apoio do PSDB e do PPS, dois partidos centro-esquerdistas que fazem oposição ao governo federal, é visto por muitos, ainda mais à esquerda como PCdoB, PT e PDT, como uma traição aos ideais da esquerda. Acontece que os tucanos têm pouca relevância no cenário político fluminense, e não mudaria muita coisa em caso de eleição de Gabeira. Se tem uma coisa de que o Rio menos precisa, é que nacionalizem a campanha municipal.

De todo modo, é extremamente salutar este segundo turno entre Paes (o menos populista entre os peemedebistas fluminenses, apesar dos pesares) e Gabeira (um sopro de dignidade na política brasileira, tão machucada nos dias de hoje). Muito melhor do que termos que aturar Crivella (populista-religioso que aderiu ao governo federal muito antes de Paes, depois de bater no próprio governo em 2004) ou Jandira (que demonstra caráter desagregador mais uma vez, como havia demonstrado nas campanhas anteriores). E meu voto, novamente, irá para Gabeira, na minha opinião o melhor candidato. Pelo visto, estou em ótima companhia.

  • AH, TÁ! O RESTANTE DO ESTADO

A grande maioria das cidades fluminenses elegeu seus prefeitos neste domingo. Além da capital, apenas em Petrópolis haverá segundo turno, entre Paulo Mustrangi (PT) e Ronaldo Medeiros (PSB). De resto, eleição garantida - inclusive nas cidades da Baixada Fluminense em que o segundo turno era visto como certo.

Como em Duque de Caxias, em que José Camilo Zito (PSDB), velho coronel político da região, ganhou pela terceira vez, derrotando o atual prefeito, Washington Reis (PMDB), apoiado pelo governador e pelo presidente. O mesmo ocorreu em São João de Meriti, onde Sandro Matos (PR) venceu Marcelo Simão (PHS), que era visto como o favorito e também era apoiado por PMDB e PT.

A decadência do PDT na capital (onde Paulo Ramos foi relegado a uma, até certo ponto, empolgante disputa pelo sétimo lugar com Chico Alencar, do PSOL) não se refletiu nas duas mais importantes cidades do interior do estado. Em São Gonçalo, Aparecida Panisset foi reeleita com larga margem de votos, o mesmo ocorrendo com Jorge Roberto Silveira, que se elegeu prefeito de Niterói pela quarta vez. Não deixa de ser um sopro de esperança para os pedetistas, principalmente em relação aos niteroienses.

Dois petistas também se deram bem, desta vez na Baixada: Lindberg Farias foi reeleito em Nova Iguaçu, numa coligação altamente eclética (que contou, entre outros partidos, com PDT, DEM, PV, PR e PTB), vencendo o deputado federal e ex-prefeito da cidade, Nelson Bornier (PMDB). Em Belford Roxo, Alcides Rolim venceu a também peemedebista Sula do Carmo. Nas duas cidades, os candidatos apoiados por Lula derrotaram os apoiados por Cabral.

A surpresa (ou não...) ocorreu no interior do estado. Em Campos, a ex-governadora Rosinha Matheus (PMDB) venceu de forma avassaladora a disputa pela prefeitura da cidade do Norte Fluminense, com quase 79% dos votos válidos. Além disso, sua filha Clarissa se elegeu vereadora na capital. É a Era Garotinho, que teima em não acabar. Paciência.

  • E NO RESTANTE DO BRASIL...

Em todo o país, as eleições também foram bem disputadas. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, confirmou-se o segundo turno entre Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT). A surpresa foi o atual prefeito ter acabado o primeiro turno na primeira colocação, ao contrário do que as pesquisas apontavam. Em Belo Horizonte, haverá segundo turno entre Márcio Lacerda (PSB), apoiado pelo atual prefeito, petista, e pelo governador mineiro, tucano, e Leonardo Quintão (PMDB), que começa a surgir como o favorito. Em Salvador, João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT) farão a disputa final, deixando ACM Neto (DEM) de fora. Em Porto Alegre, José Fogaça (PMDB) e Maria do Rosário (PT) farão o mesmo, deixando de fora Manuela d'Ávila (PCdoB).

O destaque entre as capitais foi a reeleição, em Curitiba, de Beto Richa (PSDB), com mais de 77% dos votos válidos. Também merecem menção a reeleição de Luizianne Lins (PT) em Fortaleza (depois de, mais uma vez, ser ignorada pelo próprio partido) e a eleição de Micarla de Souza (PV) em Natal, depois de uma campanha acirradamente contrária do presidente Lula, que apoiava a também petista Fátima Bezerra.

Pois é. No dia 26, ou em 2012, tem mais.