26.2.09

UM TÍTULO MAIS QUE MERECIDO



Acabando com um jejum que já durava 16 anos (o último título tinha sido com o inesquecível Peguei um Ita no Norte, de 1993), o Salgueiro sagrou-se pela nona vez campeão do Carnaval carioca. O enredo Tambor, apesar do seu samba-enredo, contagiou a Avenida e criou o título mais incontestável desde o conquistado pela Mangueira em 1998, pelo menos.

Festa também na União da Ilha, que ganhou o Grupo de Acesso e, em 2010, voltará a desfilar no Especial depois de nove anos. Sua alegria e irreverência estavam mesmo fazendo falta ao principal grupo do Carnaval do Rio. Ela substitui o Império Serrano, rebaixado injustamente segundo vários. Realmente, a Mocidade - penúltima colocada - não fez um bom desfile, e teve que lutar décimo a décimo com a escola da Serrinha pra ficar entre as grandes. Que a escola de Padre Miguel faça uma reformulação, ou a coisa vai ficar feia.

24.2.09

POUCOS DESTAQUES NUM ANO FRACO



A segunda noite do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio confirmou o que se suspeitava: a crise pegou o samba de jeito, contando ainda com a colaboração das crises internas entre as escolas. Foram poucos destaques entre as agremiações, que pouco ou nada empolgaram quem estava na Marquês de Sapucaí. De todo modo, aqui estão as avaliações.

  • Unidos do Porto da Pedra: O enredo sobre a curiosidade humana, de Max Lopes, prometia - mas, infelizmente, não cumpriu. O desfile foi cheio de problemas técnicos e ainda pode ser prejudicado por causa da complicação que atingiu o carro abre-alas.
  • Acadêmicos do Salgueiro: Apesar do samba-enredo um tanto sofrível, a alvirrubra da Tijuca fez uma das melhores apresentações do Grupo Especial - uma das poucas apresentações que possam ser consideradas boas, diga-se. Certamente, o melhor visual entre as 12 principais escolas. Houve alguns buracos por causa de problema de entrada de carros, mas nada que comprometesse tanto.
  • Imperatriz Leopoldinense: A escola de Ramos, que comemorou seu cinquentenário contando a história de seu bairro, fez um desfile aquém do esperado. A agremiação alternou carros luxuosos com simplórios demais, e seus integrantes foram um desânimo só, apesar do esforço.
  • Portela: A escola de Madureira contou o amor, contando com sua boa fase atual. Fez um desfile até certo ponto digno, mas não deve lutar pra acabar com o jejum de 25 anos sem títulos.
  • Estação Primeira de Mangueira: A escola nem parecia estar em crise, tamanha a garra demonstrada por seus integrantes. Se havia alguma pobreza nas alegorias, o material humano certamente compensou.
  • Unidos do Viradouro: A escola de Niterói não fez uma grande apresentação, encerrando o desfile. O enredo, apesar de ser de Milton Cunha, não foi lá muito bem desenvolvido. O fraco samba-enredo também não ajudou muito.

Bem, as cartas estão lançadas. Pra mim, o título ficará entre Vila Isabel, Beija-Flor (de novo) e Salgueiro. Império Serrano, Mocidade e Porto da Pedra lutarão pra não cair ao Grupo de Acesso.

23.2.09

O PRIMEIRO DIA ENTRE OS ESPECIAIS DA FOLIA

Depois de um Grupo de Acesso bem equilibrado, em que pelo menos quatro escolas têm condição de conquistar o título (embora a Estácio de Sá tenha feito, na minha opinião, o melhor desfile do sábado), as principais agremiações do Rio começaram seus desfiles. O primeiro dia do Grupo Especial foi um tanto atribulado, com apresentações irregulares e poucos destaques considerados positivos.

  • Império Serrano: A campeã do Grupo de Acesso do ano passado reeditou o samba-enredo de 1976 com uma apresentação animada, porém com a responsabilidade de abrir o desfile, o que não é nada fácil (considerando-se que as duas últimas escolas a fazê-lo foram rebaixadas). O início foi bom, mas o desfile foi desanimando com o tempo.
  • Acadêmicos do Grande Rio: A escola de Duque de Caxias falou sobre a França, com um desfile luxuoso - porém com alguns problemas. De todo modo, será difícil ela não perder seu lugar cativo no Sábado das Campeãs...
  • Unidos de Vila Isabel: Surpreendeu quem não esperava um bom trabalho entre dois carnavalescos de estilos bem diferentes: Alex de Souza e Paulo Barros fizeram um excelente trabalho e um desfile muito bom. Forte candidata ao título.
  • Mocidade Independente de Padre Miguel: A verde-e-branca fez um desfile fraco. O que era de certa forma esperado, levando-se em consideração os meses tumultuados pré-Carnaval. É impressionante como quase tudo deu errado, do início ao fim do desfile. Forte candidata ao rebaixamento. De positivo, só o canto dos integrantes do desfile.
  • Beija-Flor de Nilópolis: A escola, que tenta o tricampeonato, contou com a força de Neguinho da Beija-Flor para tentar o feito. Mesmo com um enredo trivial - a história do banho - a agremiação fez um desfile bem, digamos, Beija-Flor: compacta, certinha, parecida com os dos anos anteriores. Está na briga.
  • Unidos da Tijuca: Outra decepção. Mesmo com enredo desafiador (o espaço sideral) e um dos melhores sambas-enredo do ano, a escola do Borel fez um desfile extremamente irregular. Um dos carros demorou muito para entrar e criou um buraco enorme na Avenida, e a porta-bandeira Lucinha Nobre (uma das melhores do Carnaval) se atrapalhou durante a apresentação. Não luta por título, não.

20.2.09

'YOU LOST, YOU LOST'



A onda de assaltos a turistas estrangeiros em albergues, na semana do Carnaval no Rio, causa vergonha em qualquer um. Ainda mais quando ocorrida na época mais turística da cidade.

Sei que é clichê dizer que isso mancha a imagem da cidade, apesar de não ser a única do país a sofrer com atos de alguns de seus habitantes. Assim como é outro chavão ouvir declarações das autoridades executivas e de Segurança a lamentar as agressões e os roubos impostos a quem apenas vem nos visitar.

Não basta apenas prender quem assalta. Nossas autoridades têm que impor um esquema convincente de segurança para que nossos cidadãos possam se sentir seguros - outra reclamação recorrente, mas necessária. Senão, não haverá mais a quem possamos proteger.

19.2.09

DE FARSANTES E APROVEITADORES

O caso da brasileira Paula Oliveira, que teria sido agredida por neonazistas na Suíça (e, pelo visto, vai sendo desmascarado dia após dia), evidencia o quanto os brasileiros andamos afoitos demais e tomados por um nacionalismo pueril. É mais um vexame que o Itamaraty nos impõe, ao acusar apressadamente e sem provas um regime democrático como o suíço de dar guarida a racistas e intolerantes.

Tudo indica que Paula mentiu para processar o Estado suíço, usando o nome de um partido de direita conhecido pela plataforma anti-imigração. Além disso, o fez usando um tipo tão tosco de agressão física que causou desconfiança nos dias seguintes ao ocorrido. Governo e imprensa brasileiros embarcaram na onda e pagaram um mico monumental. Porém, a farsa foi descoberta pelas autoridades suíças e a advogada brasileira deverá arcar com as consequências. Que isso sirva de lição para os farsantes... e para os aproveitadores. Não é, Celso Amorim?

Vários colegas blogueiros deram cobertura ao caso. O grande destaque foram os textos de Yashá Gallazzi, uma das grandes revelações recentes da blogosfera brasileira. Eles definem, no ponto, tudo o que diz respeito à péssima fase da diplomacia tupiniquim, capaz de fazer o Barão de Rio Branco corar de vergonha, esteja onde estiver.

16.2.09

HUGO I, O ETERNO


O resultado do referendo que deu ao presidente venezuelano Hugo Chavez o direito a se reeleger indefinidamente, ainda que tenha sido uma decisão da maioria dos eleitores que foram às urnas, é um autêntico soco no estômago da democracia. Pior, é contraditório à própria, visto que um dos grandes pilares de um regime que se pretende democrático é a possibilidade de alternância de poder.

Pelo visto, caso os venezuelanos não se toquem do que está prestes a acontecer, poderá ocorrer na Venezuela, a médio ou longo prazo, o que acontece no Zimbábue há quase três décadas, com o ditador Robert Mugabe criando atmosferas de terror e intimidação a cada ciclo eleitoral. Ou no regime dos aiatolás iranianos, por sinal grandes aliados de Chavez. Verdadeiras ditaduras disfarçadas de democracias, lobos em peles de cordeiro. As "ditaduras de verdade", como China, Coreia do Norte e Cuba, pelo menos não escondem essa opção.

Por enquanto, nada por aqui a respeito de mobilização a respeito de um terceiro mandato para o presidente Lula. Felizmente, a nossa estrutura dificulta esse tipo de artimanha. Se bem que os atuais detentores do poder no Brasil parecem ter se adaptado bem: é visível o esforço do atual governo para divulgar o nome da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata da situação para a presidência da República em 2010 - inclusive, ultrapassando todas as fronteiras do bom senso. Como não há um nome convincente na oposição - o do governador de São Paulo, José Serra, não me pega -, vai ficar difícil ter uma opção no ano que vem.

14.2.09

FATOS COTIDIANOS

  • Há algo muito mal contado no caso da advogada brasileira que teria sido atacada por neonazistas na Suíça. Há vários desencontros de declarações entre os familiares da brasileira e os peritos suíços, que afirmam que ela, que estaria grávida de gêmeas e perdido as crianças na agressão, teria se autoflagelado. O fato é que algo estranho aconteceu, só resta saber de que lado. Confirmando-se a versão suíça, é mais um mico pago pela diplomacia brasileira, que começou a condenar os suíços antes mesmo de apurar os fatos.
  • Hoje começou a tão esperada Era de Aquário - pelo menos é o que diz o principal tema do musical Hair, que detalhou em seus primeiros versos as conjunções astrais que marcariam o início dessa nova era. Segundo dizem por aí, a Era de Aquário representaria a paz e a harmonia entre os povos. Antes fosse possível, pois infelizmente não é o que ando vendo - ao contrário dos esperançosos de plantão com o novo governo americano, demais ingênuo no trato com os que financiam o terror. Nem que rebatizem como "Era de Obamário", há perspectivas por mudanças de ideia.
  • Hoje, dia 14 de fevereiro, marca o último dia do Horário de Verão no Brasil e o Dia dos Namorados em todo o restante do mundo. Pra quem não sabe, é o Dia de São Valentim (famoso por celebra casamentos) e o dia em que era comemorado o Festival de Afrodite no Império Romano. Aqui no Brasil, pra não coincidir com o Carnaval, o Dia dos Namorados é comemorado em 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio, o Santo Casamenteiro.

11.2.09

UM CASO CURIOSO, INESPERADO E EMOCIONANTE


  • Filme: O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, Estados Unidos, 2008)
  • Direção: David Fincher
  • Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Taraji P. Henson, Jared Harris, Jason Flemyng, Joeanna Sayler

O filme dirigido por David Fincher - e recordista de indicações ao Oscar deste ano, com treze no total: melhor filme, direção (David Fincher), ator (Brad Pitt), atriz coadjuvante (Taraji P. Henson), roteiro adaptado, montagem, fotografia, direção de arte, figurino, maquiagem, efeitos visuais, mixagem sonora e trilha sonora - é uma fábula com a incrível capacidade de emocionar plateias por onde passa.

Guardando muitas semelhanças com Forrest Gump, o Contador de Histórias (1994), de Robert Zemeckis, embora sob uma ótica bem diferente, a produção consegue a proeza de fazer algo extremamente improvável soar verossímil e, acima de tudo, emocionante. É a história de alguém que se sente no direito de abrir mão do seu grande amor por causa de suas limitações, que não são nada fáceis de encarar.

Mesmo tendo uma atmosfera tão mágica (da forma como conferi recentemente) e tendo um número grande de indicações, não sei se dará Oscar de melhor filme - o grande favorito é Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire), de Danny Boyle, que vem ganhando tudo que é premiação pré-Oscar e contrariando um bocado o que escrevi aqui, no mês passado. Parece que nem os próprios distribuidores brasileiros acreditavam muito na saga anglo-indiana, tanto que o filme só deverá estrear aqui no mês que vem - talvez depois de décadas, o vencedor do Oscar de melhor filme só terá sua estreia no Brasil depois da cerimônia...

8.2.09

TENDO QUE DAR UM PASSO ATRÁS

As eleições gerais em Israel serão realizadas nesta terça-feira. Elas ocorrem pouco mais de um mês depois da incursão das Forças Armadas do país na Faixa de Gaza, em resposta aos ataques do grupo terrorista Hamas. Segundo pesquisas recentes, terão uma tendência a levar mais vantagem neste pleito partidos que relutem mais em negociar com os palestinos, principalmente o direitista Likud, do linha-dura Benjamin Netanyahu - o Kadima, da ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, partido antes visto como o favorito, ficaria para trás.

O tradicional Partido Trabalhista (de centro-esquerda), do ex-primeiro-ministro e atual ministro da Defesa, Ehud Barak, ficaria relegado a uma vexatória quarta colocação - uma força emergente na política israelense é o ultradireitista Israel Beitenu, de Avigdor Lieberman, que pode ser a grande surpresa destas eleições. Muitos acham surpreendente a tendência à "direitização" na política de Israel, principalmente depois da eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. Eu não acho - inclusive, penso que é por causa da eleição de Obama, apesar das garantias do atual presidente americano de que a aliança com os israelenses será mantida.

O presidente anterior, George W. Bush, havia se tornado o maior aliado de Israel nos 60 anos de existência do Estado judaico. Fosse John McCain o eleito em novembro de 2008, essa aliança estaria consolidada por pelo menos mais quatro anos. Porém, como Obama ora ocupa a Casa Branca, isso não está tão certo. Durante a campanha, o hoje presidente prometera negociar a paz com o Irã, o grande inimigo de Israel hoje. Pode-se dizer que a recíproca iraniana não seja verdadeira em matéria de negociação com os norte-americanos, três décadas depois da Revolução Islâmica. Mesmo assim, Obama e equipe insistem. A possibilidade de o ex-presidente iraniano Mohammad Khatami, que fez um governo mais aberto ao Ocidente, se candidatar novamente ao cargo pode representar um sopro de esperança, visto que o linha-dura (e projeto de genocida) Mahmoud Ahmadinejad não dá a menor chance disso acontecer.

Não é exagero algum afirmar que a incursão israelense em Gaza foi um recado ao Irã, um dos maiores financiadores do Hamas e do Hezbollah. Esse fato, somado ao de o governo Obama estar disposto a negociar com os iranianos e de o Irã ter lançado um satélite artificial recentemente, ajuda a entender o "passo atrás" que o eleitorado israelense deverá dar nestas eleições de terça-feira.

6.2.09

SÓ FALTA A SININHO


A polêmica do castelo do novo corregedor da Câmara, o deputado federal Edmar Moreira (DEM-MG), promete render. O próprio partido, de oposição ao governo federal, pressiona o deputado a renunciar ao cargo de corregedor, o que ele se recusa a fazer - aliás, ele se candidatou ao cargo à revelia da legenda, que havia indicado outro nome.

Realmente, é bem difícil alguém que se aposentou como capitão da Polícia Militar enriquecer de forma que consegue adquirir um castelo (de gosto duvidoso, pra dizer o mínimo) sem suspeita alguma. Resta saber por que isso tudo (falo do castelo) só veio à tona agora.

Aqui vai uma opinião pessoal: falem o que quiserem da oposição (que, por sinal, não apresentou um candidato que prestasse pras eleições presidenciais das duas casas do Congresso), mas pelo menos ela vem agindo quando um membro seu se envolve num escândalo (dizem até que o dono do castelo é um dos mais governistas políticos da oposição, mas isso é outro assunto). Fosse da situação, como inúmeros vêm se metendo em polêmicas, o que teria de gente - tanto no governo quanto na imprensa - querendo relativizar, minimizar, deixar pra lá mesmo, não seria brincadeira.

Agora, o castelo: mesmo não sendo uma beleza, tudo ali aparenta ser tão nababesco que até parece (guardadas as devidas proporções) o Castelo da Cinderela, na Disneylândia. Quando aparece na tela da TV, só falta a fada Sininho voar a sua frente e aplicar um pouco de pó de pirlimpimpim.

4.2.09

BEM-FEITO! (pra nós, claro)


A prisão de três turistas alemães, já sexagenários, por trocarem de roupa na frente de todo mundo em pleno Aeroporto de Salvador deixa evidente o quanto estamos nós, brasileiros, desmoralizados perante o resto do mundo.

Não entendeu? Eu explico.

Aos olhos do planeta, o Brasil é visto como um país bagunceiro, onde nada funciona e sempre tem um "jeitinho" ilícito pra tudo. Nossos habitantes são vistos como malandros e arruaceiros (muitas vezes, sem motivo algum). Nossas mulheres são consideradas "desfrutáveis". Desse jeito, como podemos impor algum respeito perante o mundo?

Na delegacia do bairro soteropolitano do Pelourinho, os três turistas (repito: sexagenários, ou seja, não são jovenzinhos inconsequentes) alegaram que não imaginavam estar ofendendo os passantes ao trocar de roupa ali mesmo, na falta de um banheiro ou de um vestiário. Deve ser por causa do Carnaval, em que vários foliões aparecem com pouca roupa. Mal sabem eles que até no Carnaval há regras que precisam ser cumpridas. Se uma escola de samba apresenta um folião com a genitália à mostra, por exemplo, perde ponto na apuração...

Se bem que nosso comportamento, visto como informal demais, ajuda um bocado nesse assunto.

(Eu sei que pouco tem a ver com o assunto, mas... Já notaram que um dos turistas é a cara do governador baiano, Jaques Wagner?)

3.2.09

CORAÇÕES E MENTES (OU "BEM-VINDOS AO PARAÍSO")



Os atos de vandalismo na favela de Paraisópolis, uma das maiores de São Paulo, possivelmente incitados por traficantes, usando como mero pretexto a morte de um morador (que, por sinal, estava num carro roubado e era foragido da prisão), fizeram pairar algo no ar: a baderna de origem ideológica.

Quem é do Rio, conhece o esquema e o entende bem: os traficantes (além deles, em outras favelas, também os milicianos, principalmente na capital fluminense), através de ações assistencialistas e que glorificam o lugar onde vivem, visam a dominação dos moradores locais, que não raro os veem como heróis (um exemplo evidente de manipulação coletiva), assim como passam a considerar os policiais o mal em forma de instituição. Algo parecido com o que existe no Oriente Médio, por exemplo. Falando nisso, está aí uma ótima oportunidade de entendermos o conflito árabe-israelense na Faixa de Gaza com fatos que ocorrem diante de nossos próprios narizes - quando começam a interferir no mundo mais civilizado com violência, tentando descontar suas frustações em outrem, para os atingidos o jeito é tentar parar com isso, por mais "desproporcional" que possa parecer. Mas vamos voltar ao assunto.

Não se sabe se por admiração, alienação ou por medo de represálias mesmo, os moradores das favelas obedecem como carneirinhos às ordens dos bandidos. Daí, as cenas de vandalismo que impactaram grande parte do país na noite passada. A mim, não impressionaram nem um pouco - porque já imaginava que a manipulação coletiva levaria a isso. Assim como o aumento da favelização nas grandes cidades brasileiras.

2.2.09

A ARTE DE SER UM ETERNO CHAPA-BRANCA


O PMDB, mais uma vez, mostra a força que tem quando está com o governo - o que ocorre desde que deixou de ser governo, com a saída de José Sarney da presidência da República, em 1990. Hoje, o partido obteve as presidências das duas casas do Congresso Nacional: a Câmara dos Deputados, com o deputado federal Michel Temer (SP), e o Senado Federal, com o próprio senador Sarney (AP). Ou seja, está com sua maior força política em muito tempo.

Como já escrevi aqui, o PMDB se entregou de vez ao chapa-branquismo, apoiando todos os governos federais desde a redemocratização. Vem obtendo várias vantagens com isso, evidentemente. No governo Lula, isso é ainda mais flagrante. Com isso, o apetite peemedebista nas eleições de 2010 poderá ser insaciável: o partido pode influenciar em qualquer coisa, desde uma candidatura própria à presidência da República até uma imposição do nome do vice da virtual pré-candidata do governo, Dilma Rousseff (lembram de Rita Camata, vice de José Serra em 2002? Pois é...).

O PMDB certamente tentará de tudo para não se afastar do poder nacional daqui a dois anos. Mesmo que se afaste, porém, irá se juntar a quem venceu. Passou a fazer parte da natureza peemedebista, de certa forma.

1.2.09

QUE TAL COMEÇAR MELHORANDO A POLÍCIA?



Vocês já devem saber de uma polêmica campanha de uma grife italiana de roupas femininas, com fotos tiradas no Rio de modelos simulando serem revistadas por policiais militares. As fotos - de gosto bem duvidoso, diga-se - causam protestos entre brasileiros e italianos, vários deles acusando a campanha de denegrir a imagem do Rio e dos brasileiros, além de inferiorizar as mulheres.

Pura bobagem. As campanhas de moda, pra quem não sabe, são polemistas por natureza - estão aí Benetton e Diesel que não me deixam mentir, com suas campanhas historicamente impactantes. Por vezes elas resvalam no mau gosto, mas essa é a natureza desses trabalhos: fazer chocar. O resto é consequência. Basta ignorar, pois deveríamos estar acostumados. Se os brasileiros aparecemos, é porque alguma relevância a gente tem.

O pior de tudo é a tempestade em copo d'água que costumamos fazer quando sentimos nossas sensibilidades feridas. Como sempre ocorre nesses casos, nossas autoridades fazem um escarcéu danado. Como se não merecêssemos ser vistos da forma que somos frequentemente retratados. Ainda por cima, todos querem varrer a poeira pra baixo do tapete e ninguém apresenta soluções para esses problemas que geramos. Que tal começar, por exemplo, melhorando a nossa polícia? Não é fácil, mas já é um bom começo.