30.3.10

E AGORA?


Pelo menos 39 pessoas morreram em atentados ocorridos ontem no metrô de Moscou, um dos mais movimentados do planeta. Supõe-se que os atos terroristas tenham sido perpetrados por chechenos, que lutam pela independência de sua região, de maioria muçulmana, no sul do país - a Chechênia foi anexada ao então Império Russo há mais de 150 anos. Os entreveros entre russos e chechenos existem, em maior ou menor grau, desde então, mas se intensificaram depois do fim da União Soviética, no início dos anos 1990.

O presidente russo Dmitri Medvedev pediu leis melhores para punir os terroristas e o ex-presidente e atual primeiro-ministro Vladimir Putin prometeu retaliar os atentados, dizendo ser questão de honra achar os mentores. Não será nada fácil, pois os russos levantaram suspeitas de que os terroristas chechenos tenham ligações com a Al-Qaeda, de Osama bin Laden, embora isso seja contestado por muitos.

Como percebemos, terroristas oriundos de uma região predominantemente muçulmana matam dezenas em um meio de transporte público, as vítimas prometem represálias e, no Ocidente, fala-se nada ou lamenta-se a sorte russa. O mesmo ocorre quando a China reage a protestos de muçulmanos uigures, como ocorreu no ano passado. Fico imaginando o que aconteceria se fosse um alvo norte-americano, britânico ou israelense o atingido: o que haveria de gente condenando as vítimas e as reações que viriam não seria brincadeira. É algo com o qual não deveríamos estar acostumados, como parecemos todos estar.

27.3.10

AGORA, SIM, A MENINA ISABELLA VAI DESCANSAR EM PAZ



Enfim, acabou o circo que se formou em torno do caso do assassinato da menina Isabella Nardoni, há dois anos, com a condenação do pai e da madrasta à prisão. Dessa forma, toda a espetacularização da imprensa sobre o caso tende a diminuir, ainda que não cesse de todo.

Que a menina assassinada, enfim, possa descansar em paz.

19.3.10

LULA JÁ FEZ SUA ESCOLHA


Nesta semana, Lula fez sua visita ao único país do Oriente Médio próximo ao Mediterrâneo que ainda não tinha visitado em sete anos - e mostrou bem a que veio, no mau sentido. A visita do presidente brasileiro a Israel foi simplesmente desastrosa: recusou-se a cumprir o protocolo ao não visitar o túmulo do criador do movimento sionista, o jornalista austro-húngaro Theodor Herzl; mais uma vez, ofereceu-se como intermediário numa negociação de paz entre israelenses e palestinos, mesmo sem nem conseguir fazê-lo entre vizinhos sul-americanos; e, pra completar o circo de horrores, disse estar esperançoso de que recentes desentendimentos diplomáticos entre Israel e os Estados Unidos ajudem nas negociações (!!!). Poderia dizer mais, mas o texto que se segue abaixo, escrito por Jayme Copstein e publicado na versão virtual do jornal Alef, direcionado à comunidade judaica brasileira, fala por si. Boa leitura.

A escolha de Lula

Não há ninguém que não deseje a paz para o conflito do Oriente Médio, até mesmo por algum milagre. O cansaço do mundo está à espera de uma solução para dar fim às tragédias que ali se confrontam há mais de 50 anos. Não há, pois, nenhuma restrição às tentativas do presidente do Brasil de promover o entendimento entre dois povos que, tivessem conseguido conviver em paz, já teriam transformado a região em uma das mais prósperas do planeta. O que não falta ali são cérebros, mão de obra abundante e também – como dádiva da natureza inóspita – tenacidade, espírito de luta e perseverança. Até este momento, o que se ouviu não passou de retórica, a mesma retórica que o presidente usa em seus pronunciamentos internos no Brasil.

Não há nada de novo na sua proposta de dois Estados – Israel e Palestina – lado a lado, cada qual se comprometendo com a segurança do outro. É a partilha aprovada na memorável sessão da ONU, presidida por Osvaldo Aranha, em 1948. Os judeus proclamaram seu Estado, os países islâmicos discordaram da partilha e foram à guerra para impedi-la. Até hoje, com exceção de Egito e Jordânia, nenhum deles reconhece Israel e mantêm declaradamente sua intenção de "varrer do mapa a entidade sionista". Sequer o nome do país eles se permitem dizer. Dentro deste quadro é improvável qualquer acordo, apenas fazendo conversar israelenses e palestinos. Por mais bem-vindos que sejam os "vírus da paz", que o presidente Lula diz possuir no DNA, não é aderindo ao belicismo nuclear do Irã, inclusive lhe fornecendo urânio, que ele há de provar a sinceridade de sua oferta de mediação.

Mais: cheira até a hipocrisia no momento em que a delegação brasileira recusa publicamente a inclusão de visita ao túmulo de Theodor Herzl, cujo sesquicentenário de nascimento comemora-se este ano. Herzl nasceu no Império Austro-Húngaro e engajou-se no nacionalismo alemão até cobrir o Caso Dreyfus, em Paris. Pouco integrado à vida judaica, chocou-se com a brutalidade do antissemitismo que havia levado o oficial francês, judeu "assimilado" como ele, à degradação, falsamente acusado de traição à Pátria. Concluiu que a solução do chamado "problema judaico" era a reconstrução do Lar Nacional em Israel – o retorno a Sion, daí o nome sionismo ao movimento que já existia há muitos séculos, com o apoio inclusive de líderes cristãos.

Ao escrever um livro, O Estado Judeu, e convocar um congresso em Basileia, Suíça, em 1897, Herzl conseguiu dar corpo ao movimento e traçar um programa de ação. Como Moisés, porém, não estava destinado a realizar o sonho. Fracassaram suas tentativas de entendimentos com o Império Otomano, a cuja soberania o Oriente Médio, então, estava submetido. Morreu em 1904. Só mais de quatro décadas e 6 milhões de mortos depois, tocado pela barbárie do Holocausto promovido pelos nazistas, é que o mundo civilizado concordou com a sua tese. Sionismo é apenas isso, não a fantasia sadomasoquista de terrorismo que a esquerda demente, no permanente exercício de seu ódio visceral, tem se esforçado por incutir nas pessoas desavisadas. Herzl jamais explodiu ou ordenou que alguém explodisse uma bomba para matar pessoas inocentes e indefesas. Lula não quer visitar seu túmulo, mas depositou flores no túmulo de Yasser Arafat e, daqui a alguns meses, vai apertar de novo a mão de Mahmoud Ahmadinejad. É a escolha de Lula.

17.3.10

TODAS AS TENSÕES DE QUALQUER GUERRA



  • Filme: Guerra ao Terror (The Hurt Locker, Estados Unidos, 2008)
  • Direção: Kathryn Bigelow
  • Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lilly, Christian Camargo

O grande vencedor do Oscar 2010 (com seis estatuetas: melhor filme, direção para Kathryn Bigelow, roteiro original, montagem, mixagem sonora e edição sonora) é um digno representante dos filmes de guerra que mostram como o psicológico é afetado em zonas de conflito. O desarmador de bombas, vindo de uma missão no Afeganistão, que substitui uma baixa na guerra do Iraque é o personagem principal de uma trama que mostra como soldados podem ser bem centrados ou totalmente desprovidos de qualquer senso de noção.

Às vezes, podemos nos surpreender com as pessoas, considerando-se seus comportamentos em zonas de risco. Para cumprir suas funções, o desarmador não mede esforços - chegando a, além de arriscar sua vida, colocar em risco as vidas de seus colegas de pelotão. Coisa de quem nada tem a perder? Nem tanto, visto que é o único do grupo a ser pai de família e, portanto, teoricamente ter maiores responsabilidades. Com o andamento do filme, percebemos que o risco e a falta de noção fazem parte da natureza do protagonista, que considera nada ter a perder - como fica mais claro à medida que a trama chega a seu desfecho.

15.3.10

O TEMPORAL, A ACOMODAÇÃO E AS PROVAS DE FOGO



Poderíamos argumentar que o dilúvio que atingiu o Rio ontem foi gigantesco. Mas nada justifica o tamanho do estrago que a cidade sofreu por causa do temporal, ainda mais por ser característico do mês de março, época do encerramento do verão. Árvores arrancadas pela raiz, rios transbordando e enchando ruas, bairros sem luz por quase um dia inteiro... Até um show da banda Guns n'Roses, que seria na Praça da Apoteose, foi adiado para o mês que vem.

O fato é que a cidade parece nunca estar preparada o suficiente para algo que se repete há décadas. Sai prefeito, entra prefeito, sai governador, entra governador e os problemas se repetem. Dessa forma, faltam justificativas para reclamar da chamada Emenda Ibsen, do deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), aquela dos royalties do petróleo, que pode acarretar um prejuízo enorme para os estados produtores (Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, principalmente para o primeiro, o mais dependente do recurso). Há quem diga que os recursos fluminenses para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 estariam seriamente ameaçados se isso for levado adiante. Dá nisso escorar-se apenas no petróleo como fonte de finanças, esquecendo-se das demais.

Falando nisso, essa questão dos royalties é uma prova de fogo para o apoio do governador Sérgio Cabral Filho ao presidente Lula. Se este vetar, o apoio estará garantido até o fim. Senão...

8.3.10

NO PEITO (OPS!) E NA RAÇA



A entrega do Oscar 2010 foi marcada pelo ineditismo, mas não pela surpresa - afinal de contas, Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow (a primeira mulher a ganhar o prêmio de direção), vinha ganhando prêmios a rodo nas premiações preliminares, mais do que o visualmente espetacular Avatar, de James Cameron (ex-marido de Bigelow).

É a consagração de um cinema mais autoral em detrimento ao cinema de espetáculo, que vinha prevalecendo nos últimos anos. A prova disso é a diversidade de categorias em que o filme ganhou: melhor filme, direção, roteiro original, montagem, edição sonora e mixagem sonora - o dobro de Avatar, que levou os de fotografia, direção de arte e efeitos visuais.

Justos, segundo dizem, os prêmios dados às atuações de Jeff Bridges (melhor ator por Coração Louco), Sandra Bullock (melhor atriz por Um Sonho Possível) e Mo'Nique (melhor atriz coadjuvante por Preciosa, que também ganhou o prêmio de roteiro adaptado). Mas o mais justo dos prêmios de atuação foi para o austríaco Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios - filmaço que, a bem da verdade, merecia ganhar muito mais que apenas este Oscar na noite de domingo.

Boa surpresa e muito elogiado o prêmio de melhor filme estrangeiro dado ao argentino O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella, derrotando o favorito alemão A Fita Branca, de Michael Haneke. Comprova a excelente fase do cinema dos nossos vizinhos, que ganharam seu segundo Oscar na categoria, o primeiro após A História Oficial, em 1986. No mais, não houve surpresas.

6.3.10

O QUE VALE É A TECNOLOGIA


  • Filme: Avatar (Avatar, Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2009)
  • Diretor: James Cameron
  • Elenco: Sam Worthington, Zoë Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Joel Moore, Giovanni Ribisi, Michelle Rodriguez, Laz Alonso, Wes Studi

Se levarmos em consideração a chamada nova fase do Oscar, que ajuda a dar uma cara mais popular à maior premiação do cinema, o número de indicações de Avatar na edição deste ano (nove, incluindo melhor filme e direção, para James Cameron, diretor de Titanic, o maior sucesso do cinema antes deste filme) pode ser considerado um bom sinal. Afinal, a versão em 3D da história do militar paralítico que adentra o corpo de um humanoide vindo de uma terra distante para princípios nada nobres, que ele combateria assim que conhecesse os costumes de Pandora e dos Na'vi, é espetacular do ponto de vista estético, ainda que seja um pouco longo, cansativo e até enjoativo. O forte do filme é a parte técnica, como os efeitos especiais e o som envolvente. Mas o roteiro me pareceu fraco, não muito convincente...

Sinceramente, depois que vi o filme, não me pegou muito essa histeria toda em torno dos habitantes de Pandora, uma terra rica em mistérios que é cobiçada pelo Povo do Céu - no caso, os humanos. A sensação que tenho é a de que Avatar certamente ficará na história, mas muito mais por causa das inovações tecnológicas - enfim, do seu visual onírico - do que por seu roteiro ou do que ele representa. Não é como Guerra nas Estrelas ou a série O Senhor dos Anéis, ou mesmo Bastardos Inglórios, com quem concorre ao Oscar de melhor filme (ainda não vi aquele que é considerado o favorito, Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow - por sinal, ex-mulher de Cameron...). Ou seja, um filme-pipoca com um ingresso mais caro devido ao 3D.

2.3.10

ENQUANTO ESTAVA EU A "TIRAR FÉRIAS" DAQUI...

...fazia minha cobertura das Olimpíadas de Inverno pelo Olimpismo; Lula visitou Cuba enquanto um dissidente da ditadura local morria depois de fazer uma greve de fome; ocorreu um megaterremoto no Chile, maior que o do Haiti, mas que causou bem menos mortes; enfim, muita coisa aconteceu. Só não deu pra pintar por aqui porque ainda estou em fase de adaptação: onde eu trabalho tenho que entrar uma hora mais cedo e, portanto, acordar mais cedo também. Quase não tenho tempo pra atualizar e isso me dá uma agonia terrível! Espero comparecer por aqui mais vezes para poder me expressar e dizer quais são minhas opiniões a respeito de tudo que acontece por aí.