5.11.12

O furacão eleitoral norte-americano

Foto: Reuters
Nesta terça-feira, acontecerá o grosso das eleições presidenciais nos Estados Unidos, as maiores e mais importantes do planeta. As pesquisas apontam um cenário equilibrado entre os dois principais candidatos (o democrata Barack Obama, que tenta a reeleição, e o republicano Mitt Romney), mas alguns fatos podem desequilibrar a eleição em favor do atual presidente.
 
Um deles é a passagem do furacão Sandy pelo costa leste, notadamente pelos estados de Nova Iorque e Nova Jérsei. Ela foi considerada a maior catástrofe natural da história da maior cidade norte-americana, causadora do maior número de problemas aos nova-iorquinos desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Obama foi rápido no auxílio às vítimas (conquistando o respeito e a confiança até mesmo de alguns adversários políticos), em contraponto à lentidão do então presidente George W. Bush quando o furacão Katrina atingiu o litoral sudeste do país, em 2005. Soma-se a isso as seguidas gafes do candidato republicano durante a campanha e temos o cenário perfeito para o apoio à reeleição de Obama.
 
Mas as propostas de Romney encontram guarida naqueles que querem a diminuição da influência estatal na vida dos cidadãos, ao contrário do que parece ocorrer com as de Obama - daí o forte equilíbrio nas pesquisas entre os eleitores do país. O fato de a eleição presidencial norte-americana ser indireta e dividida pelos delegados dos 50 estados torna o cenário ainda mais imprevisível.

27.10.12

Campanha paulistana, a avant-premiére do fim do mundo

Foto: Marcos Alves/Agência O Globo
Como era de se esperar, o segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo é uma verdadeira batalha entre as duas maiores forças políticas do país. Os candidatos finalistas são José Serra (PSDB), ex-prefeito paulistano (2005-2006) e ex-governador paulista (2007-2010), além de ex-ministro da Saúde durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), e Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação durante o mandato de Lula (2003-2011) e parte do atual mandato de Dilma Rousseff (foi substituído por Aloizio Mercadante no começo deste ano).
 
Nada mais natural que houvesse escaramuças entre os candidatos nesta reta final de campanha, mesmo porque o momento político é agitado, em grande parte graças ao julgamento do mensalão. Mas eles estão exagerando na agressividade e nos ataques pessoais, fazendo com que a baixaria prevaleça num cenário em que deveria apenas haver debates de ideias para a maior cidade do país nestes próximos quatro anos.
 
O ex-presidente Lula, que bancou o nome de seu ex-ministro da Educação em detrimento de um nome fortíssimo como o da ex-prefeita (2001-2005) e atual senadora Marta Suplicy, aparentemente colherá os frutos de sua aposta, já que Haddad lidera as pesquisas de intenção de voto - aproveitando o desgaste de Serra, que em 2006 deixou o cargo de prefeito da capital paulista para se candidatar a governador (contrariando um compromisso da eleição de 2004) e, em 2010, deixou o cargo de governador de São Paulo para se candidatar à Presidência da República (e ser derrotado por Dilma). Além disso, o candidato tucano, anteriormente conhecido pela austeridade e até por uma certa discrição, anda meio estranho: disposto a acabar com a pecha de elitista e passar a ser visto como "parte do povo", andou passando pequenos vexames em passeatas durante a campanha, produzindo as já clássicas cenas do sapato voando depois de chutar uma bola em uma favela, ou do seu hercúleo esforço em erguer uma carroça de caixas de laranja.
 
Não bastasse isso tudo, uma velha discussão da eleição presidencial de dois anos atrás voltou à tona: a questão religiosa, com o auxílio de padres e pastores ajudando a tumultuar ainda mais um ambiente já conturbado. Some-se a isso a introdução do famoso Kit Gay, tentativa de Haddad de introduzir a tolerância aos homossexuais, item já discutido e criticado aqui, além da posse de vítima do candidato petista e está construído o cenário para o PT voltar a governar os paulistanos depois de oito anos. Pelo visto, o governo federal conseguirá introduzir nos eleitores da cidade de São Paulo a questão do "novo", relacionando esta palavra a Fernando Haddad - mesmo com ele conhecido por sua pouca eficiência como ministro da Educação, e logo num momento em que seu partido está na berlinda em nível nacional.
 
Para quem acompanhou a campanha eleitoral para prefeito de São Paulo neste ano, nem foi preciso esperar até dezembro para testemunhar o fim do mundo: a escolha entre um político desgastado e uma tendência a ser mera marionete. Pobres eleitores paulistanos.

8.10.12

Os desafios de Paes

 
Foto: Bruno Gonzalez/Agência O Globo
Reeleito no primeiro turno com 64,60% dos votos válidos (contando com a confiança de pouco mais de dois milhões de eleitores), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), assumirá seu segundo mandato em 1º de janeiro de 2013 com muitos desafios a cumprir. O maior deles, com certeza, é fazer um mandato que supere a popularidade do atual, já que a votação recorde obtida neste primeiro turno não deixa de ser um respaldo dado pelo eleitorado carioca.
 
Mas há vários outros. Como, por exemplo, preparar a cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 sem esquecer as necessidades básicas da cidade, como saúde e educação. Melhorar o sistema de transportes, que ainda deixa a desejar. Seguir as obras pela revitalização da Zona Portuária (um dos grandes acertos desta prefeitura, por sinal). Pelo visto, o prefeito parece concentrado nesse objetivo. É necessário, pois os quatro próximos anos serão intensos.
 
O grande desafio de Eduardo Paes, porém, será em 2016. Não, não é a realização da Olimpíada. É a própria sucessão. O vice-prefeito recém-eleito, Adílson Pires, é do PT, partido que nunca elegeu um prefeito na cidade nem um governador fluminense em eleição direta. Sei que é cedo para afirmar algo que ocorrerá daqui a quatro anos, mas a lógica diz que o vice concorre para suceder o chefe do Executivo - o vice-governador fluminense Luiz Fernando Pezão (PMDB) está cotado para concorrer ao governo do estado em 2014, já que o atual governador Sérgio Cabral Filho está em seu segundo mandato. Na próxima eleição municipal, Paes terá que encontrar um político que possa sucedê-lo seguindo seu estilo ou assumir os riscos de, talvez, ter que usar a máquina federal - principalmente se Dilma for reeleita presidente em 2014 e os métodos petistas de apoio a aliados permanecerem a todo vapor, como certamente haverá no segundo turno paulistano, onde Fernando Haddad enfrentará o tucano José Serra. Mas isso é assunto para outro texto.

7.10.12

Depois de um longo e tenebroso inverno...

...eis que estou de volta. Sim, este Amenidades & Bobajadas, depois de quase quatro meses de inatividade, está voltando a suas atividades, ainda que pontuais. Muita coisa aconteceu desde então, mas passei longe deste espaço durante esse tempo - tanto por falta de tempo quanto por falta de disposição, mesmo. Caso alguém esteja na espera por um texto inédito - o que acho difícil -, peço desculpas pelo inconveniente. Mas meus outros blogs estiveram ativos nesse meio-tempo (vejam na coluna "Também estou aqui", ali à direita.
 
Mas vamos falar do que interessa neste momento: a eleição municipal. Aqui no Rio, como ficou bem claro, ela está definida há tempos. O prefeito Eduardo Paes (PMDB), apoiado por uma coligação gigantesca (19 partidos, incluindo o PT do vice Adílson Pires, PDT, PPS e PSB), deverá se reeleger com folga. Ele está sendo bem-avaliado pela população, muito por causa das alianças com os governos estadual e federal. Isso poderia ser bom, mas há algo que não me agrada: o balaio de gatos que apoia o prefeito, em que só faltariam PSOL e PSTU, que ao menos lançaram candidatos próprios. Falando em PSOL, a candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo, conhecido por sua luta pela ética, revelou-se um erro estratégico. Nascido e com domicílio eleitoral em Niterói, poderia se aproveitar da insatisfação geral com o mandato do prefeito Jorge Roberto Silveira, desgastado com os inúmeros problemas que a cidade anda vivendo - tanto que nem se candidatou à reeleição. Ao invés disso, preferiu transferir seu título eleitoral à capital fluminense para candidatar-se à prefeitura carioca, tentando repetir o fenômeno Gabeira de 2008. Um jogo arriscado e que deverá se revelar um fracasso.
 
Pra mim, não houve um candidato que agradasse. Tenho muitas restrições a Paes e Freixo, e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) mostrou pouca personalidade e, ainda por cima, fisiologismo puro ao se aliar ao PR do ex-governador Anthony Garotinho (1999-2002), que indicou sua filha, a deputada estadual Clarissa Garotinho, como vice do filho do ex-prefeito Cesar Maia (1993-1997 e 2001-2009). A também deputada estadual Aspásia Camargo (PV) demonstrou que seu partido vive à sombra do ex-deputado federal Fernando Gabeira, que quase foi eleito prefeito há quatro anos, depois de uma reação fantástica no primeiro turno.
 
Por isso, o meu voto para prefeito do Rio foi para outro deputado federal: Otávio Leite (PSDB). Votei nele em 2010 e vejo que executa bem o cargo, defendendo com vigor os interesses do estado na Câmara. Por isso, o escolhi por eliminação, mesmo porque as opções de fato não me agradavam. Para vereador, por coincidência votei em um candidato do mesmo partido, mesmo sabendo que teria pouquíssimas chances de ser eleito: Miguel Fernandez y Fernandez, defensor das liberdades individuais, algo tão importante para nós no dia de hoje - e é por isso que digo que um candidato com essas propostas dificilmente será eleito hoje, principalmente no Rio de hoje, em que o eleitorado só se revolta quando falta dinheiro no bolso e comida na mesa, como acontece em todo o Brasil, por sinal.

19.6.12

Dias ruins que se avizinham

Foto: Eliária Andrade/Agência O Globo
A imagem mais representativa da política nacional nesta semana é certamente a expressa na foto ao lado: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) se cumprimentando, com direito ao apoio do ex-governador paulista à candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), à prefeitura de São Paulo, nas eleições municipais de outubro.

Durante o seu mandato presidencial (2003-2011), Lula se notabilizou por alianças, no mínimo, questionáveis - muitas delas com antigos inimigos políticos, como Collor e Sarney. Agora, quase um ano e meio depois de deixar o cargo de presidente da República, ele não parece disposto a deixar a política, diferentemente de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Tal atitude, ao contrário de vários tantos em oito anos de governo, desta vez causou certa indignação em alguns aliados: a ex-prefeita (2001-2005) e senadora Marta Suplicy (PT-SP), que estava cotada para ser a candidata petista, tem faltado a atos de apoio a Haddad. Outra ex-prefeita (1989-1993), Luiza Erundina (PSB), nomeada vice na chapa de Haddad, ameaça deixar a candidatura se Maluf, seu sucessor na prefeitura e notório inimigo político, seguir apoiando o candidato do PT à prefeitura paulistana.

E isso tudo num cenário altamente desanimador para os eleitores da maior cidade do país: candidatos desgastados como José Serra (PSDB) e Paulo Pereira da Silva (PDT), inexpressivos como Celso Russomanno (PRB), Gabriel Chalita (PMDB) e Soninha Francine (PPS) ou "polêmicos" (eufemismo para "inaceitáveis em qualquer eleição") como Netinho de Paula (PCdoB) pulularão pelas ruas paulistanas até o começo de outubro. Ainda por cima, com Lula querendo bancar seu Dilmo por aí. Promessa de dias sombrios para uma metrópole que já viu dias melhores.

15.5.12

Santa Obama de Chicago


À medida que se aproxima o início da campanha presidencial nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama, como era previsível, vai (como se diz no jargão popular) jogando pra galera na busca por votos - isso apesar de o oposicionista Partido Republicano estar aparentemente perdido, fazendo lembrar um pouco o PSDB aqui no Brasil. Obama se tornou o primeiro presidente norte-americano a se declarar favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao mesmo tempo em que mais um estado da Federação (no caso, a Carolina do Norte) alterou sua constituição, via consulta popular, exatamente para proibir esse tipo de união.

Não se sabe quais serão as consequências desse tipo de anúncio nas eleições de novembro - ainda mais que o candidato da oposição, o republicano Mitt Romney, reafirmou sua posição contrária ao casamento gay no país. Mas trata-se de uma decisão meramente política do atual presidente, de olho na reeleição - como se a morte de Osama bin Laden, no ano passado, já não fosse o bastante. De todo modo, é mais um capítulo da consolidação do imperialismo politicamente correto que toma conta da maior potência do planeta.

Porém, não se sabe se Obama obterá sucesso com essa atitude - corajosa para alguém com um cargo como o dele, ressalte-se, apesar de historicamente os democratas serem mais progressistas que os republicanos. O assunto abre polêmicas e discussões acaloradas pelo país. Apesar de cerca de metade da população norte-americana apoiar a declaração presidencial, mais da metade dos 50 estados proíbe a união oficial entre homossexuais. E são eles que decidem eleições para presidente, já que o voto para a chefia máxima da nação é indireta. Apesar da cartada do presidente para tentar conquistar uma parcela considerável do eleitorado, tal estratégia pode se revelar um verdadeiro tiro no pé. Aguardemos.

16.4.12

Coraçã de estudanta

Quando Dilma Rousseff assumiu o cargo de presidente da República, o consenso geral era de que as mulheres, enfim, tinham sua vez de mandar nos mais importantes segmentos do país. Nada mais natural, portanto, que houvesse um momento de afirmação feminina. Mas o tempo passou e esse momento de afirmação, convenhamos, começa a gerar momentos que beiram o ridículo.

Desde o governo Lula, tramitava no Congresso um projeto de lei que obrigava a flexionar gêneros sexuais nos diplomas. O projeto foi aprovado e sancionado pela presidente Dilma na semana passada. Ou seja, não bastasse chamarem Dilma de "presidenta" (o que existe na língua portuguesa, apesar de ser influência da língua espanhola, mas trata-se de uma violência aos nossos ouvidos), estão liberadas formas como "bacharela", como podem ler aqui.

Falo não só como cidadão, mas também como formado em Português: tal medida é uma perda de tempo, que não resolve nada e ainda atrapalha, como grande parte das leis aprovadas no Brasil. E o pior é que isso não é novidade nenhuma, no que se refere a violentar o idioma nacional: o governo, nos últimos anos, demonstra tolerância com erros de ortografia e pronúncia, como podemos relembrar neste texto. Basta recuar mais um pouco no tempo para que lembremos da quase censura a livros de Monteiro Lobato. Não demorará muito e queimaremos livros em praça pública. Posso estar exagerando, mas as circunstâncias me levam a isso.

12.4.12

Pela instalação da UPPP

Apesar de ser um sopro de segurança para os cidadãos cariocas depois de décadas de convivência com um constante estado de guerra civil, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) não são um exemplo de perfeição, como andamos vendo nesses últimos dias. Problemas em Rocinha, Mangueira e Cidade de Deus, além da previsível (menos para os governantes fluminenses) migração da bandidagem fugida das favelas pacificadas para outras cidades do estado como Niterói e São Gonçalo, lançam uma sombra de dúvidas acerca da eficiência do método implantado pelo governador Sérgio Cabral Filho e pelo secretário de Segurança José Mariano Beltrame.

Culpa, em grande parte, da leniência das autoridades do estado em tratar de bandidos procurados, dando a eles uma "segunda chance", como se não tivessem desperdiçado todas as chances possíveis que tiveram. Os cidadãos de bem já tinham sérias restrições quanto aos avisos dos responsáveis pela segurança pública de que determinada favela iria receber a próxima UPP, dando a assaltantes, traficantes e seus chefões a oportunidade de escapar para um lugar onde pudessem praticar suas atrocidades sem serem incomodados. Isso sem falar de o poder público concentrar seus esforços apenas na capital, ignorando solenemente as cidades vizinhas. Resultado: Niterói vive sua maior onda de violência em muito tempo.

A Secretaria de Segurança anunciou medidas para conter esse estado de coisas na região. Mas é fácil agir quando o desastre acontece. Além disso, de nada adianta tomar atitudes paliativas se os bandidos seguem soltos por aí. Dessa forma, assemelha-se ao "banditismo cidadão" encravado em governos anteriores, de tão triste memória para a população fluminense. Mesmo que todo o estado seja upepetizado, os malfeitores fugirão para outros estados se continuarem à solta. Por isso, é mais que urgente que seja implementada a UPPP: Unidade de Polícia Pacificadora... e Prendedora.

22.3.12

De massacres e relativizações




O ataque a uma escola judaica na cidade francesa de Toulouse, em que morreram quatro pessoas (três delas crianças), na segunda-feira passada, mostra o quanto insanos estão nossos tempos - e o quanto as pessoas andam relativizando as coisas, se não as escondendo ou mesmo apoiando (ainda que na miúda) atos terroristas como este.


Antes de morrer no cerco policial, o franco-argelino Mohammed Merah afirmou ter "vingado a morte de crianças palestinas" (como se israelenses atirassem indiscriminadamente em civis com o intuito de matá-los, como afirmam certos "progressistas" por aí) e protestado contra a presença de tropas francesas no Afeganistão (alguns dias antes, ele teria matado três militares do país, dois deles muçulmanos como ele). Era o ato final de um sociopata que certamente achava que matar por sua fé seria a solução de todos os seus problemas.


Mas esses lamentáveis fatos infelizmente serão esquecidos a médio prazo, sem a menor sombra de dúvida. Afinal, o Islã radical, mesmo escancaradamente antiocidental e disposto a usar a violência para fazer valer seus "ideais", não está entre as prioridades de segurança do Ocidente, cada vez mais calcado na correção política e na aceitação do multiculturalismo, que mostra não funcionar em grande parte dos países. Ainda por cima, há os relativistas de sempre, que sempre afirmam que enquanto Israel não ceder à chantagem de grande parte de seus vizinhos hostis, ataques como esses irão acontecer - ignorando que esse estado de coisas vem desde antes mesmo de o Estado de Israel ser criado, o que este texto de Reinaldo Azevedo explica com perfeição.

13.3.12

Entra governo, sai governo e os trens da alegria seguem a todo vapor




Desde que o mundo é mundo, vemos governos de diferentes tendências agradando os aliados a seu bel prazer, distribuindo ministérios a torto e a direito. No governo da presidente Dilma Rousseff, não poderia ser diferente. Logo nos primeiros meses, ao longo do ano passado, a sucessora de Lula se viu forçada a demitir vários ministros herdados do antecessor e grande padrinho político, a grande parte deles sob acusações de corrupção. Não bastasse isso, o governo Dilma repete os mesmos vícios dos anteriores, ao relegar o infinito número de ministérios a meros feudos dos partidos da situação. Dois casos recentes mostram isso.


Ninguém de fora do governo sequer desconfia de qual seja a utilidade do Ministério da Pesca. De todo modo, ele deve servir para alguma coisa. Até bem pouco tempo atrás, a pasta era ocupada pelo petista Luiz Sérgio (que deixara o Ministério das Relações Institucionais alguns meses antes), que foi destituído do cargo, por motivos até hoje misteriosos, pela presidente da República - que parecia fazê-lo a contragosto, por sinal. Pouco depois, o cargo passou a ser ocupado pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), um dos mais ardorosos aliados do governo desde Lula. Há inúmeras especulações sobre quais seriam os motivos para tal troca: uns dizem que seria para adular um dos partidos que fazem parte da base do governo; outros dizem que seria tática para ajudar a pré-candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), à prefeitura de São Paulo - ainda mais depois da hipótese do ex-prefeito e ex-governador José Serra (PSDB) se candidatar ao cargo. Mas nada é mais significativo desse estado de coisas do que uma declaração do próprio ministro Crivella no momento de sua posse, quando disse não saber sequer colocar uma minhoca num anzol de pescaria.


O Ministério do Trabalho é outro caso, digamos, emblemático. Como sabemos, ele era chefiado por Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT - partido que, definitivamente, já viveu dias melhores, para dizer o mínimo. Este é um caso que a presidente mostrou um certo poder de persuasão: primeiramente, pediu de forma encarecida ao governador fluminense Sérgio Cabral Filho que nomeasse o deputado federal Sérgio Zveiter (eleito pelo PDT em 2010) para alguma secretaria, fazendo-o trocar de lugar com o então secretário estadual de Trabalho e Renda e suplente de deputado Brizola Neto, que não havia conseguido se reeleger para a Câmara. Empossado a pedido do poder federal, o neto do falecido ex-governador e fundador do partido Leonel Brizola notabilizou-se por votar a favor do governo e contra os interesses do próprio estado na questão da divisão dos royalties do petróleo. Agora, é altamente provável que Brizola Neto, literalmente amigo de infância da presidente, meses depois de reassumir a cadeira de deputado federal, ocupe agora o Ministério do Trabalho...


A vida nos ensina desde sempre e o governo brasileiro apenas se encarrega de confirmar: nada como ter amigos influentes.

3.2.12

Teria a chamada Primavera Árabe valido a pena?






O massacre ocorrido nesta semana, em Port Said, em jogo válido pelo Campeonato Egípcio de Futebol (estima-se que haja mais de cem mortos em decorrência do conflito) evidencia algo que muitos já sabíamos: a tendência de países que estão a derrubar longas ditaduras em cair na mais completa desordem - no Egito, isso é ainda mais claro. Suspeita-se que havia pistoleiros na torcida do Al-Masry, time médio de Port Said, que atacaram e massacraram torcedores do Al-Ahly, um dos times mais tradicionais do continente africano (é o maior campeão continental, com seis títulos, tendo inclusive participado três vezes do Mundial de Clubes da FIFA), cujos torcedores estavam na linha de frente dos protestos contra a ditadura de Hosni Mubarak, no início do ano passado. As imagens deixam claro que a polícia não interveio no ataque dos torcedores do time anfitrião, o que dá a ideia de que o poder ainda vigente no país não quer largar o osso de jeito nenhum (de uma forma ou de outra, os militares estão no poder no Egito há 60 anos, seja com Nasser, Sadat ou Mubarak).

Isso tudo nos faz pensar se a mobilização popular em torno de uma pretensa democratização do país valeu a pena. A chamada Primavera Árabe, nome dado à onda de protestos contra as diversas ditaduras da região, parece não acontecer da forma que poderia, por sinal. Apenas a Tunísia parece progredir um pouco, até por ter sido o país que começou essa onda. Na Líbia, Kadafi foi deposto e assassinado pelos rebeldes apoiados pela OTAN, mas o que vem depois se assemelha à Al-Qaeda de Bin Laden na época da ocupação soviética no Afeganistão. Já não se fala mais no Barein e no Iêmen, que andam esquecidos. Na Síria, Bashar al-Assad não dá sinais de trégua no massacre de dissidentes. Mas o Egito parece ser o fracasso mais épico: Mubarak renunciou, mas os militares continuaram no poder e não parecem dispostos a ceder - uma amostra disso o mundo inteiro viu na quarta-feira passada.

19.1.12

O pró-terrorismo "humanista" não é novidade alguma

Sim, essa é uma notícia velha. Mas não deixa de ser bem significativa de que, para muitos "progressistas" brasileiros, os fins sempre justificam os meios. Esta reportagem foi tirada da edição da revista Veja, de 26 de dezembro de 1984. Falava sobre a viagem de três vereadores cariocas (dois do PDT de Brizola e a petista e futura deputada federal, senadora e governadora Benedita da Silva) a Buenos Aires, para conceder o título de cidadão honorário do Rio ao ex-líder terrorista argentino Mario Firmenich, preso àquela ocasião (clique na imagem para vê-la melhor).


Detalhe: isso tudo contra a opinião dos próprios argentinos, que o viam como um criminoso comum. Firmenich comandava o grupo terrorista de extrema-esquerda Montoneros, que, como tantos grupos da época, queria estabelecer um Estado comunista em seu país. A grande parte dos ataques (incluindo o sequestro e a execução do ex-ditador Pedro Aramburu, que governou o país nos anos 1950) foi feita num período imediatamente anterior à ditadura militar argentina (1976-1983), que desbarataria o grupo. A democracia argentina, restabelecida no ano anterior à viagem dos vereadores, acertadamente não perdoou o guerrilheiro. Mas todos sabemos, desde aquela época, que PT e PDT são PT e PDT...


Nunca tinha ouvido falar nesse caso até ontem à noite, quando navegava pela rede. Assim que soube, fiz questão de mostrar que a tolerância e a tendência à imputação de heroísmo a criminosos estão entranhadas em muitos esquerdistas brasileiros desde sempre. O detalhe é que naquela época, eles eram oposição. Agora que são governo, a situação se tornou previsivelmente pior. Estão aí o caso Battisti e a recusa em impor uma lei antiterrorismo ao Brasil que não me deixam mentir.

10.1.12

A alegria dos "alternativos"


O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anda fazendo umas visitinhas a alguns países da América Latina - e a Venezuela, evidentemente, não poderia ficar de fora. Como sabemos, à medida que o tempo passa, o Irã vai se isolando cada vez mais no cenário internacional devido, entre vários fatores, ao programa nuclear que o regime dos aiatolás jura de pés juntos ter fins pacíficos. E o venezuelano Hugo Chávez, sempre ele, é um dos poucos que apoiam a empreitada iraniana.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, mesmo fazendo o pior governo desde Jimmy Carter (1977-1981), Barack Obama segue com a expectativa de se reeleger presidente do país - isso tudo graças única e exclusivamente à incompetência da oposição republicana, pau a pau com a brasileira neste aspecto. De todos os pré-candidatos do Partido Republicano nas eleições de novembro próximo, apenas Mitt Romney parece digno de nota. Mesmo assim, cercado de desconfianças. Ou seja, é iminente haver mais quatro anos do pouco tino obamista na condução dos destinos do Ocidente. O que faz os "alternativos", os que creem num outro mundo possível, se ouriçarem por mais um quadriênio por cima da carne seca.