30.10.08

E 2010, O QUE SERÁ?

As eleições municipais de 2008 passaram e, como sempre, haverá especulações acerca das próximas eleições, as de 2010. No Rio, mesmo tendo sido derrotado no segundo turno, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) foi o grande vitorioso deste pleito. Afinal, como disse Reinaldo Azevedo, ele fez sua estréia como político de massas - antes deste ano, era visto como "político de opinião". Tanto que muitos de seus eleitores cogitam uma candidatura de Gabeira a senador, daqui a dois anos. Como o eleitorado votará em dois candidatos ao Senado, as chances serão grandes. O atual prefeito Cesar Maia (DEM) também pensa no cargo, mas o nome dos meus sonhos é o da ex-deputada federal Denise Frossard (PPS). Afinal, há grande necessidade de nomes fortes, para que seja impedida a reeleição do senador Marcelo Crivella (PRB).

Entre os possíveis postulantes ao cargo de governador do estado do Rio, é possível que Sérgio Cabral Filho (PMDB) não tente a reeleição - embora as atuais circunstâncias apontem para tal - caso as relações com o governo Lula continuem intensas. Pode ser que ele seja candidato à presidência ou pelo menos a vice, com Dilma Rousseff (PT) na cabeça da chapa. Com isso, podem crescer as chances do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, candidatar-se a ocupar o Palácio Guanabara. Entre os prováveis adversários, um nome forte é o do prefeito reeleito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT). Não tenho idéia de quem poderá ser o candidato de uma hipotética chapa DEM/PSDB, mas pode ser o deputado federal democrata Índio da Costa ou o deputado estadual tucano Luiz Paulo Corrêa da Rocha (ex-vice-governador e candidato ao governo do estado em 1998), que foi vice de Gabeira neste ano. No PDT, a vice-prefeita eleita de Nova Iguaçu, Sheila Gama, começa a despontar.

Já na presidência da República... Olha, não tenho noção de quem possa ser o nome da oposição para disputar o cargo daqui a dois anos. No PSDB, sinceramente, acho pouco provável que o governador de São Paulo, José Serra, se candidate. Afinal, em 2006, ele deixou a prefeitura da capital paulista para conseguir o Palácio dos Bandeirantes - acho mais provável que tente a reeleição. O ex-governador Geraldo Alckmin está descartado. Ou seja, está para surgir um nome para os tucanos tentarem voltar ao poder nacional. Pode ser que esse nome venha do DEM, mas é pouco provável.

Este texto foi algo parecido com um que fiz há dois anos, exatamente após as eleições de 2006. Acertei poucos prognósticos, mas acertei em cheio em partes do terceiro e do quarto parágrafos - e quase acertei no início do quinto. Reparem que havia até um partido político novo, que acabou morrendo no nascedouro. Coisas da cláusula de barreira, que acabou não saindo do papel.

26.10.08

AGORA, É TORCER



Numa apuração emocionante (a mais equilibrada de todos os tempos na capital fluminense, como eu já tinha previsto no texto ali embaixo, quando disse que o vencedor seria eleito com menos de 51% dos votos válidos), Eduardo Paes (PMDB) é o novo prefeito do Rio de Janeiro. Com 50,83% dos votos válidos (1.696.195), o candidato derrotou o deputado federal Fernando Gabeira (PV), que obteve 49,17% (1.640.970).

Agora, é o momento de torcer. Torcer para que a tão alardeada união entre as três esferas de governo (nacional, estadual e municipal) funcione e beneficie a cidade do Rio. Torcer para a cidade não virar uma festa de políticos dispostos a aparecer o tempo todo, deixando mais uma vez a população de lado. Torcer para que seja estancada a decadência política e econômica da cidade. Torcer, enfim, por um bom mandato (ao menos, digno) de Eduardo Paes...

Nas outras duas cidades fluminenses em que houve segundo turno, vitórias do PT (com Paulo Mustrangi em Petrópolis, derrotando Ronaldo Medeiros, do PSB, com 65,10%) e PMDB (com Rosinha Matheus em Campos, vencendo Arnaldo Vianna, do PDT, com 54,47%).

  • POR TODO O BRASIL, NADA DE SURPRESAS

Nas outras cidades brasileiras em que houve segundo turno, também não houve grandes reviravoltas. Em São Paulo, uma chuva de votos reelegeu Gilberto Kassab (DEM) prefeito, com 60,72%, derrotando a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Em Belo Horizonte, depois de uma reação espetacular nas pesquisas, as urnas consagraram o candidato de coalizão entre o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel. Márcio Lacerda (PSB) é o novo prefeito da capital mineira, com 59,12%, ao vencer Leonardo Quintão (PMDB).

Em Salvador, João Henrique (PMDB) foi reeleito prefeito ao vencer Walter Pinheiro (PT), com 58,46% dos votos válidos. Outro reeleito foi José Fogaça (PMDB), com 58,95%, vencendo Maria do Rosário (PT).

  • DONDE SE CONCLUI QUE...

Em geral, nas capitais, os candidatos mais apoiados pelo governo federal não obtiveram muito êxito. Mesmo em cidades onde se saíram vitoriosos (como Rio e BH), os candidatos derrotados é que acabaram levando a fama. Isso propõe que a oposição tenha acabado de começar a construir uma fortaleza de reação para as eleições de 2010? Só o tempo dirá. O certo é que as próximas eleições podem ser imprevisíveis, mais uma vez - desta feita, em níveis nacionais.

25.10.08

SURPREENDA-ME, ELEITORADO CARIOCA!



Na noite desta sexta-feira, foi realizado o último debate entre os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV). Como nos demais debates, o candidato verde saiu-se melhor em suas propostas. Mas esta eleição que se realizará no próximo domingo promete ser a mais equilibrada de todos os tempos na cidade.

Isso se reflete nas próprias pesquisas de intenção de voto, que ficaram em empate técnico desde o reinício da campanha, após o final do primeiro turno. Gabeira ficou na frente na maior parte do tempo, mas Paes obteve a vantagem nesta última semana - talvez beneficiado com os apoios de partidos da base do governo, graças ao natural uso das máquinas administrativas. Contudo, o equilíbrio persiste, o que faz com que o pleito fique imprevisível.

A candidatura de Gabeira representa uma força que estava oculta, mas voltou com vigor: o voto jovem. A Internet ajudou muito a espalhar as propostas do candidato verde pela cidade, mesmo que com uma campanha de certa forma discreta, sem salamaleques. Ainda que não chegue a grande parte dos eleitores cariocas, já é um grande ganho, visto que Gabeira não conta com uma campanha milionária e ostensiva como a do peemedebista. Mesmo assim, em um cenário em que Paes ganharia com facilidade (considerando-se que o eleitorado carioca, em geral, sempre se atrelou ao populismo desenfreado, como atestam os Chagas-Freitas, Brizolas, Garotinhos e Maias da vida), não há absolutamente definição alguma de quem será eleito no domingo. A minha previsão é de que o vencedor terá menos de 51% (entre 50,01 e 50,99%) dos votos válidos.

Ou seja, Gabeira não tem absolutamente nada a perder. O deputado federal terá seu prestígio inabalado, mesmo que seja derrotado nas urnas domingo. Já Eduardo Paes, ainda que seja eleito, sairá chamuscado. Afinal, aliou-se a um balaio de gatos que certamente cobrará cargos como retribuição ao apoio dado a ele no segundo turno. Portanto, o eleitor carioca terá que pensar bem diante da urna, ao votar para prefeito. Escolherá entre uma candidatura que pensa a cidade como grande pólo de desenvolvimento, uma porta aberta para o mundo como o Rio sempre foi, ou apenas mais um cabide de empregos e presentes de amigo que, mais uma vez, deixará a cidade na rabeira, à mercê de todo tipo de fisiologismo barato.

Surpreenda-me, eleitorado carioca!

24.10.08

MINHAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: 2004

As eleições municipais de 2004, ao contrário das expectativas que havia quatro anos antes, eram repletas de pessimismo para o eleitorado carioca. Afinal, não existia candidato algum que pudesse satisfazer plenamente os anseios dos eleitores.

O segundo mandato de Cesar Maia como prefeito do Rio era cercado de críticas, principalmente no trato com os preparativos da cidade para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007. A prefeitura não podia contar com a ajuda do governo estadual, de Rosinha Matheus, e muito menos do presidente Lula, mais preocupado em tentar reeleger Marta Suplicy prefeita de São Paulo. Aliás, nos dois primeiros anos de seu mandato, Lula dedicou mais da metade de seu tempo e de seus esforços (inclusive políticos e financeiros) à capital paulista, o que gerou muitos protestos de várias partes do Brasil, inclusive do Rio (tanto o estado quanto a cidade). O que era comentado na época é que, se o Pan de 2007 (cuja sede foi definida em agosto de 2002, quando o presidente ainda era Fernando Henrique Cardoso) fosse em São Paulo e não no Rio, todas as instalações já teriam sido prontas três anos antes, o que deixaria os chineses vermelhos de inveja...

Pois bem. Se Cesar Maia (que também tentava a reeleição, pelo PFL) era criticado por grande parte da população, seus concorrentes não inspiravam a menor confiança. Entre outros, estavam o senador Marcelo Crivella (PL), pastor licenciado - ou não - da Igreja Universal do Reino de Deus; o então vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB), ex-aliado e agora desafeto de Cesar; e os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB) e Jorge Bittar (PT), que juntos já seriam fracos, quanto mais separados. Bittar manteve uma estranha coligação com o PTB (que lançara a vitoriosa candidatura de Cesar Maia quatro anos antes), cujos motivos seriam revelados no ano seguinte, com a crise do mensalão denunciada pelo então deputado federal e presidente do partido, Roberto Jefferson, que não recebeu sua parte e decidiu abrir o bico.

A campanha, como o esperado, foi no esquema todos-contra-um. Era mais enxuta - diferentemente das eleições anteriores, desta vez havia apenas 10 candidatos à prefeitura do Rio. Alguns meses antes do pleito, ainda na época de definição dos candidatos, a deputada federal Denise Frossard, que tinha sido a mais votada do estado em 2002, se desentendeu com o seu então partido, o PSDB. Seu presidente regional, o ex-governador Marcello Alencar, decidiu apoiar o prefeito Cesar Maia - inclusive nomeando seu candidato a vice, Otávio Leite. Isso causou a saída de Frossard das hostes tucanas, e seu apoio ao obscuro deputado estadual André Corrêa, do PPS. No ano seguinte, Frossard se filiaria ao partido de Roberto Freire, pelo qual concorreria ao governo do estado em 2006, apoiada por PV e... PFL! Não foi eleita (perdeu para o senador Sérgio Cabral Filho, do PMDB, no segundo turno), mas fez um bom nome para eleições futuras.

Voltemos a 2004. Com uma candidata forte a menos, nem é preciso dizer que Cesar Maia apenas administrou a campanha até o fim do primeiro turno, mesmo porque os adversários não inspiravam confiança, como já tinha escrito neste texto. Mesmo assim, a dúvida persistia, inclusive em mim. Na manhã do primeiro turno, 3 de outubro, ainda não tinha definido quem receberia meu voto para prefeito, ainda mais com um debate televisivo desastroso, repleto de acusações entre os cinco primeiros colocados que lá estavam, três dias antes. Pesei os prós e contras de cada um e, no final, optei pelo menos pior: o próprio prefeito, Cesar Maia. Entre o errado e o duvidoso, escolhi o duvidoso...

Muitos fizeram o mesmo - possivelmente com medo de que o senador Crivella fosse ao segundo turno. Deu resultado: desde que o segundo turno em eleições do Executivo foi adotado em 1989 (em eleições municipais, essa possibilidade existe desde 1992), pela primeira vez o prefeito do Rio foi eleito no primeiro turno. Além disso, houve o primeiro reeleito: Cesar Maia (PFL) venceu, com 1.728.853 votos (50,11% dos votos válidos). Marcelo Crivella (PL) ficou em segundo, com 753.189 votos (21,83%). O então vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB) foi o terceiro, com 385.848 (11,18%); a então deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) ficou em quarto, com 238.098 (6,90%); e o deputado federal Jorge Bittar (PT) foi o quinto, com 217.753 (6,31%). Resultados que marcaram a eleição mais nivelada por baixo da história da cidade do Rio de Janeiro.

23.10.08

MINHAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: 2000

As últimas eleições do século XX prometiam ser as mais equilibradas em muito tempo no Rio de Janeiro. Vários fatores em anos anteriores contribuíam para isso.

Derrotado por Anthony Garotinho (PDT) na eleição para governador do estado, dois anos antes, o ex-prefeito Cesar Maia queria voltar ao comando da cidade. O então prefeito, Luiz Paulo Conde, vinha tendo boa aceitação popular - tanto que o então deputado estadual Sérgio Cabral Filho (que trocara o PSDB pelo PMDB no ano anterior) desistiu de uma candidatura a prefeito, na qual ele teria muitas chances de se eleger, para apoiá-lo. Ou seja, os dois primeiros colocados nas eleições municipais anteriores, desta vez, estavam juntos. Uma aliança aparentemente imbatível, muitos pensavam. Pois é... Só faltou combinarem com o ex-prefeito.

Pouco tempo após a derrota nas eleições estaduais de 1998, Cesar e Conde se desentenderam, o que causou a saída de Maia do PFL e sua adesão ao PTB de Roberto Jefferson. O partido trabalhista, depois da Era Vargas, da ditadura militar (quando teve suas atividades suspensas) e da abertura política (quando foi recriado pelo grupo de Ivete Vargas, que derrotou o grupo de Leonel Brizola, que mais tarde criaria o PDT), nunca teve muita relevância no cenário político brasileiro, e no Rio não foi muito diferente. Portanto, a filiação de um forte nome como o de Cesar Maia acabaria por ser um alento para os petebistas, esperançosos em, finalmente, crescer num grande reduto político como o carioca.

Mas a luta não seria fácil. Desde o início da campanha de 2000, Conde era o líder absoluto das pesquisas de intenções de voto. Enquanto isso, Cesar Maia se engalfinhava pelo segundo lugar com a petista Benedita da Silva (vice-governadora na época), derrotada por ele no segundo turno oito anos antes. Como em 1996, havia 14 candidatos à prefeitura do Rio - entre eles, nomes experientes como o ex-governador Leonel Brizola (PDT), tentando reverter um pouco sua inevitável decadência política, que culminaria no seu fracassado projeto de se eleger senador, em 2002; incomuns como Alexandre Cardoso (PSB), que tentara se eleger prefeito de Duque de Caxias em 1996, e tentaria novamente fazê-lo em 2004; e ilustres desconhecidos como Gilberto Ramos (PPB), que foi traído descaradamente por um correligionário: o então deputado federal e futuro presidente do Vasco, Eurico Miranda, que declarou apoio a Conde.

Ligeiro momento pessoal: enquanto rolava o fim da campanha do primeiro turno, eram realizados em Sydney, na Austrália, os Jogos da XXVII Olimpíada da Era Moderna. A campanha brasileira foi um fiasco (depois de 24 anos, o Brasil não ganhou nenhuma medalha de ouro) e a cerimônia de encerramento foi realizada no dia da eleição, 1º de outubro. Varei a madrugada assistindo o último dia dos Jogos pela TV - quem me conhece, sabe que a minha tara pelas Olimpíadas não é segredo pra ninguém - e, logo depois da cerimônia de encerramento, fui votar. Eram cerca de oito horas da manhã. Pesei os prós e contras de cada candidato e optei por Cesar Maia. Na época, ele era visto como um bom administrador - a campanha dava ênfase a isso -, o que pesou na decisão. Para vereadora, votei em Patrícia Amorim, do PMDB. Deu certo: com mais 24.650 votos, ela foi eleita, sendo a segunda mais votada de seu partido.

Na eleição para prefeito, como esperado, Luiz Paulo Conde (PFL) ficou em primeiro lugar na primeira votação, com 1.124.915 votos (34,69% dos votos válidos). Cesar Maia (PTB) ficou com 747.132 votos (23,04%), seguido bem de perto por Benedita da Silva (PT), com 733.693 votos (22,62%). Ou seja: o segundo turno seria entre dois ex-aliados políticos. Afundado em sua cada vez mais crescente irrelevância política, Leonel Brizola (PDT) ficou em quarto, com 295.123 votos (9,10%). A curiosidade fica por conta do último colocado, Paulo Sérgio Ribeiro de Pinho, do então novato PCO: apenas 555 votos, 0,01% dos votos válidos. Nunca um candidato à prefeitura do Rio obteve tão poucos votos. Seria o início da trajetória de pífias votações obtidas pelos candidatos do eternamente nanico Partido da Causa Operária.

Pois bem: era a hora da verdade. Luiz Paulo Conde e Cesar Maia, o ocupante e o ex, disputariam o segundo turno das eleições municipais de 2000 no Rio de Janeiro. Como o previsto, Conde começou bem nas pesquisas; porém, logo depois, as coisas começaram a se equilibrar. A campanha foi bem agressiva, com acusações de ambos os lados, mas Conde mantinha a dianteira - ainda que por pouco - mesmo assim. Até que uma frase infeliz, dita por Conde num debate em uma rádio, começou a fazer sua campanha ruir. Falando a jornalistas, o então candidato à reeleição disse "mentir menos" que Cesar. Tudo que um candidato à prefeitura, numa campanha bem disputada, não precisaria falar. Nem precisa dizer que Cesar aproveitou isso.

O resultado viria no segundo turno, em 29 de outubro. Numa apuração emocionante, Cesar Maia foi, pela segunda vez, eleito prefeito do Rio de Janeiro. Obteve 1.610.176 votos (51,06% dos votos válidos), enquanto Conde conseguiu 1.543.327 votos (48,94%). A eleição de Cesar abriu caminho para sua volta ao PFL, conseguida logo após a saída de Conde do partido, no ano seguinte.

Mesmo tendo sido derrotado, Conde obteve certa notoriedade política, ainda que discretamente. Filiou-se ao PSB, juntamente com o grupo do então governador Garotinho. Em 2002, elegeu-se vice-governador, graças à eleição de Rosinha Matheus como governadora do estado. Com os Garotinhos e seu grupo, filiou-se ao PMDB, onde aderiu ao grupo de Cabral (que, àquela época, era senador) e concorreu novamente à prefeitura, em 2004. Mas isso é assunto pra outro texto.

22.10.08

MINHAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS: 1996

Em 1996, eu estava prestes a completar 17 anos e tirei meu título de eleitor. Eu estava disposto a participar da primeira eleição municipal. Tanto que prestei atenção, muita atenção, mais do que já prestava antes, nos programas eleitorais da televisão.

Falando nisso, 1996 foi o primeiro ano em que as emissoras abertas transmitiram os programas eleitorais de cidades diferentes. Até 1992, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, as emissoras apenas exibiam o programa eleitoral da capital fluminense. A novidade, pra mim, era fascinante. Cada dia eu ficava em um canal diferente. Excelente oportunidade de conhecer as propostas de cada cidade.

Voltemos ao Rio, porém. Havia 14 candidatos à prefeitura da cidade, disputando a sucessão de Cesar Maia, que tinha sido eleito quatro anos antes pelo PMDB e trocado o partido pelo PFL lá pelo meio do mandato. Um dos assuntos da campanha era a candidatura do Rio a sede das Olimpíadas de 2004, e os Jogos de Atlanta, realizados no meio daquele mesmo ano, ajudaram a construir o clima.

Dentre os catorze candidatos, estavam o então deputado estadual e futuro governador Sérgio Cabral Filho (PSDB) e o deputado federal Miro Teixeira (PDT), além de Chico Alencar (PT), Sérgio Arouca (PPS) e Vanderlei Assis (PRONA), que ficaria, seis anos depois, conhecido por ter sido eleito deputado federal por São Paulo - mesmo morando no Rio - graças à expressiva votação obtida por Enéas Carneiro, presidente nacional do partido. Mas a grande sensação daquelas eleições seria um então obscuro secretário municipal do prefeito Cesar Maia.

O secretário de Urbanismo, Luiz Paulo Conde (PFL), viria do desconhecimento ao estrelato graças à ostensiva campanha do prefeito. No início da campanha, ele tinha apenas 3% das intenções de voto. Era a época do RioCidade, vasto programa de obras de embelezamento que tomou conta da cidade daquele ano - que, mais tarde, se tornaria meramente eleitoreiro, pois tais obras não se mostrariam um primor de conservação. Em alguns casos, no afã de mostrar-se arrojado, o RioCidade cometeu vários exageros - o maior deles em Ipanema, com um esdrúxulo obelisco e uma passarela que, literalmente, liga o nada a lugar algum. O Favela-Bairro também era uma das obras municipais da época, cuja continuidade Conde prometia em sua campanha.

De todo modo, as tais obras funcionaram. Tanto que a campanha de Conde cresceu e apareceu - inclusive no meu conceito. No primeiro turno, realizado no dia 3 de outubro (pela última vez, o primeiro turno eleitoral teve uma data fixa; dali em diante, ele seria realizado sempre no primeiro domingo de outubro), o candidato pefelista obteve a expressiva marca de 1.192.438 votos (40,28% dos votos válidos - uma das novidades daquela eleição, mas a maior delas foi, sem dúvida, o voto eletrônico, inicialmente apenas nas capitais e nas cidades com mais de 200 mil eleitores). O então tucano Cabral conseguiu 729.611 votos (24,64% dos votos válidos), classificando-se ao segundo turno.

Tendo um candidato do PFL e outro do PSDB no segundo turno do Rio, cidade onde as esquerdas sempre tiveram enorme tradição, claro que elas iriam chiar. Afinal, o Brasil era governado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, cuja política era vista como elitista, mesmo também sendo de esquerda. PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB e PSTU (o PCO ainda não existia na época) passaram a fazer campanha aberta pelo voto nulo. Na campanha de verdade, além da promessa de incentivo à candidatura carioca às Olimpíadas de 2004 - que seria mal-sucedida no ano seguinte, pois o Rio não passou da primeira fase -, promessas mirabolantes brotavam nas duas candidaturas. Entre elas, a de um veículo leve sobre trilhos, de Conde.

O segundo turno, realizado em 15 de novembro, mostrou a força que Cesar Maia tinha sobre o eleitorado carioca na época. Conde foi eleito por 1.735.415 cariocas (62,17% dos votos válidos), enquanto Cabral ficou com 1.055.993 votos (37,83% dos votos válidos). A eleição de um quase desconhecido para a prefeitura da segunda maior cidade do país (algo idêntico com o que ocorreu em São Paulo, com Celso Pitta, do PPB, apoiado pelo então prefeito Paulo Maluf) credenciou Maia a disputar o governo do estado do Rio, dois anos mais tarde. Como sabem, o vencedor seria o ex-prefeito de Campos, Anthony Garotinho, que derrotaria o ex-prefeito carioca no segundo turno. Mas isso é assunto pra daqui a dois anos...

P.S.: Antes que me perguntem, respondo logo que, para vereador, votei no Salgadinho - na verdade, o ator Rogério Cardoso, candidato pelo PSDB. O "apelido político" foi usado por Cardoso no ano anterior, como personagem da novela Explode Coração, de Glória Perez. Admito que votei mais pelo nome que pelas propostas, mas favor relevar - afinal, era a minha primeira eleição... Inicialmente, ele não foi eleito - obteve 11.653 votos. Mas, salvo engano, assumiria o cargo em 1999, aproveitando que um titular tinha sido eleito deputado. Entre várias coisas, conseguiu a chamada Lei da Orelhinha, que prevê a obrigatoriedade de exame auditivo em recém-nascidos, para prevenção de doenças. Tentou se reeleger em 2000, mas não obteve sucesso. Morreu em 2003, vítima de enfarte do miocárdio - na época, fazia sucesso como o Floriano do seriado A Grande Família.

P.S. 2: Como os cariocas já devem ter percebido, o tal veículo leve sobre trilhos - uma das bandeiras da candidatura de Conde - jamais saiu do papel.

19.10.08

GO WEST



Um fenômeno interessante é notado nas eleições municipais do Rio de Janeiro, principalmente no segundo turno. Os dois candidatos que disputam a cadeira de prefeito no Palácio da Cidade (Eduardo Paes, do PMDB, e Fernando Gabeira, do PV) parecem ter elegido a Zona Oeste da cidade como prioridade de campanha. Tanto que os dois quase não têm saído de lá.

A região, vista como a mais esvaziada em termos de recursos públicos e investimentos, assim como mais vitimada pela violência que as partes mais conhecidas da cidade, virou a grande meta para os candidatos à prefeitura. Os dois candidatos têm feito promessas e propostas para a região, garantindo que ela não ficará tão abandonada como parece a partir do ano que vem. Faltando uma semana para o pleito definitivo, a campanha na região está se intensificando cada vez mais. Isso porque tudo leva a crer que é na Zona Oeste que a eleição será decidida.

Os candidatos também têm seus motivos para caçar os votos, assim como também têm seus calcanhares-de-Aquiles. Paes foi subprefeito na região na época de Cesar Maia e Luiz Paulo Conde (lá pela metade da década passada), teve uma atuação marcante quando uma grande enchente atingiu a região - mas muitos se queixam de sua pouca presença depois de seu rompimento com Maia. Já Gabeira, que lançou sua candidatura à prefeitura em Bangu, luta contra a gafe cometida ao criticar a vereadora eleita e aliada Lucinha (PSDB), que tem base na região, quando chamou-a de analfabeta política. Mas tem marcado sua presença na Zona Oeste com suas propostas, assim como seu adversário.

Para quem se sentia à mercê do chamado poder paralelo (na mesma Zona Oeste, também há denúncias sobre milícias que exploram habitantes das favelas da região - ali, de forma mais intensa ainda -, e o tráfico também marca forte presença), as propostas dos dois candidatos são motivos de forte animação por parte do eleitorado da região. Resta saber se o vencedor cumprirá suas promessas a partir de janeiro.

18.10.08

PRA ELES, OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS. SEMPRE


Como sabem, o candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Eduardo Paes, por pura influência do governador Sérgio Cabral Filho, é apoiado pela base do governo federal - incluindo o PT, tão detonado por Paes há dois ou três anos (quando o então deputado federal ainda era do PSDB, que atualmente apóia o adversário Fernando Gabeira, candidato do PV).

Pelo visto, se os petistas ainda guardavam mágoas do candidato de Cabral, perdoaram-no rapidinho. Dispostos a não perder a bocada na capital fluminense (onde os quatro candidatos da base do governo federal - a saber, pela ordem de colocação: Marcelo Crivella, do PRB; Jandira Feghali, do PCdoB; Alessandro Molon, do próprio PT; e Paulo Ramos, do PDT - foram derrotados de forma humilhante), os militantes do Partido da Boquinha (a única coisa verdadeira que o ex-governador Anthony Garotinho falou na vida, diga-se) abraçaram a campanha de Paes com fervor.

Esta campanha municipal no Rio está sendo marcada por panfletos que configuram propaganda negativa contra candidatos - o que é condenado pela Justiça Eleitoral. No primeiro turno, vários candidatos à prefeitura do Rio sofreram com isso - inclusive Paes. Neste segundo turno, esse tipo de crime político atinge majoritariamente Gabeira, com vários desses panfletos exaltando o "orgulho suburbano" (baseado numa crítica do candidato verde, flagrada por jornalistas, a uma vereadora de sua coligação). Pois bem: vários desses panfletos - criticando o apoio do atual prefeito, Cesar Maia, à candidatura de Gabeira - foram pagos pelo PT. Leia mais aqui.

O detalhe é que o PT nunca apitou nada pelas bandas da cidade do Rio de Janeiro - tanto que nunca elegeu um prefeito na cidade, apenas nas vizinhas como Niterói e Nova Iguaçu. Governador, zero. Só vive da eleição de Benedita da Silva como senadora em 1994 e do largo número de votos dados a Lula como presidente. No que depender das pessoas esclarecidas desta cidade, vai perder de novo.

Mas não será fácil. Não fosse a população carioca, em sua maioria, chegada a rompantes de populismo, Gabeira certamente ganharia de lavada. Como deverá acontecer em São Paulo, com Gilberto Kassab (DEM) contra Marta Suplicy. E como, pelo visto, deverá ocorrer em Belo Horizonte, com Leonardo Quintão (PMDB) bem na frente do candidato-Frankenstein Márcio Lacerda (PSB), apoiado pelo governador tucano e pelo prefeito petista. Com certeza eles devem ter pensado que teriam capacidade para eleger até um poste, exatamente como Lula, Cabral etc. pensavam até bem pouco tempo atrás...

15.10.08

VALE TUDO. ATÉ JUNTAR HOMEM COM HOMEM



Como costuma acontecer em todo segundo turno que se preze, há vezes em que campanhas eleitorais descambam para o baixo nível. Como ocorreu em São Paulo, em que o programa televisivo de Marta Suplicy (PT) insinuou algo acerca da sexualidade do seu adversário, o atual prefeito da cidade, Gilberto Kassab (DEM), perguntando se ele era casado ou tinha filhos.

Não é relevante se determinado político é hétero, homo, bi ou pansexual, ou mesmo assexuado, contanto que faça um bom governo e atenda aos interesses da população. O prefeito Kassab está na prefeitura há dois anos e meio (desde a renúncia de José Serra para se candidatar ao governo do estado, em 2006), com altas taxas de aprovação da população paulistana e, até agora, ninguém questionou a sexualidade do indivíduo. O irônico é que tal questionamento veio logo de alguém que sempre pregou o respeito às minorias, como a ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy. Essa parte da campanha pegou tão mal que até os correligionários petistas a desaprovaram.

O pior para a candidata é que isso deverá ter o efeito contrário, acabando com as já poucas chances de eleição de Marta. Ela era vista, no primeiro turno, como a grande favorita para ganhar a primeira parte desta eleição, até por causa da divisão entre as candidaturas de Kassab e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Mas as coisas voltaram ao normal às vésperas do dia 5 de outubro, com o crescimento de Kassab e a sua conseqüente primeira colocação, à frente de Marta - donde se conclui que, se democratas e tucanos estivessem unidos desde o início (como o governador Serra queria desde o início, mas Alckmin bateu pé para se candidatar), o atual prefeito certamente teria levado a parada ainda no primeiro turno. Mas a reeleição de Kassab foi apenas adiada. Está na hora de os paulistanos mostrarem que não têm memória curta.

11.10.08

UM SEGUNDO TURNO SEM DEFINIÇÕES... EM TODOS OS SENTIDOS


A foto ao lado poderia simbolizar mais uma aliança eleitoral, de apoio dos governos federal e estadual, num segundo turno de eleição municipal - não fosse por um pequeno detalhe: o fato de Eduardo Paes, o candidato apoiado pelo governador e pelo presidente, ter detonado o governo federal há três anos, quando ele foi um dos destaques das CPIs que investigavam denúncias de corrupção naquele momento, assim como também quando candidato ao governo do estado do Rio, pelo PSDB, em 2006.

Possivelmente de olho em cargos num futuro governo (algo parecido com o que ocorreu há dois anos, em que o próprio Eduardo Paes, contrariando determinações de seu partido na época, decidiu apoiar Sérgio Cabral Filho no segundo turno da eleição para governador), partidos das bases estaduais e federais decidiram apoiar Paes no segundo turno contra Fernando Gabeira - que, por sua vez, optou por procurar eleitores ao invés de políticos, no que faz muito bem.

Mas voltemos ao assunto causado pela foto que ilustra este post. Diferentemente do que havia em eleições anteriores, parece que apoios de políticos não vêm interferindo tanto na escolha dos eleitores. Independentemente de alianças que pareçam estapafúrdias (como o apoio do PCdoB e da cúpula regional do PT ao candidato peemedebista à prefeitura do Rio), a atenção do eleitor está nas propostas dos candidatos. Os vários debates que haverá até o dia 24 certamente serão acompanhados com atenção e ajudarão a moldar a escolha do eleitorado.

O que chama a atenção é o total desprendimento de ideologias neste segundo turno carioca. Faz tempo que não há divisões entre direita e esquerda na política como um todo, e em alguns aspectos as correntes até chegam a se misturar (alguns esquerdistas mais radicais ainda se recusam a perceber isso), mas no Rio isso fica mais evidente. O PMDB é um partido de centro (na base de todos os governos federais desde a redemocratização), e Eduardo Paes não é exatamente um militante de esquerda - mas vários partidos de esquerda (como o PCdoB e o PSB) o apóiam. O PV e Gabeira são esquerdistas históricos, mas têm o apoio de setores liberais da política como os partidos que o acompanham na coligação (PSDB e PPS) e - particularmente neste segundo turno, de olho nas eleições federais e estaduais de 2010 - parte da cúpula do DEM, assim como de vários outros militantes de esquerda, como o arquiteto Oscar Niemeyer e a senadora Marina Silva (PT-AC). Vários que não morrem de amores pela esquerda, como é o caso deste que vos escreve, votaram e/ou votarão em Gabeira para prefeito do Rio neste ano.

Isso se explica por causa da situação calamitosa em que o Rio se encontra. Desde o início da campanha, a candidatura de Gabeira vem discutindo com os eleitores como melhorar a cidade, conquistando-os aos poucos. E isso ocorre de tal forma que nada parece abalar a candidatura, nem mesmo uma declaração meio fora de hora do candidato em relação a uma vereadora eleita (a mais votada da cidade), que faz parte de sua coligação e tem base na Zona Oeste, região em que Gabeira teve seu mais fraco desempenho.

De todo modo, as eleições no Rio estão totalmente indefinidas - em todos os sentidos. Mas, pra não perder o costume, vamos colocar o favoritismo no colo do Eduardo Paes...

P.S.: Validaram os votos de Arnaldo Vianna (PDT) em Campos. Ou seja, haverá segundo turno entre ele e Rosinha Matheus (PMDB), que já cantava vitória no primeiro turno. Ainda há esperança.

10.10.08

MUITO MAIS QUE UM FILME DE GUERRA


  • Filme: Trovão Tropical (Tropic Thunder, Alemanha/Estados Unidos, 2008)
  • Direção: Ben Stiller
  • Elenco: Ben Stiller, Jack Black, Robert Downey Jr., Jay Baruchel, Brandon T. Jackson, Matthew McConaughey, Steve Coogan, Tom Cruise

A quarta experiência de Ben Stiller na direção de um longa-metragem mostrou-se a mais bem-sucedida, com uma comédia que ironiza os bastidores do cinema e as suas superproduções. A piada começa mesmo antes do início "oficial" do filme, com trailers falsos com os atores-personagens do filme em produções anteriores.

O longa conta a história de um filme de guerra, cuja produção se mostra um verdadeiro fiasco, com todo tipo de problema possível: estouro no orçamento, ataques de estrelismo do elenco e dos produtores, diretor inexperiente que não consegue segurar os atores, o diabo. Para tentar salvar o filme de um iminente fracasso, o autor do livro que originou o roteiro, visto como herói de guerra no Vietnã (onde, aliás, a produção está sendo filmada), sugere ao diretor colocar os atores no meio da floresta, para dar o clima necessário. O diretor, sem outra alternativa, obedece... e aí, as coisas começam a piorar. De repente, os atores começam a enfrentar situações dignas de uma guerra de verdade - pensando que realmente estão estrelando um filme.

O mérito de Trovão Tropical está na sátira aos bastidores do cinema, tendo graça até nos exageros cometidos pelos atores retratados. Há de tudo - desde um ator consagrado que faz tratamento de pigmentação para não ver sua carreira afundar de vez (ou ser mais "aceito", vá saber...) até um ator-rapper que esconde mais coisas sobre sua vida que gostaria, passando por outro, em tratamento de recuperação, que sofre constantes crises de abstinência e não consegue largar o vício em heroína. O principal dos atores descobre-se conhecido e quase endeusado em um local inóspito do Sudeste Asiático por um papel que foi um estrondoso fiasco de crítica. No decorrer do filme, o espectador percebe que as coisas não são bem do jeito que ele pensava que eram, tanto entre os atores quanto entre as origens do próprio roteiro. Ou seja, quase um resumo de Hollywood atualmente.

Num momento em que as comédias do cinema norte-americano apelam para o humor mais rasteiro e escatológico, Trovão Tropical é muito bem-vindo para os amantes da qualidade no humorismo em celulóide. É daqueles filmes que fazem rir e pensar ao mesmo tempo, algo que anda tão raro e difícil nos dias de hoje.

6.10.08

...E O RIO RESPIRA ALIVIADO



Não poderia ser melhor o segundo turno nas eleições municipais no Rio de Janeiro. Para uma cidade que pensava seriamente em colocar como disputa final um duelo entre Marcelo Crivella (PRB) e Jandira Feghali (PCdoB), a decisão entre Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) é um grande alento.

Mesmo com uma urninha teimosa que não quer ser apurada de jeito nenhum até a escritura deste texto (até o momento, 99,99% das urnas foram apuradas na cidade), ficou decidido que o ex-secretário de Esportes, Lazer e Cultura do estado, apoiado pelo governador Sérgio Cabral Filho (mas nem tanto por Lula), e o deputado federal mais votado do estado em 2006 farão o segundo turno, no próximo dia 26. Inicialmente, Paes é o favorito para ocupar o Palácio da Cidade a partir de 1º de janeiro de 2009, mas Gabeira promete surpreender novamente. Que ninguém duvide disso.

Há uma grande discussão a respeito dos acordos e apoios que os candidatos poderão ter, que possam se refletir no eleitorado. Eduardo Paes, por exemplo, notorizou-se por bater forte no governo federal durante as CPIs de 2005, quando ainda era deputado federal pelo PSDB (que, nesta eleição, apóia Gabeira). Isso pode atrapalhar a trajetória eleitoral de Paes neste segundo turno, visto que sua polêmica mudança de partido, no ano passado, poderá ser interpretada como demonstração de oportunismo eleitoreiro. Além disso, a repentina mudança de opinião de Paes (que antes batia em Lula, e agora quer seu apoio) não é bem vista por muitas pessoas.

Por outro lado, Gabeira também poderá ter problemas neste segundo turno. O eleitorado de Marcelo Crivella, o terceiro colocado na eleição, tende a votar em Paes, na sua maioria, visto que não se identifica ideologicamente com as propostas do deputado federal - como se o prefeito pudesse ter atribuições de ocupantes do cargo legislativo. Além do mais, o apoio do PSDB e do PPS, dois partidos centro-esquerdistas que fazem oposição ao governo federal, é visto por muitos, ainda mais à esquerda como PCdoB, PT e PDT, como uma traição aos ideais da esquerda. Acontece que os tucanos têm pouca relevância no cenário político fluminense, e não mudaria muita coisa em caso de eleição de Gabeira. Se tem uma coisa de que o Rio menos precisa, é que nacionalizem a campanha municipal.

De todo modo, é extremamente salutar este segundo turno entre Paes (o menos populista entre os peemedebistas fluminenses, apesar dos pesares) e Gabeira (um sopro de dignidade na política brasileira, tão machucada nos dias de hoje). Muito melhor do que termos que aturar Crivella (populista-religioso que aderiu ao governo federal muito antes de Paes, depois de bater no próprio governo em 2004) ou Jandira (que demonstra caráter desagregador mais uma vez, como havia demonstrado nas campanhas anteriores). E meu voto, novamente, irá para Gabeira, na minha opinião o melhor candidato. Pelo visto, estou em ótima companhia.

  • AH, TÁ! O RESTANTE DO ESTADO

A grande maioria das cidades fluminenses elegeu seus prefeitos neste domingo. Além da capital, apenas em Petrópolis haverá segundo turno, entre Paulo Mustrangi (PT) e Ronaldo Medeiros (PSB). De resto, eleição garantida - inclusive nas cidades da Baixada Fluminense em que o segundo turno era visto como certo.

Como em Duque de Caxias, em que José Camilo Zito (PSDB), velho coronel político da região, ganhou pela terceira vez, derrotando o atual prefeito, Washington Reis (PMDB), apoiado pelo governador e pelo presidente. O mesmo ocorreu em São João de Meriti, onde Sandro Matos (PR) venceu Marcelo Simão (PHS), que era visto como o favorito e também era apoiado por PMDB e PT.

A decadência do PDT na capital (onde Paulo Ramos foi relegado a uma, até certo ponto, empolgante disputa pelo sétimo lugar com Chico Alencar, do PSOL) não se refletiu nas duas mais importantes cidades do interior do estado. Em São Gonçalo, Aparecida Panisset foi reeleita com larga margem de votos, o mesmo ocorrendo com Jorge Roberto Silveira, que se elegeu prefeito de Niterói pela quarta vez. Não deixa de ser um sopro de esperança para os pedetistas, principalmente em relação aos niteroienses.

Dois petistas também se deram bem, desta vez na Baixada: Lindberg Farias foi reeleito em Nova Iguaçu, numa coligação altamente eclética (que contou, entre outros partidos, com PDT, DEM, PV, PR e PTB), vencendo o deputado federal e ex-prefeito da cidade, Nelson Bornier (PMDB). Em Belford Roxo, Alcides Rolim venceu a também peemedebista Sula do Carmo. Nas duas cidades, os candidatos apoiados por Lula derrotaram os apoiados por Cabral.

A surpresa (ou não...) ocorreu no interior do estado. Em Campos, a ex-governadora Rosinha Matheus (PMDB) venceu de forma avassaladora a disputa pela prefeitura da cidade do Norte Fluminense, com quase 79% dos votos válidos. Além disso, sua filha Clarissa se elegeu vereadora na capital. É a Era Garotinho, que teima em não acabar. Paciência.

  • E NO RESTANTE DO BRASIL...

Em todo o país, as eleições também foram bem disputadas. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, confirmou-se o segundo turno entre Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT). A surpresa foi o atual prefeito ter acabado o primeiro turno na primeira colocação, ao contrário do que as pesquisas apontavam. Em Belo Horizonte, haverá segundo turno entre Márcio Lacerda (PSB), apoiado pelo atual prefeito, petista, e pelo governador mineiro, tucano, e Leonardo Quintão (PMDB), que começa a surgir como o favorito. Em Salvador, João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT) farão a disputa final, deixando ACM Neto (DEM) de fora. Em Porto Alegre, José Fogaça (PMDB) e Maria do Rosário (PT) farão o mesmo, deixando de fora Manuela d'Ávila (PCdoB).

O destaque entre as capitais foi a reeleição, em Curitiba, de Beto Richa (PSDB), com mais de 77% dos votos válidos. Também merecem menção a reeleição de Luizianne Lins (PT) em Fortaleza (depois de, mais uma vez, ser ignorada pelo próprio partido) e a eleição de Micarla de Souza (PV) em Natal, depois de uma campanha acirradamente contrária do presidente Lula, que apoiava a também petista Fátima Bezerra.

Pois é. No dia 26, ou em 2012, tem mais.

5.10.08

OS VOTOS DO BLOGUEIRO FORAM PARA...

  • VEREADOR: Patrícia Amorim (PSDB, 45007) - Um de meus assuntos preferidos é o esporte; quem lê este blog, sabe que isto não é segredo algum. E um político que tem a massificação esportiva como plataforma é sério candidato a ganhar meu voto. Pela terceira vez seguida, a vereadora Patrícia Amorim recebe meu voto de confiança para o cargo de vereadora na cidade do Rio. Ela assume seus compromissos e faz questão de cumpri-los sempre, tendo o incentivo da prática esportiva como meta. Seus projetos de lei relacionados ao assunto são prova disso.
  • PREFEITO: Fernando Gabeira (PV, 43) - Desde que o deputado federal verde ainda pensava em se candidatar à prefeitura, eu via essa proposta com simpatia (para mais detalhes, leia aqui). Por um motivo simples: vejo-o como o único candidato com alguma sombra de decência, diante do quadro caótico da política carioca atual. Não vejo Gabeira como alguém que queira usar um hipotético cargo de prefeito como trampolim para vôos mais altos, ao contrário dos demais candidatos. Além disso, ele se propõe a discutir o problema da segurança como nenhum outro candidato fizera na campanha. Isso resultou na crescente adesão do eleitorado, mesmo com uma campanha de certa forma discreta, que pode levá-lo ao segundo turno. Se isso acontecer, será uma eleição imprevisível, pois a tendência é a candidatura de Gabeira crescer mais, com propostas para regiões da cidade em que ele ainda não tem tanta popularidade, como as Zonas Norte e Oeste.

4.10.08

TPE: TENSÃO PRÉ-ELEITORAL



As eleições municipais de 2008 terão o seu primeiro turno amanhã e o número de indecisos, pelo menos aqui na cidade do Rio de Janeiro, ainda é considerável. As pesquisas de opinião, embora não sejam exatamente surpreendentes, dão ainda mais emoção ao pleito.

O candidato Eduardo Paes (PMDB) já está no segundo turno. A segunda vaga está entre Marcelo Crivella (PRB), Fernando Gabeira (PV) e, em menor grau, Jandira Feghali (PCdoB). Está uma disputa feroz e equilibrada entre o senador, que liderava nas primeiras pesquisas, e o deputado federal, que cresceu muito nas semanas anteriores à eleição. Nada mal, já que há alguns meses muitos temiam um segundo turno entre Crivella e Jandira. Agora, poderemos até ter um segundo turno entre Paes e Gabeira, muito melhor no quesito alto nível de campanha. No início da campanha, em 1º de julho, escrevi aqui minhas impressões iniciais sobre os candidatos à prefeitura do Rio.

Já em São Paulo, é praticamente certo o segundo turno entre a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e o atual detentor do cargo, Gilberto Kassab (DEM). Ou seja, esta eleição pode marcar a falência política do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que mandou para o espaço a antiga aliança entre os tucanos e o ex-PFL ao bater o pé pra se candidatar ao cargo de prefeito da maior cidade do país, contrariando até mesmo o governador José Serra.

Amanhã à tarde, revelarei em quem confiei meu voto - já escolhi meus candidatos a prefeito e vereador. A figura acima, apesar de ter pouca relação com minha escolha, é uma pequena curiosidade pinçada nos jornais de hoje. A edição deste sábado de O Globo dedicou uma página inteira para informar os nomes de todos os candidatos a vereador na cidade do Rio de Janeiro. Entre os candidatos do PTC (Partido Trabalhista Cristão), está ninguém menos que... Papai Noel! Podem procurar, ele está lá. Será que, se o Bom Velhinho conseguir uma vaga na Câmara dos Vereadores, ele dará presentinhos aos seus eleitores? Bem, como o Noel não será um dos que receberão o meu voto, não sou eu que saberei.

CRISE DE IDENTIDADE

"Emo é o caralho!!!!!"

Di Ferrero, vocalista da banda NXZero, ao receber o prêmio de Artista do Ano no VMB, premiação da MTV, na noite de quinta-feira. Tá bom... Se NXZero não é emo, minha avó é bicicleta.

3.10.08

COMO EU GOSTARIA DE ENTENDER DE ECONOMIA!

Quem sabe, assim, eu teria um pouco de assunto pra escrever aqui.

Com essa crise financeira que assola o mundo hoje (tendo seus reflexos, como o esperado, nas eleições presidenciais norte-americanas), o que mais lamento é não ter muito interesse por economia. Isso vem desde que comecei a ler jornais: acompanho com interesse os assuntos do país, do mundo, dos esportes, da cultura... e nada de economia. Como me arrependo disso, meu Deus. Agora é só lamentar ficar por fora de todas as rodinhas de conversa sobre o assunto.