30.9.09

O AMOR DÓI



  • Filme: 500 Dias com Ela ((500) Days of Summer, Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Marc Webb
  • Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Geoffrey Arend, Chloe Moretz, Matthew Gray Gubler

A comédia romântica independente, sensação do Festival do Rio deste ano e que estreará comercialmente nos cinemas brasileiros em novembro, é um excelente cartão de visitas para o diretor estreante em longas Marc Webb. Afinal, sua história é facilmente identificável por todos aqueles que já amaram alguém, sofreram desilusões amorosas, ou que ainda têm esperanças em viver uma grande paixão nessa vida.

Ele acredita no amor e se apaixona por ela. Ela não acredita no amor, e não corresponde a essa paixão. Mesmo assim, vivem mais de um ano de forma intensa, mostrada em ordem aleatória ao longo do filme, de forma que encanto e frustração se alternem para que o espectador tenha a ideia do que o amor pode proporcionar - isso é auxiliado, principalmente, pela fotografia e pela trilha sonora. Assim, temos a oportunidade de nos colocar no lugar dessas pessoas, não importando se somos românticos ou não.

29.9.09

O PAÍS QUE NÃO TEM PARTIDOS PARA A MAIORIA

Uma mensagem no Twitter me chamou a atenção: "O brasileiro, felizmente, é conservador". O texto que estava anexo confirma essa tendência ao conservadorismo que está na média da população brasileira: contra o aborto, contra a liberalização das drogas, contra o casamento entre homossexuais, a favor da redução da maioridade penal... Esse texto se baseou em outro que lamentava essa tendência seguida por grande parte da população brasileira. Esse tipo de debate informal me fez lembrar de algo que anda oculto, mas mostra bem o nível da política brasileira pós-redemocratização: o "antidireitismo" do movimento partidário brasileiro.

Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), há uma certa "satanização" do conservadorismo no Brasil. Isso se reflete nas eleições presidenciais diretas desde então, em que apenas a primeira (a de 1989) contou com a participação de candidatos de direita com chance de vencer. Recentemente, o presidente Lula causou polêmica ao declarar que o pleito de 2010 seria o primeiro sem o que ele chama "trogloditas de direita" (sic), ignorando que a variedade de correntes ideológicas é apenas benéfica para a democracia.

Há dois anos, inspirado por este texto do Serjão (que, por sinal, anda meio sumido), escrevi o que considero uma espécie de "monopólio esquerdista da moral", em que todo e qualquer ato que não seja perpetrado por movimentos "progressistas" é visto como reacionário, enquanto ditaduras comunistas são endeusadas até hoje, e onde prevalecem as máximas dos fins que justificam os meios e dos inimigos dos inimigos que, automaticamente, se tornam amigos e aliados. Curiosamente, o Brasil parece ser o único país da civilização ocidental* em que não estar à esquerda parece ser um crime digno de ser perseguido por toda a vida - o que nos faz voltar à questão do movimento partidário.

Os poucos partidos vistos como direitistas, hoje, ora são insignificantes a ponto de sumirem, ora são arremedos do que chegaram um dia a ser (o PFL, por exemplo, mudou seu nome para DEM em 2006 e, desde então, só faz diminuir de tamanho; já o PP faz parte da base de apoio ao governo Lula). A falta de opções conservadoras no Brasil é tão gritante que o PSDB (partido de centro-esquerda baseado nos movimentos social-democratas europeus) é tratado por esquerdistas como um partido de... direita! Mais recentemente, isso ocorreu com o PPS e o PV, principalmente depois da aliança com os tucanos e, no caso específico dos verdes, da entrada da senadora Marina Silva (AC), saída do PT.

Isto posto, o que falta na política brasileira? Um partido que atenda às necessidades da maioria dos eleitores. Um partido que proponha uma maior valorização da nossa democracia. Que não se dobre a quaisquer imposições de quem quer que seja, venha de quem vier. Que dê o seguinte recado para aqueles que querem bagunçar o que já não está arrumado em nosso país: há limites que têm que ser respeitados, e leis que precisam ser cumpridas. Enfim: um partido conservador de verdade.

* Bolívia, Cuba e Venezuela não contam, evidentemente.

24.9.09

ESSA CORREÇÃO POLÍTICA AINDA VAI ACABAR COMIGO



Vocês devem ter visto o comercial das sandálias Havaianas, em que uma vovó animadinha sugere à neta se envolver sem compromisso com um artista de TV, sem precisar se casar com isso. Um comercial engraçado e divertido, na minha opinião. Mostra que os idosos têm o direito de curtir a vida da melhor forma possível. Mas teve gente que não gostou, reclamou, esperneou, ameaçou tirar o comercial do ar. Os publicitários o fizeram, mantendo-o na Internet e ainda fazendo piada com isso.

Assim, desenvolveu-se mais um capítulo da praga do politicamente correto na mídia brasileira. Algo que vinha se espalhando pelo mundo desde a década passada, mas vem se acentuando ainda mais. Isso passa, por exemplo, pela famigerada classificação indicativa por idade, um verdadeiro atraso para quem sabe distinguir o certo do errado. Tem gente que pensa que espectador brasileiro não tem senso crítico nem pensa por si próprio, acreditando em qualquer coisa que passa na televisão, no cinema ou numa peça teatral. Alguns não sabem, mas basta que esse senso crítico que lhes falta seja desenvolvido através da educação e da experiência de vida.

Ultimamente não se pode fazer piada com nada, que tem gente que se sente ofendida com isso. O caso do comercial de sandálias é bem emblemático. Mas outros comerciais e programas de TV brincam com determinadas minorias e pessoal acha que é preconceito. Assim, o mundo vai se tornando chato e cheio de não-me-toques. Essa correção política toda ainda vai acabar mal.

22.9.09

MAIS UM CAPÍTULO DA SÉRIE "OS MICOS DO ITAMARATY"



No meio do ano, o então presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto do poder por querer mudar a Constituição do país, para que pudesse concorrer a um novo mandato presidencial, contrariando as leis locais. Na época, escrevi que mesmo medidas antipáticas poderiam ser necessárias para garantir a democracia, desde que ela fosse respeitada, para que não se repetisse o que ocorreu no Brasil em 1964, por exemplo.

Pois bem: o ex-presidente hondurenho é um notório aliado do bloco liderado pelo venezuelano Hugo Chavez, e que conta com o apoio de Lula. E este, através do governo brasileiro, anda abusando do direito de se intrometer em assuntos internos de outro país. Nesta semana, Zelaya se refugiou (o governo do Brasil não usa a palavra "refugiar", por considerar que Zelaya ainda é o presidente de Honduras) na embaixada brasileira em Tegucigalpa. O atual governo, pressionando os brasileiros, cortou água e luz da embaixada, cercando-a para que Zelaya seja entregue.

Independentemente de os lados da questão estarem certos ou errados, o fato é que o caso é mais um desastre na política interna brasileira desde que Lula assumiu a Presidência da República. Nem é preciso enumerar o número de derrapadas diplomáticas de origem ideológica que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, cometeu, fracassando redondamente em todas elas (a mais recente foi na eleição para a secretaria-geral da Unesco, em que, de olho nas relações com o mundo árabe, apoiou o polêmico egípcio Farouk Hosni, de tendências antissemitas, em detrimento de dois brasileiros que eram fortes candidatos ao cargo - a vencedora foi a búlgara Irina Bokova), assim como é desnecessário ressaltar o quanto o Brasil, embarcado num pretenso antiamericanismo, colocou-se na rabeira da ordem mundial, apoiando ditaduras (quase todas de esquerda, antiamericanas ou antissemitas) e condenando democracias.

Quase um quarto de século depois da volta de um regime democrático ao Brasil (fará 25 anos em 15 de março de 2010, com o fim do regime militar), esse mesmo regime está seriamente ameaçado. Pior: por muitas das vítimas da própria ditadura. Existe o sério risco de não haver a menor possibilidade de escapar desse trágico destino.

17.9.09

ENQUANTO ISSO, OS TROGLODITAS DE ESQUERDA...



Segue impressionante a capacidade que o presidente Lula tem de dizer as coisas mais infelizes nos momentos mais impróprios. Foi o que aconteceu, mais uma vez, ontem.

O presidente disse que, nas eleições de 2010, pela primeira vez, não haveria "trogloditas de direita" (sic) se candidatando à presidência da República - baseado no fato de grande parte dos pré-candidatos, até agora, serem majoritariamente filoesquerdistas (Dilma Rousseff, Marina Silva, José Serra, Ciro Gomes, Heloísa Helena etc.). Essa colossal bobagem presidencial é facilmente derrubada em dois argumentos claros.

O primeiro: há um bom tempo, não há candidatos claramente de direita com chances de chegar à presidência. Desde 1989, para ser mais claro, quando Fernando Collor (PRN) foi eleito. De lá pra cá, as eleições foram disputadas muito mais por candidatos de esquerda ou social-democratas: Fernando Henrique Cardoso, Serra e Geraldo Alckmin (todos do PSDB), o próprio Lula (PT), Ciro Gomes (PPS, em 1998 e 2002), Anthony Garotinho (PSB, em 2002)... Isso sem contar os candidatos de partidos esquerdistas de pouca ou nenhuma relevância, como PSOL, PSTU ou PCO, que só aparecem por causa do barulho que fazem durante as campanhas - sem dar resultado eleitoral algum, contudo.

O segundo, e mais importante: mui convenientemente, Lula fala dos tais "trogloditas de direita", esquecendo-se (ou não...) dos de esquerda. Ninguém pode negar: eles sabem fazer propaganda como poucos. Ainda por cima, prosseguem no seu intento de se perpetuar no poder, contando com a passividade da população. Não duvido nada de que isso aconteça - e aí, sim, vai ter gente morrendo de saudade dos tais "trogloditas de direita".

16.9.09

UM GIRO DE 360 GRAUS



Quando foi eleito presidente dos Estados Unidos, há cerca de dez meses, Barack Obama carregava as esperanças do mundo inteiro (que parecia ignorar o fato de ele ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, não super-herói do planeta) de que, enfim, as guerras se acabariam e a economia, enfim, voltaria a entrar nos eixos. Passados quase oito meses de sua posse, porém, o que se vê é apenas a confirmação de que o cargo de líder da maior potência da Terra é altamente imutável - a série de obrigações dada a um chefe de Estado e Governo não muda de uma hora para outra.

A demora para se recuperar da maior crise econômica em oito décadas, maior que a média dos outros países (até o Brasil, aos poucos, começa a se recuperar da "marolinha" tsunâmica), acaba sendo o de menos quando constatamos o atoleiro em que as tropas norte-americanas se meteram no Iraque e no Afeganistão. Neste último, então, as coisas ficaram bem complicadas: o recrescimento da milícia Talibã e as tumultuadas eleições presidenciais no país (em que o presidente Hamid Karzai enfrenta acusações de fraude para se reeleger) são grandes problemas que Obama e sua equipe têm que enfrentar. Porém, sempre pode piorar: é previsto o envio de mais tropas ao país, o que causa uma grande polêmica entre os próprios democratas, por contrariar uma promessa de campanha do atual presidente. Todo esse estado de coisas provoca uma enorme queda de popularidade de Obama, maior até mesmo que a sofrida por George W. Bush nos primeiros meses de seus dois mandatos, em 2001 e 2005.

Enfim, conclui-se algo que já se sabia há muito tempo, mas não custa nada lembrar: não existem salvadores da pátria. Mas a Humanidade parece fazer sempre questão de se esquecer deste pequeno detalhe, sempre se decepcionando com quem sempre se espera uma atitude rápida e redentora.

10.9.09

E AGORA, HEIN?


Há alguns dias, o terror vem dominando a cidade de Salvador, com ataques de grupos criminosos - em represália à transferência de um dos chefões do crime soteropolitano para um presídio no Mato Grosso do Sul. De todo modo, não deixa de ser significativo para um estado como a Bahia, que vê seus índices de violência aumentarem a cada mês, que de nada adiantou se alinhar com o governo federal no tocante à segurança de seus habitantes.

Isso tudo três anos depois de ataques criminosos pelo estado de São Paulo - época da transição do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que renunciava para concorrer à presidência da República, para o vice Cláudio Lembo (PFL, hoje DEM). Na época, muitos atribuíam à "política tucana para a segurança" a onda de violência; outros, a uma "coligação PT-PCC" para que a campanha tucana fosse prejudicada. Nenhuma das duas ilações adiantou muito: o tucano José Serra foi eleito governador no primeiro turno e Lula foi reeleito presidente. Enfim, houve em São Paulo, naquele 2006, uma balbúrdia que foi maléfica à população paulista e evidenciou nossa impotência frente à bandidagem.

Só quero ver o que vão dizer agora. Pode ser que seja resultado de má política de segurança do governador baiano (o petista Jaques Wagner) ou apenas "uma fase ruim". Mas o fato é que Wagner - também eleito governador no primeiro turno - tem um pepinaço nas mãos. E isso poucos meses depois de enfrentar a maior epidemia de dengue do país no ano. O pior, para os baianos, é constatarem que estão entre o petismo e o carlismo, herança política do falecido coronel político Antônio Carlos Magalhães. Assim, fica difícil achar uma saída.

6.9.09

ALFREEEEEEEEEDOOOOO!!!!!!!



Como estamos todos carecas de saber, há cinquenta anos Cuba vive uma ditadura. Como ocorre em toda e qualquer ditadura, há cerceamento das liberdades, partido e pensamento únicos, brigas externas e falta de suprimentos. Entre eles, está o papel higiênico, cuja ausência anda crônica na ilha caribenha.

Ah, sim: um único jornal circula em Cuba, o Granma - órgão oficial do Partido Comunista Cubano. Ninguém mais anda lendo o que o ex-ditador Fidel Castro anda dizendo por esses dias, mesmo porque há pouquíssimos interessados nisso hoje. Mas, estranhamente, as vendas de edições atuais, recentes e antigas do Granma andam aumentando entre os cubanos. Leitores vorazes de última hora? Colecionadores excêntricos? Nada disso! É só voltar ao assunto que fechou o primeiro parágrafo.

Além do Granma, anda fazendo sucesso entre os cubanos o mais novo lançamento literário do ex-ditador - afinal, suas folhas são macias e não provocam muita dor durante o seu uso. Enfim, acharam uma utilidade plausível para tão doces palavras escritas em prol de "um novo mundo possível" - seja lá o que isso for.

3.9.09

BRASIL, O PAÍS DO RETROCESSO


Nesta semana, o Brasil se afastou ainda mais da democracia e da modernidade ao impor que, nas eleições do ano que vem, portais, sites noticiosos e blogs (mesmo os amadores!) sejam proibidos de emitir opiniões acerca de quaisquer candidatos, não importando se favoráveis ou não. É um verdadeiro tiro no pé, visto que os blogueiros insatisfeitos (a grande maioria) irão burlar essa regra, de uma forma ou de outra. Ou simplesmente desobedecê-la, como propôs o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).

Agora, a minha opinião: a nossa Lei Eleitoral é uma das mais ridículas do planeta. Por causa dela, os jornais, rádios e emissoras de TV não podem emitir opiniões sobre os candidatos nem têm direito a declarar apoio a um deles, como ocorre em países democráticos. Isso é inaceitável em algo que se pretenda ser uma democracia, como é o Brasil. Talvez isso se deva às eleições presidenciais de 1989, mas mesmo assim não justifica. Com esse tipo de proibição, fica parecendo que os brasileiros não temos capacidade de pensar por nós mesmos e temos que recorrer a isso para que nossas eleições sejam vistas como "isentas", sem que haja a possibilidade de maior debate sobre os candidatos.

Porém, não sou radical a ponto de boicotar a decisão, apesar de discordar frontalmente dela. Prefiro a via mais difícil: uma união dos que prezam a democracia e o estado de direito para que essa ridícula decisão seja revertida. Assim, a vitória será bem mais saborosa.