31.10.09

SE BOBEAR, CHAVEZ VAI QUERER MUDAR ATÉ A DATA DO NATAL


Que o ridículo de Hugo Chavez não conhece limites, todos já sabíamos. Só que ninguém imaginava que chegaria a tanto.

O presidente venezuelano defendeu nesta semana um terceiro mandato para o brasileiro. Até aí, novidade nenhuma - afinal ele é um notório defensor de reeleições infinitas para a consolidação da "grandiosa revolução bolivariana". Mas Chavez sempre quer mais, só faltando pendurar uma melancia no pescoço. Como isso (ainda) não é possível, desandou a dizer as asneiras de sempre: comparou Lula a Jesus Cristo (o que, segundo Lula, faria um certo sentido, já que não faltam Judas para que ele possa se aliar), e ainda teve a cara de pau de afirmar que a Venezuela é um país com plena liberdade de expressão...

Não demora muito e o bufão de Caracas vai querer mudar até a data do Natal em seu país. Pra quem mexeu em meia hora o fuso horário venezuelano e só faltou chamar o Papai Noel de agente imperialista, é mole.

29.10.09

BEM-VINDO A UM LUGAR ONDE NINGUÉM É BEM-VINDO


  • Filme: Distrito 9 (District 9, África do Sul/Nova Zelândia, 2009)
  • Direção: Neill Blomkamp
  • Elenco: Sharlto Copley, Louis Minnaar, Vanessa Haywood, Mandla Gaduka, David James, Robert Hobbs

Um dos filmes mais surpreendentes do ano, a ficção científica sobre uma colônia extraterrestre que vive nas favelas de Johanesburgo é um pseudodocumentário misturado a um eficiente thriller que prende a atenção do espectador, e o faz refletir sobre como pode haver tantos explorados e exploradores, e sobre como essas características se misturam.

O extinto regime do apartheid é retratado de forma apenas referencial, visto que os ETs não conseguem se esforçar para se integrar à sociedade, mais de 20 anos após chegarem à Terra. Assim, o governo do país busca transferi-los para um local distante, com barracas ao invés dos barracos das favelas - mas muitos desses ETs têm toda uma estrutura que certamente demorariam muito para refazerem em outro local.

A força-tarefa é liderada por alguém que é visto como não muito talentoso - dá a ideia de que ele só está lá por ser genro do chefe. Durante as ações de despejo, esse líder sofre um sério acidente que lhe trará sérias consequências - e revela algo que pode mexer profundamente com as estruturas dessa operação. Com isso, ele desafia tudo e todos para tentar reverter essa situação, mesmo sabendo que dificilmente terá saída, tendo que confiar em quem antes combatia.

24.10.09

SE CORRER, O BICHO PEGA. SE FICAR...



Não bastasse a guerra diária entre traficantes que a Zona Norte do Rio sofre há uma semana, ainda há o escândalo de dois policiais que negaram socorro a uma vítima de assalto no Centro da cidade. Sinceramente, não sei o que será da população do Rio (a dos cidadãos de bem, que pagam seus impostos em dia, e querem o melhor para a cidade em que vivem) tendo que conviver com essas duas parcelas que são uma verdadeira praga na sociedade. Ainda mais com o Rio tendo sete anos para provar que tem dignidade a mostrar ao mundo inteiro.

Depois de ter sido escolhida cidade-sede das Olimpíadas de 2016 (deverá sediar também a final da Copa do Mundo de 2014), a cidade do Rio de Janeiro está tendo uma grande exposição na imprensa mundial, evidentemente. Mais do que a habitual. Por isso, é importante que a população cobre e fiscalize, e o poder público tenha atitude para resolver os crônicos problemas de segurança, a prioridade do momento. Os seguidos desgovernos cariocas e fluminenses nas últimas décadas (em que grassaram o politicamente correto e o afrouxamento no combate à bandidagem) deixaram sequelas, é certo. Mas sociedade e classe política não podem esmorecer, de jeito nenhum.

É imperioso que haja uma política que deixe claro que quaisquer tipos de delito não podem ser tolerados, tanto no âmbito municipal quanto no estadual e federal. E é pra ontem, não pra daqui a cinco ou sete anos. O Rio tem tradição em fazer eventos que deem relativa calma à cidade, voltando à velha rotina depois de seu fim - o que dá a ideia de que haja "acordos" escusos entre políticos e bandidos, o que não pode acontecer de forma alguma.

A violência é um câncer que corrói uma região aos poucos. Causa fuga de investimentos, esvaziamento econômico. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o Rio receberá investimentos como poucas vezes recebeu em sua história, pelo menos nos seus últimos 50 anos. Cabe aos governantes cariocas aproveitar essa grande oportunidade para pensar a cidade e investir nas obras que forem necessárias - não somente na parte estética como as instalações esportivas, mas principalmente em necessidades básicas como educação, saúde e segurança. O que passa (ao menos nessa última) pelo controle das divisas estaduais, pela reeducação da polícia e pelo ostensivo combate àqueles que desafiam a lei - não importa de que lado estejam.

21.10.09

DUAS VIDAS, UM SÓ SENTIMENTO


  • Filme: Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, Alemanha/Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Quentin Tarantino
  • Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl, Til Schweiger

O mais novo longa-metragem de Quentin Tarantino é coerente com a trajetória do cineasta: usa o exagero na violência a serviço do roteiro, para contar determinada história, fazendo-o com maestria. Desta vez, o enredo é um plano de vingança contra os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante a ocupação alemã na França, em pleno interior do país, uma jovem judia tem a família assassinada por soldados nazistas em um porão, mas consegue escapar, sendo a única sobrevivente. Anos depois, vivendo com outro nome, é dona de uma pequena sala de cinema nos subúrbios de Paris. Enquanto isso, um tenente norte-americano lidera um grupo de soldados, também judeus, com o intuito de transformar a vida dos soldados de Hitler num verdadeiro inferno, combatendo-os da maneira mais sádica possível. Duas vidas diferentes, um só sentimento: a vingança.

O único momento em que essas duas vidas chegam a se cruzar (embora nem tanto) é quando a pré-estreia de um filme de propaganda sobre um soldado alemão que tornou-se herói de guerra é marcada para o referido cinema. Então, um plano ousado é elaborado pelas duas partes, sem que uma tome conhecimento ou sequer desconfie da existência da outra: o de matar toda a cúpula do nazismo (incluindo o próprio Hitler), que compareceria em peso ao cinema.

Evidentemente, esse plano jamais existiu na vida real - isso fica bem claro à medida que a produção chega a seu desfecho. Mas o que vale é que, por mais pesado que seja o tema e a forma com que ele é desenvolvido, o espectador sai do cinema com a alma lavada por causa do excelente roteiro e das interpretações convincentes. Em suma: um filmaço. Basta ter estômago forte e imaginação que alce infinitos voos.

20.10.09

A TERCEIRA DÉCADA QUE SE ENCERRA

Peço desculpas se parece um culto à personalidade esta foto de um bolo no momento em que comemoro 30 anos de idade. Não sou de fazer auto-homenagens. Mas o fato é que não se faz 30 anos todo dia.

16.10.09

TUDO O QUE UMA MÃE PODE FAZER


  • Filme: Salve Geral (Brasil, 2009)
  • Direção: Sérgio Rezende
  • Elenco: Andréa Beltrão, Denise Weinberg, Lee Thalor, Michel Gomes, Kiko Mascarenhas, Bruno Perillo, Júlio César, Taiguara Nazareth, Chris Couto

O filme de Sérgio Rezende, indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira em 2010, é um thriller de certa forma eficiente, que prende a atenção do espectador. Ele conta a história, acima de tudo, de uma mãe que faz de tudo (de tudo, mesmo) para ver o filho livre de uma tremenda enrascada, causada por uma megarrebelião que parou a maior cidade do país há três anos.

Uma professora de piano recém-viúva tem sua vida virada de cabeça para baixo ao ver seu único filho preso por ter cometido um homicídio. No afã de vê-lo livre, envolve-se com a advogada de bandidos membros da maior quadrilha de presídios do estado - ela, inclusive, torna-se uma grande amiga, até que isso não seja necessário. No final de semana do Dia das Mães, em maio de 2006, os presos são orquestrados a praticarem rebeliões nos presídios e atos de violência contra policiais nas ruas paulistas, em represália a transferências de seus líderes para prisões de segurança máxima. Por coincidência, o filho da professora tinha sido indultado naquele final de semana e acaba cooptado pelos bandidos a participar das ações. Cabe à protagonista tentar impedir uma tragédia.

Sabem qual foi a sensação que tive ao assistir a esse filme? A mesma de quando eu vi Última Parada 174: a de que fizeram um barulhão por pouca coisa. O que teve de gente acusando o filme de proteger a bandidagem não estava no gibi. Mas o fato é que depende de quem entendê-lo: a quadrilha que tomava conta dos presídios pretendia fazer um barulho ainda maior do que fez. Há certa dose de exagero em suas reivindicações e aspirações, lembrando regimes totalitaristas há muito enterrados. É fato que há corrupção na polícia, e também muita ingenuidade em vários comandantes, além de lutas entre bandidos em disputas de poder. Tudo isso é retratado no filme, o que em nada difere da vida real. Apesar de ser, em vários aspectos, ficção. Que virou clichê no cinema nacional, por sinal.

15.10.09

BREVE AUSÊNCIA

Pra os que me leem constantemente, peço desculpa pela falta de atualização. É que ando sem Internet em casa, o que só deverei ter na semana que vem. Escrevo daqui do trabalho mesmo. Amanhã (espero), volto a atualizar, se tiver tempo. Com direito a texto especial na próxima terça-feira. A quem interessar possa, obrigado pela compreensão.

9.10.09

NASCEU, CRESCEU, GANHOU UM NOBEL


Foi anunciado hoje que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços contra o desarmamento. Que esforços foram esses, devo confessar que não faço a menor ideia. A impressão que me dá sobre esse fato é de que Obama só ganhou essa honraria pelo fato de... existir. Afinal, em nove meses de governo ele pouco fez de concreto para merecê-la.

Senão, vejamos: ele foi eleito no ano passado prometendo tirar gradativamente as tropas do Iraque e do Afeganistão, por exemplo. Mas elas só fazem aumentar de tamanho desde janeiro, ao passo que recresce a violência dos ataques terroristas dos talibãs em terras afegãs. Além disso, o país demora mais para se recuperar da crise financeira que o resto do mundo. E ainda tem a polêmica da saúde pública.

Nem os cidadãos norte-americanos parecem se convencer tanto do carisma presidencial, tanto que seus índices de aprovação despencaram. Até mesmo os membros do Comitê Olímpico Internacional deixaram de se convencer de seu, digamos, alto poder de magnetismo - vide o fiasco da candidatura de Chicago, seu grande reduto eleitoral, para sediar as Olimpíadas de 2016. Mas o resto do planeta parece ainda hipnotizado pela Obamania. Tanto que veio o inesperado Nobel da Paz, resultado mais do oba-oba planetário em torno do seu nome do que por qualquer outra coisa.

Cabe a seguinte pergunta: se Obama não fosse de origem negra ou não tivesse sucedido Bush, será que ele teria ganho o Prêmio Nobel da Paz menos de um ano depois de sentar na cadeira da Sala Oval da Casa Branca? Minha resposta: nem por um milagre. Obama ganhou mais pelo nome construído enquanto ainda não era presidente do que fez (que iria fazer) depois que assumiu o poder. Talvez o comitê do Prêmio Nobel esteja com vontade de "democratizar" ainda mais o negócio. Se bem que, depois que o líder terrorista palestino Yasser Arafat ganhou o mesmo prêmio em 1994, passei a não duvidar de mais nada.

A CONSTRUÇÃO DE UM MITO


  • Filme: Coco Antes de Chanel (Coco Avant Chanel, França, 2009)
  • Direção: Anne Fontaine
  • Elenco: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde, Alessandro Nivola, Marie Gillain, Emmanuelle Devos

O filme conta a história da vida de Gabrielle "Coco" Chanel, uma das maiores estilistas de todos os tempos - mas de uma maneira diferente da habitual. Mostra da origem de seu apelido (por meio de uma tradicional canção francesa) às origens de seu estilo de moda, começando pelos chapéus e continuando com a alta costura.

Além o talento natural, Chanel contou com o auxílio de um comerciante de tecidos (em cuja mansão morou durante muito tempo) e de um milionário inglês (que foi o grande amor de sua vida, com quem nunca pôde se casar; essa decepção foi decisiva, por paradoxal que seja, para que sua carreira deslanchasse). É uma pequena joia do cinema francês a nós revelado pelo Festival do Rio, que se encerrou nesta quinta-feira.

8.10.09

O TERCEIRO E O QUARTO GRANDES PROBLEMAS



Com as cenas de vandalismo ocorridas ontem nos trilhos da estação de trens da cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, evidencia-se que o transporte deficiente e a falta de segurança são apenas dois dos problemas que os políticos e a sociedade terão que solucionar até as Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. Além desses dois grandes problemas, há pelo menos outros dois tão graves quanto: a falta de educação e civilidade da população, e a passividade daqueles que esperam que as coisas irão funcionar naturalmente, sem que nada seja feito.

Onze pessoas ficaram feridas e dois vagões foram incendiados pelos vândalos, que protestavam contra a paralisação de um dos trens, devido a problemas operacionais, e o não-reembolso do preço da passagem. Mesmo com os inúmeros defeitos da administração da SuperVia, nada justifica o vandalismo dos passageiros, destruindo bens públicos. O pior é que isso é o de menos: em todo o país, salvo raras exceções, a regra é burlar as leis e desobedecer a regras mais simples de convivência, em alguns momentos beirando a pura e simples selvageria. Isso passa por pichações, destruição de monumentos, agressões físicas, desacato e outras transgressões que muitos parecem fazer questão de cometer.

Muitos dizem que é por falha das autoridades, que não fazem sua parte. Isso passa pelo nosso outro grande problema: a acomodação e passividade da população, que espera que o peixe venha a suas mãos ao invés de aprender a pescar. A falta de fiscalização dos cidadãos faz com que os que ora têm o poder sintam-se à vontade para cometer toda sorte de delitos. O superfaturamento da construção das instalações esportivas do Pan de 2007 é um bom exemplo disso. Espero que este fato tenha sido uma lição a ser seguida pela sociedade, para que ela fiscalize detalhadamente os gastos da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Muitos começam a fazer sua parte, prometendo ficar de olho durante os próximos sete anos. Que isso seja a regra, daqui em diante, muito além desse período de tempo.

3.10.09

AGORA, É TRABALHAR. E COBRAR


Numa decisão histórica do Comitê Olímpico Internacional, o Rio de Janeiro foi eleito a cidade-sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, sendo a primeira cidade sul-americana a receber a maior festa do esporte mundial. Uma grande festa na Praia de Copacabana marcou a alegria dos cariocas com o acontecimento.

O momento é de festa. Mas é chegada a hora de arregaçar as mangas e começar a trabalhar, para que o maior evento esportivo do planeta corresponda às expectativas que merece. Não só na construção dos locais de provas, mas na transparência que isso exige. Como se sabe, há muita gente mal-intencionada que quer se dar bem com os Jogos Olímpicos, de forma nada honrosa. Basta lembrar dos Jogos Pan-Americanos de 2007, em que houve atrasos e superfaturamento, e ainda não houve fechamento das contas. Como contribuintes, temos que ficar de olho no que fazem com o dinheiro público.

Não devemos prestar atenção só no que ocorre fora das quadras e dos campos, mas dentro desses locais. O desempenho dos nossos atletas é parte integrante de uma Olimpíada digna. Isso deve ocorrer já nos preparativos para os Jogos de Londres, em 2012. É importante mostrarmos a nossa força para exibir o cartão de visitas quatro anos antes de receber os Jogos, preparando-se da melhor maneira possível e, acima de tudo, ter foco e calma na hora da decisão. Depois de 2016, usar ao máximo a estrutura deixada para que o Brasil receba eventos e revele talentos esportivos, contrariando o ocorrido pós-Pan.

Mas a infraestrutura é vital para uma Olimpíada inesquecível. É importante cobrarmos os nossos políticos para que tudo o que foi prometido no que se refere a educação, saúde, transportes etc. seja cumprido à risca. Grande parte das promessas do Pan não saiu do papel. O fato de o Rio sediar as duas maiores competições esportivas do planeta (a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016) nos próximos sete anos é uma chance de ouro para os cariocas recuperarem a sua autoestima, que andava tão machucada nas últimas décadas. Segue a dica anteriormente dada neste texto: cobrar muito os nossos políticos, já que fomos nós que os colocamos no poder. Isso vale por muito mais do que sete anos, vale para sempre: sejamos chatos. Muito chatos.

(Texto publicado originalmente no Olimpismo)