31.12.10

Qual o contrário de chave de ouro?



Seja qual for, foi certamente com isso que o governo Lula se encerrou nesta sexta-feira: com a recusa em extraditar o terrorista italiano Cesare Battisti, acusado de matar quatro pessoas em seu país e por lá condenado à prisão perpétua. Dessa forma, consagra-se a tendência do governo em privilegiar pessoas pela sua ideologia, não por seus méritos. Por outro lado, comprova-se que a democracia brasileira passou no teste, 25 anos depois de sua volta (espera-se) definitiva. Quem resistiu a oito anos de governo Lula (que, apesar dos avanços econômicos e sociais, cometeu muitos erros em nome de um pensamento morto há décadas), pode muito bem resistir a quatro anos de governo Dilma, que começa neste sábado.

Feliz 2011, pra todos nós.

23.12.10

De cérebros e caracteres


  • Filme: A Rede Social (The Social Network, Estados Unidos, 2010)
  • Direção: David Fincher
  • Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Max Minghella, John Getz, Rashida Jones, Rooney Mara

As primeiras cenas de A Rede Social são bem representativas de como andamos tão frenéticos dentro de nossas cabeças, de tantas informações adquiridas em pouco tempo de vida sem ter o escopo necessário para ordená-las: uma conversa entre o protagonista e sua namorada, em que ele não para de falar um só instante sobre os mais variados assuntos da maneira mais aleatória possível, é a mais perfeita alegoria da juventude dos dias de hoje. A namorada fica cheia disso, termina o namoro e ele decide se vingar esculhambando-a em seu blog. Depois disso, decide criar um site para comparar a beleza das estudantes universitárias. A rede entope e cai em plena madrugada. O jovem gênio informático se torna uma revelação e é convidado por outros estudantes para uma parceria, a criação de algo novo na Internet. Tá, eu sei, esse parágrafo é meio confuso. Mas é assim mesmo que a coisa se desenvolve no filme, com uma rapidez digna de processador de última geração. E o espectador entende perfeitamente, desde que preste atenção. Mas a questão não é bem essa.

O filme conta a história da criação do Facebook segundo o roteiro baseado no livro Bilionários por Acaso, de Ben Mezrich (adaptação de Aaron Sorkin). O livro é conhecido por pintar um retrato nada lisonjeiro da criação do que é, atualmente, o maior portal de relacionamento da Internet mundial, com mais de meio milhão de usuários espalhados por todo o planeta, e que fez de seu criador e acionista majoritário, Mark Zuckerberg, o mais jovem bilionário do mundo. O filme mostra que várias pessoas, às vezes, se abdicam de valores morais para conquistarem o que querem, mesmo se vendo forçadas a fazer isso. Cabe ao espectador ver o filme e julgar por si.

17.12.10

Cara de pau sem limites (ou "Como contrariar Tiririca com espantosa facilidade")



Como sabemos, está acontecendo a diplomação dos eleitos no pleito de outubro último. O que nos dá a oportunidade de conferir o quanto nós, os eleitores, andamos um tanto desleixados (para dizer o mínimo) quando o assunto é escolher nossos representantes. E a lei, pelo visto, não anda ajudando muito.

Se a Lei da Ficha Limpa barrou vários políticos de conduta duvidosa, também não conseguiu fazer o mesmo com vários outros de comportamento comprovadamente ilícito. No Rio, Anthony Garotinho (PR-RJ) teve sua eleição para deputado federal confirmada pelo TSE, apesar das acusações contra ele. Em São Paulo, o também deputado Paulo Maluf (PP-SP), este reeleito, teve a cara de pau de dizer que a Justiça "funciona bem" ao ser diplomado, condição confirmada pelo próprio TSE depois que o TJ-SP derrubou a liminar que enquadrava o ex-governador e ex-prefeito na Lei da Ficha Limpa.

Ah, o eleito Tiririca (PR-SP) também foi diplomado. Ele afirmou querer seguir carreira na política, mas não soube dizer com clareza o que fará no cargo. Uma coisa é certa: os que tomarão posse em 2011 terão um belo reajuste salarial, recentemente aprovado por eles. Ou seja, contrariando o palhaço-deputado, sempre pode piorar.

7.12.10

Cada um tem os heróis que merece



O caso recente do site WikiLeaks, que vazou informações sigilosas sobre diversos governos e empresas ao redor do planeta, é bem significativo quando percebemos que há gente que, sabe-se lá o porquê, precisa porque precisa de heróis. Afinal, além de muita gente ignorar o teor de muito do conteúdo desses vazamentos (só filtrando o que lhe interessa), já se sabia (ou ao menos desconfiava) da grande parte das informações ali contidas, principalmente em relação ao governo dos Estados Unidos. Também não é novidade o quase apelo de governos árabes por uma intervenção norte-americana ao Irã, tampouco as preocupações com as relações iranianas com países latino-americanos.

A prisão do criador do WikiLeaks, Julian Assange, foi anunciada hoje em Londres. O ex-hacker australiano é acusado de crimes sexuais por promotores suecos. Tais acusações me parecem oportunistas e um tanto infundadas, mas serão julgadas pelas autoridades competentes. O problema é o quase messianismo que se formou em torno do seu nome nessas últimas semanas. Se tais acusações forem comprovadas, não se sabe o que irá acontecer.