25.3.11

O STF não errou. Quem errou foi o eleitorado



Nesta semana, com o voto-desempate do recém-empossado juiz Luiz Fux, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a Lei da Ficha Limpa (aprovada menos de um ano antes das eleições de 2010) passaria a valer apenas a partir das eleições municipais de 2012. Muitos setores da nossa sociedade, compreensivelmente, ficaram contrariados com a decisão, mesmo porque dá direito a senadores eleitos no ano passado, mas que estavam barrados, como Jader Barbalho (PMDB-PA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), de tomarem posse assim que isso for oficializado. Mas uma coisa é fato: se alguém errou, não foi o STF.

A instância máxima do Poder Judiciário brasileiro apenas cumpriu a lei, que estabelece que cada eleição deve ter suas regras estabelecidas (no que se refere a candidatos e partidos) até um ano antes do pleito - nesse caso específico, até 3 de outubro de 2009. Sabe-se que certos candidatos não são conhecidos por ter lisura, tanto que foram condenados por base da Lei da Ficha Limpa. Mas seus eleitores, os que neles votaram e os colocaram novamente no poder, que são os maiores culpados. Se a sociedade quer e precisa cobrar de alguém, é dos milhares de cidadãos que ainda acreditam nesses candidatos que não são bem vistos pelos olhos da Justiça e que perpetuam a má fama do eleitorado brasileiro. Por isso, a consciência eleitoral brasileira segue tendo tão grande importância. Quem sabe, assim, a população aprende a ter maior maturidade política.

20.3.11

Negócios no lado de cá, guerra no lado de lá



A primeira visita do presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil tem a intenção de reaproximar os dois países mais avançados do continente, levando-se em consideração o que eles alcançaram nas últimas décadas, depois de oito anos de relacionamentos tumultuados - muito em parte por causa da diplomacia brasileira durante o governo Lula, que era conduzida mais por viés ideológico do que por qualquer outra coisa.

O ponto alto da visita deverá ser o discurso de Obama no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, neste domingo. Esse discurso chegou a ser marcado para ali em frente, na Cinelândia, mas foi cancelado dois dias antes - talvez por precaução devido ao clima quente na Líbia, onde a situação está cada vez pior e mais perigosa.

Dois textos abaixo, escrevi que fatos anteriores poderiam depor contra um ataque de forças ocidentais ao território líbio visando a derrubar o ditador Muammar Kadafi. Por mais que a intenção de depor um dos maiores tiranos de todos os tempos seja nobre, não é certo que a democracia e a normalidade irão se instalar no país norte-africano. Basta vermos a encrenca que tropas estão passando no Afeganistão e no Iraque há quase uma década. Além disso, há quase o consenso que não fazem o mesmo no Barein (onde uma monarquia sunita é acusada de oprimir a maioria xiita) o que fazem na Líbia (o que ainda é certo, para que o ditador se sinta pressionado ao máximo), por pura falta de interesse no assunto ou algo que ainda não foi de todo esclarecido. De todo modo, é torcer para que essa situação se resolva rapidamente (embora seja mais provável que isso não aconteça) e que a população civil sofra o menos possível.

18.3.11

Pelo fim do preconceito contra a direita

por Yashá Gallazzi, no blog Perspectiva Política:


O partido Democratas, numa convenção interna que mais parecia um velório, elegeu o senador José Agripino Maia como seu novo presidente. Agripino veio para ocupar o lugar que foi de Rodrigo Maia.

Em seu primeiro pronunciamento como presidente do DEM, Agripino rejeitou enfaticamente a “pecha de direita”. Coitada da direita… Nada sofre mais preconceito no Brasil do que ela. Negros, índios, mulheres, homossexuais, corintianos e anões canhotos: todos possuem uma ONG para chamar de sua. Todos contam com alguém interessado em lhes representar os interesses. Já a direita, tadinha, está abandonada.

A fala de Agripino vem confirmar algo que sempre falei: não existe uma direita politicamente organizada e eleitoralmente viável no Brasil. Isso acaba por revelar uma das maiores mentiras da história política nacional: PSDB e DEM (ou PFL, como queiram) nunca foram neoliberais. Aliás, nunca foram sequer liberais, quanto mais “neo”… Isso nunca passou de retórica torta, criada pelas esquerdas para aproveitar o –
voilá! – preconceito que existe contra a direita no país.


Texto completo aqui.

Um momento decisivo (e perigoso) na Líbia


Com o avanço das tropas lideradas pelo ditador líbio Muammar Kadafi contra os rebeldes do país rumo à cidade de Benghazi, a ONU aprovou ontem uma resolução que impõe uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Isso exclui todos os voos sobre o país, exceto os de ações humanitárias. A medida visa a proibir bombardeios das forças leais a Kadafi sobre civis, mas também serve para que, finalmente, o ditador possa ser derrubado por uma coalizão de forças armadas europeias com a ajuda dos Estados Unidos.

É algo considerado arriscado, considerando-se eventos anteriores como a Guerra do Iraque, iniciada em 2003 graças a falsos rumores de existência de armas de destruição em massa em posse do então ditador Saddam Hussein. Nem é preciso ir tão longe para achar um precedente parecido: os ataques de forças da OTAN à Iugoslávia de Slobodan Milosevic, em 1999, para tentar interromper o massacre de civis de origem albanesa na região de Kosovo. Vários erros foram cometidos pelas forças ocidentais nessas duas guerras, apesar das intenções, e nada que sejam cometidas agora em território líbio, mesmo que seja para derrubar uma ditadura longeva como a de Kadafi.

O que chama a atenção, contudo, é a forma com que essa notícia vem sendo recebida pela opinião pública internacional. Fosse um republicano como o ex-presidente George W. Bush a liderar os norte-americanos, certamente haveria um quebra-pau generalizado no mundo inteiro. Como é o democrata Barack Obama, tem gente que acha a normalidade que não acharia se fosse John McCain o presidente. Outra coisa também chama a atenção: perceberam como Kadafi ficou calminho ao saber da notícia da zona de exclusão aérea sobre o seu país?

17.3.11

Qual é o sentido de um programa nuclear?


Antes de mais nada, quero deixar bem claro que minha opinião é de um leigo no assunto - ou seja, de quem pouco entende de suprir as necessidades de energia de cada localidade. Mas não deixa de ser contraditório um país que sofreu dois ataques nucleares ao fim da Segunda Guerra Mundial investir tanto em energia atômica, ainda mais em uma região conhecida por ter grande quantidade de terremotos. Sessenta e seis anos depois dos ataques a Hiroshima e Nagasaki, que desencadearam a rendição nipônica aos Aliados (embora fossem, no fundo, um recado à União Soviética), o Japão sofre com a perspectiva de sofrer mais um trauma atômico - desta vez com a usina de Fukushima, a mais atingida pelo mais intenso terremoto registrado em território japonês, de 8,9 graus na escala Richter, sexta-feira passada.

Que não tenha sido por falta de aviso: a Agência Internacional de Energia Atômica havia advertido os japoneses sobre falhas na manutenção do programa nuclear, há três anos. Pelo visto, nada foi feito, e as consequências se fazem sentir agora. A situação caminha a passos largos para se tornar o pior acidente nuclear em 25 anos, desde a tragédia de Chernobyl, na então república soviética da Ucrânia, em 1986. Colabora para isso a postura quase passiva dos governantes japoneses, que segundo relatos não vêm dizendo tudo o que deveriam sobre o assunto, deixando autoridades internacionais ainda mais apreensivas.

Agora, eu me pergunto: qual é o sentido de um programa nuclear, considerando-se que é o mais perigoso, o mais caro e, segundo dizem, o menos eficiente de todos?

9.3.11

Campeã justa, porém esquisita



Que ninguém diga, assim como em 2007 e 2008, que o título conquistado pela Beija-Flor (o 12º da história da escola) não foi justo. Mas que ficou estranha a diferença de pontos para a vice-campeã Unidos da Tijuca (1,4 ponto), ficou. Ainda mais quando a agremiação de Nilópolis ganhava notas 10 a torto e a direito, mesmo em quesitos em que ela não mereceu tanto, como a comissão de frente.

De todo modo, valeu pelo espetáculo e pelo tributo a Roberto Carlos, que fará 70 anos de idade em 2011. A lamentar somente o fato de União da Ilha e Grande Rio não terem concorrido. E o fato de o atrapalhado desfile do Salgueiro ter impedido de haver uma maior emoção na apuração (tanto que, mesmo com um ponto a menos, a alvirrubra tijucana acabou em quinto lugar - não fosse a punição, poderia ter terminado em terceiro, podendo brigar até mesmo pelo título por causa das notas de evolução).

8.3.11

Um Carnaval japonês



Depois do incêndio que atingiu barracões de três escolas de samba, há pouco mais de um mês, na Cidade do Samba, esperava-se que as escolas se esmerassem mais nos esforços em fazer desfiles bons e surpreendentes. Mas o que se viu na Marquês de Sapucaí, no domingo e na segunda-feira, foi uma sucessão de apresentações previsíveis no Grupo Especial. Ou seja: não há uma favorita destacada entre as nove escolas que disputam o título deste ano. Entre as três que não serão julgadas por terem sido atingidas pelo incêndio, porém, apenas a Portela destoou ao evidenciar a crise que a escola atravessa. União da Ilha e Grande Rio fizeram apresentações emocionantes e mostraram que deveriam, sim, concorrer ao título.

Mesmo a Unidos da Tijuca, atual campeã, pareceu uma mera repetição do desfile da Viradouro em 2008, também conduzido por Paulo Barros. O medo no cinema, que em tese deveria ser explorado, teoricamente pouco apareceu. Mesmo assim, está entre as favoritas por falta de concorrentes. Talvez a Mangueira se inclua nelas por causa da emoção imposta por sua apresentação em homenagem a Nelson Cavaquinho. Ou a Vila Isabel, de uma renovada Rosa Magalhães, no seu desfile sobre o cabelo.

No segundo dia, Ilha e Grande Rio à parte, o panorama pouco mudou. O Salgueiro vinha fazendo a melhor apresentação do Grupo Especial quando sucumbiu ao gigantismo das alegorias sobre o Rio no cinema, atrasando o fim do desfile em dez minutos. A Beija-Flor, quase sem falhas, homenageou Roberto Carlos e promete brigar pelo imprevisível título.

2.3.11

O ridículo da República Islâmica não conhece limites



Eu já havia escrito aqui sobre a estranheza que o logotipo dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, causou em muitas pessoas na época de sua divulgação. Muita gente acusou a logomarca de reproduzir uma cena de sexo oral; outros, viram nele uma suástica deformada. Mas o prêmio de originalidade paranoica vai, mais uma vez, para a República Islâmica do Irã, esse antro de... como dizer... "humanistas".

Quatro anos depois de terem visto no filme 300 "um complô que faz parte da guerra empreendida pelo inimigo", seja lá o que isso for, os iranianos acusaram o símbolo a ser usado nas Olimpíadas do ano que vem (e que foi divulgado em 2007) de ser, vejam só, uma homenagem a Israel. O Comitê Olímpico do país, numa ótica deformada, leu a palavra "Zion" (Sião, em inglês) onde se lê "2012" (de maneira meio exageradamente pop art, mas perfeitamente compreensível). Não bastasse isso, os iranianos ameaçaram boicotar os Jogos por verem nisso "um ato racista anti-islâmico". Obviamente, o Comitê Olímpico Internacional deu de ombros para a reclamação iraniana e tocou a vida.

O retrospecto do regime dos aiatolás nos faz pensar, porém, que talvez eles não tivessem se importado tanto se a logomarca reproduzisse uma cruz suástica...