22.9.11

Sigam tentando, palestinos


Está em curso mais uma Assembleia da ONU, em Nova Iorque, e a grande questão é a criação ou não de um Estado palestino independente. Escora-se em parte na chamada Primavera Árabe, que derrubou ditaduras na Tunísia e no Egito e quer fazer o mesmo na Líbia, na Síria e no Iêmen, mas ainda não mostrou a que veio no que se refere a convivência com países e povos não muçulmanos. O Egito é uma prova disso, com o esfriamento de suas relações com Israel e a crescente perseguição a cristãos em seu território, fatos intensificados depois da renúncia do ditador Hosni Mubarak.

Já foi mostrado aqui, inúmeras vezes, que os palestinos têm que se preparar para conseguir sua independência com muitas negociações com os vizinhos israelenses - que também têm que fazer sua parte, na questão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Da forma unilateral que os palestinos querem sua autonomia plena, levando à votação na ONU, certamente não irá funcionar, já que isso terá que ser levado ao Conselho de Segurança, que não pode ter nenhum veto - e a tendência é que os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, acabem vetando a independência palestina.

O que é perfeitamente compreensível, já que ainda há muito a ser negociado. Por exemplo: o status de Jerusalém, cuja parte oriental os palestinos querem como a capital de seu futuro Estado, mas que os israelenses consideram eternamente indivisível desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967 (antes dela, a parte oriental da cidade era controlada pela Jordânia, e os judeus eram proibidos de chegar ao Muro das Lamentações, local sagrado); os refugiados palestinos; os próprios assentamentos judaicos na Cisjordânia; os foguetes enviados de Gaza pelo grupo terrorista Hamas, que não aceita negociação de forma alguma. Ou seja: mesmo depois de tanto tempo, ainda é cedo para os palestinos reivindicarem independência. Depois de 63 anos, seguem colhendo o que plantaram, já que recusaram a partilha feita pela ONU e levada em prática em 1948, tentando impedir a independência de Israel, sem sucesso. Mas ainda há a esperança de que, um dia, eles tomem jeito. De uma maneira ou outra, eles aprendem.

13.9.11

Chega de igualdade!

Do Blog do Mr. X:

O grande mal da era moderna é com certeza o igualitarismo. Liberdade e fraternidade, tudo bem. Agora, igualdade é uma quimera. Salvo a igualdade perante a lei, essa sim imprescindível, e uma relativa igualdade de oportunidades, o resto é impossível de obter. Não somos todos iguais, nem tudo é igual a tudo. E por que deveria ser?

Se todas as religiões são iguais, por que alguns fanáticos religiosos se explodem frequentemente e outros não? Se todas as etnias/povos são iguais, por que se notam tantas diferenças práticas entre os grupos humanos? Se todas as culturas são iguais, para que precisamos de "multiculturalismo"? Se todas as formas de relacionamento sexual são iguais, por que alguns conseguem se reproduzir biologicamente e outros não?

Mas nem importa que as pessoas sejam diferentes se forem tratadas de forma igual, mas não é isso o que acontece. O que se quer é alavancar uns e bloquear outros de modo a que o resultado entre eles seja igual. A "igualdade" de que falo aqui é a que quer impor cotas raciais ou estabelecer territórios para grupos étnicos específicos; é a que julga que criminosos devem ter mais direitos do que vítimas de crimes; a que quer que todos ganhem o mesmo independentemente do seu esforço ou talento; e assim por diante.


Leia o texto completo aqui.

8.9.11

Ausências que preenchem lacunas





Ontem, feriado da Independência, vários protestos contra uma praga endêmica, que devasta o Brasil há séculos, tiveram lugar em várias cidades do país. Diversos cidadãos brasileiros se encarregaram de dar seu basta à corrupção, que toma conta de nossas instituições e macula a democracia. Só que algumas ausências foram marcantes, apesar de, a essa altura do campeonato, terem sido até esperadas.

Refiro-me àqueles movimentos ditos sociais, às organizações estudantis e aos grupos que costumavam aparecer em tudo que era tipo de protesto anticorrupção até 2002. Só que, desta vez, eles estavam ocupados - como estão desde 2003, ressalte-se. Depois de gritar durante 18 anos (cinco de Sarney, cinco de Collor-Itamar e oito de FHC), esses grupos se beneficiam das benesses dadas pelo governo Lula (2003-2011) e não querem largar o osso durante o mandato de Dilma - haja vista a quantidade de ministros demitidos por envolvimentos escusos durante esses nove primeiros meses de governo.

Ou seja: a corrupção grassa da mesma forma do que em todos os governos anteriores ao de Lula (talvez até mais!) e os tais movimentos, nem aí. É como se fosse um universo paralelo o que separa os governistas dos que apenas querem uma vida mais digna. UNE, CUT, MST e quejandos não deram as caras nos protestos de ontem pelo simples fato destes não despertarem neles o mínimo interesse. Afinal, não receberiam quaisquer benefício$ em troca. Ou seja: segundo a ótica deles, corrupção só se for a cometida pelos outros. Pra eles, seria uma espécie de "pagamento de dívidas históricas".

Mas a esperança de tempos melhores está nas mãos daqueles cidadãos comuns, bem esclarecidos, que estão cansados de presenciar atos desonestos a olhos vistos e resolveram arregaçar as mangas e trabalhar por conta própria, sem depender de líderes ou políticos aproveitadores. Está com esses abnegados o futuro do Brasil.

2.9.11

Se a Turquia não sabe brincar, que não desça pro play



Relatório da ONU sobre o ataque da Marinha de Israel ao barco turco Mavi Marmara, divulgado nesta semana, relatou que a ação israelense foi excessiva para tentar conter a embarcação que, supostamente, levava ajuda humanitária da Turquia à Faixa de Gaza. Apesar disso, o relatório não apontou quaisquer falhas no que se referia à defesa israelense em águas territoriais, e que o bloqueio a Gaza está dentro das normas internacionais.


Entretanto, apesar das restrições do relatório da ONU à ação israelense, a Turquia não está satisfeita. Em protesto contra o que considera uma pena branda demais (o documento exorta Israel a declarar seu pesar pela ação e a pagar indenizações às famílias dos mortos), o governo turco decidiu expulsar de Ancara os diplomatas israelenses acima do nível de segundo secretário. Algo que muitos poderiam classificar de protesto diplomático, mas prefiro qualificar como pura e simples pirraça, mesmo.


É até compreensível que a Turquia (oficialmente laica) se sinta atingida em seus sentimentos - primeiramente com o caso da flotilha "humanitária", e agora com esse relatório com ares de derrota judicial. Mas ninguém mandou radicalizar o discurso, praticamente abandonando sua histórica laicidade política e adotando um discurso religioso. O atual primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, é de um partido islamista e tem fama de ser mais linha-dura que qualquer um que tenha passado pelo cargo nas últimas décadas. Mas parece que os altos índices de popularidade o fizeram imaginar que poderia alcançar qualquer coisa que estivesse ou não em suas mãos. Comportamento, por sinal, muito parecido com o de um certo ex-presidente de um país da América do Sul...


O governo turco exige um pedido formal de desculpas por parte de Israel. Os governantes israelenses, obviamente, sequer cogitam essa hipótese. Além do mais, antes de exigirem que outro país peça perdão, os turcos deveriam primeiramente olhar para o próprio rabo. Nem falo sobre o genocídio armênio do começo do século passado, pois pra eles isso nem existiu - guardadas todas as devidas proporções, seria o mesmo que a Alemanha negar o Holocausto nazista. Mas houve algo bem recente e posterior a qualquer problema que Israel tenha tido com os palestinos: o bombardeio da Turquia a curdos no norte do Iraque. Algo que não está sendo divulgado como deveria, diga-se de passagem. Mas se fosse uma ação israelense contra habitantes de Gaza, da Cisjordânia ou mesmo do sul do Líbano, certamente seria bem diferente.