19.12.11

Coreia do Norte, comunismo de opereta




O anúncio da morte do ditador norte-coreano Kim Jong-Il neste domingo, um dia depois de seu acontecimento, é mais um capítulo na história de um dos países mais, digamos, exóticos do planeta. A Coreia do Norte, duas décadas depois da derrocada do comunismo, ainda sobrevive como o último grande bastião da Guerra Fria, sendo mais realista que o rei em inúmeros momentos (visto que até a China, sua aliada histórica, adota um mercado capitalista mesmo sem abrir mão do regime de partido único).


A República Democrática (sic) e Popular da Coreia surgiu da própria Guerra Fria, como resultado da divisão da Península da Coreia no ano de 1948, pouco tempo depois da Segunda Guerra Mundial e da desocupação do Japão, em que a parte norte ficou sob influência da União Soviética, e a parte sul (República da Coreia, ou simplesmente Coreia do Sul), dos Estados Unidos. Os dois países se enfrentaram na Guerra da Coreia (1950-1953), sem assinar nenhum tratado de paz depois disso. Com o passar dos anos, as diferenças entre os países e suas respectivas filosofias se acentuaram: enquanto a Coreia do Sul avançava e progredia, sendo um dos países mais desenvolvidos do mundo atual (muito em parte devido aos maciços investimentos em tecnologia e educação de qualidade), a Coreia do Norte concentrava seus esforços meramente em autodefesa, tendo um dos maiores exércitos do mundo e uma enorme quantidade de ogivas nucleares, além de ter uma das maiores concentrações de riqueza e um dos mais altos índices de miséria de que se tem notícia.


Não bastasse isso tudo, o regime norte-coreano levanta ao restante do mundo sérias dúvidas acerca da sanidade mental de seus comandantes. Desde a criação do país, a mesma família comanda o governo (o que lembra uma monarquia absolutista), calcado no culto à personalidade, expediente tipicamente comunista levado às últimas consequências. Kim Jong-Il chegou ao poder em 1994, substituindo o seu pai Kim Il-Sung (líder durante 46 anos), falecido naquele mesmo ano. Tudo indica que será sucedido por seu filho caçula Kim Jong-Un, já que os demais não parecem demonstrar interesse em assumir o poder.


Visto sob a ótica dos dias de hoje, o comunismo já não é considerado algo sério. Mas o que ocorre na Coreia do Norte chega a ser surreal. É um comunismo de opereta, uma reles caricatura do que acontecia na antiga União Soviética - principalmente na época de Stálin, falecido no mesmo ano em que a Guerra da Coreia (o mais próximo do que seria um conflito bélico entre norte-americanos e soviéticos, o que só se repetiria em vários conflitos no Oriente Médio nas duas décadas seguintes) se encerrou. O país pertencente aos Kim parece viver nos anos 1950 ou 1960, em pleno início do século XXI. Comparado ao rico vizinho do sul ou a algumas regiões da China, então, chega a dar vergonha.

14.12.11

Qual seria a utilidade de uma divisão estadual?




Neste final de semana, a grande parte da população do estado do Pará votou pela não divisão do território paraense em três (o Pará seria reduzido ao seu nordeste, que concentra a maior parte da população e foi decisivo para o fracasso da proposta de divisão; o sul e o sudeste seriam o estado de Carajás, e todo o oeste seria o estado de Tapajós). O curioso é que, nas regiões citadas, suas populações votaram maciçamente pela divisão, o que denota a necessidade da presença nelas do poder que emana de Belém e mostra a insatisfação do eleitorado com o que consideram seu abandono.


Pelo menos o impedimento da divisão pelo voto popular impediu que o país gastasse ainda mais dinheiro, já que teríamos que bancar os gastos com os salários de mais seis senadores e, pelo menos, dezesseis deputados federais (oito para cada estado que nasceria). Mas ainda há uma infinidade de propostas de divisão de outros estados, como no Maranhão (em que seria criado o Maranhão do Sul, que conta com o previsível apoio da elite política local) e no Piauí (cujo sul seria o estado de Gurgueia). Ou seja, mais uma oportunidade de levar umas bocadas para os afilhados políticos dando a eles novos estados (vários deles nascidos à beira da falência) de presente. E o povo, como sempre, pagando a conta.


Se a intenção de criar um novo estado fosse nobre e tivesse o desejo de desenvolver uma região carente, isso poderia ser bem acolhido pela opinião pública. Mas conhecemos muito bem nossa classe política e sabemos como isso termina. Para que novos estados fossem criados, duas coisas teriam que acontecer aqui no Brasil: os políticos tomarem vergonha na cara e o número de senadores e deputados por estado diminuir. Mas certamente não acontecerá nem uma coisa, nem outra.

5.12.11

A necessidade de deslulização do governo Dilma




Neste domingo, o ministro do Trabalho e presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, pediu demissão do cargo após ser denunciado por corrupção e declarar que só sairia abatido a bala. Com isso, já são seis os ministros oriundos do governo Lula que tiveram que sair de seus cargos por motivos nada nobres (ainda teve um sétimo, o ministro da Defesa Nelson Jobim, que se retirou após declarações polêmicas à imprensa). Mais uma prova de fogo para a presidente Dilma Rousseff, que conviveu durante esses primeiros onze meses de governo com um ministério quase todo do governo anterior, o de Lula (2003-2011).


É a grande oportunidade que Dilma tem para mostrar que pode decidir os rumos do país por conta própria. Porém, a relutância da própria presidente em demitir Lupi, depois que isto foi recomendado pela Comissão de Ética (não se sabe se por pura convicção ou por medo de possíveis consequências), nos faz pensar se isso será possível. Isso tudo passa a impressão de que o atual governo depende de denúncias graves veiculadas pela imprensa para decidir se pune ou não os acusados de impor "malfeitos" à sociedade.


Essa situação mostra a necessidade de maior autonomia de Dilma em relação ao ex-presidente, que tem fatos mais urgentes com o que se preocupar. A atual presidente mostra mais fibra do que Lula em momentos distintos, sendo uma grata surpresa em vários aspectos. Mas o grande temor é que isso ainda não seja suficiente para governar o país, tanto que o fisiologismo político permanece, distribuindo cargos de acordo com os interesses partidários, não através da competência que cada ministério exige (o caso do Ministério do Esporte, em que Orlando Silva foi substituído por seu correligionário Aldo Rebelo, é um exemplo claro).


É preciso ter jogo de cintura para conduzir um mandato, e Dilma passa a impressão de ainda estar aprendendo a fazer isso, como se fosse um piloto inexperiente que ganhou um brevê do piloto anterior, mantém a mesma tripulação de qualidade duvidosa e vive trocando de copiloto em pleno voo. Espera-se, ao menos, que o copiloto da vez seja competente e suplante a inexperiência do piloto, ou teremos que depender do piloto automático até o fim.