31.7.10

CINCO ANOS JÁ SE PASSARAM...

No último dia 18, este blog completou cinco anos de vida. Devido à crônica falta de tempo e à desestimulante conexão da Internet daqui de casa, não pude comemorar a data do jeito que gostaria. Mas agora estou em férias no meu trabalho e terei um pouquinho mais de tempo pra falar dos assuntos de que mais gosto. Já pra esta semana que começa, pretendo falar sobre as eleições deste ano. Aguardem por mais novidades, até mesmo por um novo visual.

30.7.10

ATÉ QUE A REAÇÃO DEMOROU...


Mais um mico pago pela política internacional brasileira, a declaração do presidente colombiano Álvaro Uribe de que deplora declarações de seu colega brasileira Lula a respeito da crise entre seu país e a Venezuela foi a constatação de que paciência tem limite. Tudo começou quando Bogotá denunciou que guerrilheiros das FARC estavam abrigados em território venezuelano. Hugo Chavez, em represália, rompeu relações de seu país com a Colômbia. Lula, de uma maneira que conhecemos muito bem, resumiu o imbróglio como um mero conflito verbal, ignorando (ou não...) o que pode ser uma ameaça de terrorismo.

O que muitos consideram uma reação impensada de um governante em fim de mandato (Uribe passará o cargo a seu sucessor Juan Manuel Santos no próximo dia 7), considero uma reação tardia. Afinal, há tempos o presidente Lula vem abusando da paciência de muita gente com suas declarações desastradas ditas nos momentos mais impróprios possíveis. Até que enfim surgiu algo de um equivalente para tentar dar um basta em tanta asneira presidencial - ao passo que Chavez costumava receber as respostas que merecia, Lula vinha sendo poupado, talvez por causa de sua popularidade, que lhe servia de escudo. Antes tarde do que nunca.

Isso se combina perfeitamente às declarações de Indio da Costa (DEM), candidato à vice-presidência na chapa de José Serra (PSDB), de que o PT tem relações com as FARC. O que surpreende, isso sim, é o fato de nenhum candidato ter dito isso antes.

16.7.10

UM GIGANTE QUE AGONIZA



Nesta semana, foi divulgado que o Jornal do Brasil, um dos mais tradicionais diários brasileiros e que está às vésperas de completar 120 anos de existência (começou a circular em 1891), não será mais vendido nas bancas no início de setembro, restringindo-se à versão digital. Desta forma, o JB (símbolo de um jornalismo combativo e independente durante décadas, mas que se perdeu bastante nos últimos anos) se junta a diários menos tradicionais como Gazeta Esportiva e Tribuna da Imprensa, que também sucumbiram a suas respectivas crises financeiras, reduzindo-se à Internet.

Por mais que o jornalismo tradicional, o impresso, esteja em crise no mundo inteiro, é inaceitável que um diário do porte do JB esteja em um declínio tão acentuado. Talvez isso se deva à cada vez mais crescente dívida acumulada através dos anos, que nem mesmo o próprio nome salvou. Através de grande parte de seus 119 anos de existência, o Jornal do Brasil teve grandes momentos, dois deles durante o regime militar e em suas primeiras páginas: em 14 de dezembro de 1968, dia seguinte à promulgação do Ato Institucional nº 5 (marco inicial dos chamados anos de chumbo), a previsão do tempo, no canto superior esquerdo, anunciava assim: "Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos." No canto superior direito, uma manchete que dizia tudo: "Ontem foi o Dia dos Cegos."

O outro (foto acima) foi em 12 de setembro de 1973, dia seguinte ao golpe militar que derrubou o presidente do Chile, Salvador Allende. Para driblar a censura, o jornal colocou um texto sem manchete nem fotografias, entremeadas por anúncios classificados (algo comum na época, como modo de mostrar aos leitores que determinadas notícias estavam sendo censuradas). Um expediente tão simples quanto genial, que marcou o jornalismo brasileiro.

Nos últimos anos, porém, o Jornal do Brasil vivia apenas do nome construído durante esse período. O surgimento e crescimento de concorrentes populares e bem mais baratos, que privilegiam a notícia dita de forma mais resumida ao invés de um texto mais elaborado, fizeram as vendas do tradicional diário despencarem. Uma tentativa de se adaptar aos novos tempos se deu em 2005, quando o tamanho das páginas diminuiu do standard (modelo tradicional) ao berlinense (cujo tamanho é um pouco maior que o do formato tabloide). Pelo visto, de nada adiantou: os exemplares sumiam gradativamente das bancas, até o anúncio de que o JB irá deixar de circular em papel.

Apesar de uma ou outra derrapada recente (como as manchetes claramente bajulatórias à política internacional do governo Lula, por exemplo), é sempre lamentável que um diário feche suas portas, não importa onde ou como. A imprensa, mal ou bem, é um canal de comunicação da nossa sociedade. Sem imprensa, não há democracia. Ela tem que estar ao alcance de nossas mãos, de qualquer forma.

13.7.10

2014 COMEÇOU ANTEONTEM. E VAI PASSAR POR OUTUBRO DESTE ANO



Quando o árbitro inglês Howard Webb apitou o final da decisão da Copa do Mundo de 2010 no Soccer City de Johanesburgo, em que a Espanha derrotou a Holanda por 1 a 0, todos os olhos do mundo se voltaram para o Brasil. Não deixa de ser uma preocupação para nós, já que a FIFA demonstrou estar escaldada com os problemas que a África do Sul teve para sediar o último Mundial e impaciente com os preparativos do Brasil para fazer o próximo.

A impressão que se tem é de que todos os envolvidos parecem preocupados com toda a infraestrutura (estádios, hotéis, estradas, aeroportos... Aliás, quando se dá razão ao presidente da CBF em alguma coisa, é sinal de que a coisa não anda lá uma maravilha) que cerca a organização de um evento como a Copa do Mundo, exceto o presidente Lula. Em mais uma demonstração de autoconfiança, rebateu os que estão receosos de que o atraso prejudique o Mundial, chegando a dizer que voltaria nadando para casa se o Brasil não tiver condições de sediar a Copa. Além disso, pode ser aprovada uma medida que autoriza que as doze cidades que sediarão as partidas se endividem além do que permite a Lei de Responsabilidade Fiscal, abrindo caminho para aquilo que todos nós conhecemos.

Vejamos só: o Brasil foi confirmado sede em outubro de 2007, e até agora nada de relevante foi feito. Para termos uma ideia, a cidade do Rio de Janeiro foi eleita sede das Olimpíadas de 2016 quase dois anos depois e seu comitê organizador já tomou mais providências nesse período de nove meses do que o da Copa fez em quase três anos!

No meu entender, 2014 "começou" no último domingo, embora já devesse ter começado no exato instante em que o presidente da FIFA, Joseph Blatter, anunciou o país-sede. O secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, demonstrou conhecer bem o jeito brasileiro de empurrar as coisas com a barriga ao criticá-lo dizendo que os organizadores brasileiros "estão esperando as eleições deste ano, embora depois tenham Natal, Ano Novo e Carnaval". Enquanto o atual governo estiver bravateando sobre a Copa do Mundo e preocupando-se em reeleger sua sucessora, sinto que muito pouco ou nada mudará.

Lembram da correria (seguida do tão conhecido superfaturamento de obras) que houve no Rio, nos meses anteriores aos Jogos Pan-Americanos de 2007 (e, mesmo assim, porque o governo estadual recém-empossado era aliado do governo federal)? Pois é. É só multiplicarmos por 12 que saberemos o que irá acontecer daqui a quatro anos, se nada for feito pelo nosso eleitorado em outubro próximo. Não só nas próximas eleições, mas além delas, com a opinião pública exigindo profundas mudanças na maneira de conduzir as coisas - principalmente nos bastidores do nosso futebol.

10.7.10

HERÓIS NADA ACIDENTAIS


  • Filme: Kick-Ass: Quebrando Tudo (Kick-Ass, Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2010)
  • Direção: Matthew Vaughn
  • Elenco: Aaron Johnson, Mark Strong, Chloe Moretz, Nicolas Cage, Christopher Mintz-Plasse, Lyndsy Fonseca, Clark Duke, Evan Peters, Sophie Wu

Essa pergunta é pros fãs dos quadrinhos: e se os super-heróis dos gibis existissem na vida real? Um certo rapaz nova-iorquino fez esse questionamento e decidiu, por conta própria, ser um super-herói - mesmo sem ter nenhum poder para tal, apenas uma medonha roupa colante verde comprada pela Internet e muita vontade de combater o crime por conta própria. Essa é a premissa desta adaptação de um romance gráfico de sucesso discreto, que acabou se tornando uma das mais gratas surpresas desta temporada no cinema.

Depois de muito apanhar no começo, o herói com jeitão de nerd começa a fazer sucesso a ponto de inspirar, ele próprio, uma linha de produtos com seu nome. Paralelamente a isso, um homem sedento de vingança conta com a ajuda de sua filha pré-adolescente para também combater a bandidagem. Seus destinos se cruzam para enfrentar o chefão da máfia de Nova Iorque, disposto a mover céus e terra para aterrorizar quem tentar cruzar o seu caminho. No fundo, porém, o herói do título acabara caindo de gaiato naquilo, visto que a sua fama era muito maior do que ele podia realmente fazer.

O roteiro, cheio de grandes sacadas, seria inimaginável em ser filmado por um grande estúdio. Sua produção de forma independente, desse jeito, acabou se tornando uma bênção. O filme é mais uma bela escovada na excessiva correção política que tantos insistem em seguir.

6.7.10

NÃO IMPORTA QUEM VAI GANHAR. EM UMA COISA, O BRASIL JÁ PERDEU



Começa hoje a campanha eleitoral de 2010, com vistas às eleições para presidente, governador, senadores, deputados federais e estaduais em outubro. Mas, nas eleições presidenciais, mais uma vez o pensamento de via única irá prevalecer. Haverá nove candidatos ao Palácio do Planalto, e o pensamento tipicamente de esquerda estará presente em pelo menos sete deles, da centro-esquerda (representada por José Serra, do PSDB) à extrema-esquerda (que tem como representantes os candidatos Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL; José Maria de Almeida, do PSTU; Ivan Pinheiro, do PCB; e Rui Costa Pimenta, do PCO), passando pela esquerda pouco (Marina Silva, do PV) ou nada confiável (Dilma Rousseff, do PT - que, por sinal, queria mostrar sua verdadeira face, mas não obteve sucesso). Felizmente, os ultraesquerdistas não têm a menor chance de serem eleitos, mas não deixa de ser lastimável que não haja candidatos fortes o suficiente para discutir questões pertinentes à grande maioria do eleitorado.*

Em setembro do ano passado, escrevi este texto reclamando da satanização dos movimentos conservadores no Brasil, principalmente no período pós-Regime Militar. Há 25 anos, a propaganda de esquerda funciona ativamente no país, transformando qualquer tendência ainda que à centro-direita de relativa à ditadura que durou quase 21 anos. Isso passa pela recente afirmação do presidente Lula de que a eleição deste ano seria a primeira sem "trogloditas de direita", ignorando solenemente o recorde de trogloditas de esquerda concorrendo. Basta ver qualquer programa de PCB, PSTU e PCO (daqueles de cinco minutos, nas noites de quinta-feira) na TV para perceber o que digo. Se houvesse um partido de extrema-direita, certamente seria tratado como autoritário e pró-ditatorial. Pena que o mesmo não se aplique à extrema-esquerda. Isso mostra uma incoerência da nossa sociedade, que só rejeita o extremismo quando isso lhe é conveniente.

Não importa quem será eleito(a) presidente em outubro. Numa coisa, o Brasil já perdeu: na possibilidade de discussão de ideias na nossa política.

*A propósito: os outros dois candidatos são José Maria Eymael (PSDC) e Levy Fidélix (PRTB), aquele do Aerotrem. Mas não irão fazer cócegas nos três favoritos. Como os demais, lutarão pela quarta colocação na eleição presidencial.