27.5.11

A vergonha da Operação Abafa pró-Palocci



Face às graves denúncias ao ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, de enriquecimento ilícito por meio de sua empresa de consultoria, o governo federal deveria dar ao menos uma explicação convincente e afastar o ministro enquanto investigações fossem feitas. Mas o próprio governo parece zombar dessa possibilidade e nada acontece, enquanto a sensação de impunidade toma conta.


Reduzir as denúncias a choradeira de oposição (como se ela fosse ao menos ativa, o que está muito longe de acontecer nos dias de hoje) não ajuda o governo a limpar seu nome perante a sociedade. O pior é que isso ainda dá margem a tentações totalitárias como a frase do líder governista na Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), de que o Congresso corre riscos toda vez que o governo é derrotado, durante a votação do Código Florestal.


Aliás, é impressionante como qualquer coisa é útil ao governo para desviar a atenção das denúncias sobre Palocci, ocupante de um cargo ultimamente conhecido por ter sido ocupado por pessoas de alta suspeição, como José Dirceu e Erenice Guerra - que sucedeu a atual presidente da República, Dilma Rousseff. O veto de Dilma ao chamado Kit Anti-Homofobia, por exemplo. Pelo conteúdo, já se imaginava que seria um trololó bem com a cara desses tempos tão politicamente corretos - o respeito à diversidade sexual deve partir das pessoas e das famílias, não do Estado, que tem outras prioridades. Portanto, a minha opinião é de que a presidente fez bem em vetar, ainda que pressionada por grupos religiosos. O problema é que ela, espertamente e de maneira bem política, usou esse fato para cobrir o caso Palocci, juntamente com o Código Florestal. Ainda por cima, lamentavelmente, a imprensa acabou embarcando nessa onda.

20.5.11

Excesso de confiança, muita ingenuidade ou ambos, mesmo?




A declaração de Barack Obama de que apoia a declaração de um Estado palestino de acordo com as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967, poderia ser um bom indício de que a paz entre israelenses e palestinos estaria, enfim, bem próxima. Poderia, se a situação não fosse tão complexa e o presidente norte-americano não demonstrasse, depois da operação que resultou na morte de Bin Laden, uma autoconfiança tamanha que poderá ser prejudicial.


Como devemos saber, a coisa não é tão fácil assim como Obama quer fazer entender. Primeiramente, há a questão do status de Jerusalém, cidade sagrada que os israelenses consideram indivisível depois da conquista de sua parte oriental (que os palestinos querem como capital de seu futuro Estado) há 44 anos. Sustenta-se que a troca de terras por paz poderá ser um desastre para o Estado judaico, visto que duas retiradas dos militares israelenses - a do sul do Líbano e a da Faixa de Gaza - não resultaram em benefícios, pelo contrário: respectivamente, os grupos terroristas Hezbollah e Hamas usam esses territórios para atacar Israel com seus foguetes. Como notamos, a paz não virá de uma hora para outra. Há grupos que não reconhecem a existência de Israel e querem destruir o país a todo custo. E ainda há a questão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, cuja expansão é incentivada pelo governo israelense.


Naturalmente, o discurso de Obama foi rejeitado tanto pelo governo israelense quanto pelo Hamas, que controla Gaza. O grupo palestino disse que o presidente americano poderia ser mais incisivo que qualquer outro em relação à "ocupação". O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que se encontra com Obama nesta sexta-feira dia 20, considera inviável a proposta do presidente por não considerar a questão dos assentamentos. Desse jeito, o excesso de confiança do presidente Obama poderá pôr tudo a perder algo que já ninguém tinha a ganhar.

16.5.11

A conçagrassão da burriçe nassionau



Não sei se sabem a respeito de um livro de Português, liberado pelo Ministério da Educação, que faz a defesa de um uso popular da língua portuguesa, ainda que tenha erros de grafia e concordância. Segundo o livro, distribuído a alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, recomenda a tolerância àqueles que cometem esses tipos de incorreção, para que não haja qualquer "preconceito linguístico".


Agora é oficial: o pensamento politicamente correto tomou conta do Brasil.


Todos sabemos que existem regionalismos, costumes, hábitos, condições de aprendizagem. Assim como há os que têm estas últimas - sejam elas cognitivas ou financeiras, entre vários outros fatores - mais do que outros. Mas com essa atitude de liberar uma obra que apologiza o "falar do povo" em detrimento de uma melhor qualificação do ensino do que é certo, o Ministério da Educação oficializa o baixo nível técnico daquilo de que deveria cuidar, assumindo de vez sua completa incompetência em tomar conta do que realmente importa.


Sabemos que o governo quer que mais pessoas subam na escala social e vençam na vida. Iniciativa, por si só, extremamente louvável. Mas que, acima de tudo, ele incentive a população a se preparar melhor para encarar os desafios que essa nova vida certamente irá impor a ela. E não é com esses tipos de ajuda que o governo federal vai conseguir fazer o povo brasileiro evoluir com dignidade. Pelo contrário: ele será, cada vez mais, uma presa fácil de quaisquer adversidades.

8.5.11

O mais "republicano" de todos os democratas




Veja o que o poder é capaz de fazer com as pessoas. Quando foi eleito presidente dos Estados Unidos em 2008, Barack Obama era visto como a então perfeita antítese do então governante George W. Bush, ou seja, a semirreencarnação do Messias que resolveria todos os problemas do planeta num só estalar de dedos assim que tomasse posse. Durante a campanha, Obama prometeu retirar gradativamente as tropas do Afeganistão e do Iraque e fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba. Como percebemos, nada disso aconteceu. Pelo contrário: ficou ainda mais intenso depois que Obama tomou posse. Mas sobre isso ninguém fala. Por muito menos que Obama faz atualmente, Bush (2001-2009) se tornou o mais impopular presidente da história norte-americana, batendo de longe os governos de Richard Nixon (1969-1974) e Jimmy Carter (1977-1981).


Em 2003, ano da invasão anglo-americana ao Iraque, a maior parte da população mundial achava um absurdo a reeleição de Bush, um ano mais tarde. Mas ela aconteceu, e até com certa folga. Agora, um ano antes de nova eleição presidencial nos Estados Unidos, acham até natural que Obama seja reeleito - principalmente devido à morte de Osama bin Laden. Fico me perguntando: fosse Obama o típico WASP, seria esse assunto sendo discutido a pleno?


O fato mostra também como certos assuntos andam sendo encarados como demonstrativos de correção política. Poucos discutem que, fora o sucesso da operação que resultou na morte de Bin Laden, o governo Obama está sendo um fracasso em todos os aspectos. A falta de discussão sobre isso pode ser um temor de acusações de racismo por parte dos críticos de Obama. Há também teorias que dão conta de que Obama teria dado a ordem para matar Bin Laden para desviar as atenções sobre suspeitas de que não teria nascido em território norte-americano. Outras dizem que é proposital a pouca quantidade de informações sobre a morte do líder terrorista: elas seriam reveladas de forma gradual, à medida que as eleições de 2012 vão se aproximando. Enfim, político é político em qualquer lugar do planeta.

2.5.11

Osama, Obama e as contradições




O anúncio, pelo governo dos Estados Unidos, da morte do líder do grupo terrorista Al-Qaeda, Osama bin Laden, causou uma sensação geral de alívio momentâneo e várias comemorações pelo território norte-americano - principalmente na cidade de Nova Iorque, a mais atingida pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Mas há que se convir que demorou um bocado de tempo, gastou-se muito dinheiro e muitas vidas foram perdidas para que essa missão fosse cumprida pelas Forças Armadas norte-americanas. O cumprimento dessa missão tem um valor mais simbólico do que qualquer outra coisa, já que Bin Laden já não tinha mais a força intimidatória que exibia há dez anos. Além do mais, o terrorismo não morreu com Bin Laden. Pelo contrário: ele segue mais assustador do que nunca.


O curioso é constatar o que ando lendo por aí: o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi eleito em 2008 com a intenção de diminuir o ritmo das guerras em que o país anda envolvido há quase uma década. Isso não só não aconteceu como se intensificou: ao Afeganistão e ao Iraque, juntou-se a Líbia ao conjunto de fronts de batalha, e a prisão de Guantánamo (de onde saem várias acusações de violações aos direitos humanos) segue funcionando a todo vapor. Fosse o presidente um republicano qualquer, haveria protestos violentos mundo afora. Como é o democrata Obama, sua reeleição está praticamente garantida um ano e meio antes do pleito. Vá entender.


Além disso tudo, há uma história mal contada a respeito da morte de Bin Laden: a falta de imagens que comprovem a materialidade do ato. Assim como seu suposto funeral, com seu corpo jogado ao mar depois de "tratado de acordo com as práticas islâmicas". Que o governo norte-americano pise em ovos, é até compreensível. Mas não precisava passar essa imagem de frouxidão para o mundo inteiro ao dar um funeral digno ao terrorista-mor. O que o atirador de Realengo queria, ironicamente, Bin Laden acabou conseguindo.