19.2.10

BRASIL, A TERRA DA IMPUNIDADE


Três anos depois do brutal assassinato do menino João Hélio Fernandes Vieites, em fevereiro de 2007, a certeza de que o que vale no Brasil é a impunidade se torna ainda mais forte. Um dos bandidos que mataram a criança de seis anos acaba de ser solto e integrado a um programa de proteção a menores - ele tinha 16 anos na época em que foi coautor do crime. Chegou-se a dizer que ele se mudou para a Suíça com a família, o que foi negado pelo presidente da ONG Projeto Legal e secretário do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente (vem cá, se ONG significa "Organização Não Governamental", como o presidente de uma ONG participa de uma secretaria estadual?) que fez a decisão. Leia mais aqui e aqui.

Isso mostra como a lei brasileira é fraca e frouxa, apenas servindo para proteger criminosos. Como podemos concluir pelo que eu disse no texto do link, escrito na época do ocorrido, as leis do nosso país se enquadram nas regras politicamente corretas para dar uma ideia de "liberdade democrática", ignorando que isso pode causar uma baderna generalizada. As ONGs são um símbolo desse estado de coisas.

Dei uma verificada na conta da ONG Projeto Legal no Twitter. Foi aberta em agosto do ano passado e não é atualizada desde o fim do último mês, tendo apenas 12 mensagens postadas - no geral, chamadas sobre conferências, uma convocação para assinatura de um manifesto contra a redução da idade penal e até uma nota de falecimento. Mas as contas que a ONG segue são dignas de nota: demais organizações de direitos humanos como Human Rights Watch, Anistia Internacional, Viva Rio e Observatório de Favelas; a OAB-RJ, aquela do Wadih Damous; e a imprensa "progressista" como o Observatório da Imprensa e a revista CartaCapital. Logo se vê que pode-se conhecer uma pessoa ou organização pelo que ela costuma seguir...

17.2.10

SEGREDOS DE UMA CAMPEÃ


Depois de vários chutes na trave (o que incluiu dois vice-campeonatos, em 2004 e 2005), enfim, a Unidos da Tijuca solta o grito de campeã. Depois de 74 anos (só tinha ganho o título mais importante do Carnaval em 1936; durante esse longo intervalo, ganhou o Acesso três vezes, em 1980, 1987 e 1999), a escola do Borel coroa sua excelente fase, marcada pela passagem do carnavalesco Paulo Barros. A conquista incontestável premia, com justiça, um dos mais inventivos personagens do Carnaval carioca.

Ao mesmo tempo, é de se lamentar a péssima fase da Unidos do Viradouro, rebaixada ao Grupo de Acesso após desfilar 20 vezes seguidas no Especial (a alvirrubra niteroiense estreou em 1991, sendo campeã em 1997). Por outro lado, louve-se a permanência da União da Ilha na elite do samba, mesmo em penúltimo lugar - a agremiação da Cacuia merecia uma colocação melhor.

Agora, começa um intervalo chatinho de 13 meses entre um Carnaval e outro - em 2011, só em março. Ainda bem que tem Copa do Mundo e eleições no meio...

16.2.10

A SORTE ESTÁ LANÇADA



O segundo dia do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, embora não tão brilhante quanto o primeiro, teve vários bons momentos na Avenida.

A Mocidade Independente de Padre Miguel entrou disposta a esquecer o sofrível desfile do ano passado, e parece que conseguiu. O enredo sobre os vários tipos de paraíso almejados pelo homem foi muito bem defendido pelos componentes.

A Unidos do Porto da Pedra teve um enredo cheio de possibilidades nas mãos, o mundo da moda. Mas, apesar da fácil leitura das alegorias, o desfile foi um tanto arrastado.

A Portela talvez tenha sido a grande decepção deste ano. A começar pelo enredo, sem relação alguma com as tradições da escola: o mundo da tecnologia, explorado com um chapa-branquismo que chegou a ser constrangedor.

A Acadêmicos do Grande Rio foi uma surpresa positiva, apesar do jabá descarado de seu enredo. A escola pegou um limão e fez uma boa limonada, falando sobre os 25 anos do Sambódromo - tendo como "pano de fundo", na verdade, os 20 anos do camarote da cervejaria que patrocinou o desfile.

A Unidos de Vila Isabel defendeu com alguma dignidade (o belo samba-enredo de Martinho da Vila ajudou bastante) o enredo sobre o centenário de Noel Rosa, o genial compositor do mesmo bairro da escola. Mas não vi um bom acabamento nas alegorias, ao contrário de grande parte das escolas do Especial.

A Estação Primeira de Mangueira fez uma boa homenagem à música brasileira, embora com um grande jeito de fim de festa, como convém à escola que fecha os desfiles. Sinto que faltou alguma coisa para que o desfile tivesse chance de ir mais longe.

A sorte está lançada. A grande campeã será conhecida amanhã na Praça da Apoteose. Pode ser que o Salgueiro conquiste o bicampeonato ou a Beija-Flor siga em sua trajetória vitoriosa, mas seria mais justo que, enfim, desse Unidos da Tijuca. Quem cai? Viradouro e Portela fizeram desfiles fracos, mas sempre há o temor de que a União da Ilha seja vitimada pelo olhar dos jurados que sempre tunga as escolas que subiram... A São Clemente (campeã do Grupo de Acesso de 2010) que se cuide.

15.2.10

UM PRIMEIRO DIA EQUILIBRADO



O primeiro dia do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro deu uma certeza: o baixo nível técnico do ano passado chacoalhou os carnavalescos, que fizeram desfiles bem mais caprichados desta vez.

A União da Ilha do Governador abriu os trabalhos, voltando à elite do samba depois de nove anos, desta vez com a campeoníssima Rosa Magalhães no comando. Pelo visto, o desfile funcionou bem, com muita animação para contar a história de Dom Quixote de La Mancha.

A Imperatriz Leopoldinense, ex-escola de Rosa e hoje comandado por Max Lopes (campeão pela agremiação de Ramos em 1989), fez um desfile ancorado por seu belo samba-enredo, que falava sobre a fé dos brasileiros - mas um problema com o carro abre-alas (cujos tripés frontais insistiam em ir para os lados) fez com que a escola fizesse um desfile arrastado e tivesse que correr nos minutos finais.

A Unidos da Tijuca, com a volta de Paulo Barros, fez certamente o melhor desfile da primeira noite. Cheio de elementos surpreendentes (como a comissão de frente, que usou ilusionismo para arrebatar a plateia), a escola do Borel falou dos maiores segredos da Humanidade, dando conta do recado.

A Unidos do Viradouro falou sobre o México e, pelo visto, não agradou muito: as alegorias não tinham bom acabamento e o samba-enredo também não ajudou. Certamente ficará de fora do Desfile das Campeãs.

A Acadêmicos do Salgueiro entrou na disputa pelo bicampeonato homenageando a literatura. Foi um desfile bonito, porém pouco empolgante, não correspondendo às expectativas que havia acerca da escola.

A Beija-Flor de Nilópolis, que fez um desfile sobre o cinquentenário de Brasília, fez um desfile, digamos, tipicamente Beija-Flor: bonito, eficiente, que briga pelas primeiras posições, capaz de encher os olhos... mas sem emocionar muito.

Amanhã, o texto sobre o segundo dia.

12.2.10

FOSSE HÁ 70 ANOS, O BRASIL ESTARIA AO LADO DO EIXO



Pode haver uma ponta de exagero no título deste texto, mas o fato é que mais um capítulo do desastre que se tornou o Itamaraty na Era Lula se deu nesta semana. O Irã, durante o 31º aniversário da Revolução Islâmica, anunciou ser capaz de enriquecer urânio a ponto de fabricar uma bomba atômica em não muito tempo, desafiando a comunidade internacional. Em discurso, o presidente Mahmoud Ahmadinejad afirmou que o Irã era, daquele momento em diante, um "Estado nuclear". Desnecessário dizer que houve uma barulheira generalizada - até a Rússia, tradicional aliada dos iranianos, declarou-se preocupada com a escalada atômica iraniana. Todos os Estados livres chiaram... exceto o Brasil, que, na figura do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu mais uma rodada de diálogos dentre os que já foram feitos.

Mais uma vez, a nossa diplomacia faz o Brasil passar vexame diante do mundo civilizado. Nunca o Itamaraty desceu tão fundo em sua gloriosa história. Isso nos faz estender as mãos pro alto e dar graças aos céus por termos tido Osvaldo Aranha como ministro das Relações Exteriores durante o Estado Novo - dizem que isso influenciou o Brasil a lutar ao lado dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), freando as aspirações fascistas do ditador Getúlio Vargas. Porque, se fosse alguém como Amorim, o Brasil teria certamente guerreado ao lado do Eixo...

8.2.10

E AINDA QUEREM MAIS?!

Leio agora que o PT quer criar um conselho federal para tentar ampliar sua influência sobre a política externa brasileira. Para isso, busca integrar sindicatos, representantes de ONGs e movimentos sociais, fazendo com que esse conselho funcione paralelamente ao Ministério das Relações Exteriores, intrometendo mais ainda no já combalido Itamaraty.

Ou seja: os petistas apoiam o chavismo e o bolivarianismo, exaltam a ditadura cubana, buscam a aproximação com regimes poucos democráticos do Oriente Médio com o pretexto de aproximar-se do mundo árabe, acolhem terroristas internacionais e ainda querem mais. Tenho medo do que possa acontecer caso Dilma Rousseff seja eleita. Medo que o Brasil de amanhã seja a Venezuela de hoje, com perseguição a quaisquer vozes dissidentes (o que a novilíngua lulista chama de "democracia até demais"). Isso se faz sentir pelas declarações em que o referido documento critica a atuação da diplomacia brasileira durante o governo FHC (1995-2003), além de salientar que o PT deve acompanhar a política externa do governo Lula, "defendendo-a dos ataques da oposição de direita" (sic).

Além disso, o PT promete seguir a tendência chavista de interferência na política de países vizinhos, "para que a esquerda latino-americana não perca nenhum governo para a direita". Pelo menos nesse aspecto, o documento fracassou redondamente. Basta ver o que acabou de acontecer nas eleições chilenas...

4.2.10

HERÓIS DO NOSSO TEMPO


  • Filme: Invictus (Invictus, Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Clint Eastwood
  • Elenco: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Adjoa Andoh, Marguerite Wheatley, Leleti Khumalo, Patrick Lyster, Penny Downie

O mais novo filme de Clint Eastwood não comoveu os membros da Academia, que lhe deram apenas duas indicações ao Oscar (melhor ator para Morgan Freeman e melhor ator coadjuvante para Matt Damon). Pena, pois trata-se de uma história de como o esporte serviu para unir um povo que estava fragmentado por antigas rusgas, contada de um jeito que Eastwood sabe fazer com maestria.

No papel do presidente sul-africano Nelson Mandela, Freeman domina o filme com uma atuação soberba, na qual ele praticamente incorpora o líder que convocou a população de seu país à união, depois de 27 anos preso por lutar contra o apartheid. Uma grande oportunidade de fazer isso se deu durante a realização da Copa do Mundo de Rúgbi na África do Sul, em 1995. Os Springboks (apelido da seleção de rúgbi do país, banida durante anos de competições internacionais por causa da política racista) eram odiados pela população negra por identificá-los com o extinto regime. Mandela, ao invés de suprimi-los, decidiu integrá-los aos costumes nacionais e fazê-los conhecer mais e melhor o seu próprio país. A seleção, que sediaria o Mundial, estava em má fase e não conseguia vencer seleções fortes (isso lembra algo?); o governante decide fazer algo para popularizar os jogadores capitaneados por François Pienaar (Damon) e fazê-los crescer, dentro e fora do campo.

O filme mostra o que já sabemos: Mandela é uma joia rara, que fez questão de pensar sempre no bem estar do povo que governou, independentemente de cor, raça ou crença, sem pensar em vinganças ou revanchismos. Não é, Mugabe?

3.2.10

PRECISAVA MESMO INDICAR DEZ FILMES?!



O Oscar edição 2010 está aí e uma certa polêmica se dá com a decisão (anunciada no ano passado) da Academia de Artes Cinematográficas de indicar nada menos que dez produções para o prêmio de melhor filme - algo usual até os anos 1940. Com cinco filmes, até dava para definir quais seriam as melhores produções da temporada passada com maior convicção; com dez, fica parecendo (isso se não for realmente) estratégia para os espectadores assistirem ao maior número de filmes no mês pré-cerimônia. Alguns dos indicados ao prêmio de melhor filme têm apenas mais uma indicação (como Um Sonho Possível, que também concorre ao prêmio de melhor atriz, com Sandra Bullock, e Um Homem Sério, que concorre a melhor roteiro original, escrito pelos irmãos Coen), fazendo com que as chances de ganhar o prêmio máximo sejam praticamente nulas.

Porém, se a intenção era valorizar um cinema mais comercial que tenha surpreendido positivamente (como que querendo reparar a injustiça sofrida por Batman, o Cavaleiro das Trevas no ano passado) com uma indicação ao Oscar de melhor filme, essa estratégia da Academia pode ter sido bem sucedida. A indicação de Distrito 9 ao prêmio principal, por exemplo, valoriza uma ficção científica instigante e surpreendente, alegorizando a época do apartheid no país que o produziu, a África do Sul. Já a de Up: Altas Aventuras (a segunda de um longa de animação ao Oscar de melhor filme, depois de A Bela e a Fera em 1992) consagra um grande sucesso popular, que atinge todas as idades. Isso sem falar de Bastardos Inglórios, que mostra um Tarantino mais afiado do que nunca.

Serve de curiosidade o fato de, pela primeira vez depois de 11 anos, dois filmes sul-americanos (o argentino O Segredo de Seus Olhos e o peruano A Teta Assustada, vencedor do Urso de Ouro do ano passado, no Festival de Berlim) serem indicados ao prêmio de melhor filme em língua estrangeira - concorrem com o israelense Ajami (é o terceiro ano seguido em que um filme de Israel concorre nessa categoria), o francês Um Profeta e o grande favorito, o alemão A Fita Branca, que também foi indicado a melhor fotografia. A surpresa se deve a uma política informal da Academia de não indicar dois filmes de uma mesma região específica a filme estrangeiro - a última vez em que isso havia ocorrido foi em 1999, quando o brasileiro Central do Brasil e o argentino Tango perderam para o italiano A Vida É Bela.

Fico me perguntando quais seriam os indicados ao prêmio de melhor filme se ainda fossem apenas cinco os concorrentes, ao invés de dez. Levando-se em consideração o número de indicações obtidas por cada filme, o meu palpite seria de que os indicados seriam, por coincidência, os mesmos que foram indicados ao prêmio de direção: Avatar, Guerra ao Terror, Bastardos Inglórios, Preciosa e Amor sem Escalas. Digo que o Oscar será ganho por um destes cinco filmes. E afirmo, sem o menor medo de errar, que vou fazer essa brincadeira enquanto houver dez indicados ao Oscar de melhor filme...