18.4.11

Uma declaração de amor



  • Filme: Rio (Rio, Estados Unidos, 2011)

  • Direção: Carlos Saldanha


  • Com as vozes de: Anne Hathaway, Jesse Eisenberg, Leslie Mann, Rodrigo Santoro, Will.I.Am, Jamie Foxx

A animação dirigida pelo carioca Carlos Saldanha cumpre bem a função de homenagear a terra natal, com todas as suas qualidades e defeitos. E o faz homenageando, pelo que parece, um estilo clássico do cinema brasileiro, a chanchada: do começo ao fim, tudo faz lembrar os maiores sucessos da Atlântida, que lotaram cinemas daqui nos anos 50 e 60, dos números musicais ao desenvolvimento do enredo. Esses elementos fazem a produção ser um filme agradabilíssimo de ser visto e que merece o sucesso que vem fazendo no começo de sua caminhada nas salas de cinema.


Nem tanto por tratar de um assunto tão em evidência, pois seria chover no molhado - mas Rio deve ser saudado como um sinal de que ainda há originalidade na seara cinematográfica infantojuvenil (não apenas no ramo da animação), mesmo porque ela anda cheia demais de continuações e roteiros baseados em elementos já existentes como os quadrinhos. Um roteiro original, preferentemente feito com paixão, sempre faz bem para um público tão exigente. E Rio cumpre esse papel com sobras.

13.4.11

Falar sobre coisa séria ninguém quer, né?


Pronto: como eu disse no texto anterior, foi só acontecer um fato trágico para os aproveitadores que estavam à espreita começarem a arregaçar as mangas. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) - sempre ele, por sinal -, propôs um novo referendo sobre a proibição de armas de fogo e munição para este ano. Seis anos depois de levarem uma senhora surra nas urnas, os desarmamentistas voltam à cena dispostos a, mais uma vez, não propor soluções objetivas para os problemas nacionais de segurança e culpar os elementos errados pela violência reinante no país. No que contam, diga-se, com a ajudinha do Congresso.


É impressionante como os nossos representantes da classe política parecem funcionar à base de choque ou impacto, e mesmo assim não do jeito que deveriam. Fossem mais funcionais, discutiriam assuntos mais úteis como a redução da maioridade penal ou punições mais severas para crimes hediondos, como a adoção da prisão perpétua, até para desencorajar os criminosos. Mas isso deve dar muito trabalho e ser "impopular", pensam.


Nunca pensei e nem penso em ter armas de fogo em casa, mas não me agrada nem um pouco a possibilidade de ter tolhido meu direito de fazer o que quer que seja. O massacre de Realengo pode ressuscitar a intenção de desarmar a população civil sem desarmar a bandidagem, ignorando que as armas usadas na chacina foram ilegalmente adquiridas. Mais uma vez, os políticos brasileiros optam pelo caminho mais fácil, porém mais preguiçoso, para tentar resolver os problemas que dificilmente irão ser resolvidos.

8.4.11

Anatomia de uma tragédia


A tragédia que ocorreu nesta quinta-feira numa escola no bairro carioca de Realengo, quando um ex-aluno entrou na instituição e atirou em vários alunos, matando dezenas deles (principalmente meninas), cometendo suicídio logo em seguida, num crime sem precedentes no Brasil, nos faz pensar em muita coisa. Por exemplo: a vítima de bullying de hoje, por mais "banana" que possa parecer, pode muito bem ser o assassino em massa de amanhã. É fato: de perto, ninguém é normal. Por isso, nunca é bom humilhar seu semelhante, ou outras pessoas podem pagar um preço muito injusto.


Outro fato: independentemente de ser retraído, esquisito e sofrer bullying na escola, o rapaz não batia mesmo bem da cabeça. A carta que deixou antes de cometer a barbárie não fazia o menor nexo, cheio de exigências funerárias e demonstrações de fundamentalismo religioso. Dezenas de famílias destroçadas por nada, é o que se conclui a respeito desse fato.


Outra coisa ruim que se tira dessa chacina é o cabedal de aproveitadores que chegam para aparecer no momento de dor. Entre eles, os partidários do desarmamento, seis anos depois da derrota no referendo. Ignoram que as armas usadas pelo assassino foram obtidas ilegalmente - uma delas, roubada, segundo o filho do suposto dono, já falecido - e não compradas dentro dos rigores da lei. Há gente que não admite derrota de jeito nenhum, e os partidários do desarmamento se enquadram nesse quesito.

6.4.11

Não ser contrário a Israel não vende jornal


Há pouco mais de dois anos, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, as forças armadas de Israel atacaram a Faixa de Gaza, em resposta a ataques do grupo terrorista Hamas, que bombardeava o sul israelense com foguetes lançados do enclave palestino. Cerca de nove meses depois, foi publicado pela ONU o Relatório Goldstone, escrito pelo juiz sul-africano de origem judaica Richard Goldstone, que condenava os dois lados, mas espinafrava muito mais Israel do que o Hamas. Falando a verdade, o documento praticamente livrava a cara dos palestinos, enquanto os israelenses ficavam com a maior parte das acusações contrárias. Alguém com o mínimo de bom senso certamente diria que desproporcional não foi a guerra, mas o relatório...


Pois bem. Semana passada, o próprio Goldstone publicou um artigo no jornal norte-americano The Washington Post dizendo que certamente escreveria um relatório diferente se tivesse se baseado também em provas concretas, não apenas em relatos, como admitiu ter feito na época. Iniciativa louvável, no meu entender. Mas uma coisa me fez ficar intrigado: por que será que os jornais em geral deram pouco, pra não dizer nenhum, destaque ao fato?


Minha visão é de que ocorre exatamente o contrário que militantes de esquerda apregoam todo santo dia, quando ocorre conflito no Oriente Médio: de que a imprensa (ou "mídia", como eles adoram dizer) é descaradamente pró-Israel. Mas se os jornalistas fossem tão a favor dos israelenses, certamente dariam destaque à mudança de ideia do juiz sul-africano. Acontece, porém, que notícias favoráveis a Israel, como avanços científicos e tecnológicos, não vendem jornal. Notícias de guerras, sim. Quando se trata de falar sobre Israel, o bem não lhes interessa.

3.4.11

Com uma "direita" como essa, quem precisa de esquerdistas?


Como digo aqui já faz algum tempo, o Brasil parece ser um caso único de país sem direita - condição herdada dos anos pós-regime militar que esta reportagem exemplifica muito bem. Os, digamos, mais relevantes representantes mais à direita da classe política brasileira parecem não querer colaborar muito para a boa imagem da corrente.


Na edição da segunda-feira passada do programa CQC, da Bandeirantes, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar reformado conhecido por defender com veemência (que constantemente chegam à grosseria) suas posições polêmicas como a defesa do próprio regime militar e a oposição aos direitos de minorias como os homossexuais, aprontou mais uma das suas. Em um quadro em que o entrevistado da vez responde a perguntas de anônimos e famosos chamado "O Povo Quer Saber", ele estava particularmente, digamos, inspirado. Como de hábito, detonou os gays, a presidente Dilma Rousseff e os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. A última pergunta, da cantora Preta Gil, parece ter sido mal compreendida - mas nada justifica o destempero do deputado ao respondê-la. O vídeo pode ser visto aqui.


Minha opinião? Sim, há muito vitimismo por parte dos militantes do movimento gay, que parecem querer um mundo só pra eles. Sim, Bolsonaro é um dos maiores trogloditas que a política nacional já conheceu. E, sim, ditadura é ditadura, não importa se de direita ou de esquerda - deve-se detonar Fidel Castro e Josef Stalin da mesma forma que deve-se detonar Pinochet, Videla ou Médici, por tratarem-se todos de inimigos mortais da democracia. Mas não lembro de ter havido tanta celeuma quando, lá pelo fim dos anos 90, o próprio Bolsonaro disse que o então presidente FHC deveria ser fuzilado por causa da privatização da Vale do Rio Doce. Deve ser porque o governo de então não gozava de tanta popularidade quanto o de Lula teria em seguida. Ou porque o país anda mais politicamente correto do que nunca. De todo modo, todos estão errados: o deputado em baixar o nível do diálogo e os militantes em se fazerem de eternas vítimas, quando na verdade querem ser os algozes.