25.11.10

É chegada a hora de a lei partir para o ataque



Desde o último final de semana, a Região Metropolitana do Rio vem sofrendo com ataques do crime organizado. Bandidos metralharam cabines policiais; incendiaram ônibus, caminhões e vans; estão impondo um clima de terror à região. Dizem que é uma consequência da implantação das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora, nos morros cariocas onde havia tráfico de drogas. O esquema de segurança do governo de Sérgio Cabral Filho vem sendo considerado um sucesso - talvez esse seja a única ação efetiva implantada por um governo fluminense no tocante à segurança dos cidadãos nos últimos 30 anos, pelo menos - e foi prometido ser colocado em prática em âmbito nacional, pela campanha da presidente eleita Dilma Rousseff.

Há muito tempo imagino que as UPPs seriam um começo para a diminuição dos níveis de violência que aterrorizam cariocas e fluminenses. Mas, pelo visto, tem um pequeno defeito: parece que o governo do estado e a secretaria de Segurança pacificaram as favelas sem antes planejar o que deveria fazer para segurar o asfalto. Ou seja: os bandidos saíram dos morros e, sem a fonte de renda que o tráfico de drogas (leia-se, o que é financiado pelos consumidores de substâncias ilícitas) representava para eles, decidiram apavorar os cidadãos das ruas. O resultado é isso que estamos vendo: pânico, caos, a sensação de insegurança reinante, isso sem falar na boataria generalizada que aumenta ainda mais o desespero.

Ainda há tempo de consertar, claro. As ações terroristas dos traficantes cariocas devem ser combatidas com o rigor que a situação exige. A decisão acertada de suspender as folgas de policiais até que a situação esteja resolvida é apenas um entre os inúmeros passos que terão que ser dados para que a cidade não fique mais à mercê da bandidagem. Pode demorar o tempo que for, mas o fato é que, do jeito que está, não pode mais continuar. Já que a marginalidade quer impor um regime de terror, é a hora da lei dar sua resposta e prevalecer, acima de tudo.

14.11.10

E o crime não compensou, desta vez



A Fórmula-1 sempre foi acusada de ser injusta com os leais - os dois primeiros dos sete títulos conquistados pelo alemão Michael Schumacher (em 1994 e 1995) não me deixam mentir. Mas, desta vez, outro piloto alemão deixou a sensação de que, sim, existe justiça no esporte. Sebastian Vettel, da equipe Red Bull, tornou-se o mais jovem campeão mundial dos 60 anos da categoria (aos 23 anos) ao vencer o Grande Prêmio dos Emirados Árabes, em Abu Dhabi, e superar o espanhol Fernando Alonso, da Ferrari, que ainda reclamou dos pilotos da Renault (equipe pela qual ganhou seus dois Mundiais) que não o deixaram passar...

A sensação de justiça se deu por causa do jogo sujo da Ferrari, que obrigou o brasileiro Felipe Massa a ceder a primeira posição ao colega de equipe no GP da Alemanha, apenas para que o espanhol continuasse com chances de título. Alonso cresceu no campeonato, depois do indecoroso jogo de equipe, que não foi seguido pela Red Bull. Os donos da equipe austríaca declararam que preferiam perder um campeonato honestamente a ganhá-lo de maneira pouco lisonjeira (basta lembrar que outro piloto seu, o australiano Mark Webber, também lutava pelo caneco).

O título de 2010 conquistado por Vettel demonstra que a honestidade deve estar acima de tudo, não só no esporte, mas também na vida.

10.11.10

A pipa do vovô não sobe mais?



Já faz algum tempo que o SBT anda meio perdido, entre mudanças repentinas na programação e programas de gosto duvidoso. A autodenominada "TV mais feliz do Brasil" não é a mesma da época em que chegava a incomodar a Globo na audiência (a tal "liderança absoluta do segundo lugar", tão em voga nos anos 80 do século passado), tendo perdido há tempos o posto de segunda maior emissora do país para a Record. Mas quando pensávamos que o fundo do poço tinha sido alcançado, eis que Silvio Santos e companhia aprontam mais uma das suas e cavam mais um pouquinho, com a informação de que um empréstimo milionário ao Banco Panamericano, pertencente ao Grupo Silvio Santos, estava em curso via Fundo Garantidor de Créditos. Diante desse fato, é só ligá-lo a outros ocorridos no mês passado.

Durante o segundo turno das eleições presidenciais, uma reportagem do SBT reduziu uma agressão de militantes petistas à caravana do candidato tucano José Serra a uma mera bolinha de papel. Na mesma época, uma afiliada da emissora no Nordeste marcou um debate entre os candidatos à Presidência no segundo turno. Inicialmente, caso houvesse desistência de um dos candidatos, haveria uma entrevista com o restante. Dilma Rousseff desistiu do debate e, ao invés de entrevistar José Serra, a emissora cancelou o programa...

Bem, não é preciso dizer mais nada.

5.11.10

Não, nós não podemos


Fazia um bom tempo que não se falava dele por aqui - há cerca de um ano, pra ser mais exato. A última vez em que escrevi sobre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com maior profundidade foi quando ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz no ano passado, pouco mais de oito meses depois de assumir o governo. Mas agora ele está de volta por um motivo até previsível: a ampla derrota sofrida pelos democratas nas eleições estaduais norte-americanas, nesta semana. O Partido Democrata perdeu para o Republicano grande parte dos governos estaduais e a maioria na Câmara, mantendo uma ínfima maioria no Senado. Ou seja, mais dificuldades para o governo Obama à vista.

Não, a crise que a maior potência do planeta ora sofre não começou no governo Obama. E reverter tudo o que Bush fez nos últimos quatro anos de seu mandato não ocorre de uma hora para outra. Mas para alguém que prometeu mudanças com pulso firme, a decepção não poderia ser maior. Porém, isso era até esperado, levando-se em consideração que governar um país da importância que têm os Estados Unidos não requer passes de mágica. Só que Obama foi muito aquém do que se poderia imaginar, graças ao pouco pulso que vem demonstrando em questões importantes como a própria economia, a saúde e a segurança nacional, tendo que descumprir inúmeras promessas de campanha.

Bem, a conta está sendo paga. E as consequências podem vir daqui a dois anos, quando Obama tentar a reeleição: seus índices de popularidades são mais baixos que os do seu antecessor, e o presidente certamente terá dificuldades para se reeleger (a não ser que uma Sarah Palin da vida acabe sendo a escolhida pelos republicanos, o que acho pouco provável).

4.11.10

Dilma, flanelinha de Lula?



É cedo para afirmar se Dilma Rousseff tentará a reeleição em 2014. Mas as impressões iniciais pós-eleição são de que a presidente eleita está lá apenas para guardar o lugar para uma provável volta do atual presidente ao poder, assim como fez Eurico Gaspar Dutra, que fez seu governo (1946-1951) ser uma mera transição para a volta do ex-ditador Getúlio Vargas ao Palácio do Catete.

Dessa forma, seria uma espécie de oficialização definitiva do paternalismo na política brasileira, escancarada na própria campanha de Dilma. Algo inerente no pensamento sul-americano em geral - basta lembrar do caso da presidente argentina Cristina Kirchner, que estava lá apenas para guardar a vaga do marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, cujo recente falecimento acabou abrindo uma lacuna e colocando um ponto de interrogação no futuro da política nacional. Se Dilma confirmar essa tendência e não tentar a reeleição daqui a quatro anos, dando espaço a Lula como desconfio que irá acontecer, restará ao eleitorado impedir o paternalismo pelas urnas. Conhecendo a população brasileira (que geralmente vota com o bolso, ou com o estômago, ao invés de usar a cabeça) como conhecemos, porém, será difícil.

3.11.10

E 2012, como será?

Passadas as eleições de 2010, as atenções se voltam para o pleito municipal de 2012. Dependendo do desempenho de Dilma Rousseff no cargo de presidente da República, pode até ser que a oposição finalmente marque posição, de olho nas eleições presidenciais de 2014.

No Rio, certamente Eduardo Paes (PMDB) tentará a reeleição, escorado pelo apoio do governador Sérgio Cabral Filho. Minha previsão é de que, pela primeira vez, PT e PDT não lançarão candidatos próprios à prefeitura do Rio, decidindo por apoiar Paes (lembrando o que ocorreu em 2010, quando os dois partidos apoiaram a reeleição de Cabral) e frustrando as expectativas dos que seriam fortes candidatos, como o deputado federal petista Alessandro Molon e o estadual pedetista Wagner Montes. A oposição terá como candidatos mais fortes o deputado federal Otávio Leite (PSDB), ex-vice-prefeito que contará com o apoio de PPS (que lançará seu vice, o colega de bancada Stepan Nercessian), DEM (que chega a cogitar a candidatura de Indio da Costa, candidato à vice-presidência dois anos antes) e PV (graças ao apoio do ex-deputado federal Fernando Gabeira, que decide por um período sabático na política); e o também deputado Chico Alencar (PSOL), visto como o grande nome da esquerda nas eleições municipais cariocas, tendo como vice o deputado estadual Marcelo Freixo. Haverá certa indefinição entre a reeleição de Paes, que contará com enorme coligação, no primeiro turno e a realização de um segundo turno, contra Leite ou Alencar.

Em São Paulo, o nome da situação (já que Gilberto Kassab, reeleito em 2008, não poderá concorrer) será o do senador Aloysio Nunes (PSDB), que contará com o apoio do ex-prefeito e ex-governador José Serra (que poderá tentar o Senado em 2014, enfrentando o petista Eduardo Suplicy) e do governador Geraldo Alckmin, além de PMDB e DEM. O nome do PT (apoiado por partidos como PDT, PSB e PCdoB) poderá ser o da também senadora Marta Suplicy, que tentará voltar à prefeitura da maior cidade do país. Estes dois nomes polarizarão as eleições paulistanas, também com indefinição de eleição já no primeiro turno (no caso, do candidato tucano).

1.11.10

O que esperar do governo Dilma



A eleição de Dilma Rousseff para a presidência da República confirma o alto potencial de Lula para mobilizar as massas - algo que, por sinal, ele vem demonstrando há décadas. O atual presidente superou grande parte dos prognósticos que havia meses antes do pleito e conseguiu transferir grande parte dos votos que normalmente lhe são atribuídos para a sua candidata, como se o eleitorado desse ao atual presidente um terceiro mandato.

Agora, é esperar que Dilma cumpra o que prometeu nesses quatro anos de governo, mesmo porque apoio político a ela não faltará (nunca um presidente iniciou seu mandato tendo uma parte tão grande do Congresso Nacional a seu favor, o que lhe dará facilidade para aprovar leis ou mesmo emendas constitucionais). Mais do que nunca, a presidente eleita terá que demonstrar que tem forças suficientes para tomar suas próprias decisões, mesmo porque o PMDB do vice Michel Temer está à espreita (desde a saída de José Sarney da Presidência, há 20 anos, que o partido não estava tão perto da cadeira presidencial).

Em seu discurso, Dilma prometeu respeitar a democracia e as instituições nacionais. Todos nós, os que demos nossas opiniões nas urnas, favoráveis a ela ou não, estamos de olho.