27.11.09

TEIMOSIA, MALDADE OU COERÊNCIA ATÉ DEMAIS?



O golpe em Honduras, felizmente, não trouxe maiores consequências no que se refere às eleições presidenciais, que serão realizadas neste domingo. O presidente interino do país, Roberto Micheletti, afastou-se temporariamente do cargo, a fim de não atrapalhar o período eleitoral. Ou seja, não há a expectativa de uma ditadura que atinja o país centro-americano - temor que chegou à tona depois da retirada de Manuel Zelaya do poder.

Mas não é que, mesmo assim, o governo brasileiro insiste em dizer que não reconhecerá como presidente eleito aquele que obtiver o maior número de votos (de forma direta, ressalte-se)? Isso a ponto de se desentender, através do assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, com o governo dos Estados Unidos - o assessor declarou-se "frustrado" com os norte-americanos por sua atuação na América Latina, em especial na questão hondurenha, por esta reconhecer as eleições depois de, inicialmente, condenar a derrubada de Zelaya por este querer mexer na Constituição do país para concorrer à reeleição, o que é expressamente proibido pela Carta Magna de Honduras.

Isso demonstra, mais uma vez, o completo desastre em que a diplomacia brasileira se transformou depois da chegada ao poder do atual governo. É o caso de se perguntar se trata-se de uma teimosia completa ou uma inteira maldade. Prefiro constatar que é um, digamos, excesso de coerência, inclusive na incrível capacidade de escolher o lado errado, só para demonstrar "independência" das grandes potências, como fiz questão de lembrar no texto sobre a recepção, por Lula, ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, no início desta semana - poucos dias depois, a Agência Internacional de Energia Atômica aprovou uma resolução contra o Irã, por este insistir em não congelar o seu desenvolvimento nuclear. Vale ressaltar que o Brasil, sempre de olho numa vaga cativa no Conselho de Segurança da ONU, se absteve de votar... Pra termos uma ideia, até China e Rússia (aliados comerciais dos iranianos) votaram a favor da resolução da AIEA. Isso sem falar nos casos Sudão, Gaza, Battisti...

Sei que o Brasil tem todo o direito de ter sua voz. Só não pode fazer isso na base da birra e da ideologia barata.

26.11.09

APAGÃO BRAZILIAN FESTIVAL



Vem cá, vocês acham que é apenas coincidência um festival de quedas de energia que atormentam os brasileiros há duas semanas? Desde o mega-apagão de 10 de novembro, houve várias quedas em diferentes estados brasileiros - uma delas, na Zona Sul do Rio, durou cerca de 24 horas e chamou a atenção pela alta complexidade no trato dos diferentes níveis de governo e das empresas com a distribuição de energia elétrica. Nesta quarta-feira, foi a vez de regiões do Rio Grande do Sul sofrer com esse problema.

Por mais que o ministro das Minas e Energia (aquele que está lá como barganha do PMDB) tente explicar, assim como os secretários estaduais, nada nos convence de que as coisas estão bem. Mesmo porque a tendência é piorar, com a proximidade do verão e a necessidade de uso de energia elétrica para conter o calor. Temos que ficar de olho, pois desenha-se o enredo de um filme que ninguém quer estrelar...

24.11.09

O IRÃ PODE SER MAIS BEM ACEITO... MAIS PROVÁVEL QUE O BRASIL SE QUEIME DE VEZ



A recente visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a fim de estreitar relações comerciais entre os dois países, pode ser interpretada de várias formas. Uma delas, a mais otimista, é a de que o carisma do presidente brasileiro pode ser determinante para uma melhoria das relações entre os iranianos e o Ocidente. Porém, considerando-se os seguidos e retumbantes fracassos da diplomacia brasileira nos últimos anos, parece-me pouco provável que isso vá acontecer.

Uma hipótese mais plausível é a de que o atual governo brasileiro quer afirmar um caráter mais, digamos, "independente" em relação às grandes potências ocidentais (Estados Unidos e União Europeia), que - não sem razão - estão com os cabelos em pé com essa aproximação entre brasileiros e iranianos. Afinal, Ahmadinejad representa um regime teocrático que governa o Irã com mãos de ferro há trinta anos, além de fazer declarações que cairiam melhor num boquirroto líder comunista stalinista e antissemita do que no chefe de Estado que ele é - ainda tem a questão do suspeitíssimo programa nuclear do país. Além disso, sua mal explicada reeleição - cujos protestos contra foram reprimidos com grande violência - não lhe dá procuração a fazer negócios comerciais com quem quer que seja, ainda mais com um regime que se pretenda democrático como o nosso.

Nenhuma surpresa no caso do governo brasileiro, infelizmente. Afinal, um país que se alia a ditaduras e se recusa a extraditar terroristas corre, no mínimo, um sério risco de cair em forte descrédito. Isso sem falar no caso do presidente deposto de Honduras na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Como eu disse, o grande carisma de Lula pode até ser um trunfo a favor dos iranianos, para que sejam mais bem aceitos na comunidade internacional. O mais provável, porém, é que o Brasil acabe se queimando de vez...

21.11.09

O SUPREMO NEM TÃO SUPREMO ASSIM



Nesta semana, como sabemos, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o terrorista italiano Cesare Battisti deveria ser extraditado - porém, em outra votação, o próprio STF deixou a decisão nas mãos do presidente Lula. Conhecendo o vasto repertório petista em relação a direitos humanos - ou seja, somente os que interessam ao partido, como já demonstrado várias vezes pelo partido depois que assumiu o governo -, não é difícil concluir qual será a decisão presidencial... Se bobear, não só Battisti (culpado em seu país de cometer atentados terroristas na década de 70) fica como ganha status de refugiado político, pelo menos enquanto o PT estiver no poder.

Então, pergunto: de que adianta existir o Poder Judiciário se, no final, a decisão acaba nas mãos do Executivo? De nada adiantou meses de julgamento pelo STF, cujo resultado foi bem apertado pelo simples motivo de que a maior parte dos seus ministros foi nomeada pelo atual presidente da República - portanto, segue direitinho as normas lulopetistas. Seguindo essa tendência por mais tempo, não demorará muito para o Brasil virar uma Venezuela da vida, com uma democracia de fachada que encobre uma protoditadura socialista.

E ainda pode piorar: Mahmoud Ahmadinejad vem aí...

12.11.09

UM DOCUMENTÁRIO QUE VEIO PARA CONFUNDIR. E POR ISSO É BOM


  • Filme: Alô, Alô, Terezinha! (Brasil, 2009)
  • Direção: Nelson Hoineff

O documentário em homenagem a um dos maiores comunicadores que o Brasil conheceu - Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha - é o perfeito espelho de seu homenageado: irreverente, jocoso, brincalhão, politicamente incorreto, chocante para alguns e genial para outros (ou, quem sabe, as duas características juntas!). Ele mostra com perfeição, com o auxílio de imagens de arquivo (alguns deles raramente mostrados na TV) e depoimentos de artistas, calouros, ex-chacretes e assistentes de palco, o espírito do Velho Guerreiro para se comunicar com o público através da televisão.

As partes mais interessantes se referem às próprias chacretes, que povoavam o imaginário masculino enquanto estavam na ativa. Com seus depoimentos coletados separadamente, elas entram em divergência acerca de polêmicas que as cercavam na época e cercam até hoje: afinal, elas se aproveitavam da fama para tirar vantagens em relação ao sexo oposto? Umas diziam que sim, outras negavam. De todo modo, a mistura de opiniões é salutar ao andamento do filme. É curioso constatar que, das ex-chacretes, apenas Rita Cadillac (a mais famosa delas) envelheceu bem, mantendo-se em evidência até hoje. As demais recolheram-se ao ostracismo, seja rememorando os momentos de fama, seja aproveitando a oportunidade para pôr a autoestima em dia - como na cena em que Índia Potira resolve se vestir, digamos, a caráter num chafariz de Paraíba do Sul...

Outro trecho hilário é em relação aos calouros, como o que se diz melhor que Roberto Carlos, dizendo que ele não canta nada - o detalhe é que basta o calouro começar a cantar para que concluamos ser um caso de falta de noção, mesmo. Ou o incrível encontro entre dois calouros gagos, ou de um ex-imitador de Liza Minelli, ou os que passaram pelo programa e tentam até hoje um lugar ao Sol no mundo da fama. Outro destaque é a demonstração das várias versões acerca da origem do mais famoso bordão do Velho Guerreiro, que dá nome ao filme. De todo modo, o documentário mostra como Chacrinha era um apresentador que divulgava o cancioneiro popular, acima de tudo. E que o humor que o programa exalava, infelizmente, não tem espaço nos tempos tão politicamente corretos de hoje.

11.11.09

O BREU É APENAS UMA CONSEQUÊNCIA


O mega-apagão que atingiu grande parte do país na noite de ontem (em algumas localidades, a luz só foi voltar por cerca de três horas da manhã) é, vejam só, apenas uma consequência do imenso jogo de interesses do governo. Não se sabe se realmente foi causado por problemas climáticos em Itaipu, mas o fato é que o Ministério das Minas e Energia mostra-se pouco convincente no caso.

O ministro Edison Lobão, como sabemos desde o ano passado, está ocupando o cargo unicamente para agradar ao PMDB (leia mais aqui), que apoia o governo e busca ser - mais uma vez - o fiel da balança nas eleições presidenciais de 2010. Não é apenas isso: a ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff (que passou por Furnas) havia assegurado que não haveria apagão no país. O mais patético disso tudo é ter que ouvir (mais de populares, embora isso seja corroborado pelo governo) que isso ocorreu devido ao "aquecimento da economia causado pelo aumento do consumo de eletrodomésticos" ou coisa parecida, além do amontoado de informações desencontradas sobre a origem da queda de luz, como problemas em Itaipu ou Furnas ou o desligamento simultâneo de três linhas de transmissão de energia por causa de tempo ruim, o que não foi confirmado até agora. Uma dessas três linhas passa pelo estado de São Paulo - o que dá margem a inúmeras teorias da conspiração, que nem merecem ser consideradas.

Esse foi o terceiro grande blecaute a atingir o Brasil em dez anos, o que nos causa grande preocupação - visto que, além disso, temos graves problemas em aeroportos, e o Brasil sediará as duas mais importantes competições esportivas mundiais na próxima década. Nos dois apagões anteriores, havia a desculpa da falta de água para fazer as hidrelétricas funcionarem. Mas, e agora? Qual será a desculpa: condições pluviométricas ou falta de competência para lidar com situações de alto risco? (Houve figuras que culparam, imaginem, o... azar. Com pessoas assim, quem precisa de inimigos?)

9.11.09

HÁ DUAS DÉCADAS, UM ENTRE VÁRIOS FATOS IMPORTANTES


Hoje faz 20 anos da queda do Muro de Berlim, que separava a cidade alemã entre a parte ocidental (enclave alemão-ocidental fortemente influenciado por Estados Unidos, França e Grã-Bretanha) da oriental (capital alemã-oriental, controlada pela União Soviética). Para os alemães dos dois lados, foi um momento de júbilo depois de 28 anos separados por um bem vigiado paredão de concreto, fazendo com que os berlinenses-orientais não pudessem ir ao outro lado tentar construir a sua vida nem mesmo visitar parentes que lá morassem. Onze meses depois, em outubro de 1990, as Alemanhas se reunificaram, com Berlim como sua capital (Bonn era a capital da antiga Alemanha Ocidental). Mas a queda do Muro foi apenas um capítulo de um fato marcante da Humanidade: a queda do Comunismo.

Naquele 1989, era evidente que o regime socialista iria afundar, devido às pressões populares. Na União Soviética, as políticas de abertura (perestroika, abertura econômica, e glasnost, abertura política) que o líder do Partido Comunista, Mikhail Gorbachov, havia implementado quatro anos antes, davam resultados. Na Polônia, ventos democráticos varriam o país - o que resultaria na eleição do líder do Solidariedade, Lech Walesa, para presidente. O mesmo ocorria na Hungria e na Tchecoslováquia - no final de 1992, este país se separaria, da forma mais pacífica possível, em duas nações distintas (Eslováquia e República Tcheca). Na Romênia, em pleno Natal de 1989, uma insurreição resultaria na deposição e assassinato do ditador Nicolae Ceausescu e da primeira-dama Elena Ceausescu.

Havia algum tempo que o Muro de Berlim era visto como um símbolo de um regime opressor. Era questão de tempo para que os berlinenses resolvessem derrubá-lo - o surpreendente foi que nenhuma gota de sangue precisou ser derramada. Foi um momento importante da Humanidade no século XX, e também um dos vários ingredientes para a consolidação da democracia no continente europeu, depois de tanto tempo de ditaduras de toda espécie.

5.11.09

ROTEIRO? BOBAGEM. A AÇÃO É O QUE IMPORTA


  • Filme: Besouro (Brasil, 2009)
  • Direção: João Daniel Tikhomiroff
  • Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jéssica Barbosa, Flávio Rocha, Irandhir Santos, Macalé, Leno Sacramento, Cris Vianna

O filme de estreia do publicitário João Daniel Tikhomiroff conta a história de um grande mestre de capoeira que luta contra a opressão a seu povo, na Bahia dos anos 1920. Na verdade, ele busca a redenção depois de falhar na proteção a seu mestre, do qual era encarregado. Algo semelhante a enredos de filmes de samurais e demais guerreiros orientais, inclusive nas cenas de ação que pontuam o longa-metragem.

Há um esforço em contar uma história que remeta ao misticismo dos cultos afro-brasileiros e da luta dos negros para obterem respeito dos demais setores da sociedade, nas décadas pós-escravidão. Mas é só vermos alguns minutos do filme para percebermos que o roteiro é o que menos importa - de fato, sim, são as cenas de ação que dão à capoeira um ar de arte marcial o seu ponto alto. Basta que cada um veja o filme como um bom passatempo, pois foi para isso que a produção foi concebida. E tem tudo para fazer sucesso comercial, pois trata-se de um filme de boa qualidade.