12.11.09

UM DOCUMENTÁRIO QUE VEIO PARA CONFUNDIR. E POR ISSO É BOM


  • Filme: Alô, Alô, Terezinha! (Brasil, 2009)
  • Direção: Nelson Hoineff

O documentário em homenagem a um dos maiores comunicadores que o Brasil conheceu - Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha - é o perfeito espelho de seu homenageado: irreverente, jocoso, brincalhão, politicamente incorreto, chocante para alguns e genial para outros (ou, quem sabe, as duas características juntas!). Ele mostra com perfeição, com o auxílio de imagens de arquivo (alguns deles raramente mostrados na TV) e depoimentos de artistas, calouros, ex-chacretes e assistentes de palco, o espírito do Velho Guerreiro para se comunicar com o público através da televisão.

As partes mais interessantes se referem às próprias chacretes, que povoavam o imaginário masculino enquanto estavam na ativa. Com seus depoimentos coletados separadamente, elas entram em divergência acerca de polêmicas que as cercavam na época e cercam até hoje: afinal, elas se aproveitavam da fama para tirar vantagens em relação ao sexo oposto? Umas diziam que sim, outras negavam. De todo modo, a mistura de opiniões é salutar ao andamento do filme. É curioso constatar que, das ex-chacretes, apenas Rita Cadillac (a mais famosa delas) envelheceu bem, mantendo-se em evidência até hoje. As demais recolheram-se ao ostracismo, seja rememorando os momentos de fama, seja aproveitando a oportunidade para pôr a autoestima em dia - como na cena em que Índia Potira resolve se vestir, digamos, a caráter num chafariz de Paraíba do Sul...

Outro trecho hilário é em relação aos calouros, como o que se diz melhor que Roberto Carlos, dizendo que ele não canta nada - o detalhe é que basta o calouro começar a cantar para que concluamos ser um caso de falta de noção, mesmo. Ou o incrível encontro entre dois calouros gagos, ou de um ex-imitador de Liza Minelli, ou os que passaram pelo programa e tentam até hoje um lugar ao Sol no mundo da fama. Outro destaque é a demonstração das várias versões acerca da origem do mais famoso bordão do Velho Guerreiro, que dá nome ao filme. De todo modo, o documentário mostra como Chacrinha era um apresentador que divulgava o cancioneiro popular, acima de tudo. E que o humor que o programa exalava, infelizmente, não tem espaço nos tempos tão politicamente corretos de hoje.

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