28.6.08

O "MUSO" INSPIRADOR


Tempos duros. No Zimbábue, sul da África, o ditador Robert Mugabe novamente esmaga a oposição (literalmente) pra se reeleger pela enésima vez presidente do país. Com direito a todo e qualquer tipo de intimidação para reprimir qualquer sinal de apoio ao candidato adversário no segundo turno, Morgan Tsvangirai.

Claro que a comunidade internacional em geral repudia tais "métodos de campanha" de Mugabe, que governa o país com mão de ferro desde sua independência, em 1980. Ele se notorizou pela perseguição aos fazendeiros brancos e confisco de suas propriedades, além de nivelar por baixo a economia do país, fazendo com que um simples pãozinho custe cerca de seis bilhões de dólares zimbabuanos (é possível que o preço aumente um pouco até você acabar de ler este texto).

Mesmo assim, ele é visto por muitos como inspirador. Principalmente de alguns déspotas que vêem nele um modelo de re-re-reeleição presidencial. Percebe-se que o venezuelano Hugo Chavez e partidários do terceiro mandato de Lula certamente se inspiram em seu modelo. Não é por acaso que os que apóiam o Zimbábue são os mesmos que admiram ditaduras em todo o planeta.

26.6.08

TAÍ, CADÊ A NOVIDADE?



Bastou o Exército sair do Morro da Providência que (surpresa!) o tráfico está de volta. Com esse previsível desfecho, encerra-se a patética história do Cimento Social do senador Marcelo Crivella, estrategicamente usado como parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento na cidade do Rio de Janeiro. Pior, usando o Exército como cabo eleitoral do senador e candidato do PRB à prefeitura do Rio.

Com essa desastrosa soma de fatores (somados, evidentemente, ao crime cometido por alguns militares contra moradores da favela, do que a retirada foi conseqüência direta), perde todo mundo: o governo federal, mais uma vez envolvido com um caso de troca de favores; o senador Crivella, que vê sua candidatura desgastada antes mesmo de sua campanha começar; o governo do estado, com este fracasso na segurança pública; as Forças Armadas, com um de seus mais graves casos pós-regime militar; e principalmente os moradores da Providência, que ficam a ver navios depois de terem a esperança de melhorarem de vida mais uma vez solapada pela incompetência do poder público. Só quem ganhou, para variar, foi a bandidagem, que teve de volta um terreno fértil para tomar conta.

25.6.08

EU SÓ GOSTARIA DE SABER UMA COISA...



...já que tiraram o Exercito do morro da Providência e estão providenciando para punir os militares responsáveis por entregar os três jovens, de mão beijada, aos traficantes, por que será que não caçaram também os próprios traficantes assassinos?

Será que é pedir demais?

17.6.08

TOMANDO O TODO PELA PARTE



O assassinato de três moradores do Morro da Providência por traficantes do Morro da Mineira, a mando de alguns militares que estavam cumprindo a função de auxiliar nas obras do PAC, deve ser repudiado sem a menor sombra de dúvidas. Mas não deixa de ser irônico comprovar que moradores das favelas preferem ficar à mercê da bandidagem a contar com a proteção das Forças Armadas, condicionando a continuação dos preparativos para as obras à retirada dos militares do local - apesar de reconhecer o caráter meramente eleitoreiro do uso do Exército, que está lá mais para promover o programa do senador Marcelo Crivella (PRB), candidato à prefeitura do Rio de Janeiro.

A reação dos moradores da Providência ao crime cometido por esses militares que não honram a farda que vestem foi a mesma de sempre: com baderna e tumulto. Ônibus queimados, carros danificados pelo simples fato de ali estarem estacionados, o diabo. Não sei se é por falta de instrução ou costume com a violência, mas o fato é que a situação fica bem mais tensa quando um morador "da comunidade" é morto por alguém de fora, não importa se fardado ou não.

Os fatos que se seguiram servem apenas para que a sociedade tenha que dar ainda mais apoio à presença do Exército nas favelas, nem que seja apenas para meter o pau em traficantes, milicianos ou filobandidos. Não é a melhor solução, mas a única à vista.

14.6.08

QUERO VER FAZER O MAIS DIFÍCIL...



Estudos do Detran afirmam que, em cinco anos, o trânsito do Rio de Janeiro poderá ficar tão caótico quanto o de São Paulo se nenhuma providência for tomada para a melhoria dos transportes na cidade, como a duplicação de estradas e as melhorias do metrô.

Ao mesmo tempo, o prefeito Cesar Maia anunciou a criação de uma comissão para cuidar das licitações das linhas de ônibus. A medida visa, entre outras coisas, a reduzir a frota de ônibus na cidade.

Tentar diminuir a quantidade de ônibus é mole. Quero ver tentar reduzir o "transporte alternativo" (leia-se pirata, em grande parte das vezes chefiado por milícias) da cidade. Aí, sim, é complicado.

10.6.08

LULA NO RIO, UM CORAÇÃO "DIVIDIDO"



Prosseguindo no assunto das eleições municipais do Rio, ressalto que o presidente Lula, considerando-se os recentes acontecimentos (como as parcerias do PAC, por exemplo), tem uma preferência para esta eleição. Não, não é o também petista Alessandro Molon, deputado estadual e pré-candidato à prefeitura que foi recentemente posto para escanteio pelo governador Sérgio Cabral Filho - cujo partido, o PMDB, optou por lançar candidatura própria.

Refiro-me ao senador Marcelo Crivella (PRB), do mesmo partido do vice-presidente José Alencar e integrante da base de apoio ao governo federal. As primeiras pesquisas pré-eleitorais mostram Crivella (segundo colocado nas eleições de 2004, que reelegeram Cesar Maia no primeiro turno, com pequena margem de votos válidos) na liderança, seguido pela ex-deputada federal Jandira Feghali (PCdoB).

Pelo visto, a pré-candidatura de Molon sofreu um baque com a perda do apoio peemedebista, embora isso não seja admitido publicamente. Rumores dão conta de que o diretório nacional do PT estaria negociando com o próprio PCdoB, que lançou a pré-candidatura de Jandira, que deverá se candidatar à prefeitura pela segunda vez seguida (a título de recordação, em 2004 ela acabou em quarto lugar, enquanto o petista Jorge Bittar acabou em quinto). O mesmo seria feito em São Paulo, onde o PCdoB apoiaria a candidatura de Marta Suplicy.

Onde quero chegar? Simples: concluo que nem o presidente Lula, nem a direção nacional petista acreditam que Molon tenha alguma chance de se eleger prefeito do Rio em outubro. Aliás, nunca o PT elegeu um prefeito no Rio desde que lançou candidatos pela primeira vez, em 1985 (a eleição para prefeito em 1982 não foi direta nas capitais). Se é para passar vexame de novo, os petistas devem estar pensando, que Molon se alie a um(a) candidato(a) com um pouco mais de chance. Mas o PT - até quando, não se sabe - ainda afirma que Molon será candidato.

Além do mais, seria constrangedor para Lula ter que subir no palanque de um notório aliado (o senador Crivella) que é adversário de um correligionário numa eleição municipal. Confirmando-se tais rumores, não seria nenhuma novidade para o eleitorado fluminense a interferência do PT nacional em assuntos regionais: é só voltar 10 anos no tempo, quando José Dirceu and friends impuseram, nas eleições para governador, o apoio do PT à candidatura de Anthony Garotinho, candidato do PDT, com a então senadora Benedita da Silva como vice - algo, guardadas as devidas proporções, parecido com o que seria uma chapa Barack Obama-Hillary Clinton nas eleições presidenciais norte-americanas deste ano - mandando para o espaço a candidatura de Vladimir Palmeira. Seria a extensão do apoio de Leonel Brizola à candidatura de Lula, sendo o vice deste, na "chapa dos sonhos da esquerda", que naufragou diante da reeleição, em primeiro turno, de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

A "chapa dos sonhos" para Lula, acredito eu, seria formado por PT, PCdoB e PRB, com Crivella como candidato a prefeito e Jandira como vice. Diante das negociações malucas a que o eleitorado está sujeito, não duvido nada de que isso venha a acontecer.

5.6.08

E TUDO VOLTA COMO ERA ANTES (ou algo parecido)...


...nas eleições municipais do Rio. Depois de anunciado com todo o estardalhaço possível, o apoio do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, à candidatura do deputado estadual Alessandro Molon (PT) à prefeitura do Rio foi pro vinagre nesta quinta-feira devido a desentendimentos entre PMDB e PT quanto a apoios a candidatos de cidades vizinhas. Resultado: acaba de ser ressuscitada a pré-candidatura do ex-deputado federal (e estrategicamente exonerado do cargo de secretário de Esportes, Cultura e Lazer do estado) Eduardo Paes ao Palácio da Cidade. Leia mais aqui.

Ou seja: o panorama nas eleições municipais do Rio está indefinido, e bem equilibrado. Até agora, temos como candidatos com chances de eleição, além de Paes (PMDB), a também ex-deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), o senador Marcelo Crivella (PRB) e o deputado federal Fernando Gabeira (PV). Têm menos chances a deputada federal Solange Amaral (DEM), o deputado estadual Paulo Ramos (PDT), além do próprio Molon (PT), que tem suas chances de eleição bem reduzidas com a desistência peemedebista.

Tem mais uma coisa: é notório o "caso de amor político", em níveis nacionais, entre o PT do presidente Lula (e do deputado Molon) e o PRB do vice-presidente José Alencar (e do senador Crivella) - caso este que se reflete em setores midiáticos, se é que vocês me entendem. Não irei me surpreender em nada se Molon (que, volto a afirmar, tem pouquíssimas chances de ser eleito) resolver desistir de sua candidatura para apoiar a de Crivella...

Ao mesmo tempo, no hemisfério de cima, foi decidido que o senador Barack Obama será o candidato democrata nas eleições presidenciais norte-americanas, enfrentando o candidato republicano John McCain. Querem saber o que penso? Não seja por isso.

3.6.08

CADA SOCIEDADE TEM OS FUNDAMENTALISTAS QUE MERECE...



O ataque de evangélicos militantes a um templo espírita, nesta segunda-feira no Rio, mostra o quanto o ser humano pode ser doentio na defesa de suas convicções - principalmente quando usa-a para atacar as convicções de outras pessoas. O mundo inteiro é coalhado de gente deste tipo, e no Brasil não poderia ser diferente, apesar da fama de ser um oásis de tolerância religiosa.

No Brasil, parece surgir uma igreja evangélica por mês - não só nas ruas, mas também na política e nos meios de comunicação. Fosse apenas isso, não haveria problema algum - mas isso escancara um fato bem mais grave. Há muito tempo, ramos do protestantismo atacam verbalmente, através de cultos e programas próprios de televisão, outras formas de fé - principalmente católicos e seguidores de cultos afrobrasileiros. Portanto, não foi surpresa alguma o que aconteceu no bairro carioca do Catete. E a tendência é piorar ainda mais...

Já temos problemas demais para nos ocupar, e não precisamos de mais um. Principalmente um problema que grande parte do planeta sofre há tempos.

1.6.08

O VERDADEIRO PODER É O PARALELO



A sensação de insegurança no Rio é gritante há tempos. Recentemente, o ex-secretário da Polícia Civil e atualmente deputado federal Álvaro Lins foi preso sob a acusação de formar quadrilha armada em pleno exercício do poder (mas seus pares da Assembléia se encarregaram de assar um gigantesca pizza). Há quase seis anos (vai fazer amanhã), o jornalista Tim Lopes foi torturado e assassinado ao tentar fazer uma reportagem na Vila Cruzeiro, uma das favelas mais violentas da cidade. Agora, por pouco a tragédia não se repete: foi divulgado neste final de semana que três funcionários (uma jornalista, um fotógrafo e um motorista) do jornal O Dia sofreram nas mãos de milícias (grupos de policiais dissidentes que cobram por proteção), numa favela de Realengo.

Trata-se de um buraco em que o Rio se afundou e parece não ter fim. Décadas de incompetência e, não raro, cumplicidade governamental levaram o estado a isso. Talvez várias outras décadas tenham que ser necessárias para que a situação não piore ainda mais. Quem sofre é o cidadão que paga seus impostos. Quem sofre é aquele que trabalha para melhorar sua vida e a de sua cidade. Quem sofre é aquele que quer levar a informação à sociedade, num ambiente apenas comparável ao de uma guerra.

Em 2002, época da morte de Tim Lopes, falou-se muito no chamado poder paralelo, que aproveitava-se da total ausência do poder oficial para impor suas vontades à sociedade. Tenho hoje a impressão de que o tal poder paralelo, infelizmente, ao contrário do oficial, pelo menos funciona...