30.8.10

O Rio no Senado: Assim, vai ficar difícil...



Qualquer eleitor fluminense mais esclarecido deve ter percebido que a atuação dos representantes do estado do Rio no Senado não é lá essa coisa toda. Francisco Dornelles (PP), Marcelo Crivella (PRB) e o quase inexistente Paulo Duque (PMDB) - que era o segundo suplente e só está lá porque Sérgio Cabral Filho foi eleito governador em 2006 e nomeou Régis Fichtner, o primeiro suplente, como chefe da Casa Civil - não vêm representando o estado com o vigor que deveriam ter, na minha modesta opinião. No que depender dos onze candidatos ao Senado que são apresentados aos eleitores, isso permanecerá por muito tempo.

Pelo visto, a base governista é representada por três candidatos - além de Crivella, que tenta a reeleição, há o ex-prefeito de Nova Iguaçu Lindberg Farias (PT) e o ex-presidente da ALERJ Jorge Picciani (PMDB); sobre este último, pesam nebulosas acusações de manter trabalho escravo em propriedades privadas. Na oposição, destacam-se o ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM) - apesar do desastroso terceiro mandato de prefeito (2005-2009), pode ser que seja uma boa saída para a oposição no Poder Legislativo - e o desconhecido Marcelo Cerqueira (PPS). Mais à esquerda, está o jornalista Milton Temer (PSOL). E tem também o ex-pagodeiro Waguinho (PTdoB), talvez seguindo uma certa tendência: em São Paulo, concorre ao Senado Netinho de Paula, do PCdoB. Ambos crescem nas pesquisas em seus estados - o paulista, bem mais, alcançando a "zona de eleição", ora ocupada por Marta Suplicy (PT) e Orestes Quércia (PMDB). Se forem eleitos, podemos ter certeza de shows de pagode no Congresso Nacional. Deus queira que seja apenas um pensamento ruim.

Segundo últimas pesquisas, há certa indefinição no quadro fluminense, com Crivella e Maia nas duas primeiras posições (neste ano, dois senadores serão eleitos), com Farias e Picciani tendendo a crescer. Em quem vou votar em 3 de outubro? O certo é que serão dois da oposição, mesmo para desequilibrar menos as forças pró-governistas. Um voto de consciência e o outro, mais de protesto mesmo. Ainda que ande difícil escolher entre os candidatos.

22.8.10

Mais uma vez, o PSDB faz tudo errado



Pelo visto, o PSDB está gostando de ser oposição - tanto que parece fazer questão de continuar por lá. Só isso explica as trapalhadas que os tucanos vêm cometendo nesta campanha presidencial, em que o candidato José Serra está bem atrás nas pesquisas da petista Dilma Rousseff, que caminha a passos largos para ser eleita logo no primeiro turno.

Talvez escaldada pela alta popularidade do presidente Lula, que evidentemente faz questão de colar seu nome ao de sua candidata, a campanha tucana apresenta Serra como uma mudança segura em relação ao atual ocupante do Palácio do Planalto. Até aí, nada demais: o problema é quando a própria propaganda da TV mostra o candidato tucano de um jeito mais "povão" e, ainda por cima, com imagens dele junto de Lula, como se os dois fossem aliados de longa data. Parece uma estratégia ousada, mas pode causar o efeito contrário e levar a candidatura a cair no ridículo. Os resultados iniciais estão nas pesquisas, com Dilma dobrando a diferença de pontos percentuais em relação a Serra.

Devem se recordar que, em 2006, a candidatura de Geraldo Alckmin naufragou por causa da negação dos tucanos em reconhecer os méritos das privatizações durante o governo FHC (1995-2003), inclusive com uso daquelas ridículas jaquetas do Banco do Brasil. Até parece que, para ser bem visto pelo eleitorado, o PSDB precisa se envergonhar de alguns fatos positivos ocorridos enquanto esteve no poder, como a maior possibilidade de estabilização da economia, que o governo Lula pegou para si e não quer largar mais...

16.8.10

A luta pelo Palácio Guanabara



A disputa pela eleição para governador do estado do Rio de Janeiro mal começou, mas já tem um favorito absoluto. Com o governo mais destacado a passar pelo Palácio Guanabara em muito tempo (desde antes da fusão entre os estados do Rio e da Guanabara, para se ter uma ideia), o atual governador Sérgio Cabral Filho (a primeiro a tentar a reeleição no Rio, já que Marcello Alencar não o fez em 1998, Anthony Garotinho candidatou-se à Presidência em 2002 e sua mulher Rosinha decidiu não tentar se reeleger em 2006) é o candidato a ser batido, contando com o apoio do governo federal e da máquina administrativa para tal. De todo modo, Cabral terá cinco concorrentes ao cargo (o número de seis candidatos é o menor no estado desde 1990, quando houve apenas quatro candidatos), que nada terão a perder. Uma breve análise deles pode ser vista abaixo, em ordem numérica:

  • 15 - Sérgio Cabral Filho (vice: Luiz Fernando Pezão) (coligação Juntos pelo Rio: PMDB / PT / PP / PDT / PTB / PSB / PCdoB / PSL / PTN / PSC / PSDC / PRTB / PHS / PMN / PTC / PRP): O atual governador fluminense teve tantos acertos quanto erros nesses quatro anos de mandato. A maior parte dos acertos residiu em defender os interesses do estado, como há muito não se via num chefe do Executivo. Mas ali também estavam os erros, muito por conta de sua exagerada subserviência à presidência da República. Repare que a aliança nacional PT/PMDB se repete no estado, tanto que PDT, PSB e PCdoB (os mais famosos pocket-partidos do país no momento) vêm a tiracolo.*
  • 16 - Cyro Garcia (vice: Miguel Malheiros) (PSTU): O bancário e ex-deputado federal petista Cyro Garcia, candidato a governador e prefeito inúmeras vezes pelo PSTU desde 1996 (para governador é a terceira, depois de 1998 e 2002), é mais um típico pregador no deserto que os partidos nanicos de esquerda dão ao cenário eleitoral. Ele se candidata dois anos depois de não conseguir se eleger vereador na capital.
  • 21 - Eduardo Serra (vice: Paulo Oliveira) (PCB): O mesmo vale para o comunista Serra, candidato a prefeito do Rio em 2008 e a governador pela primeira vez neste ano. Aliás, é a primeira vez que o mais antigo partido político brasileiro lança candidato próprio ao governo fluminense.
  • 22 - Fernando Peregrino (vice: David Cabral) (coligação A Força do Povo: PR / PTdoB): O estepe de Anthony Garotinho. É como é conhecido o candidato do Partido da República ao governo do estado. Ele foi escolhido depois da desistência do chefe, envolvido com problemas com o Ficha Limpa e que optou em concorrer a deputado federal. Pelo discurso adotado, percebe-se que Peregrino quer seguir direitinho o mentor, mostrando-se disposto a transmitir às novas gerações o "legado" do casal-ternura de Campos.
  • 43 - Fernando Gabeira (vice: Márcio Fortes) (coligação Rio Esperança: PV / PSDB / DEM / PPS): O deputado federal, depois do ótimo desempenho como candidato a prefeito do Rio há dois anos (não foi eleito por muito pouco), parecia ser um forte candidato ao Senado. Mas a necessidade de uma oposição forte no estado o levou a concorrer ao governo do estado (pela segunda vez, depois de 1986). Terá que lutar muito para não ter embarcado numa canoa furada: além do absoluto favoritismo de Cabral, o início da campanha de Gabeira foi marcado pela polêmica acerca da entrada do cada vez mais decadente Democratas na coligação (além da candidatura do ex-prefeito Cesar Maia ao Senado), em nome da aliança nacional PSDB/DEM/PPS. Terá que, assim como há dois anos, escalar uma montanha para chegar ao segundo turno - com a diferença de que, desta vez, será bem mais difícil.
  • 50 - Jefferson Moura (vice: Flávio Serafini) (PSOL): Mais um candidato que mostra que a extrema-esquerda, se junta não é lá essa coisa toda, separada então é inexistente. Aliás, PSOL, PSTU e PCB estiveram juntos em 2006, tanto no âmbito nacional (lançando a candidatura de Heloísa Helena à Presidência) quanto no estadual (com a de Milton Temer, neste ano de 2010 candidato ao Senado, para governador). Nestas eleições, percebe-se, os três partidos não chegaram a um acordo - o que mostra que a extrema-esquerda é, no Brasil, um verdadeiro fiasco. E olha que o PCO nem deve concorrer por aqui este ano.

* Falando nas relações entre PT e PCdoB, é o caso de perguntar por que os dois partidos não se fundem de uma vez. Afinal, os primeiros dissidentes do PCB (os "segundos" foram do PPS, mais bem sucedidos do ponto de vista ético) foram os únicos a apoiar as cinco candidaturas de Lula à Presidência, em 1989, 1994, 1998, 2002 (eleito) e 2006 (reeleito) - e estão apoiando a candidatura de Dilma Rousseff. Arrisco-me a dizer que os comunistas-do-Brasil são mais fiéis ao PT até mesmo do que os próprios petistas...

12.8.10

Sonho de um sonho de um sonho


  • Filme: A Origem (Inception, Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2010)
  • Direção: Christopher Nolan
  • Elenco: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Ken Watanabe, Marion Cotillard, Cillian Murphy, Tom Berenger, Dileep Rao, Michael Caine

Nunca o samba-enredo que a Unidos de Vila Isabel levou para o Carnaval de 1980 fez tanto sentido. Numa incrível história de imersão em sonhos alheios em busca de segredos, o filme se mostra uma grande surpresa na temporada cinematográfica, mostrando-se a mais bem sucedida ficção científica desde o sucesso de Matrix em 1999.

A história é sobre um ladrão de segredos. Mas de uma forma nada convencional: através dos sonhos de suas potenciais vítimas, plantando neles ideias que possam influenciar a vida de qualquer um. Isso, num passado não muito distante, acabou lhe causando um trauma pessoal. De todo modo, ele quer se redimir, de uma maneira ou outra. Para isso, aceita um grande desafio, vindo de um cliente, então vítima de suas inserções: fazer com que um concorrente seu mude de ideia sobre uma herança que iria receber. Mas o especialista logo descobre que a missão será mais difícil que ele imagina.

O filme chama a atenção pela originalidade com que o tema é explorado, como se cada sonho fosse uma ciência lógica que possa ser construída por uma pessoa. Além disso, os sonhos dentro dos sonhos (como fica claro logo no começo do filme, com papel crucial durante grande parte da produção) são espetacularmente explorados ao máximo, mantendo o espectador ligado o tempo todo. Se cochilar ou for ao banheiro durante o filme, correrá o sério risco de não entender nada. Fica claro que A Origem é um filme que entretém e faz pensar, ao mesmo tempo - o que não é nada fácil nos dias de hoje.

9.8.10

Uma eleição tão importante quanto previsível



Neste texto, começa uma nova era neste Amenidades & Bobajadas, que completou cinco anos de vida no mês passado, com um novo visual e a mesma análise crítica dos temas cotidianos. O visual do blog será mais limpo, a começar pelos títulos dos textos, que deixam de ser escritos em caixa alta, proporcionando aos leitores uma sensação mais agradável de leitura. Espero que gostem.

Começo falando sobre as eleições que serão realizadas em outubro próximo. Como escrevi aqui anteriormente, a população perde em um aspecto independentemente de quem for eleito presidente: a possibilidade de debate de ideias, sem opções de voto além da esquerda. De todo modo, teremos nove candidatos ao Palácio do Planalto, sendo que dois deles têm chances reais, outros dois contarão com a sorte e os demais cinco só farão figuração. Darei minhas impressões iniciais sobre cada um deles, em ordem numérica:

  • 13 - Dilma Rousseff (vice: Michel Temer) (coligação Para o Brasil Seguir Mudando: PT / PMDB / PR / PSB / PDT / PCdoB / PSC / PTC / PRB / PTN): Mesmo sem experiência administrativa (assim como Fernando Henrique Cardoso em 1994), começa a largar com um certo favoritismo na corrida presidencial - em grande parte, graças à popularidade do presidente Lula e à ajuda da máquina administrativa. Pelo criticado desempenho da candidata no primeiro debate televisivo, quinta-feira passada, contudo, Dilma precisará de muito media training para convencer o eleitorado de que é a melhor opção para suceder Lula, sem mexer na política econômica que resistiu à crise mundial.
  • 16 - José Maria de Almeida (vice: Cláudia Durans) (PSTU): O ex-petista se candidata à Presidência pela terceira vez (as outras duas foram em 1998 e 2002; em 2006, apoiou Heloísa Helena, do PSOL) sem recuar um milímetro em suas ideias ultraesquerdistas, mortas e enterradas há décadas - isso pode ser bonito em matéria de coerência política, mas demonstra ser um fracasso em práticas eleitorais.
  • 21 - Ivan Pinheiro (vice: Edmílson Costa) (PCB): O mesmo se aplica ao atual homem forte do mais antigo partido político brasileiro, fundado em 1922. Ivan Pinheiro foi líder da dissidência do PPS (o antigo Partidão) em 1992, candidato pelo mesmo partido à prefeitura do Rio em 1996, e vem tentando manter o nome da agremiação vivo através de pouco produtivas candidaturas ao Legislativo desde então. Depois de 21 anos, o PCB lança candidato à presidência da República, depois de Roberto Freire (líder da mudança do antigo PCB para o atual PPS) em 1989.
  • 27 - José Maria Eymael (vice: José Paulo da Silva Neto) (PSDC): O jingle que tem um candidato: assim pode ser definido o democrata-cristão Eymael, dono de uma das mais famosas musiquinhas eleitorais da história brasileira. Candidato ao cargo pela terceira vez (depois de 1998 e 2006), aposta novamente no percurso de todas as Unidades da Federação para fazer sua campanha, como fez nas vezes anteriores.
  • 28 - Levy Fidélix (vice: Luiz Eduardo Ayres Duarte) (PRTB): Assim como Eymael é conhecido por seu grudento jingle, o candidato do PRTB é famoso pelo eterno projeto do Aerotrem, espécie de monotrilho de baixo custo. É considerado por muitos a grande esperança pra quem acha o trem-bala do Rio a Campinas um pouco caro demais.
  • 29 - Rui Costa Pimenta (vice: Edson Dorta Silva) (PCO): O partido político mais, digamos, norte-coreano do Brasil é um tanto estranho. Seu candidato oficialmente tenta o Planalto pela terceira vez, mas pode muito bem ser apenas a segunda: a campanha de 2006 foi indeferida pelo TSE por ausência de prestação de contas da anterior, de 2002. Por isso, nenhum voto dado a ele há quatro anos foi computado, se bem que isso não faria diferença alguma - certamente, seria o último colocado de qualquer jeito.
  • 43 - Marina Silva (vice: Guilherme Leal) (PV): A senadora acreana, saída do PT no ano passado, tenta passar uma imagem de oposição ao governo, sem ter muito sucesso. Corre o risco de ser o Cristovam Buarque (candidato do PDT em 2006) deste ano: da mesma forma que o senador brasiliense só falava em educação, a candidata verde terá que se desvencilhar do tema ecologia, por mais que ele esteja em voga. É a terceira candidata do PV à Presidência, depois de Fernando Gabeira em 1989 e de Alfredo Sirkis em 1998.
  • 45 - José Serra (vice: Indio da Costa) (coligação O Brasil Pode Mais: PSDB / DEM / PTB / PPS / PMN / PTdoB): O ex-governador de São Paulo se candidata ao Planalto pela segunda vez (perdeu para Lula em 2002) atendendo às pesquisas que o apontavam como o nome mais forte de seu partido, mesmo estando no seu primeiro mandato no Palácio Bandeirantes, abrindo mão de uma reeleição certa no governo paulista. De todo modo, terá que se escorar no programa econômico criado pelo correligionário Fernando Henrique Cardoso e seguido por Lula e Henrique Meirelles. Para tentar ser eleito, se apresentará como uma alternativa segura para os que simpatizam com Lula sem, contudo, confiar em Dilma.
  • 50 - Plínio de Arruda Sampaio (vice: Hamilton Assis) (PSOL): Outro dissidente do PT, como Zé Maria e Rui Pimenta, Sampaio quer ser o candidato "alternativo" da vez. O desempenho no debate televisivo da semana passada pode ter contribuído para sua popularidade entre os indecisos e insatisfeitos com o baixo nível técnico do pleito - que poderá ser efêmera, tão logo o programa eleitoral comece a ser veiculado na TV.