29.3.06

A PIZZA QUE ACABOU EM SAMBA E O BRAZUCA DAS GALÁXIAS



Na semana passada, o Brasil assistiu revoltado à demonstração de alegria da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), que dançou um sambinha muito do mixuruca em comemoração à absolvição de um correligionário, em plena Câmara dos Deputados. Ela conseguiu fazer com que um julgamento, ao invés de ter acabado em pizza, literalmente acabasse em samba. Que em outubro o eleitorado paulista se encarregue de puni-la, através das urnas.


Mudando de assunto: nada mais natural que fiquemos felizes vendo o primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes, cumprir sua primeira missão espacial (o que deve ocorrer na noite de hoje). Também é importante que haja investimentos do governo para que possamos entrar no clube dos países que mandam astronautas (hoje restrito a Estados Unidos, Rússia e China), o que poderá ocorrer a longo prazo. Mas será que isso é necessário nos dias de hoje, e não num futuro mais seguro? Será que esse investimento não poderia ser utilizado em necessidades mais urgentes, como o desenvolvimento do próprio programa espacial brasileiro, que anda um pouco parado? Uma coisa a se pensar...


De todo modo, boa sorte a nosso pioneiro do espaço, no ano do centenário do primeiro vôo de Santos Dumont.

24.3.06

LÁ COMO CÁ?


Muitos protestos assolam a cidade de Paris, contra o programa oficial do Primeiro Emprego, acusado de querer tirar empregos no país. Os manifestantes em geral são pacíficos, mas alguns vândalos se infiltram entre eles, gerando baderna e destruição nas ruas da capital francesa, com saques e assaltos. O vandalismo não é nenhuma novidade para os parisienses: há alguns meses, protestos gerados por suburbanos de Paris e cidades próximas causaram terror na cidade. Inclusive, há suspeitas de que alguns desses suburbanos (em geral, imigrantes árabes e africanos, tese que alimenta movimentos anti-imigração e de extrema-direita) estejam envolvidos nos protestos de agora. Todo esse estado de coisas nos faz pensar, segundo definiu certa vez um amigo meu: "É, Paris está virando uma imensa Rocinha".

21.3.06

TRÊS ANOS DE EQUÍVOCO


Nesta semana, fez-se três anos da invasão do Exército dos Estados Unidos (com a ajuda da Grã-Bretanha) ao Iraque, sob o pretexto de achar as armas de destruição em massa que estariam em posse do regime de Saddam Hussein. Três anos se passaram e a situação, além de não ter se resolvido, ainda piorou com a iminência de uma guerra civil entre sunitas (etnia de Saddam, minoria no país) e xiitas (maioria que era oprimida pelo antigo governo).

A invasão anglo-americana ao menos trouxe uma vantagem: a deposição de Saddam Hussein, que estava no poder havia 24 anos (de 1979 a 2003). Mas as tais armas de destruição em massa (a principal motivação da invasão) jamais foram achadas. Pior, os governos admitiram ter inventado essa história para invadir o país, sem que tivesse um planejamento viável para conter as animosidades entre as etnias do país (ainda há os curdos, também vítimas de Saddam, que se concentram no norte do país). Resultado: assim que as tropas invadiram o país e Saddam foi deposto, a anarquia se instalou no Iraque e, principalmente, na sua capital Bagdá. Grande parte do seu sítio arqueológico (um dos maiores do mundo) foi destruído por vândalos, sem que as tropas fizessem algo para impedir.

O perigo de uma guerra civil, igual ou pior do que a que atingiu o Líbano, de 1975 a 1990, é real. E não existem esperanças de que algo possa mudar para evitar essa tragédia. As tropas são amplamente combatidas por rebeldes; seqüestros, atentados e assassinatos são cometidos a torto e a direito; há protestos em todo o mundo (notadamente nos Estados Unidos) contra a chamada ocupação... Essa combinação explosiva desgasta cada vez mais o governo norte-americano. E não há escapatória para casos como esse.

14.3.06

DIAZINHO INTENSO, ESSE HOJE...


O Exército conseguiu achar a pistola e os dez fuzis que haviam sido roubados de um quartel do Exército; as armas foram achadas perto da Rocinha. As tropas e os soldados certamente deixarão as ruas depois da tarefa cumprida, mas cabe o apelo: terá que ser feito um esquema de segurança convincente e eficiente para que o Rio de Janeiro tenha condições de voltar a ser uma cidade segura. Que essas ocupações tenham sido um ensaio.

Também hoje, o PSDB escolheu o governador paulista Geraldo Alckmin como candidato do partido à presidência da República. Pessoalmente, achei essa a melhor escolha: além de ter experiência maior que o prefeito José Serra, há o compromisso do prefeito paulistano de cumprir seu mandato até o final.

9.3.06

UM MAL NECESSÁRIO


Assim pode ser definido o roubo de fuzis de um quartel do Exército por traficantes, ocorrido no Rio de Janeiro recentemente, pouco antes do Carnaval. Por um simples motivo: dessa forma, ocorreu o que muitos cariocas pediam há tempos.

Na busca pelo armamento roubado pelos bandidos (suspeita-se que o crime tenha sido cometido por soldados ligados a organizações criminosas), o Exército passou a ocupar várias favelas do Rio. Pouco tempo depois da ocupação, resultados já começaram a surgir. Praticamente todos os crimes (de assaltos a pedestres a roubos de carros) diminuíram consideravelmente. Dessa forma, deve ter gente torcendo para que as armas roubadas não sejam achadas tão cedo... Resta às Forças Armadas, juntamente com as três esferas de governo, perceber que este é o melhor caminho.

Falando em criminalidade: é revoltante o ato de vandalismo cometido por militantes do MST na madrugada de ontem, no interior gaúcho, quando uma fazenda e um laboratório de pesquisas foram destruídos, acabando com mais de duas décadas de trabalho e investimentos. Esse é apenas mais um resultados de um desgoverno que assola o país.

7.3.06

VENCEU O MELHOR. DE NOVO


A festa de entrega do Oscar em 2006 reforçou uma certeza: a maior cerimônia do cinema mundial não é tão previsível como era até dois anos atrás. Em 2004, o épico O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, a última parte da fantástica trilogia dirigida por Peter Jackson, dominou a festa ganhando todas as 11 estatuetas a que concorria, igualando o recorde de Ben-Hur e Titanic. De lá pra cá, porém, o que reinou foi a surpresa.

Começou no ano passado, quando Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood, ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor filme. Derrotou o favorito O Aviador, de Martin Scorsese, que curiosamente tinha ganho uma estatueta a mais. Desde 1973, quando O Poderoso Chefão (três Oscars) superou Cabaret (oito Oscars) na categoria Melhor Filme, uma produção vencedora do prêmio máximo não terminava a festa com menos estatuetas que outro filme. Em 2006, nova surpresa. Crash: No Limite, de Paul Haggis, ganhou o mesmo número de Oscars do favoritíssimo O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee. Porém, aquele teve vantagem em Melhor Filme, além de ganhar em Roteiro Original e Montagem, enquanto que o concorrente ganhou em Direção, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora, na mais equilibrada cerimônia em muitos anos.

O Oscar de 2006 mostra também a atual fase da classe cinematográfica norte-americana, produzindo filmes com forte temática social (o caso de Boa Noite e Boa Sorte, de George Clooney, vencedor do prêmio de Ator Coadjuvante por outro filme engajado, Syriana: A Indústria do Petróleo) e histórica (como Munique, de Steven Spielberg). Isso já era constante em Hollywood, mas agora essa tendência ficou ainda mais forte.

Mostrou também as grandes fases de Philip Seymour Hoffman (Melhor Ator, por Capote), Reese Witherspoon (Melhor Atriz, por Johnny & June) e Rachel Weisz (Atriz Coadjuvante por O Jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles - aliás, esse é o segundo ano seguido em que um filme dirigido por um brasileiro ganha um Oscar. Não é nada, não é nada, já é alguma coisa...). Mas, acima de tudo, mostra a grande fase de Paul Haggis. Roteirista do vencedor do Oscar do ano passado (Menina de Ouro, em que discutia a eutanásia), produtor, roteirista (pelos quais ganhou duas estatuetas) e diretor do vencedor deste ano, em que discutia as questões raciais nos Estados Unidos, é o grande nome dos bastidores do cinema norte-americano atual.

3.3.06

OSCAR 2006: "CAPOTE"


Encerrando a série sobre os indicados ao Oscar 2006, falarei sobre Capote, dirigido por Bennett Miller.

O filme conta sobre uma parte da trajetória do escritor Truman Capote, que encontrou num crime cometido no final dos anos 50 inspiração para escrever uma de suas obras-primas, o livro A Sangue Frio. Através de entrevistas com os criminosos, ele vai escrevendo sobre o crime em detalhes, transformando-o numa versão romanceada.

A produção é de alto nível, detalhando sobre a agonia do escritor, dividido entre terminar sua obra (empreitada adiada por causa dos sucessivos recursos para adiar a execução - os assassinos foram condenados à pena de morte) e o desejo de que um deles se salvasse (ele acabou se tornando amigo íntimo de um dos criminosos). A película faz uso de excelentes atuações para obter êxito.

Indicações ao Oscar 2006: Melhor filme, direção (Bennett Miller), ator (Philip Seymour Hoffman), atriz coadjuvante (Catherine Keener) e roteiro adaptado.