31.12.09

UM BOM ANO

2009 pode ser considerado um bom ano - pelo menos pra mim. Consegui um bom emprego, estou no auge da criatividade, até meu time foi campeão brasileiro. Ou seja, do ponto de vista pessoal e profissional, este ano que acaba hoje pode ser considerado um dos melhores da minha vida. O momento é de agradecer por tudo de bom que houve e torcer e se esforçar por um 2010 ainda melhor. A fase é excelente e só me resta aproveitar.

Pra quem estiver lendo, desejo um bom ano. Um ano que seja tão bom quanto foi o meu.

30.12.09

O PROBLEMA É NÃO QUERER DAR NOME AOS BOIS


Bom questionamento o do colega blogueiro Mr. X, em texto escrito esta semana. A recusa da sociedade em aceitar que a grande maioria dos atentados terroristas em todo o mundo é cometida por muçulmanos, em nome de um famigerado pensamento politicamente correto, era o que faltava para a insegurança mundial se firmar de vez.

O pior é vermos que tem gente que teima em afirmar que atentados ocorrem por causa de "injustiças sociais". O terrorista que tinha uma bomba na cueca (pelo visto, conseguiram arranjar uma outra utilidade pras roupas de baixo masculinas) e não conseguiu explodir um avião que fazia o voo Amsterdã-Detroit, um raro caso de "ex-homem-bomba", é filho de um banqueiro nigeriano, um dos mais ricos de seu país, e morava num bairro chique de Londres. Portanto, não são exatamente a miséria e o desespero que movem os terroristas.

Claro, não podemos generalizar. Lógico que há muçulmanos moderados que condenam a violência e querem conviver pacificamente com seus semelhantes. Mas é em momentos como esse que eles parecem simplesmente desaparecer. Isso só aumenta a sensação de que haverá um gigantesco choque de civilizações, mais cedo ou mais tarde.

23.12.09

MELHOR ASSIM



Inteiramente justo o desfecho do caso em que o norte-americano David Goldman conseguir reaver a posse do filho Sean, fruto de seu casamento com a brasileira Bruna Bianchi, terminado depois que ela voltou dos Estados Unidos com o filho pequeno, à revelia do então marido. O presidente do STF, Gilmar Mendes, de certa forma compensou a derrapada do caso Battisti ao fazer a decisão correta, desta vez.

Dizem que a família da mãe do menino não tentará recorrer. Melhor assim, visto que, na falta da mãe (falecida após o parto da segunda filha, com o segundo marido, que lutava pela permanência do enteado), o pai deve estar presente. Assim, tem-se uma esperança de que o Brasil possa respeitar as leis internacionais, o que não vinha ocorrendo com frequência ultimamente.

22.12.09

O INÍCIO DO PRINCÍPIO DO COMEÇO... E NÃO SE SABE SE HAVERÁ FINAL FELIZ



Antes visto como meio de transporte de excelência (era ao menos eficiente, apesar da escassez de linhas e estações para o tamanho da cidade e de sua população), o Metrô do Rio de Janeiro enfrenta inúmeros problemas que atormentam seus usuários, trinta anos depois de sua inauguração. Superlotações e atrasos das composições (que chegam a 15 minutos, quando os intervalos normais são de quatro), no momento em que novas estações são inauguradas (com enorme atraso, por sinal), fazem os clientes pensarem em alternativas que não primam exatamente pela rapidez ou pela segurança, mas pelo menos andam dando menos transtorno.

A fase ruim pós-privatização, ocorrida há cerca de dez anos, ainda não tem prazo para acabar: há a previsão da entrada de novas composições para 2011, ou seja, mais dois anos de sufoco para os clientes do Metrô estão garantidos. Esperemos que ao final desse período as coisas melhorem e façam o meio de transporte voltar aos seus bons tempos, mesmo porque não há como piorar. Pode ser que, daqui a dois anos, ocorra o início do princípio do começo de uma nova era de paz e tranquilidade para os usuários metroviários cariocas. Pelo menos com mais trens circulando e, espera-se, com novas estações - a administração promete expansão até a Barra da Tijuca, para as Olimpíadas de 2016. É difícil fazer uma expansão tão grande em apenas seis anos (o começo dela está previsto para março de 2010, mesma época da inauguração da Estação Cidade Nova, no Centro), mas essa estamos pagando pra ver.

O primeiro grande teste deverá ser na Copa do Mundo de 2014, considerando-se que uma das estações passa em frente ao estádio do Maracanã. Mas as Olimpíadas, a serem realizadas dois anos depois, serão a prova de fogo. Que este seja um final feliz para a epopeia da expansão metroviária da cidade.

16.12.09

A DIREITA ENVERGONHADA


Como escrevi anteriormente, talvez o Brasil seja o único país pertencente ao mundo civilizado (portanto, Bolívia, Cuba e Venezuela não contam) a não ter partidos políticos de tendência conservadora. Os que eram assim vistos buscam "adaptar-se" aos novos tempos politicamente corretos, buscando ser mais, digamos, aceitos pela nova sociedade brasileira. A era lulista, com seus altos índices de popularidade, contribui para isso - vide o Partido Progressista (PP) e o Partido da República (PR), este último resultado da fusão do PL com o PRONA; os dois partidos são dos mais entusiasmados aliados do governo Lula. A oposição, definitivamente, não está funcionando no intento de parecer ativa, como a esquerda era até 31 de dezembro de 2002.

O partido oposicionista mais identificado com o conservadorismo, o Democratas (DEM), se afunda cada vez mais na própria incompetência, evidenciando estar nada acostumado com sua distância do poder - em nada lembrando a época em que ainda se chamava PFL e fazia parte da base do governo federal. Antes disso, sua base, que havia deixado o PDS (atual PP) em 1985 para apoiar a eleição de Tancredo Neves, fazia parte da ARENA, partido da situação durante o regime militar e extinto durante a abertura política. Mesmo tendo feito parte de uma ditadura, o então Partido da Frente Liberal poderia ser uma boa opção para quem queria fugir de um esquerdismo pseudoprogressista caso apresentasse uma boa proposta de governo. Mas, cada vez mais, demonstrava não ter autossustentação em caso de saída do poder, o que se evidenciou com a eleição de Lula em 2002 e os programas sociais de viés populista do atual governo.

Após as eleições de 2006, depois de eleger o menor número de deputados em muito tempo e apenas um único governador, o PFL tentou se adaptar "aos novos tempos". Mudou o seu nome para Democratas e baseou-se num programa que privilegiasse uma vida sustentável. Ou seja, virou uma metamorfose ambulante que ninguém entendeu até hoje. Não ganhou a simpatia dos "progressistas" e ainda afastou os conservadores que lhe davam votos. Resultado: novos fiascos eleitorais à vista.

Mas não há nada tão ruim que não possa piorar: o recente escândalo envolvendo o único governador do DEM (José Roberto Arruda, do Distrito Federal, que já saiu da agremiação) pode ter sido a pá de cal nas pretensões do partido em crescer eleitoralmente no futuro. Porém, há a grande oportunidade de os conservadores de verdade deste país mostrarem a que vieram. Para 2010 não dá mais, mas há uma grande oportunidade de fundar um partido que concorra nas eleições municipais de 2012. Um partido que, enfim, atenda aos anseios da maioria dos nossos eleitores.

14.12.09

LUTANDO CONTRA SI PRÓPRIO


  • Filme: O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox, Estados Unidos/Grã-Bretanha, 2009)
  • Direção: Wes Anderson
  • Elenco: George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Bill Murray, Wally Wolodarsky, Eric Anderson, Michael Gambon, Willem Dafoe, Owen Wilson

O longa de animação em stop-motion é surpreendente em todos os aspectos - não só pelas origens mas também por seus resultados sobre o espectador. Parece uma fábula infantil, mas os adultos a curtem mais por causa da lição de moral que inexiste nela. Por isso, é tão diferente e justamente aclamado como um dos melhores filmes do ano.

O sr. Raposo decide renunciar a seus instintos quando sua esposa lhe diz estar grávida, durante mais um de seus costumeiros roubos de aves. O tempo passa, o filho cresce, Raposo se torna um respeitado colunista de jornal... mas ele continua lutando contra seus instintos naturais. Tanto que muda-se com a família para uma nova casa, uma árvore que fica em frente a três grandes fazendas - duas delas, criadoras pecuárias, e a outra, produtora de cidra. Assim, tem um ousado plano que põe em prática junto com um sobrinho e um empregado... que pode trazer consequências imprevisíveis.

É um filme que faz pensar, com o perdão do clichê. Quem pode lutar contra sua própria personalidade? Como mudar o que já está estabelecido pela natureza? Não é impossível, mas é muito difícil vencer essa árdua batalha.

12.12.09

HÁ SETE ANOS ADUBANDO A VIDA

"Eu não quero saber se o [prefeito de São Luís] João Castelo é do PSDB. Se o outro é do PFL (sic). Não quero saber se é do PT. Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que se encontra."

Luiz Inácio Lula da Silva, durante discurso no Maranhão. Pois é, depois do "sífu", agora não falta mais nada.

6.12.09

PERDEU, "PLAYBOY"

Na seção de cartas dos leitores, na edição de agosto passado da revista Playboy. Percebe-se que a revista é, no mínimo, uma péssima adivinha. Se bem que nem precisaria entender muito de futebol.

4.12.09

AS PIADAS NUNCA SUPERAM A REALIDADE



Causou celeuma quando foi exibida aqui no Brasil, pelo canal pago GNT, a entrevista dada pelo ator Robin Williams (nascido em Chicago) a David Letterman, quando ele disse que "Chicago levou a Copenhague Hillary Clinton e Oprah Winfrey, mas o Rio levou strippers e pó para conquistar os delegados do COI e ganhar o direito de sediar as Olimpíadas de 2016. Assim ficou difícil". Piada de gosto duvidoso (quase uma redundância), mas polêmica desnecessária.

Desnecessária por vários motivos. Os humorísticos são os primeiros: por que esperar que um estrangeiro famoso conte uma piada que nos seja favorável? Além do mais, nós brasileiros costumamos também contar anedotas pesadas e nunca nenhum gringo reclamou do nosso senso de humor.

Mas o maior desses motivos é que nenhuma piada é mais forte que a própria realidade que nos cerca. Ou será que os seguidos apagões, a fama de sexistas, os dólares de propinas nas cuecas e meias, a crise política e muitas outras coisas não fazem o Brasil ser o país da piada pronta? Nosso país, como sabemos, é uma farta matéria-prima para comediantes - não só os daqui, é bom que se diga.

27.11.09

TEIMOSIA, MALDADE OU COERÊNCIA ATÉ DEMAIS?



O golpe em Honduras, felizmente, não trouxe maiores consequências no que se refere às eleições presidenciais, que serão realizadas neste domingo. O presidente interino do país, Roberto Micheletti, afastou-se temporariamente do cargo, a fim de não atrapalhar o período eleitoral. Ou seja, não há a expectativa de uma ditadura que atinja o país centro-americano - temor que chegou à tona depois da retirada de Manuel Zelaya do poder.

Mas não é que, mesmo assim, o governo brasileiro insiste em dizer que não reconhecerá como presidente eleito aquele que obtiver o maior número de votos (de forma direta, ressalte-se)? Isso a ponto de se desentender, através do assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, com o governo dos Estados Unidos - o assessor declarou-se "frustrado" com os norte-americanos por sua atuação na América Latina, em especial na questão hondurenha, por esta reconhecer as eleições depois de, inicialmente, condenar a derrubada de Zelaya por este querer mexer na Constituição do país para concorrer à reeleição, o que é expressamente proibido pela Carta Magna de Honduras.

Isso demonstra, mais uma vez, o completo desastre em que a diplomacia brasileira se transformou depois da chegada ao poder do atual governo. É o caso de se perguntar se trata-se de uma teimosia completa ou uma inteira maldade. Prefiro constatar que é um, digamos, excesso de coerência, inclusive na incrível capacidade de escolher o lado errado, só para demonstrar "independência" das grandes potências, como fiz questão de lembrar no texto sobre a recepção, por Lula, ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, no início desta semana - poucos dias depois, a Agência Internacional de Energia Atômica aprovou uma resolução contra o Irã, por este insistir em não congelar o seu desenvolvimento nuclear. Vale ressaltar que o Brasil, sempre de olho numa vaga cativa no Conselho de Segurança da ONU, se absteve de votar... Pra termos uma ideia, até China e Rússia (aliados comerciais dos iranianos) votaram a favor da resolução da AIEA. Isso sem falar nos casos Sudão, Gaza, Battisti...

Sei que o Brasil tem todo o direito de ter sua voz. Só não pode fazer isso na base da birra e da ideologia barata.

26.11.09

APAGÃO BRAZILIAN FESTIVAL



Vem cá, vocês acham que é apenas coincidência um festival de quedas de energia que atormentam os brasileiros há duas semanas? Desde o mega-apagão de 10 de novembro, houve várias quedas em diferentes estados brasileiros - uma delas, na Zona Sul do Rio, durou cerca de 24 horas e chamou a atenção pela alta complexidade no trato dos diferentes níveis de governo e das empresas com a distribuição de energia elétrica. Nesta quarta-feira, foi a vez de regiões do Rio Grande do Sul sofrer com esse problema.

Por mais que o ministro das Minas e Energia (aquele que está lá como barganha do PMDB) tente explicar, assim como os secretários estaduais, nada nos convence de que as coisas estão bem. Mesmo porque a tendência é piorar, com a proximidade do verão e a necessidade de uso de energia elétrica para conter o calor. Temos que ficar de olho, pois desenha-se o enredo de um filme que ninguém quer estrelar...

24.11.09

O IRÃ PODE SER MAIS BEM ACEITO... MAIS PROVÁVEL QUE O BRASIL SE QUEIME DE VEZ



A recente visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a fim de estreitar relações comerciais entre os dois países, pode ser interpretada de várias formas. Uma delas, a mais otimista, é a de que o carisma do presidente brasileiro pode ser determinante para uma melhoria das relações entre os iranianos e o Ocidente. Porém, considerando-se os seguidos e retumbantes fracassos da diplomacia brasileira nos últimos anos, parece-me pouco provável que isso vá acontecer.

Uma hipótese mais plausível é a de que o atual governo brasileiro quer afirmar um caráter mais, digamos, "independente" em relação às grandes potências ocidentais (Estados Unidos e União Europeia), que - não sem razão - estão com os cabelos em pé com essa aproximação entre brasileiros e iranianos. Afinal, Ahmadinejad representa um regime teocrático que governa o Irã com mãos de ferro há trinta anos, além de fazer declarações que cairiam melhor num boquirroto líder comunista stalinista e antissemita do que no chefe de Estado que ele é - ainda tem a questão do suspeitíssimo programa nuclear do país. Além disso, sua mal explicada reeleição - cujos protestos contra foram reprimidos com grande violência - não lhe dá procuração a fazer negócios comerciais com quem quer que seja, ainda mais com um regime que se pretenda democrático como o nosso.

Nenhuma surpresa no caso do governo brasileiro, infelizmente. Afinal, um país que se alia a ditaduras e se recusa a extraditar terroristas corre, no mínimo, um sério risco de cair em forte descrédito. Isso sem falar no caso do presidente deposto de Honduras na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Como eu disse, o grande carisma de Lula pode até ser um trunfo a favor dos iranianos, para que sejam mais bem aceitos na comunidade internacional. O mais provável, porém, é que o Brasil acabe se queimando de vez...

21.11.09

O SUPREMO NEM TÃO SUPREMO ASSIM



Nesta semana, como sabemos, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o terrorista italiano Cesare Battisti deveria ser extraditado - porém, em outra votação, o próprio STF deixou a decisão nas mãos do presidente Lula. Conhecendo o vasto repertório petista em relação a direitos humanos - ou seja, somente os que interessam ao partido, como já demonstrado várias vezes pelo partido depois que assumiu o governo -, não é difícil concluir qual será a decisão presidencial... Se bobear, não só Battisti (culpado em seu país de cometer atentados terroristas na década de 70) fica como ganha status de refugiado político, pelo menos enquanto o PT estiver no poder.

Então, pergunto: de que adianta existir o Poder Judiciário se, no final, a decisão acaba nas mãos do Executivo? De nada adiantou meses de julgamento pelo STF, cujo resultado foi bem apertado pelo simples motivo de que a maior parte dos seus ministros foi nomeada pelo atual presidente da República - portanto, segue direitinho as normas lulopetistas. Seguindo essa tendência por mais tempo, não demorará muito para o Brasil virar uma Venezuela da vida, com uma democracia de fachada que encobre uma protoditadura socialista.

E ainda pode piorar: Mahmoud Ahmadinejad vem aí...

12.11.09

UM DOCUMENTÁRIO QUE VEIO PARA CONFUNDIR. E POR ISSO É BOM


  • Filme: Alô, Alô, Terezinha! (Brasil, 2009)
  • Direção: Nelson Hoineff

O documentário em homenagem a um dos maiores comunicadores que o Brasil conheceu - Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha - é o perfeito espelho de seu homenageado: irreverente, jocoso, brincalhão, politicamente incorreto, chocante para alguns e genial para outros (ou, quem sabe, as duas características juntas!). Ele mostra com perfeição, com o auxílio de imagens de arquivo (alguns deles raramente mostrados na TV) e depoimentos de artistas, calouros, ex-chacretes e assistentes de palco, o espírito do Velho Guerreiro para se comunicar com o público através da televisão.

As partes mais interessantes se referem às próprias chacretes, que povoavam o imaginário masculino enquanto estavam na ativa. Com seus depoimentos coletados separadamente, elas entram em divergência acerca de polêmicas que as cercavam na época e cercam até hoje: afinal, elas se aproveitavam da fama para tirar vantagens em relação ao sexo oposto? Umas diziam que sim, outras negavam. De todo modo, a mistura de opiniões é salutar ao andamento do filme. É curioso constatar que, das ex-chacretes, apenas Rita Cadillac (a mais famosa delas) envelheceu bem, mantendo-se em evidência até hoje. As demais recolheram-se ao ostracismo, seja rememorando os momentos de fama, seja aproveitando a oportunidade para pôr a autoestima em dia - como na cena em que Índia Potira resolve se vestir, digamos, a caráter num chafariz de Paraíba do Sul...

Outro trecho hilário é em relação aos calouros, como o que se diz melhor que Roberto Carlos, dizendo que ele não canta nada - o detalhe é que basta o calouro começar a cantar para que concluamos ser um caso de falta de noção, mesmo. Ou o incrível encontro entre dois calouros gagos, ou de um ex-imitador de Liza Minelli, ou os que passaram pelo programa e tentam até hoje um lugar ao Sol no mundo da fama. Outro destaque é a demonstração das várias versões acerca da origem do mais famoso bordão do Velho Guerreiro, que dá nome ao filme. De todo modo, o documentário mostra como Chacrinha era um apresentador que divulgava o cancioneiro popular, acima de tudo. E que o humor que o programa exalava, infelizmente, não tem espaço nos tempos tão politicamente corretos de hoje.

11.11.09

O BREU É APENAS UMA CONSEQUÊNCIA


O mega-apagão que atingiu grande parte do país na noite de ontem (em algumas localidades, a luz só foi voltar por cerca de três horas da manhã) é, vejam só, apenas uma consequência do imenso jogo de interesses do governo. Não se sabe se realmente foi causado por problemas climáticos em Itaipu, mas o fato é que o Ministério das Minas e Energia mostra-se pouco convincente no caso.

O ministro Edison Lobão, como sabemos desde o ano passado, está ocupando o cargo unicamente para agradar ao PMDB (leia mais aqui), que apoia o governo e busca ser - mais uma vez - o fiel da balança nas eleições presidenciais de 2010. Não é apenas isso: a ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff (que passou por Furnas) havia assegurado que não haveria apagão no país. O mais patético disso tudo é ter que ouvir (mais de populares, embora isso seja corroborado pelo governo) que isso ocorreu devido ao "aquecimento da economia causado pelo aumento do consumo de eletrodomésticos" ou coisa parecida, além do amontoado de informações desencontradas sobre a origem da queda de luz, como problemas em Itaipu ou Furnas ou o desligamento simultâneo de três linhas de transmissão de energia por causa de tempo ruim, o que não foi confirmado até agora. Uma dessas três linhas passa pelo estado de São Paulo - o que dá margem a inúmeras teorias da conspiração, que nem merecem ser consideradas.

Esse foi o terceiro grande blecaute a atingir o Brasil em dez anos, o que nos causa grande preocupação - visto que, além disso, temos graves problemas em aeroportos, e o Brasil sediará as duas mais importantes competições esportivas mundiais na próxima década. Nos dois apagões anteriores, havia a desculpa da falta de água para fazer as hidrelétricas funcionarem. Mas, e agora? Qual será a desculpa: condições pluviométricas ou falta de competência para lidar com situações de alto risco? (Houve figuras que culparam, imaginem, o... azar. Com pessoas assim, quem precisa de inimigos?)

9.11.09

HÁ DUAS DÉCADAS, UM ENTRE VÁRIOS FATOS IMPORTANTES


Hoje faz 20 anos da queda do Muro de Berlim, que separava a cidade alemã entre a parte ocidental (enclave alemão-ocidental fortemente influenciado por Estados Unidos, França e Grã-Bretanha) da oriental (capital alemã-oriental, controlada pela União Soviética). Para os alemães dos dois lados, foi um momento de júbilo depois de 28 anos separados por um bem vigiado paredão de concreto, fazendo com que os berlinenses-orientais não pudessem ir ao outro lado tentar construir a sua vida nem mesmo visitar parentes que lá morassem. Onze meses depois, em outubro de 1990, as Alemanhas se reunificaram, com Berlim como sua capital (Bonn era a capital da antiga Alemanha Ocidental). Mas a queda do Muro foi apenas um capítulo de um fato marcante da Humanidade: a queda do Comunismo.

Naquele 1989, era evidente que o regime socialista iria afundar, devido às pressões populares. Na União Soviética, as políticas de abertura (perestroika, abertura econômica, e glasnost, abertura política) que o líder do Partido Comunista, Mikhail Gorbachov, havia implementado quatro anos antes, davam resultados. Na Polônia, ventos democráticos varriam o país - o que resultaria na eleição do líder do Solidariedade, Lech Walesa, para presidente. O mesmo ocorria na Hungria e na Tchecoslováquia - no final de 1992, este país se separaria, da forma mais pacífica possível, em duas nações distintas (Eslováquia e República Tcheca). Na Romênia, em pleno Natal de 1989, uma insurreição resultaria na deposição e assassinato do ditador Nicolae Ceausescu e da primeira-dama Elena Ceausescu.

Havia algum tempo que o Muro de Berlim era visto como um símbolo de um regime opressor. Era questão de tempo para que os berlinenses resolvessem derrubá-lo - o surpreendente foi que nenhuma gota de sangue precisou ser derramada. Foi um momento importante da Humanidade no século XX, e também um dos vários ingredientes para a consolidação da democracia no continente europeu, depois de tanto tempo de ditaduras de toda espécie.

5.11.09

ROTEIRO? BOBAGEM. A AÇÃO É O QUE IMPORTA


  • Filme: Besouro (Brasil, 2009)
  • Direção: João Daniel Tikhomiroff
  • Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jéssica Barbosa, Flávio Rocha, Irandhir Santos, Macalé, Leno Sacramento, Cris Vianna

O filme de estreia do publicitário João Daniel Tikhomiroff conta a história de um grande mestre de capoeira que luta contra a opressão a seu povo, na Bahia dos anos 1920. Na verdade, ele busca a redenção depois de falhar na proteção a seu mestre, do qual era encarregado. Algo semelhante a enredos de filmes de samurais e demais guerreiros orientais, inclusive nas cenas de ação que pontuam o longa-metragem.

Há um esforço em contar uma história que remeta ao misticismo dos cultos afro-brasileiros e da luta dos negros para obterem respeito dos demais setores da sociedade, nas décadas pós-escravidão. Mas é só vermos alguns minutos do filme para percebermos que o roteiro é o que menos importa - de fato, sim, são as cenas de ação que dão à capoeira um ar de arte marcial o seu ponto alto. Basta que cada um veja o filme como um bom passatempo, pois foi para isso que a produção foi concebida. E tem tudo para fazer sucesso comercial, pois trata-se de um filme de boa qualidade.

31.10.09

SE BOBEAR, CHAVEZ VAI QUERER MUDAR ATÉ A DATA DO NATAL


Que o ridículo de Hugo Chavez não conhece limites, todos já sabíamos. Só que ninguém imaginava que chegaria a tanto.

O presidente venezuelano defendeu nesta semana um terceiro mandato para o brasileiro. Até aí, novidade nenhuma - afinal ele é um notório defensor de reeleições infinitas para a consolidação da "grandiosa revolução bolivariana". Mas Chavez sempre quer mais, só faltando pendurar uma melancia no pescoço. Como isso (ainda) não é possível, desandou a dizer as asneiras de sempre: comparou Lula a Jesus Cristo (o que, segundo Lula, faria um certo sentido, já que não faltam Judas para que ele possa se aliar), e ainda teve a cara de pau de afirmar que a Venezuela é um país com plena liberdade de expressão...

Não demora muito e o bufão de Caracas vai querer mudar até a data do Natal em seu país. Pra quem mexeu em meia hora o fuso horário venezuelano e só faltou chamar o Papai Noel de agente imperialista, é mole.

29.10.09

BEM-VINDO A UM LUGAR ONDE NINGUÉM É BEM-VINDO


  • Filme: Distrito 9 (District 9, África do Sul/Nova Zelândia, 2009)
  • Direção: Neill Blomkamp
  • Elenco: Sharlto Copley, Louis Minnaar, Vanessa Haywood, Mandla Gaduka, David James, Robert Hobbs

Um dos filmes mais surpreendentes do ano, a ficção científica sobre uma colônia extraterrestre que vive nas favelas de Johanesburgo é um pseudodocumentário misturado a um eficiente thriller que prende a atenção do espectador, e o faz refletir sobre como pode haver tantos explorados e exploradores, e sobre como essas características se misturam.

O extinto regime do apartheid é retratado de forma apenas referencial, visto que os ETs não conseguem se esforçar para se integrar à sociedade, mais de 20 anos após chegarem à Terra. Assim, o governo do país busca transferi-los para um local distante, com barracas ao invés dos barracos das favelas - mas muitos desses ETs têm toda uma estrutura que certamente demorariam muito para refazerem em outro local.

A força-tarefa é liderada por alguém que é visto como não muito talentoso - dá a ideia de que ele só está lá por ser genro do chefe. Durante as ações de despejo, esse líder sofre um sério acidente que lhe trará sérias consequências - e revela algo que pode mexer profundamente com as estruturas dessa operação. Com isso, ele desafia tudo e todos para tentar reverter essa situação, mesmo sabendo que dificilmente terá saída, tendo que confiar em quem antes combatia.

24.10.09

SE CORRER, O BICHO PEGA. SE FICAR...



Não bastasse a guerra diária entre traficantes que a Zona Norte do Rio sofre há uma semana, ainda há o escândalo de dois policiais que negaram socorro a uma vítima de assalto no Centro da cidade. Sinceramente, não sei o que será da população do Rio (a dos cidadãos de bem, que pagam seus impostos em dia, e querem o melhor para a cidade em que vivem) tendo que conviver com essas duas parcelas que são uma verdadeira praga na sociedade. Ainda mais com o Rio tendo sete anos para provar que tem dignidade a mostrar ao mundo inteiro.

Depois de ter sido escolhida cidade-sede das Olimpíadas de 2016 (deverá sediar também a final da Copa do Mundo de 2014), a cidade do Rio de Janeiro está tendo uma grande exposição na imprensa mundial, evidentemente. Mais do que a habitual. Por isso, é importante que a população cobre e fiscalize, e o poder público tenha atitude para resolver os crônicos problemas de segurança, a prioridade do momento. Os seguidos desgovernos cariocas e fluminenses nas últimas décadas (em que grassaram o politicamente correto e o afrouxamento no combate à bandidagem) deixaram sequelas, é certo. Mas sociedade e classe política não podem esmorecer, de jeito nenhum.

É imperioso que haja uma política que deixe claro que quaisquer tipos de delito não podem ser tolerados, tanto no âmbito municipal quanto no estadual e federal. E é pra ontem, não pra daqui a cinco ou sete anos. O Rio tem tradição em fazer eventos que deem relativa calma à cidade, voltando à velha rotina depois de seu fim - o que dá a ideia de que haja "acordos" escusos entre políticos e bandidos, o que não pode acontecer de forma alguma.

A violência é um câncer que corrói uma região aos poucos. Causa fuga de investimentos, esvaziamento econômico. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o Rio receberá investimentos como poucas vezes recebeu em sua história, pelo menos nos seus últimos 50 anos. Cabe aos governantes cariocas aproveitar essa grande oportunidade para pensar a cidade e investir nas obras que forem necessárias - não somente na parte estética como as instalações esportivas, mas principalmente em necessidades básicas como educação, saúde e segurança. O que passa (ao menos nessa última) pelo controle das divisas estaduais, pela reeducação da polícia e pelo ostensivo combate àqueles que desafiam a lei - não importa de que lado estejam.

21.10.09

DUAS VIDAS, UM SÓ SENTIMENTO


  • Filme: Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, Alemanha/Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Quentin Tarantino
  • Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl, Til Schweiger

O mais novo longa-metragem de Quentin Tarantino é coerente com a trajetória do cineasta: usa o exagero na violência a serviço do roteiro, para contar determinada história, fazendo-o com maestria. Desta vez, o enredo é um plano de vingança contra os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante a ocupação alemã na França, em pleno interior do país, uma jovem judia tem a família assassinada por soldados nazistas em um porão, mas consegue escapar, sendo a única sobrevivente. Anos depois, vivendo com outro nome, é dona de uma pequena sala de cinema nos subúrbios de Paris. Enquanto isso, um tenente norte-americano lidera um grupo de soldados, também judeus, com o intuito de transformar a vida dos soldados de Hitler num verdadeiro inferno, combatendo-os da maneira mais sádica possível. Duas vidas diferentes, um só sentimento: a vingança.

O único momento em que essas duas vidas chegam a se cruzar (embora nem tanto) é quando a pré-estreia de um filme de propaganda sobre um soldado alemão que tornou-se herói de guerra é marcada para o referido cinema. Então, um plano ousado é elaborado pelas duas partes, sem que uma tome conhecimento ou sequer desconfie da existência da outra: o de matar toda a cúpula do nazismo (incluindo o próprio Hitler), que compareceria em peso ao cinema.

Evidentemente, esse plano jamais existiu na vida real - isso fica bem claro à medida que a produção chega a seu desfecho. Mas o que vale é que, por mais pesado que seja o tema e a forma com que ele é desenvolvido, o espectador sai do cinema com a alma lavada por causa do excelente roteiro e das interpretações convincentes. Em suma: um filmaço. Basta ter estômago forte e imaginação que alce infinitos voos.

20.10.09

A TERCEIRA DÉCADA QUE SE ENCERRA

Peço desculpas se parece um culto à personalidade esta foto de um bolo no momento em que comemoro 30 anos de idade. Não sou de fazer auto-homenagens. Mas o fato é que não se faz 30 anos todo dia.

16.10.09

TUDO O QUE UMA MÃE PODE FAZER


  • Filme: Salve Geral (Brasil, 2009)
  • Direção: Sérgio Rezende
  • Elenco: Andréa Beltrão, Denise Weinberg, Lee Thalor, Michel Gomes, Kiko Mascarenhas, Bruno Perillo, Júlio César, Taiguara Nazareth, Chris Couto

O filme de Sérgio Rezende, indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira em 2010, é um thriller de certa forma eficiente, que prende a atenção do espectador. Ele conta a história, acima de tudo, de uma mãe que faz de tudo (de tudo, mesmo) para ver o filho livre de uma tremenda enrascada, causada por uma megarrebelião que parou a maior cidade do país há três anos.

Uma professora de piano recém-viúva tem sua vida virada de cabeça para baixo ao ver seu único filho preso por ter cometido um homicídio. No afã de vê-lo livre, envolve-se com a advogada de bandidos membros da maior quadrilha de presídios do estado - ela, inclusive, torna-se uma grande amiga, até que isso não seja necessário. No final de semana do Dia das Mães, em maio de 2006, os presos são orquestrados a praticarem rebeliões nos presídios e atos de violência contra policiais nas ruas paulistas, em represália a transferências de seus líderes para prisões de segurança máxima. Por coincidência, o filho da professora tinha sido indultado naquele final de semana e acaba cooptado pelos bandidos a participar das ações. Cabe à protagonista tentar impedir uma tragédia.

Sabem qual foi a sensação que tive ao assistir a esse filme? A mesma de quando eu vi Última Parada 174: a de que fizeram um barulhão por pouca coisa. O que teve de gente acusando o filme de proteger a bandidagem não estava no gibi. Mas o fato é que depende de quem entendê-lo: a quadrilha que tomava conta dos presídios pretendia fazer um barulho ainda maior do que fez. Há certa dose de exagero em suas reivindicações e aspirações, lembrando regimes totalitaristas há muito enterrados. É fato que há corrupção na polícia, e também muita ingenuidade em vários comandantes, além de lutas entre bandidos em disputas de poder. Tudo isso é retratado no filme, o que em nada difere da vida real. Apesar de ser, em vários aspectos, ficção. Que virou clichê no cinema nacional, por sinal.

15.10.09

BREVE AUSÊNCIA

Pra os que me leem constantemente, peço desculpa pela falta de atualização. É que ando sem Internet em casa, o que só deverei ter na semana que vem. Escrevo daqui do trabalho mesmo. Amanhã (espero), volto a atualizar, se tiver tempo. Com direito a texto especial na próxima terça-feira. A quem interessar possa, obrigado pela compreensão.

9.10.09

NASCEU, CRESCEU, GANHOU UM NOBEL


Foi anunciado hoje que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços contra o desarmamento. Que esforços foram esses, devo confessar que não faço a menor ideia. A impressão que me dá sobre esse fato é de que Obama só ganhou essa honraria pelo fato de... existir. Afinal, em nove meses de governo ele pouco fez de concreto para merecê-la.

Senão, vejamos: ele foi eleito no ano passado prometendo tirar gradativamente as tropas do Iraque e do Afeganistão, por exemplo. Mas elas só fazem aumentar de tamanho desde janeiro, ao passo que recresce a violência dos ataques terroristas dos talibãs em terras afegãs. Além disso, o país demora mais para se recuperar da crise financeira que o resto do mundo. E ainda tem a polêmica da saúde pública.

Nem os cidadãos norte-americanos parecem se convencer tanto do carisma presidencial, tanto que seus índices de aprovação despencaram. Até mesmo os membros do Comitê Olímpico Internacional deixaram de se convencer de seu, digamos, alto poder de magnetismo - vide o fiasco da candidatura de Chicago, seu grande reduto eleitoral, para sediar as Olimpíadas de 2016. Mas o resto do planeta parece ainda hipnotizado pela Obamania. Tanto que veio o inesperado Nobel da Paz, resultado mais do oba-oba planetário em torno do seu nome do que por qualquer outra coisa.

Cabe a seguinte pergunta: se Obama não fosse de origem negra ou não tivesse sucedido Bush, será que ele teria ganho o Prêmio Nobel da Paz menos de um ano depois de sentar na cadeira da Sala Oval da Casa Branca? Minha resposta: nem por um milagre. Obama ganhou mais pelo nome construído enquanto ainda não era presidente do que fez (que iria fazer) depois que assumiu o poder. Talvez o comitê do Prêmio Nobel esteja com vontade de "democratizar" ainda mais o negócio. Se bem que, depois que o líder terrorista palestino Yasser Arafat ganhou o mesmo prêmio em 1994, passei a não duvidar de mais nada.

A CONSTRUÇÃO DE UM MITO


  • Filme: Coco Antes de Chanel (Coco Avant Chanel, França, 2009)
  • Direção: Anne Fontaine
  • Elenco: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde, Alessandro Nivola, Marie Gillain, Emmanuelle Devos

O filme conta a história da vida de Gabrielle "Coco" Chanel, uma das maiores estilistas de todos os tempos - mas de uma maneira diferente da habitual. Mostra da origem de seu apelido (por meio de uma tradicional canção francesa) às origens de seu estilo de moda, começando pelos chapéus e continuando com a alta costura.

Além o talento natural, Chanel contou com o auxílio de um comerciante de tecidos (em cuja mansão morou durante muito tempo) e de um milionário inglês (que foi o grande amor de sua vida, com quem nunca pôde se casar; essa decepção foi decisiva, por paradoxal que seja, para que sua carreira deslanchasse). É uma pequena joia do cinema francês a nós revelado pelo Festival do Rio, que se encerrou nesta quinta-feira.

8.10.09

O TERCEIRO E O QUARTO GRANDES PROBLEMAS



Com as cenas de vandalismo ocorridas ontem nos trilhos da estação de trens da cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, evidencia-se que o transporte deficiente e a falta de segurança são apenas dois dos problemas que os políticos e a sociedade terão que solucionar até as Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. Além desses dois grandes problemas, há pelo menos outros dois tão graves quanto: a falta de educação e civilidade da população, e a passividade daqueles que esperam que as coisas irão funcionar naturalmente, sem que nada seja feito.

Onze pessoas ficaram feridas e dois vagões foram incendiados pelos vândalos, que protestavam contra a paralisação de um dos trens, devido a problemas operacionais, e o não-reembolso do preço da passagem. Mesmo com os inúmeros defeitos da administração da SuperVia, nada justifica o vandalismo dos passageiros, destruindo bens públicos. O pior é que isso é o de menos: em todo o país, salvo raras exceções, a regra é burlar as leis e desobedecer a regras mais simples de convivência, em alguns momentos beirando a pura e simples selvageria. Isso passa por pichações, destruição de monumentos, agressões físicas, desacato e outras transgressões que muitos parecem fazer questão de cometer.

Muitos dizem que é por falha das autoridades, que não fazem sua parte. Isso passa pelo nosso outro grande problema: a acomodação e passividade da população, que espera que o peixe venha a suas mãos ao invés de aprender a pescar. A falta de fiscalização dos cidadãos faz com que os que ora têm o poder sintam-se à vontade para cometer toda sorte de delitos. O superfaturamento da construção das instalações esportivas do Pan de 2007 é um bom exemplo disso. Espero que este fato tenha sido uma lição a ser seguida pela sociedade, para que ela fiscalize detalhadamente os gastos da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Muitos começam a fazer sua parte, prometendo ficar de olho durante os próximos sete anos. Que isso seja a regra, daqui em diante, muito além desse período de tempo.

3.10.09

AGORA, É TRABALHAR. E COBRAR


Numa decisão histórica do Comitê Olímpico Internacional, o Rio de Janeiro foi eleito a cidade-sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, sendo a primeira cidade sul-americana a receber a maior festa do esporte mundial. Uma grande festa na Praia de Copacabana marcou a alegria dos cariocas com o acontecimento.

O momento é de festa. Mas é chegada a hora de arregaçar as mangas e começar a trabalhar, para que o maior evento esportivo do planeta corresponda às expectativas que merece. Não só na construção dos locais de provas, mas na transparência que isso exige. Como se sabe, há muita gente mal-intencionada que quer se dar bem com os Jogos Olímpicos, de forma nada honrosa. Basta lembrar dos Jogos Pan-Americanos de 2007, em que houve atrasos e superfaturamento, e ainda não houve fechamento das contas. Como contribuintes, temos que ficar de olho no que fazem com o dinheiro público.

Não devemos prestar atenção só no que ocorre fora das quadras e dos campos, mas dentro desses locais. O desempenho dos nossos atletas é parte integrante de uma Olimpíada digna. Isso deve ocorrer já nos preparativos para os Jogos de Londres, em 2012. É importante mostrarmos a nossa força para exibir o cartão de visitas quatro anos antes de receber os Jogos, preparando-se da melhor maneira possível e, acima de tudo, ter foco e calma na hora da decisão. Depois de 2016, usar ao máximo a estrutura deixada para que o Brasil receba eventos e revele talentos esportivos, contrariando o ocorrido pós-Pan.

Mas a infraestrutura é vital para uma Olimpíada inesquecível. É importante cobrarmos os nossos políticos para que tudo o que foi prometido no que se refere a educação, saúde, transportes etc. seja cumprido à risca. Grande parte das promessas do Pan não saiu do papel. O fato de o Rio sediar as duas maiores competições esportivas do planeta (a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016) nos próximos sete anos é uma chance de ouro para os cariocas recuperarem a sua autoestima, que andava tão machucada nas últimas décadas. Segue a dica anteriormente dada neste texto: cobrar muito os nossos políticos, já que fomos nós que os colocamos no poder. Isso vale por muito mais do que sete anos, vale para sempre: sejamos chatos. Muito chatos.

(Texto publicado originalmente no Olimpismo)

30.9.09

O AMOR DÓI



  • Filme: 500 Dias com Ela ((500) Days of Summer, Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Marc Webb
  • Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Geoffrey Arend, Chloe Moretz, Matthew Gray Gubler

A comédia romântica independente, sensação do Festival do Rio deste ano e que estreará comercialmente nos cinemas brasileiros em novembro, é um excelente cartão de visitas para o diretor estreante em longas Marc Webb. Afinal, sua história é facilmente identificável por todos aqueles que já amaram alguém, sofreram desilusões amorosas, ou que ainda têm esperanças em viver uma grande paixão nessa vida.

Ele acredita no amor e se apaixona por ela. Ela não acredita no amor, e não corresponde a essa paixão. Mesmo assim, vivem mais de um ano de forma intensa, mostrada em ordem aleatória ao longo do filme, de forma que encanto e frustração se alternem para que o espectador tenha a ideia do que o amor pode proporcionar - isso é auxiliado, principalmente, pela fotografia e pela trilha sonora. Assim, temos a oportunidade de nos colocar no lugar dessas pessoas, não importando se somos românticos ou não.

29.9.09

O PAÍS QUE NÃO TEM PARTIDOS PARA A MAIORIA

Uma mensagem no Twitter me chamou a atenção: "O brasileiro, felizmente, é conservador". O texto que estava anexo confirma essa tendência ao conservadorismo que está na média da população brasileira: contra o aborto, contra a liberalização das drogas, contra o casamento entre homossexuais, a favor da redução da maioridade penal... Esse texto se baseou em outro que lamentava essa tendência seguida por grande parte da população brasileira. Esse tipo de debate informal me fez lembrar de algo que anda oculto, mas mostra bem o nível da política brasileira pós-redemocratização: o "antidireitismo" do movimento partidário brasileiro.

Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), há uma certa "satanização" do conservadorismo no Brasil. Isso se reflete nas eleições presidenciais diretas desde então, em que apenas a primeira (a de 1989) contou com a participação de candidatos de direita com chance de vencer. Recentemente, o presidente Lula causou polêmica ao declarar que o pleito de 2010 seria o primeiro sem o que ele chama "trogloditas de direita" (sic), ignorando que a variedade de correntes ideológicas é apenas benéfica para a democracia.

Há dois anos, inspirado por este texto do Serjão (que, por sinal, anda meio sumido), escrevi o que considero uma espécie de "monopólio esquerdista da moral", em que todo e qualquer ato que não seja perpetrado por movimentos "progressistas" é visto como reacionário, enquanto ditaduras comunistas são endeusadas até hoje, e onde prevalecem as máximas dos fins que justificam os meios e dos inimigos dos inimigos que, automaticamente, se tornam amigos e aliados. Curiosamente, o Brasil parece ser o único país da civilização ocidental* em que não estar à esquerda parece ser um crime digno de ser perseguido por toda a vida - o que nos faz voltar à questão do movimento partidário.

Os poucos partidos vistos como direitistas, hoje, ora são insignificantes a ponto de sumirem, ora são arremedos do que chegaram um dia a ser (o PFL, por exemplo, mudou seu nome para DEM em 2006 e, desde então, só faz diminuir de tamanho; já o PP faz parte da base de apoio ao governo Lula). A falta de opções conservadoras no Brasil é tão gritante que o PSDB (partido de centro-esquerda baseado nos movimentos social-democratas europeus) é tratado por esquerdistas como um partido de... direita! Mais recentemente, isso ocorreu com o PPS e o PV, principalmente depois da aliança com os tucanos e, no caso específico dos verdes, da entrada da senadora Marina Silva (AC), saída do PT.

Isto posto, o que falta na política brasileira? Um partido que atenda às necessidades da maioria dos eleitores. Um partido que proponha uma maior valorização da nossa democracia. Que não se dobre a quaisquer imposições de quem quer que seja, venha de quem vier. Que dê o seguinte recado para aqueles que querem bagunçar o que já não está arrumado em nosso país: há limites que têm que ser respeitados, e leis que precisam ser cumpridas. Enfim: um partido conservador de verdade.

* Bolívia, Cuba e Venezuela não contam, evidentemente.

24.9.09

ESSA CORREÇÃO POLÍTICA AINDA VAI ACABAR COMIGO



Vocês devem ter visto o comercial das sandálias Havaianas, em que uma vovó animadinha sugere à neta se envolver sem compromisso com um artista de TV, sem precisar se casar com isso. Um comercial engraçado e divertido, na minha opinião. Mostra que os idosos têm o direito de curtir a vida da melhor forma possível. Mas teve gente que não gostou, reclamou, esperneou, ameaçou tirar o comercial do ar. Os publicitários o fizeram, mantendo-o na Internet e ainda fazendo piada com isso.

Assim, desenvolveu-se mais um capítulo da praga do politicamente correto na mídia brasileira. Algo que vinha se espalhando pelo mundo desde a década passada, mas vem se acentuando ainda mais. Isso passa, por exemplo, pela famigerada classificação indicativa por idade, um verdadeiro atraso para quem sabe distinguir o certo do errado. Tem gente que pensa que espectador brasileiro não tem senso crítico nem pensa por si próprio, acreditando em qualquer coisa que passa na televisão, no cinema ou numa peça teatral. Alguns não sabem, mas basta que esse senso crítico que lhes falta seja desenvolvido através da educação e da experiência de vida.

Ultimamente não se pode fazer piada com nada, que tem gente que se sente ofendida com isso. O caso do comercial de sandálias é bem emblemático. Mas outros comerciais e programas de TV brincam com determinadas minorias e pessoal acha que é preconceito. Assim, o mundo vai se tornando chato e cheio de não-me-toques. Essa correção política toda ainda vai acabar mal.

22.9.09

MAIS UM CAPÍTULO DA SÉRIE "OS MICOS DO ITAMARATY"



No meio do ano, o então presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto do poder por querer mudar a Constituição do país, para que pudesse concorrer a um novo mandato presidencial, contrariando as leis locais. Na época, escrevi que mesmo medidas antipáticas poderiam ser necessárias para garantir a democracia, desde que ela fosse respeitada, para que não se repetisse o que ocorreu no Brasil em 1964, por exemplo.

Pois bem: o ex-presidente hondurenho é um notório aliado do bloco liderado pelo venezuelano Hugo Chavez, e que conta com o apoio de Lula. E este, através do governo brasileiro, anda abusando do direito de se intrometer em assuntos internos de outro país. Nesta semana, Zelaya se refugiou (o governo do Brasil não usa a palavra "refugiar", por considerar que Zelaya ainda é o presidente de Honduras) na embaixada brasileira em Tegucigalpa. O atual governo, pressionando os brasileiros, cortou água e luz da embaixada, cercando-a para que Zelaya seja entregue.

Independentemente de os lados da questão estarem certos ou errados, o fato é que o caso é mais um desastre na política interna brasileira desde que Lula assumiu a Presidência da República. Nem é preciso enumerar o número de derrapadas diplomáticas de origem ideológica que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, cometeu, fracassando redondamente em todas elas (a mais recente foi na eleição para a secretaria-geral da Unesco, em que, de olho nas relações com o mundo árabe, apoiou o polêmico egípcio Farouk Hosni, de tendências antissemitas, em detrimento de dois brasileiros que eram fortes candidatos ao cargo - a vencedora foi a búlgara Irina Bokova), assim como é desnecessário ressaltar o quanto o Brasil, embarcado num pretenso antiamericanismo, colocou-se na rabeira da ordem mundial, apoiando ditaduras (quase todas de esquerda, antiamericanas ou antissemitas) e condenando democracias.

Quase um quarto de século depois da volta de um regime democrático ao Brasil (fará 25 anos em 15 de março de 2010, com o fim do regime militar), esse mesmo regime está seriamente ameaçado. Pior: por muitas das vítimas da própria ditadura. Existe o sério risco de não haver a menor possibilidade de escapar desse trágico destino.

17.9.09

ENQUANTO ISSO, OS TROGLODITAS DE ESQUERDA...



Segue impressionante a capacidade que o presidente Lula tem de dizer as coisas mais infelizes nos momentos mais impróprios. Foi o que aconteceu, mais uma vez, ontem.

O presidente disse que, nas eleições de 2010, pela primeira vez, não haveria "trogloditas de direita" (sic) se candidatando à presidência da República - baseado no fato de grande parte dos pré-candidatos, até agora, serem majoritariamente filoesquerdistas (Dilma Rousseff, Marina Silva, José Serra, Ciro Gomes, Heloísa Helena etc.). Essa colossal bobagem presidencial é facilmente derrubada em dois argumentos claros.

O primeiro: há um bom tempo, não há candidatos claramente de direita com chances de chegar à presidência. Desde 1989, para ser mais claro, quando Fernando Collor (PRN) foi eleito. De lá pra cá, as eleições foram disputadas muito mais por candidatos de esquerda ou social-democratas: Fernando Henrique Cardoso, Serra e Geraldo Alckmin (todos do PSDB), o próprio Lula (PT), Ciro Gomes (PPS, em 1998 e 2002), Anthony Garotinho (PSB, em 2002)... Isso sem contar os candidatos de partidos esquerdistas de pouca ou nenhuma relevância, como PSOL, PSTU ou PCO, que só aparecem por causa do barulho que fazem durante as campanhas - sem dar resultado eleitoral algum, contudo.

O segundo, e mais importante: mui convenientemente, Lula fala dos tais "trogloditas de direita", esquecendo-se (ou não...) dos de esquerda. Ninguém pode negar: eles sabem fazer propaganda como poucos. Ainda por cima, prosseguem no seu intento de se perpetuar no poder, contando com a passividade da população. Não duvido nada de que isso aconteça - e aí, sim, vai ter gente morrendo de saudade dos tais "trogloditas de direita".

16.9.09

UM GIRO DE 360 GRAUS



Quando foi eleito presidente dos Estados Unidos, há cerca de dez meses, Barack Obama carregava as esperanças do mundo inteiro (que parecia ignorar o fato de ele ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, não super-herói do planeta) de que, enfim, as guerras se acabariam e a economia, enfim, voltaria a entrar nos eixos. Passados quase oito meses de sua posse, porém, o que se vê é apenas a confirmação de que o cargo de líder da maior potência da Terra é altamente imutável - a série de obrigações dada a um chefe de Estado e Governo não muda de uma hora para outra.

A demora para se recuperar da maior crise econômica em oito décadas, maior que a média dos outros países (até o Brasil, aos poucos, começa a se recuperar da "marolinha" tsunâmica), acaba sendo o de menos quando constatamos o atoleiro em que as tropas norte-americanas se meteram no Iraque e no Afeganistão. Neste último, então, as coisas ficaram bem complicadas: o recrescimento da milícia Talibã e as tumultuadas eleições presidenciais no país (em que o presidente Hamid Karzai enfrenta acusações de fraude para se reeleger) são grandes problemas que Obama e sua equipe têm que enfrentar. Porém, sempre pode piorar: é previsto o envio de mais tropas ao país, o que causa uma grande polêmica entre os próprios democratas, por contrariar uma promessa de campanha do atual presidente. Todo esse estado de coisas provoca uma enorme queda de popularidade de Obama, maior até mesmo que a sofrida por George W. Bush nos primeiros meses de seus dois mandatos, em 2001 e 2005.

Enfim, conclui-se algo que já se sabia há muito tempo, mas não custa nada lembrar: não existem salvadores da pátria. Mas a Humanidade parece fazer sempre questão de se esquecer deste pequeno detalhe, sempre se decepcionando com quem sempre se espera uma atitude rápida e redentora.

10.9.09

E AGORA, HEIN?


Há alguns dias, o terror vem dominando a cidade de Salvador, com ataques de grupos criminosos - em represália à transferência de um dos chefões do crime soteropolitano para um presídio no Mato Grosso do Sul. De todo modo, não deixa de ser significativo para um estado como a Bahia, que vê seus índices de violência aumentarem a cada mês, que de nada adiantou se alinhar com o governo federal no tocante à segurança de seus habitantes.

Isso tudo três anos depois de ataques criminosos pelo estado de São Paulo - época da transição do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que renunciava para concorrer à presidência da República, para o vice Cláudio Lembo (PFL, hoje DEM). Na época, muitos atribuíam à "política tucana para a segurança" a onda de violência; outros, a uma "coligação PT-PCC" para que a campanha tucana fosse prejudicada. Nenhuma das duas ilações adiantou muito: o tucano José Serra foi eleito governador no primeiro turno e Lula foi reeleito presidente. Enfim, houve em São Paulo, naquele 2006, uma balbúrdia que foi maléfica à população paulista e evidenciou nossa impotência frente à bandidagem.

Só quero ver o que vão dizer agora. Pode ser que seja resultado de má política de segurança do governador baiano (o petista Jaques Wagner) ou apenas "uma fase ruim". Mas o fato é que Wagner - também eleito governador no primeiro turno - tem um pepinaço nas mãos. E isso poucos meses depois de enfrentar a maior epidemia de dengue do país no ano. O pior, para os baianos, é constatarem que estão entre o petismo e o carlismo, herança política do falecido coronel político Antônio Carlos Magalhães. Assim, fica difícil achar uma saída.

6.9.09

ALFREEEEEEEEEDOOOOO!!!!!!!



Como estamos todos carecas de saber, há cinquenta anos Cuba vive uma ditadura. Como ocorre em toda e qualquer ditadura, há cerceamento das liberdades, partido e pensamento únicos, brigas externas e falta de suprimentos. Entre eles, está o papel higiênico, cuja ausência anda crônica na ilha caribenha.

Ah, sim: um único jornal circula em Cuba, o Granma - órgão oficial do Partido Comunista Cubano. Ninguém mais anda lendo o que o ex-ditador Fidel Castro anda dizendo por esses dias, mesmo porque há pouquíssimos interessados nisso hoje. Mas, estranhamente, as vendas de edições atuais, recentes e antigas do Granma andam aumentando entre os cubanos. Leitores vorazes de última hora? Colecionadores excêntricos? Nada disso! É só voltar ao assunto que fechou o primeiro parágrafo.

Além do Granma, anda fazendo sucesso entre os cubanos o mais novo lançamento literário do ex-ditador - afinal, suas folhas são macias e não provocam muita dor durante o seu uso. Enfim, acharam uma utilidade plausível para tão doces palavras escritas em prol de "um novo mundo possível" - seja lá o que isso for.

3.9.09

BRASIL, O PAÍS DO RETROCESSO


Nesta semana, o Brasil se afastou ainda mais da democracia e da modernidade ao impor que, nas eleições do ano que vem, portais, sites noticiosos e blogs (mesmo os amadores!) sejam proibidos de emitir opiniões acerca de quaisquer candidatos, não importando se favoráveis ou não. É um verdadeiro tiro no pé, visto que os blogueiros insatisfeitos (a grande maioria) irão burlar essa regra, de uma forma ou de outra. Ou simplesmente desobedecê-la, como propôs o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).

Agora, a minha opinião: a nossa Lei Eleitoral é uma das mais ridículas do planeta. Por causa dela, os jornais, rádios e emissoras de TV não podem emitir opiniões sobre os candidatos nem têm direito a declarar apoio a um deles, como ocorre em países democráticos. Isso é inaceitável em algo que se pretenda ser uma democracia, como é o Brasil. Talvez isso se deva às eleições presidenciais de 1989, mas mesmo assim não justifica. Com esse tipo de proibição, fica parecendo que os brasileiros não temos capacidade de pensar por nós mesmos e temos que recorrer a isso para que nossas eleições sejam vistas como "isentas", sem que haja a possibilidade de maior debate sobre os candidatos.

Porém, não sou radical a ponto de boicotar a decisão, apesar de discordar frontalmente dela. Prefiro a via mais difícil: uma união dos que prezam a democracia e o estado de direito para que essa ridícula decisão seja revertida. Assim, a vitória será bem mais saborosa.

30.8.09

MANDANDO A CORREÇÃO POLÍTICA PRO ESPAÇO


  • Filme: Se Beber, Não Case! (The Hangover, Estados Unidos, 2009)
  • Direção: Todd Phillips
  • Elenco: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Heather Graham, Sasha Barrese, Jeffrey Tambor, Ken Jeong, Rachael Harris, Mike Tyson

A comédia de Todd Phillips (o mesmo diretor da série Anos Incríveis, sucesso nos anos 90) é um grande sucesso, mesmo sem contar com atores muito conhecidos no seu elenco. Custou cerca de 35 milhões de dólares (uma ninharia), e faturou cerca de dez vezes mais. Não por acaso: o filme ajuda a preencher uma lacuna de que muitos se ressentiam, a de filmes de humor adulto que fazem rir sem apelar para a pura escatologia, além de mandar o pensamento politicamente correto para o espaço.

Um grupo de quatro amigos sai da Califórnia para passar uma noite em Las Vegas, visando a comemoração do casamento de um deles. Só que a despedida de solteiro foi, digamos, mais "animada" que o normal: após acordarem de uma ressaca braba causada por excesso de bebida e uso de algumas substâncias ilícitas, eles constatam que a sua vida revirou completamente. Não bastasse um deles estar desaparecido (justamente o noivo, na véspera do próprio casamento!), eles se envolvem numa trama que envolve um bebê, um dente extraído sem anestesia, um outro casamento feito às pressas e de porre, a máfia chinesa e o tigre de estimação do ex-pugilista Mike Tyson (!!!).

O andamento do filme leva o espectador a montar o quebra-cabeça que envolve os viajantes, à medida que o roteiro avança. A produção é bem dinâmica, fazendo acreditar que os fatos relatados, apesar de absurdos, poderiam perfeitamente acontecer de verdade. O sucesso foi tamanho que uma continuação já está a caminho. Esperemos que seja tão bom (e engraçado) quanto o original.

27.8.09

QUE SIRVA DE LIÇÃO



Uma tremenda confusão tumultuou o já caótico trânsito de São Paulo hoje. O Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) foi acionado para deter uma suspeita de bomba sobre uma ponte na capital paulista. Era uma suposta granada, que estava sem o pino e poderia explodir a qualquer momento. Após muita tensão, constatou-se que era... um frasco vazio de perfume, em formato de granada. E olha que o Brasil ainda não sofreu nenhum atentado terrorista de grandes proporções; senão, a paranoia seria ainda maior.

Lição do dia: lugar de lixo é na lata de lixo. Não jogue nada na rua, ou as consequências podem ser imprevisíveis.

AH, SE OUTRO ESTIVESSE NO PODER!



Como todos sabemos, o Brasil acaba de assumir a liderança no número absoluto de mortes pela gripe suína (557 até ontem, ultrapassando os Estados Unidos, com 522). Ainda que o número seja proporcionalmente menor que em países como a Argentina, por exemplo, não deixa de ser alarmante a consequência da falta de informação sobre o assunto. Como sempre ocorre em fatos como esse, o Ministério da Saúde parece perdido em informar a população sobre os riscos desse tipo de epidemia; algo semelhante ocorreu em 2002, com a dengue.

Falando nisso, fico imaginando como seria a gritaria do "progressismo" se o presidente da República fosse, por exemplo, Geraldo Alckmin. Em 2002, na época da epidemia nacional de dengue, o presidente era Fernando Henrique Cardoso e seu ministro da Saúde, José Serra (que seria o candidato do governo à Presidência naquele mesmo ano). A então oposição meteu o pau no governo, acusando-o de omissão (algo parecido aconteceria seis anos depois, como podem ler aqui). Lula foi eleito e reeleito, e não se tocou mais no assunto - tanto que a gripe suína chegou com força neste 2009 e o governo não está sendo tão atingido como poderia. Talvez seja por causa da passividade da oposição atual...

De todo modo, imaginemos o seguinte: se Geraldo Alckmin tivesse sido eleito em 2006 e a H1N1 chegasse durante seu mandato, teríamos um chororô nunca antes visto neste país. "Viram só? A direita (sic) não sabe cuidar do povo!" "Bem feito! Se o Lula tivesse sido reeleito, nada disso teria acontecido!" Daí, Alckmin seria chamado de presigripe pra baixo (assim como Serra foi chamado de presidengue em 2002) e teríamos protestos "Fora Alckmin" pipocando Brasil afora.

Mas como Lula é o presidente e o ministro da Saúde se chama José Gomes Temporão, nada acontece. Marasmo total. Repararam a diferença de tratamento entre os que estão dentro e os que estão fora, assim como ocorre quando o contrário acontece? Pois é.

24.8.09

55 ANOS. E DAÍ?



Hoje, faz 55 anos que o então presidente da República, Getúlio Vargas, se suicidou no Palácio do Catete - ou, como ele escreveu na sua carta-testamento, saiu "da vida para entrar na História". De fato, entrou - pela porta dos fundos. Caso único na política brasileira - o de ex-ditador que volta ao poder pelo voto direto, o que dá uma mostra de quanto nós, os brasileiros, somos como eleitores -, Vargas é endeusado até hoje pelos ditos "progressistas", ignorando os crimes cometidos pelo Estado Novo (mero pretexto para, supostamente, evitar um golpe comunista que, mais tarde, acabaria se revelando uma farsa).

O pior é que, como todo político "progressista" que se preze aqui no Brasil, deixou um monte de herdeiros políticos. Que, por sua vez, deixaram seus próprios herdeiros, que se reproduzem como coelhos. Aqui no Rio, então, é uma tristeza: o que tem de neto e bisneto político do Getúlio não é brincadeira. Será que é por isso que a cidade está tão mal? Perguntinha capciosa, essa.

23.8.09

SIM, O TERRORISMO COMPENSA


É notícia velha, mas não poderia deixar de expressar meu descontentamento com a libertação "por razões humanitárias" do terrorista líbio Abdelbeset al-Megrahi, que causou a explosão de um avião da PanAm sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em 1988. Por mais que ele esteja sofrendo de câncer de próstata em estado terminal, nada justifica esse tipo de compaixão das autoridades escocesas - qualidade que o terrorista não demonstrou ao ceifar a vida de 270 pessoas.

Há suspeitas - levantadas pelo filho do ditador líbio Muammar Kadafi - de que a libertação do terrorista teria sido parte de um acordo comercial entre a Líbia e o Reino Unido, o que é rechaçado pelos britânicos. Sinceramente, não duvido nada de que seja verdade. Sessenta anos depois de ser uma dos líderes da resistência ao nazismo, a Grã-Bretanha cada vez mais parece demonstrar simpatia pelo terrorismo, ou pelo menos passividade diante do crescimento desses tipos de ação. Talvez reflexo da cada vez mais crescente população muçulmana no país, assim como de sua influência - tanto que a grande parte da aprovação ao indulto partiu da Justiça e dos familiares das vítimas britânicas, enquanto os parentes das vítimas norte-americanas (a maior parte dos mortos) protestaram com veemência.

O mais revoltante disso tudo foi ver a recepção de herói que o terrorista recebeu no aeroporto de Trípoli. Isso acabando dando a ideia de que a grande maioria dos cidadãos dos países de maioria muçulmana apoia matanças de civis em nome de Deus, por mais que tentem provar o contrário. Ou talvez não, vai saber. O choque de civilizações parece cada vez mais iminente.

Sarney? Mercadante? Passo e voto nulo.

19.8.09

UMA ELEIÇÃO IMPREVISÍVEL E UMA CONSTATAÇÃO NEM TANTO



Bem que poderia haver um forte candidato de tendência mais conservadora que a média, coisa que anda faltando aqui no Brasil. Mesmo assim, pode-se dizer que as eleições presidenciais de 2010 serão as mais imprevisíveis dos últimos tempos.

Até poucos dias atrás, havia quase um consenso de que a eleição seria polarizada entre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Mas o anúncio da saída da senadora acreana Marina Silva do PT e suas negociações para que possa se candidatar ao cargo pelo PV mudaram o jogo. Analistas afirmam que a senadora tem condições de, pelo menos, tirar votos da provável candidata petista. Muitos apostam que a candidatura de Marina repetirá, em níveis nacionais, o fenômeno do também verde Fernando Gabeira na eleição para prefeito do Rio, no ano passado - pelo menos entre os eleitores jovens.

Mas, se Marina quiser mesmo se eleger, terá que se cuidar. Não só ela, mas todos e quaisquer adversários do PT no ano que vem. Os petistas, como percebemos, não estão nem um pouco dispostos a largar o osso. Certamente farão de tudo para ver sua candidata eleita, nem que para isso tenham que fazer uso de terrorismo eleitoral e das alianças mais espúrias possíveis. Uma mostra disso se deu nesta quarta-feira no Senado, praticamente obrigando seus senadores a apoiar José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética. Os paulistas Aloísio Mercadante e Eduardo Suplicy se sentiram bem contrariados, e o paranaense Flávio Arns anunciou que irá deixar o partido em protesto contra o que considera uma traição do PT aos próprios ideais de ética e transparência que, sabe-se agora, demonstrou nunca ter...

Ou seja, o PT mostra definitivamente que, pelo poder, vale tudo. Até apoiar Sarney e ficar de braços dados com Collor. Que este tenha sido o começo do fim.

17.8.09

BOA IDEIA! POSSO LEVAR MEU PAPEL HIGIÊNICO?




Notícia do G1:

Por US$ 19, hóspedes de resort de luxo aceitam ficar sem cama e papel higiênico

À primeira vista, achei totalmente descabida a ideia. Lendo a notícia, porém, vi que é algo que pode até funcionar. Como se fosse um projeto chamado "Minha Primeira Hospedagem num Hotel de Luxo" ou "Resort de Bacanas para Todos".

Segue o baile:

Brian Sciutto (foto) foi um dos hóspedes que aproveitaram a promoção lançada neste domingo (16) pelo Rancho Bernardo Inn, um luxuoso resort de golfe localizado em San Diego, no estado da Califórnia (EUA).

Com diária de US$ 19 (o preço normal supera os US$ 200), Sciutto vai passar as noites sem cama, papel higiênico, toalhas, ar-condicionado e terá a disposição apenas uma única lâmpada no banheiro. Ele terá que dormir em uma barraca.

O gerente-geral do resort Rancho Bernardo Inn, John Gates, disse que espera que os hóspedes do pacote "sobrevivente" voltem depois com o preço integral. O resort de luxo conta com três piscinas, um spa e campo de golfe.

Ou seja, hospeda-se com sérias restrições orçamentárias primeiro, pra depois juntar uma bela grana e voltar com direito ao pacote integral. Bela jogada de marketing, mas duvido que dê certo. Fosse aqui no Brasil, certamente não daria. Haveria hordas de hóspedes a emporcalhar o recinto, parecendo-se com acampamentos do MST - com a sutil diferença de que, desta vez, as barracas estariam dentro dos quartos. Caso houvesse direito ao uso das piscinas e dos campos de golfe, daria perda total depois do uso da classe econômica - ou do "pacote sobrevivente". E o nosso baixo poder aquisitivo não nos permitiria voltar ao resort para usá-lo integralmente. Eu, pelo menos, usaria minhas toalhas, meu papel higiênico e um saco de dormir. Só não sei se aguentaria um marasmo desses.