30.9.10

2002: A esperança venceu o medo. Ou não?

As eleições de 2002, as primeiras do novo milênio, eram mais uma prova de fogo para a democracia brasileira. Afinal, havia a certeza de um novo presidente, já que Fernando Henrique Cardoso terminava seu segundo mandato. No menor número de candidatos à Presidência desde a redemocratização, houve seis postulantes ao Palácio do Planalto.

Pela quarta vez seguida, Luiz Inácio Lula da Silva se candidatou pelo PT, contando com o apoio de PL (que lançou o vice, o senador mineiro José Alencar), PCdoB, PMN e PCB. Seu principal adversário era o candidato do governo, o ex-ministro da Saúde, José Serra (PSDB), que contava com o apoio do PMDB (que lançou a vice, Rita Camata). Outros candidatos com chances eram o ex-governador cearense Ciro Gomes (PPS), candidato pela segunda vez consecutiva (coligado com PDT e PTB), e o ex-governador fluminense Anthony Garotinho (PSB), que nem completou seu primeiro e único mandato no Palácio Guanabara, indo diretamente para uma candidatura à presidência da República (com o apoio do PTC e do extinto PGT). Os demais candidatos eram da extrema-esquerda: José Maria de Almeida (PSTU) e o estreante Rui Costa Pimenta (PCO).

Olha que poderia haver mais candidatos: a então governadora maranhense Roseana Sarney (PFL), filha do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), era muito cotada para uma candidatura presidencial no início do 2002. Estava até empatada com Lula nas pesquisas pré-eleitorais. Mas uma operação da Polícia Federal no Maranhão acusou esquemas de corrupção ligando o governo estadual a empresas do marido da governadora. Com isso, Roseana desistiu da candidatura e, como todo o clã Sarney, passou a apoiar Lula - ao contrário das cúpulas pefelista e peemedebista, que apoiaram Serra, ainda que informalmente por parte do atual DEM. Além disso, outro ex-eterno candidato à Presidência, Enéas Carneiro (PRONA), também desistiu para tentar ser deputado federal por São Paulo (tinha se candidatado à prefeitura da capital paulista em 2000). Não só foi eleito como se tornou o deputado mais votado da história do país, praticamente enchendo a Câmara de pronistas - entre eles, Vanderlei Assis, também eleito deputado federal por São Paulo, apesar de nunca ter saído do Rio de Janeiro. Era o primeiro grande fenômeno bizarro do eleitorado paulista para a Câmara dos Deputados - "honrosamente" sucedido por Clodovil Hernandez (PTC) em 2006 e, provavelmente, por Tiririca (PR, coincidentemente resultado da fusão do próprio PRONA com o PL) este ano.

De fato, Lula estava em estado de graça naquela eleição. Mesmo assim, houve segundo turno: o candidato do PT obteve 39.455.233 votos (46,44% dos votos válidos), e o do PSDB, 19.705.455 (23,19%). Surpreendentemente, o discurso messiânico de Garotinho o levou à terceira colocação, com 15.180.097 votos (17,86%), enquanto Ciro, que ocupou-se de ser metralhadora giratória durante a campanha, conseguiu 10.170.882 votos (11,97%). Os demais candidatos, juntos, obtiveram 0,51% dos votos válidos.

Bem que o PSDB tentou no segundo turno, mas o fato é que poucos estavam satisfeitos com o governo FHC naquele ano. Nem o discurso do medo adiantou muito, mesmo porque o sentimento naquele ano (inclusive de minha parte) era de que deveria haver mudanças. Além disso, Lula parecia ter um discurso de austeridade política, amadurecido pelas seguidas derrotas eleitorais. Portanto, a eleição era apenas questão de tempo. E ela veio, graças a 52.793.364 votos (61,27%), a maior votação dada a um candidato a presidente na história do Brasil. José Serra teve 33.370.739 votos (38,72%).

No estado do Rio, o chamado "voto evangélico" estava em seu auge. E os candidatos que seguiam essa tendência se aproveitaram bastante disso. Garotinho, ex-governador, foi o candidato à Presidência mais votado no estado no primeiro turno, derrotando o fenômeno Lula. Entre os nove candidatos ao governo do estado, havia nomes experientes como a então governadora em exercício Benedita da Silva (PT, apoiada por PCdoB, PMN e PCB) e o eterno prefeito niteroiense Jorge Roberto Silveira (PDT, apoiado por PPS, PTB e outros partidos menores), além de uma ex-secretária de Cesar Maia, Solange Amaral (PFL, apoiada por PSDB e PMDB). Mas foi uma candidata inimaginável a vedete das eleições fluminenses: a ex-primeira-dama do estado, Rosinha Matheus, cuja única experiência política havia sido a Secretaria Estadual de Ação Social. Com o mesmo discurso populista de sempre, a candidata do PSB (apoiada pelos mesmos PTC e PGT, além de PPB, PSC e PRP, e dos extintos PSD e PST) conseguiu se eleger no primeiro turno, com 4.101.423 votos (51,3%) - apenas Leonel Brizola tinha conseguido isso, em 1990, e provavelmente Sérgio Cabral Filho o fará neste ano. Benedita acabou em segundo, com 1.954.379 votos (24,4%).

Seguindo a tendência do voto evangélico no auge naquele ano, o cantor e pastor da Igreja Universal, Marcelo Crivella (PL), sobrinho de Edir Macedo e então um antilulista (tanto que se recusou a participar da mesma coligação que apoiava Lula e apoiaria Benedita; hoje, é um dos mais ardorosos defensores do governo Lula, sendo o "candidato do coração" do presidente em qualquer eleição), acabou em segundo lugar na corrida para o Senado (o atual governador Sérgio Cabral, do PMDB, foi o outro eleito). A maior surpresa, contudo, ficou na terceira colocação: o pastor Manoel Ferreira (PPB, atual PP), chefe da Assembleia de Deus e apoiado por Rosinha, e que estava pouco cotado, inclusive pelas pesquisas de opinião. Ficou na frente de antes favoritos como o então senador Artur da Távola (PSDB), que tentava a reeleição; o vereador Edson Santos (PT), que se elegeria deputado federal quatro anos mais tarde e se tornaria ministro do governo Lula; e o ex-governador Leonel Brizola (PDT), sexto colocado na última eleição de sua vida - morreria dois anos mais tarde.

28.9.10

1998: Minha estreia presidencial

Dois anos depois do primeiro pleito de que participei (as eleições municipais de 1996), votei pela primeira vez em uma eleição nacional. Daquele momento em diante, participaria das eleições para presidente, governador, senador e deputados. Estava animado até certo ponto pela possibilidade de votar pela primeira vez para presidente da República, mas um tanto decepcionado pelos acontecimentos do ano anterior: a compra de votos pelo então governo para a aprovação da emenda que possibilitava aos membros do Executivo concorrerem à reeleição, que entraria em vigor naquele ano de 1998. Outra modificação era relativa às datas das votações: até então, o primeiro turno era sempre em 3 de outubro e o segundo, em 15 de novembro. Daquela eleição em diante, a primeira votação seria sempre no primeiro domingo, e a segunda, no último domingo de outubro.

Até aí, nada demais. Mas as eleições presidenciais, à medida que a campanha avançava, não me empolgaram nem um pouco. Como o esperado, o então presidente Fernando Henrique Cardoso tentou a reeleição juntamente com o vice Marco Maciel, numa coligação de seis partidos (PSDB, PFL, PPB, PTB, PSL e PSD). Sua mais forte concorrente era considerada a "chapa dos sonhos" da esquerda brasileira, composta por Luiz Inácio Lula da Silva (candidato pela terceira vez) e seu vice, o ex-governador gaúcho e fluminense Leonel Brizola, que havia sido candidato duas vezes ao Planalto. A coligação era, digamos, a nata do esquerdismo nacional na época (PT, PDT, PSB, PCdoB e PCB). Correndo por fora, o ex-governador cearense Ciro Gomes (ex-ministro da Fazenda), tendo como vice Roberto Freire, na coligação liderada pelo PPS e formada pelos hoje extintos PL e PAN.

Além destes três, mais nove candidatos tentaram a Presidência. Entre eles, Enéas Carneiro (PRONA), candidato pela terceira vez, assim como Lula. O ano marcou a primeira candidatura dos hoje xarás veteranos José Maria de Almeida (PSTU) e José Maria Eymael (PSDC), além da única candidatura de Alfredo Sirkis (PV) à Presidência - acabou em sexto com pouco mais de 210 mil votos, mas não ficou de mãos vazias: um vereador carioca foi eleito deputado e, como Sirkis era suplente, tomou posse em seu lugar. Além disso, uma dos candidatos era mulher, pela segunda vez: Thereza Ruiz (PTN), que ocupou grande parte de seu tempo no horário político a criticar o candidato do PPB ao governo paulista, Paulo Maluf.

Eu não estava satisfeito com o governo FHC, e temia votar em Lula por causa de Brizola e seus governos no estado do Rio, cujas consequências se fazem sentir até hoje (aliás, muitos acreditam até hoje que a simples presença de Brizola na chapa foi determinante para a derrota de Lula em 1998). Por outro lado, o programa de Ciro Gomes me era o mais convincente, o que me fez lhe dar o voto. Mas Fernando Henrique Cardoso acabou reeleito no primeiro turno (assim como havia feito em 1994), com 35.936.540 votos (53,06% dos votos válidos), com Lula em segundo (21.475.218 votos, 31,71%) e Ciro em terceiro (7.426.190 votos, 10,97%). FHC foi o vitorioso no Distrito Federal e em quase todos os estados, exceto Ceará (onde Ciro chegou na frente), Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro (onde Lula obteve mais votos).

A vitória de Lula no Rio se deve, em grande parte, à aliança nacional forçada pelo diretório nacional petista, chefiado entre outros por José Dirceu - inicialmente, o candidato do PT ao governo do estado seria Vladimir Palmeira (que o seria, sem a mesma força política de então, oito anos mais tarde), mas a direção nacional praticamente obrigou o partido a se coligar com o PDT de Brizola, que lançou pela segunda vez seguida a candidatura de Anthony Garotinho ao governo. Os petistas indicaram a senadora Benedita da Silva como vice de Garotinho, e o PSB indicou o ex-prefeito carioca e então vereador Roberto Saturnino Braga como candidato da coligação (que também contava com PCdoB e PCB, ou seja, os mesmos cinco partidos da chapa nacional) ao Senado.

O então governador, o tucano Marcello Alencar, estava politicamente desgastado, num governo cheio de acusações de corrupção, e decidiu não tentar a reeleição, indicando seu vice, o colega de partido Luiz Paulo Corrêa da Rocha (apoiado por PMDB, PL e PSD); o candidato da coligação a senador era o ex-governador Moreira Franco (PMDB). Mas o candidato mais disposto a derrotar o favorito Garotinho era o ex-prefeito carioca Cesar Maia, que tinha encerrado o mandato elegendo seu sucessor, Luiz Paulo Conde, e tinha altas taxas de aprovação na capital fluminense. Ele era o candidato do então PFL (atual DEM), apoiado por PPB (atual PP) - que lançou o veterano político Roberto Campos como candidato ao Senado - e PTB. Treze candidatos se prontificaram a chegar ao Palácio Guanabara, recorde até hoje no estado do Rio após a fusão.

Como o esperado, Garotinho e Cesar chegaram ao segundo turno com certa facilidade: o candidato do PDT obteve 3.083.441 votos (46,9%), e o do PFL conseguiu 2.256.815 (34,3%), entre eles o meu. Também votei em Roberto Campos para senador, mas o eleito foi Saturnino Braga - que, no meio do mandato, se envolveria em uma polêmica com um ex-partido seu, o PDT (pelo qual foi eleito prefeito em 1985): foi acusado por um suplente, Carlos Lupi (atual ministro do Trabalho), de não ter cumprido um acordo na época da eleição, de dar o cargo a ele na metade do mandato. Saturnino admitiu a existência de tal acordo, mas se recusou a cumpri-lo, dizendo-se arrependido. Em 2006, foi impedido pelo PT (ao qual já estava filiado depois de sair do PSB) de tentar a reeleição - o partido preferiu apoiar Jandira Feghali, do PCdoB.

Voltemos a 1998. De pouco adiantou a fama de eficiente do candidato Cesar Maia: os votos do interior e a força pedetista ainda existente na época falaram mais alto. Garotinho foi eleito com 4.259.344 votos (58%), enquanto Cesar ficou com 3.087.117 (42%). Era o canto do cisne do PDT no estado do Rio e o início da Era Garotinho, tão nefasta quanto (ou ainda mais que) a Era Brizola foi (e, de certa forma, continua sendo) para a população fluminense.

25.9.10

Uma eleição real. Em todos os sentidos



As eleições de 1994 se realizaram e eu quase participei - fiquei por um ano, pois tinha 15 na época, e a idade mínima para um eleitor brasileiro é de 16. Ainda que sem poder votar, mais uma vez acompanhei o processo eleitoral. Pela primeira vez, os eleitores poderiam eleger presidente e governador no mesmo ano. Além disso, cada um poderia votar também em dois candidatos ao Senado, num deputado federal e num deputado estadual.

Dois anos depois da queda de Collor, o governo Itamar Franco lançou, através do ministro da Economia, um plano para conter a inflação e revitalizar a economia brasileira. Esse plano previa a troca da moeda (a quinta em oito anos), mas desta vez essa unidade monetária se mostraria mais forte e resistente. O plano deu certo e esse ministro se prontificou a candidatar-se à presidência da República. Ele era Fernando Henrique Cardoso, candidato pelo PSDB.

Ao contrário do exagero de 22 candidatos das eleições de 1989, em 1994 apenas oito candidatos se prontificaram a disputar a cadeira presidencial. Antes da campanha de fato começar, o favorito era o segundo colocado da eleição anterior, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas o sucesso do Plano Real, alavancado por uma onda de euforia que varria o país na época (o Brasil tinha sido campeão mundial de futebol depois de 24 anos, além de ser campeão mundial feminino de basquete), ajudou a campanha de Cardoso, eleito no primeiro turno com 34.364.961 votos (54,27% dos votos válidos), com Lula em segundo, com 17.122.127 votos (27,04%). Uma surpresa apareceu na terceira posição: Enéas Carneiro, do PRONA, conseguiu 4.671.457 votos (7,38%), na frente de nomes conhecidos da política brasileira, como os ex-governadores de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB); do Rio, Leonel Brizola (PDT); e de Santa Catarina, Esperidião Amin (PPR, atual PP). Os demais candidatos eram Carlos Antônio Gomes (PRN, atual PTC) e Hernâni Fortuna (PSC).

A consagração tucana na eleição presidencial se refletiu em grande parte da eleição para governador nos estados: vários importantes elegeram governadores do PSDB (como Mário Covas em São Paulo, Eduardo Azeredo em Minas, Marcello Alencar no Rio e Tasso Jereissati no Ceará) ou aliados (como o baiano Paulo Souto e a maranhense Roseana Sarney, pelo PFL). No Rio, oito candidatos disputaram o governo do estado, como o ator Milton Gonçalves, candidato pelo PMDB, e o general Newton Cruz, do extinto PSD. O segundo turno foi entre o candidato da situação, Anthony Garotinho (PDT), ex-prefeito de Campos dos Goytacazes, e o apoiado pelo governo federal, Marcello Alencar (PSDB), ex-prefeito do Rio e primeiro colocado no primeiro turno com 37,2% dos votos válidos (Garotinho teve 30,4%). No segundo turno, Alencar obteve 3.537.866 votos (56,1%), e Garotinho recebeu 2.771.074 votos (43,9%). No estado, os senadores eleitos foram Artur da Távola (PSDB) e Benedita da Silva (PT).

24.9.10

A corda, Brasil!



Sabe o interminável (e intragável) Joaquim Roriz, candidato do PSC ao governo do Distrito Federal? Ele estava sendo julgado com base na Lei da Ficha Limpa. Da aprovação dessa lei (lançada menos de um ano da eleição) depende a candidatura dele e de mais um monte de gente (como o candidato a deputado federal pelo PR-RJ, Anthony Garotinho, só pra citar um exemplo clássico). Pois bem: o julgamento no STF está empatado em 5 a 5. Diante de uma derrota (nem que seja "apenas" moral), Roriz decidiu inovar (ou não): anunciou sua renúncia à candidatura ao governo do DF e nomeou sua mulher, Weslian Roriz (também filiada ao PSC) no seu lugar...

Pelo visto, Lula e o próprio Garotinho (este, oito anos atrás) fizeram escola ao colocarem alguém que certamente nada entende de política e que só ganhará votos por ser do sexo feminino. Não que eu seja avesso a mulheres se candidatando, pelo contrário. Acho que Marina Silva, por exemplo, é uma candidata à Presidência muito mais digna que Dilma Rousseff. É que isso tudo me dá uma sensação de laranjice explícita, de cheque em branco, de governar pelo celular... Chamem do que quiserem.

Olha, eu não gostaria de estar na pele de um eleitor brasiliense qualquer. São oito candidatos ao governo do DF, que teve entre seus antecessores o próprio Roriz e José Roberto Arruda, que dispensa comentários. O concorrente mais próximo de Roriz (que liderava as pesquisas) é Agnelo Queiroz, do PT - conhecido por ser um dos piores ministros dos Esportes de todos os tempos. Os outros seis são completos desconhecidos. Não dá nem pra tapar o nariz diante da urna eletrônica, pelo visto. Desse jeito, só pedindo uma corda para se enforcar.

A tentação totalitária lulopetista



À medida em que mais denúncias de corrupção no governo vêm à tona pelos jornais e pela TV, cresce a certeza de que o que o PT menos preza é a liberdade de imprensa. Minto: só preza essa liberdade quando é para denunciar os outros, como houve no caso que levou ao impeachment de Collor, em 1992, ou nas notícias sobre a compra de votos que levou à aprovação da emenda da reeleição durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 1997.

Desde 2005, a imprensa cumpre o papel que é dado ao denunciar os inúmeros casos de corrupção do governo Lula (mensalão do José Dirceu, quebra de sigilo pelo Palocci, dólares na cueca de um assessor do Genoino, mais quebras de sigilo bancário, favorecimento pela Erenice Guerra...) e os governistas, aqueles que simpatizavam com a imprensa quando das denúncias contra governos anteriores, gritam "Golpismo!" da mesma forma que gritavam "Fora Sarney!", "Fora Collor!" e "Fora FHC!". O curioso é dois desses ex-presidentes, hoje, são aliados do atual governo.

O próprio presidente Lula contribui para esse estado de coisas, escorado pelos índices recordes de popularidade. Para usar uma frase famosa dele, nunca antes na história deste país um presidente foi tão intrometido no que se refere a eleger seu sucessor. Em 1994, Fernando Henrique teve o apoio do então presidente Itamar Franco, que teve papel discreto na sucessão - o mesmo se aplica ao próprio FHC na eleição de 2002, em que o candidato governista era o mesmo José Serra de hoje. Não se sabe se Serra teria mais chances de ser eleito há oito anos se Cardoso tivesse se empenhado mais na campanha, mas não podemos negar que o então presidente teve o papel digno que Lula não está tendo hoje.

21.9.10

Recordações de 1989



Em 1984, a população brasileira sonhava em voltar a eleger diretamente o presidente da República. Naquele ano, o movimento das Diretas Já tomou de assalto o país, com manifestações gigantescas nas maiores cidades brasileiras. Mas a emenda não passou, e o eleitorado teve que esperar cinco anos para fazer valer sua vontade. De certa forma, a espera valeu a pena.

As eleições presidenciais de 1989 foram as primeiras pós-redemocratização, e as primeiras depois de 29 anos - em 1960, Jânio Quadros foi eleito com votação massiva para renunciar ao cargo depois de apenas sete meses na Presidência. As eleições de 1989 registraram um recorde de candidatos, imbatível até hoje - nada menos do que 22 postulantes ao cargo, onde havia desde nomes conhecidos como Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS) e Ulysses Guimarães (PMDB); passando por famosos alternativos como Guilherme Afif Domingos (PL), Roberto Freire (PCB), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD) e Fernando Gabeira (PV); até bizarrices como José Alcides Marronzinho (PSP), Enéas Carneiro (PRONA) e Lívia Maria de Abreu (PN) - por sinal, a primeira mulher a concorrer à presidência da República. Nenhum dos candidatos - nem mesmo o do PMDB - queria atrelar seu nome ao do então presidente José Sarney (que assumiu o cargo em 1985, como vice de Tancredo Neves, impossibilitado de tomar posse por problemas de saúde; foi efetivado com a morte do eleito), com a popularidade em baixa. Mas um ex-governador de Alagoas, que tinha a alcunha de "caçador de marajás", e um deputado federal, conhecido líder sindical, foram as grandes estrelas daquelas eleições.

Fernando Collor (PRN) começou de forma discreta, com poucas intenções de voto - nos primeiros meses de campanha, Brizola, Covas e Ulysses eram vistos como favoritos. Mas a ostensiva campanha, focada no combate à corrupção quando governador alagoano (daí o apelido), somada ao apoio (declarado ou não) de gente graúda no mundo político e midiático, fez Collor subir nas pesquisas. Ao mesmo tempo, a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhava simpatia de grande parte da classe artística, fazendo que ela também crescesse no conceito popular. Mesmo assim, teve que lutar com Brizola para ir ao segundo turno - tanto que teve menos de 500 mil votos a mais que o pedetista no primeiro turno, realizado no dia 15 de novembro, dia que marcou o centenário da Proclamação da República. Brizola teve 11.168.228 votos; Lula, 11.622.673. Já Collor se garantiu no segundo turno com tranquilidade, com 22.611.011 votos.

O segundo turno conflagrou uma das maiores efervescências políticas da história brasileira. Ressalte-se que, naquela época, o mundo vivia grandes transformações. Naquele mês de novembro, ruiu o Muro de Berlim, contribuindo para a queda do império soviético, que liderava o bloco da Europa Oriental. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, houve quem relacionasse a candidatura de Lula com algo decadente como o comunismo. Além disso, a polarização então existente considerava que a eleição era um confronto de racionais contra meros sonhadores. Ainda houve a questão dos ataques pessoais dos dois lados, sendo que o mais famoso foi o uso por Collor, em seu programa eleitoral, da ex-mulher de Lula, que o acusou de querer abortar uma filha do casal. Isso tudo, somado à inexperiência e às convicções políticas de Lula (que realmente causavam medo a muitas pessoas), deram a vitória a Collor, em 17 de dezembro de 1989 - com 35.089.998 votos, contra 31.076.364 dados a Lula.

Collor assumiu o cargo em 15 de março de 1990. Foi um mandato polêmico, cheio de autopropaganda com demonstrações de vitalidade que acabariam se mostrando infrutíferas. O confisco da poupança dos brasileiros, logo nos primeiros dias de governo, como estratégia de combate à inflação, era uma amostra do que estava por vir. Em 1992, um irmão do presidente deu entrevista acusando-o de atos ilícitos, junto com o empresário Paulo César Farias. Paralelamente a isso, comprovações de corrupção surgiam por todos os lados. A situação do presidente ficou insustentável e, com isso, Collor sofreu processo de impeachment, o que causou seu afastamento do poder em 2 de outubro de 1992. Sucedido por Itamar Franco, renunciou a qualquer tentativa de voltar ao poder em 29 de dezembro daquele mesmo ano. Foi julgado e suspenso da política por oito anos.

Muitos dizem que a nossa primeira incursão presidencial depois de quase três décadas foi um fracasso. Contudo, isso tudo serviu para nosso amadurecimento político - que, segundo vejo, porém, foi meramente fugaz. Pelo que percebo, infelizmente, a população brasileira parece fazer questão de querer depender dos bolsas-qualquer-coisa da vida.

20.9.10

Uma campanha chocha



Alguém ainda tem dúvida de que a campanha presidencial deste ano é a mais chata e previsível desde a redemocratização? Ela beira o politicamente correto de tão irritantemente "amiguinha" dos candidatos entre si. São poucas as críticas contundentes, além das propostas possíveis. Dilma Rousseff, pelo visto, não deixará escapar a eleição já em 3 de outubro nem com um desastre eleitoral de mastodônticas proporções. José Serra e Marina Silva parecem não ter forças sequer para reagir.

Nada disso lembra as primeiras campanhas pós-redemocratização, como a de 1989, com as polêmicas do segundo turno entre Collor e Lula, ou mesmo a de 1994, quando Fernando Henrique Cardoso se elegeu com as mesmas condições de Dilma (apesar de não ter experiência administrativa, estava escorado em um governo popular, como era o de Itamar Franco naquela época, e em um eficiente programa econômico, o Plano Real, criado pelo próprio quando Ministro da Fazenda), embora com mais chão. Escreverei sobre isso nos próximos dias, para recordar as eleições anteriores e ativar um pouco mais isso aqui (ando sem tempo para atualizar, reconheço).

13.9.10

Os macacos Tiões da vida real



Não é de hoje que existe o chamado voto de protesto, para que os eleitores mostrem estar insatisfeitos com o processo eleitoral. São famosas as histórias do rinoceronte Cacareco, "eleito" vereador em São Paulo nos anos 50, e do macaco Tião, que teria acabado em terceiro lugar na eleição para prefeito do Rio, em 1988. Mas a adoção do voto eletrônico, em 1996, foi acabando com o hábito do eleitor mais galhofeiro de colocar o nome de um candidato inexistente na cédula para colocar na urna. Mas uma tendência surgida desde então parece alcançar seu auge neste ano: os chamados "candidatos que buscam assumidamente votos de protesto", sem nenhuma proposta que seja convincente ao eleitorado. E o pior é que vários deles têm chances reais de serem eleitos.

Um aviso já tinha sido dado em 2006, quando o estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandez foi eleito deputado federal em São Paulo, pelo nanico PTC (mudaria-se para o PP pouco antes de sua morte, em 2009). Neste ano, porém, a coisa está feia para quem quer seriedade na política: candidatos de todos os tipos, entre humoristas, ex-BBBs e gente sem nada melhor pra fazer tentam ganhar o seu voto, amigo eleitor que é a favor do contrário de tudo isso que aí está. O símbolo maior desse estado de coisas é outro candidato a deputado federal por São Paulo: Tiririca, do PR, que pede votos dizendo querer ser eleito exatamente para conhecer as funções de um deputado federal e tendo como slogan "Pior do que está, não fica". Ledo engano: como percebemos, sempre pode piorar.

O voto em papel parou de ser usado, oficialmente, em 2000 (só é utilizado quando as urnas eletrônicas titular e reserva quebram). Dez anos depois, porém, o voto de protesto ainda pode ser largamente utilizado. Com a diferença de que tais votos "engraçadinhos", outrora inofensivos, podem render eleitos. As consequências disso podem ser imprevisíveis.

6.9.10

Descomputadorizado



Na sexta-feira passada, o meu computador funcionava normalmente. No sábado, já não funcionava mais. Tá, ele não era um exemplo de vigor cibernético - era bem lento, demorava horas para abrir uma mísera página e nem o multimídia funcionava direito - mas ainda quebrava um galho. Até que, neste final de semana, ele se foi de vez. Apertei o botão e nada dele reagir.

Gostaria de que isso fosse um belo pretexto para comprar um computador novo, melhor, mais moderno... Enfim, uma máquina que funcione de verdade. Porém, acho que terei que esperar. Espero não aguardar tanto tempo. A propóstio: meu aniversário é no mês que vem. Quero muito que alguém me dê esse belo presente. ;-)

Obs.: Meu computador pifou, mas não está tão mal quanto a foto acima dá a entender. Ele ainda está inteiro, pelo menos. Peguei esta imagem dando sopa na Internet. Achei que seria um bom simbolismo da situação que ora enfrento.