24.2.06

OSCAR 2006: "O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN"

O filme de Ang Lee conta a história de dois caubóis, na época heterossexuais, que descobrem o que sentem um pelo outro, talvez por causa do absoluto isolamento (eles trabalhavam juntos como pastores de ovelhas, na montanha de Brokeback).

Apesar de terem se separado (um deles era noivo e iria se casar; o outro se casaria algum tempo depois), eles não se esquecem um do outro; quando se reencontram, eles vivem essa paixão de forma intensa.

A produção explora bem os conflitos dos personagens, apesar de ter cenas um tanto desagradáveis aos olhos de alguns (como a cena em que "pinta" o clima entre os protagonistas, que não poderia ser mais explícita, apesar de não mostrar tanto). Confesso que não é uma sensação das mais agradáveis ficar vendo dois machos se agarrando, embora as locações tenham sido bem escolhidas, além de ter uma boa fotografia. A trilha sonora (obviamente, centrada na música country) também tem amplo destaque.

Esse é, pelo número de indicações (oito, o maior do ano) e pela quantidade de prêmios conquistados desde seu lançamento, o grande favorito ao Oscar deste ano - apesar de ser um tanto inferior, tanto em roteiro quanto em atuações, a Munique, Boa Noite e Boa Sorte e Crash: No Limite (devo assistir a Capote na próxima semana). Mas, como estamos na época de "prestar tributos"...

Piadinhas maldosas: vocês perceberam (pra quem já viu o filme) que a amizade (que se colorizaria) entre os caubóis cresceria depois de matarem e comerem um veado? Pra quem ainda não assistiu, percebam a grande quantidade de trocadilhos (pelo menos nas legendas em português) em relação ao verbo "dar", entre outros (com direito a pérolas do tipo "Você está duro? Deixa que eu dou!", se referindo a um empréstimo monetário).

P.S.: É só coincidência o fato de esse texto ser postado num dia 24, às vésperas do Carnaval. Falando nisso, bom Carnaval a todos. Se cuidem!

Indicações ao Oscar 2006: Melhor filme, direção (Ang Lee), ator (Heath Ledger), ator coadjuvante (Jake Gyllenhaal), atriz coadjuvante (Michelle Williams), roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora.

23.2.06

OSCAR 2006: "CRASH: NO LIMITE"

O filme, dirigido por Paul Haggis, expõe as chagas dos preconceitos raciais nos Estados Unidos, usando como pano de fundo ocorrências em um prazo de dois dias. Tudo começa quando o carro de um promotor branco é roubado por dois negros. Desde então, tem-se uma sucessão de fatos que desbocam em acontecimentos surpreendentes.

A produção mostra o que pode acontecer quando um caldeirão multi-racial como o de Los Angeles está prestes a explodir - apesar de ser uma "explosão velada", se pode ser chamado assim. O roteiro mostra como qualquer um pode esconder seu preconceito, e como esse estado de coisas é varrido para baixo do tapete.

O co-roteirista e diretor de Crash: No Limite, Paul Haggis, já tinha dado mostras de seu talento quando roteirizou o difícil Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood, ganhador do Oscar no ano passado. Através de sua estréia na direção, mostra que tem futuro para alçar vôos mais altos.

Indicações ao Oscar 2006: Melhor filme, direção (Paul Haggis), ator coadjuvante (Matt Dillon), roteiro original, montagem e canção original (In the Deep, de Kathleen "Bird" York e Michael Becker).

21.2.06

CARROSSEL DE EMOÇÕES


Arrasador. Assim pode ser definido o primeiro show dos irlandeses do U2 no Morumbi, na noite de ontem. Durante pouco mais de duas horas, o público presente não arredou pé, cantou todas as músicas a plenos pulmões e foi brindado com um desempenho inesquecível de Bono & cia.

Gosto do U2. Diferentemente dos Rolling Stones (que, por sinal, continuam esbanjando vitalidade depois de mais de 40 anos de carreira), a banda dublinense é mais identificada com a minha geração (tenho 26 anos). Eles combinam com perfeição a música com o engajamento na luta contra as injustiças sociais, sendo uma das primeiras bandas a abraçar esse tipo de causa, há mais de 20 anos. E, como se não fosse o bastante, dão bom exemplo a seus fãs: não há notícias de qualquer escândalo que tenha atingido qualquer um dos integrantes da banda.

No show de ontem, a banda misturou clássicos como Pride (In the Name of Love), New Year's Day e One com novidades de seu mais recente disco (How to Dismantle an Atomic Bomb), como Vertigo, All Because of You e Original of the Species. Apesar de ter sentido falta de grandes canções como I Will Follow; Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me; Discothèque (meia-boca, mas capaz de levantar meio mundo) e Electrical Storm, o espetáculo foi acima da média.

Um grande destaque da apresentação foi o colossal telão montado, que interagiu com o espetáculo, com mensagens de paz e tolerância entre os povos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Que bom terá sido se o público assimilou essas mensagens. Assim dará sua contribuição para um mundo melhor.

20.2.06

UM BELO DIA PARA PEDRAS ROLAREM


Talvez a Praia de Copacabana tenha o último sábado como divisor de águas, se dividindo em ARS e DRS (antes e depois dos Rolling Stones). Dias antes do espetáculo que parou o país e grande parte do mundo, muito se criticou sobre o fato de a apresentação se dar em local público de muito acesso, que o trânsito iria dar um nó, que o investimento não valeria a pena etc. De fato, houve problemas no trânsito - e o número de atendimentos dos bombeiros durante o show (em grande parte, casos de excesso de bebedeira de espectadores) ultrapassou 600. Mas de uma coisa ninguém discorda: os vovôs do rock arrasaram.

Cerca de 1,5 milhão de pessoas viram no local o maior concerto musical ao ar livre de todos os tempos, certamente um recorde mundial. Bilhões de pessoas viram ao vivo (ou quase, para quem viu pela TV aberta) através da televisão. Para quem não se importa com o fato de grande parte do repertório ser manjada (dominado pelos sucessos clássicos dos anos 60 e 70), o espetáculo dos Rolling Stones, como parte da turnê mundial que promove o mais recente disco da banda, A Bigger Bang (considerado por muitos o melhor dos Stones em mais de vinte anos), foi um prato cheio para os fãs da música. A banda inglesa sabe como poucas fazer um espetáculo de alto nível, que levante o público. Da primeira (Jumpin' Jack Flash) à última canção, (I Can't Get No) Satisfaction, o povão (entendesse ou não o que o vocalista Mick Jagger, esbanjando vitalidade com mais de 60 anos de idade, cantava) sacudiu com os clássicos e as novas canções. O ponto alto do show foi quando a banda se apresentou num palco móvel, passando pela área VIP e chegando perto da fila do gargarejo.

Pode-se dizer que o investimento valeu a pena: gente do mundo inteiro veio ao Rio assistir à apresentação, que começou um período pré-carnavalesco de respeito para os brasileiros amantes do rock - hoje e amanhã, o grupo irlandês U2 (outra banda que sabe fazer shows como poucas) se apresenta no estádio do Morumbi, em São Paulo, com abertura de uma das grandes revelações musicais, os escoceses do Franz Ferdinand (que, por sinal, se apresentam no Rio na quinta-feira, no Circo Voador).

15.2.06

OSCAR 2006: "ORGULHO & PRECONCEITO"

Dando continuidade à série sobre os indicados ao Oscar 2006, falaremos sobre Orgulho & Preconceito, dirigido por Joe Wright.

Na Inglaterra do Século XIX, uma família com cinco filhas (duas entrando na idade adulta, as outras três ainda adolescentes) vibra com a possibilidade de uma delas se casar (o que salvaria a herança da família, visto que somente homens poderiam ser herdeiros). Enquanto isso, novas possibilidades amorosas surgem, sendo prejudicadas com uma intuição preconceituosa da mocinha Elizabeth Bennet (a segunda filha dos Bennet) sobre o sr. Darcy, um de seus pretendentes.

Fiel à obra literária de Jane Austen (a mesma autora de Razão e Sensibilidade), o filme retrata de forma competente (contando com a afinação do elenco, competente e com atuações de bom nível) a história, com uma linguagem coerente e de fácil compreensão para as novas gerações. Ou seja, uma produção altamente recomendável.

Indicações ao Oscar 2006: Melhor atriz (Keira Knightley), direção de arte, figurino e trilha sonora.

13.2.06

OSCAR 2006: "BOA NOITE E BOA SORTE"


Dando prosseguimento aos comentários sobre os indicados ao Oscar 2006, escrevo sobre Boa Noite e Boa Sorte, escrito por George Clooney.

Nos anos 50, no auge da paranóia que atinge os norte-americanos com a Guerra Fria, o senador Joseph McCarthy promove uma verdadeira caça-às-bruxas visando à punição a acusados de simpatizar ou colaborar com o comunismo. O jornalista e apresentador de TV Edward R. Murrow decide confrontar seus métodos, usando seu programa jornalístico.

A fotografia sóbria, em preto e branco, ajuda o espectador a entrar no clima sombrio da época. O filme mostra detalhadamente os procedimentos de edição e apresentação da TV, com o auxílio de imagens em película. Apesar de cair às vezes na mesmice, chegando a mostrar um depoimento de uma acusada de colaboracionismo em sua forma integral (imagens da época), o filme se mostra atual, fazendo o espectador concluir que nada pode abalar o jornalismo livre, chegando a destilar uma fina ironia em alguns momentos.

Indicações ao Oscar 2006: Melhor filme, direção (George Clooney), ator (David Strathairn), roteiro original, fotografia e direção de arte.

9.2.06

OSCAR 2006: "MUNIQUE"


Tem-se início a série sobre os filmes indicados ao Oscar 2006. Ela é aberta com o texto sobre o filme Munique, de Steven Spielberg.

Em setembro de 1972, terroristas palestinos, do grupo Setembro Negro, fazem atletas israelenses de reféns, na Vila Olímpica de Munique, durante os Jogos Olímpicos. A tentativa de resgate, feita pela polícia alemã, fracassa e termina em tragédia: todos os nove reféns são mortos, além de alguns terroristas e dois pilotos alemães.

O filme conta a história do que aconteceu depois: cinco agentes secretos são designados pelo governo israelense para eliminar os sobreviventes responsáveis pelo atentado. Spielberg fez o que é considerado o mais desafiador filme de sua carreira: mostrou que nada é absolutamente infalível. Não faltaram cenas de conflito entre os agentes secretos, devido a imperfeições durante os assassinatos seletivos. E houve a preocupação de se mostrar uma antiga norma: somente matar os responsáveis, ou seja, fazer com que inocentes fiquem de fora do caminho.

O filme chegou a ser acusado de "humanizar" os terroristas - mas as cenas do assassinato dos reféns, mostradas em formato de flashback durante os pesadelos e delírios do personagem principal, mostram claramente o "lado inimigo" da história do filme, muito bem produzido, por sinal. E há a moral da história: não importa o que você faça para se vingar, sempre haverá quem se vingue depois...

INDICAÇÕES AO OSCAR 2006: Melhor filme, direção (Steven Spielberg), roteiro adaptado, montagem e trilha sonora.

8.2.06

ECOS DA INTOLERÂNCIA


Vejam vocês como são as coisas: nunca se poderia pensar que um conjunto de charges publicadas em setembro fosse dar em tamanha confusão, cinco meses depois. As charges sobre o profeta Maomé, originalmente publicada numa reportagem do jornal dinamarquês Jyllands-Posten, só enfureceram o mundo islâmico porque esse foi um mero pretexto para os adeptos mais radicais do Islã declararem guerra total aos maiores valores do Ocidente, como a democracia e a liberdade de expressão.

Em protestos tão espontâneos quanto um bêbado sendo empurrado ladeira abaixo, bandeiras dinamarquesas e de outros países que publicaram as caricaturas foram queimadas, assim como suas embaixadas e consulados foram atingidos. Os revoltosos asseguram que, segundo a tradição muçulmana, a imagem do profeta Maomé não pode ser mostrada para evitar a idolatria. Mas a seguinte questão, em se tratando de se intrometer no direito alheio, é: como reclamar dos desenhos dos outros se eles próprios fazem desenhos ofensivos? Afinal de contas, há décadas a imprensa árabe e de países de maioria muçulmana publica mensagens e charges ofensivas a cristãos e judeus, sem que ninguém reclamasse de "desrespeito à fé alheia".

Creio que há limites quanto a questionar diretrizes religiosas, e elas devem ser respeitadas. Mas para quem não se acostumou com a liberdade é duro aceitar alguma coisa que questione esses fatos. Mesmo porque, em tempos idos, a figura do profeta já foi retratada sem que houvesse reações violentas (para comprovar, acesse o De Olho na Mídia - http://www.deolhonamidia.org.br. Leia o link à direita, para reflexão). Tire suas conclusões a respeito do assunto.

Em tempo: a charge ao lado é da revista francesa Charlie Hebdo, que reproduz a figura de Maomé cobrindo o rosto com as mãos e proferindo a seguinte frase: "É duro ser amado por tolos...".

6.2.06

FEVEREIRO, VIDA NOVA

Mesmo que lamente não ter tempo - pra variar - para atualizar esta página, espero poder fazê-lo com maior freqüência, mesmo com o início das aulas na próxima semana. Com as novidades das semanas anteriores (protestos em países muçulmanos, preparativos para o Carnaval e indicações ao Oscar, meu próximo assunto), espero colocar as coisas em dia ainda esta semana.