3.2.12

Teria a chamada Primavera Árabe valido a pena?






O massacre ocorrido nesta semana, em Port Said, em jogo válido pelo Campeonato Egípcio de Futebol (estima-se que haja mais de cem mortos em decorrência do conflito) evidencia algo que muitos já sabíamos: a tendência de países que estão a derrubar longas ditaduras em cair na mais completa desordem - no Egito, isso é ainda mais claro. Suspeita-se que havia pistoleiros na torcida do Al-Masry, time médio de Port Said, que atacaram e massacraram torcedores do Al-Ahly, um dos times mais tradicionais do continente africano (é o maior campeão continental, com seis títulos, tendo inclusive participado três vezes do Mundial de Clubes da FIFA), cujos torcedores estavam na linha de frente dos protestos contra a ditadura de Hosni Mubarak, no início do ano passado. As imagens deixam claro que a polícia não interveio no ataque dos torcedores do time anfitrião, o que dá a ideia de que o poder ainda vigente no país não quer largar o osso de jeito nenhum (de uma forma ou de outra, os militares estão no poder no Egito há 60 anos, seja com Nasser, Sadat ou Mubarak).

Isso tudo nos faz pensar se a mobilização popular em torno de uma pretensa democratização do país valeu a pena. A chamada Primavera Árabe, nome dado à onda de protestos contra as diversas ditaduras da região, parece não acontecer da forma que poderia, por sinal. Apenas a Tunísia parece progredir um pouco, até por ter sido o país que começou essa onda. Na Líbia, Kadafi foi deposto e assassinado pelos rebeldes apoiados pela OTAN, mas o que vem depois se assemelha à Al-Qaeda de Bin Laden na época da ocupação soviética no Afeganistão. Já não se fala mais no Barein e no Iêmen, que andam esquecidos. Na Síria, Bashar al-Assad não dá sinais de trégua no massacre de dissidentes. Mas o Egito parece ser o fracasso mais épico: Mubarak renunciou, mas os militares continuaram no poder e não parecem dispostos a ceder - uma amostra disso o mundo inteiro viu na quarta-feira passada.