27.10.12

Campanha paulistana, a avant-premiére do fim do mundo

Foto: Marcos Alves/Agência O Globo
Como era de se esperar, o segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo é uma verdadeira batalha entre as duas maiores forças políticas do país. Os candidatos finalistas são José Serra (PSDB), ex-prefeito paulistano (2005-2006) e ex-governador paulista (2007-2010), além de ex-ministro da Saúde durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), e Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação durante o mandato de Lula (2003-2011) e parte do atual mandato de Dilma Rousseff (foi substituído por Aloizio Mercadante no começo deste ano).
 
Nada mais natural que houvesse escaramuças entre os candidatos nesta reta final de campanha, mesmo porque o momento político é agitado, em grande parte graças ao julgamento do mensalão. Mas eles estão exagerando na agressividade e nos ataques pessoais, fazendo com que a baixaria prevaleça num cenário em que deveria apenas haver debates de ideias para a maior cidade do país nestes próximos quatro anos.
 
O ex-presidente Lula, que bancou o nome de seu ex-ministro da Educação em detrimento de um nome fortíssimo como o da ex-prefeita (2001-2005) e atual senadora Marta Suplicy, aparentemente colherá os frutos de sua aposta, já que Haddad lidera as pesquisas de intenção de voto - aproveitando o desgaste de Serra, que em 2006 deixou o cargo de prefeito da capital paulista para se candidatar a governador (contrariando um compromisso da eleição de 2004) e, em 2010, deixou o cargo de governador de São Paulo para se candidatar à Presidência da República (e ser derrotado por Dilma). Além disso, o candidato tucano, anteriormente conhecido pela austeridade e até por uma certa discrição, anda meio estranho: disposto a acabar com a pecha de elitista e passar a ser visto como "parte do povo", andou passando pequenos vexames em passeatas durante a campanha, produzindo as já clássicas cenas do sapato voando depois de chutar uma bola em uma favela, ou do seu hercúleo esforço em erguer uma carroça de caixas de laranja.
 
Não bastasse isso tudo, uma velha discussão da eleição presidencial de dois anos atrás voltou à tona: a questão religiosa, com o auxílio de padres e pastores ajudando a tumultuar ainda mais um ambiente já conturbado. Some-se a isso a introdução do famoso Kit Gay, tentativa de Haddad de introduzir a tolerância aos homossexuais, item já discutido e criticado aqui, além da posse de vítima do candidato petista e está construído o cenário para o PT voltar a governar os paulistanos depois de oito anos. Pelo visto, o governo federal conseguirá introduzir nos eleitores da cidade de São Paulo a questão do "novo", relacionando esta palavra a Fernando Haddad - mesmo com ele conhecido por sua pouca eficiência como ministro da Educação, e logo num momento em que seu partido está na berlinda em nível nacional.
 
Para quem acompanhou a campanha eleitoral para prefeito de São Paulo neste ano, nem foi preciso esperar até dezembro para testemunhar o fim do mundo: a escolha entre um político desgastado e uma tendência a ser mera marionete. Pobres eleitores paulistanos.

8.10.12

Os desafios de Paes

 
Foto: Bruno Gonzalez/Agência O Globo
Reeleito no primeiro turno com 64,60% dos votos válidos (contando com a confiança de pouco mais de dois milhões de eleitores), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), assumirá seu segundo mandato em 1º de janeiro de 2013 com muitos desafios a cumprir. O maior deles, com certeza, é fazer um mandato que supere a popularidade do atual, já que a votação recorde obtida neste primeiro turno não deixa de ser um respaldo dado pelo eleitorado carioca.
 
Mas há vários outros. Como, por exemplo, preparar a cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 sem esquecer as necessidades básicas da cidade, como saúde e educação. Melhorar o sistema de transportes, que ainda deixa a desejar. Seguir as obras pela revitalização da Zona Portuária (um dos grandes acertos desta prefeitura, por sinal). Pelo visto, o prefeito parece concentrado nesse objetivo. É necessário, pois os quatro próximos anos serão intensos.
 
O grande desafio de Eduardo Paes, porém, será em 2016. Não, não é a realização da Olimpíada. É a própria sucessão. O vice-prefeito recém-eleito, Adílson Pires, é do PT, partido que nunca elegeu um prefeito na cidade nem um governador fluminense em eleição direta. Sei que é cedo para afirmar algo que ocorrerá daqui a quatro anos, mas a lógica diz que o vice concorre para suceder o chefe do Executivo - o vice-governador fluminense Luiz Fernando Pezão (PMDB) está cotado para concorrer ao governo do estado em 2014, já que o atual governador Sérgio Cabral Filho está em seu segundo mandato. Na próxima eleição municipal, Paes terá que encontrar um político que possa sucedê-lo seguindo seu estilo ou assumir os riscos de, talvez, ter que usar a máquina federal - principalmente se Dilma for reeleita presidente em 2014 e os métodos petistas de apoio a aliados permanecerem a todo vapor, como certamente haverá no segundo turno paulistano, onde Fernando Haddad enfrentará o tucano José Serra. Mas isso é assunto para outro texto.

7.10.12

Depois de um longo e tenebroso inverno...

...eis que estou de volta. Sim, este Amenidades & Bobajadas, depois de quase quatro meses de inatividade, está voltando a suas atividades, ainda que pontuais. Muita coisa aconteceu desde então, mas passei longe deste espaço durante esse tempo - tanto por falta de tempo quanto por falta de disposição, mesmo. Caso alguém esteja na espera por um texto inédito - o que acho difícil -, peço desculpas pelo inconveniente. Mas meus outros blogs estiveram ativos nesse meio-tempo (vejam na coluna "Também estou aqui", ali à direita.
 
Mas vamos falar do que interessa neste momento: a eleição municipal. Aqui no Rio, como ficou bem claro, ela está definida há tempos. O prefeito Eduardo Paes (PMDB), apoiado por uma coligação gigantesca (19 partidos, incluindo o PT do vice Adílson Pires, PDT, PPS e PSB), deverá se reeleger com folga. Ele está sendo bem-avaliado pela população, muito por causa das alianças com os governos estadual e federal. Isso poderia ser bom, mas há algo que não me agrada: o balaio de gatos que apoia o prefeito, em que só faltariam PSOL e PSTU, que ao menos lançaram candidatos próprios. Falando em PSOL, a candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo, conhecido por sua luta pela ética, revelou-se um erro estratégico. Nascido e com domicílio eleitoral em Niterói, poderia se aproveitar da insatisfação geral com o mandato do prefeito Jorge Roberto Silveira, desgastado com os inúmeros problemas que a cidade anda vivendo - tanto que nem se candidatou à reeleição. Ao invés disso, preferiu transferir seu título eleitoral à capital fluminense para candidatar-se à prefeitura carioca, tentando repetir o fenômeno Gabeira de 2008. Um jogo arriscado e que deverá se revelar um fracasso.
 
Pra mim, não houve um candidato que agradasse. Tenho muitas restrições a Paes e Freixo, e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) mostrou pouca personalidade e, ainda por cima, fisiologismo puro ao se aliar ao PR do ex-governador Anthony Garotinho (1999-2002), que indicou sua filha, a deputada estadual Clarissa Garotinho, como vice do filho do ex-prefeito Cesar Maia (1993-1997 e 2001-2009). A também deputada estadual Aspásia Camargo (PV) demonstrou que seu partido vive à sombra do ex-deputado federal Fernando Gabeira, que quase foi eleito prefeito há quatro anos, depois de uma reação fantástica no primeiro turno.
 
Por isso, o meu voto para prefeito do Rio foi para outro deputado federal: Otávio Leite (PSDB). Votei nele em 2010 e vejo que executa bem o cargo, defendendo com vigor os interesses do estado na Câmara. Por isso, o escolhi por eliminação, mesmo porque as opções de fato não me agradavam. Para vereador, por coincidência votei em um candidato do mesmo partido, mesmo sabendo que teria pouquíssimas chances de ser eleito: Miguel Fernandez y Fernandez, defensor das liberdades individuais, algo tão importante para nós no dia de hoje - e é por isso que digo que um candidato com essas propostas dificilmente será eleito hoje, principalmente no Rio de hoje, em que o eleitorado só se revolta quando falta dinheiro no bolso e comida na mesa, como acontece em todo o Brasil, por sinal.