29.9.09

O PAÍS QUE NÃO TEM PARTIDOS PARA A MAIORIA

Uma mensagem no Twitter me chamou a atenção: "O brasileiro, felizmente, é conservador". O texto que estava anexo confirma essa tendência ao conservadorismo que está na média da população brasileira: contra o aborto, contra a liberalização das drogas, contra o casamento entre homossexuais, a favor da redução da maioridade penal... Esse texto se baseou em outro que lamentava essa tendência seguida por grande parte da população brasileira. Esse tipo de debate informal me fez lembrar de algo que anda oculto, mas mostra bem o nível da política brasileira pós-redemocratização: o "antidireitismo" do movimento partidário brasileiro.

Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), há uma certa "satanização" do conservadorismo no Brasil. Isso se reflete nas eleições presidenciais diretas desde então, em que apenas a primeira (a de 1989) contou com a participação de candidatos de direita com chance de vencer. Recentemente, o presidente Lula causou polêmica ao declarar que o pleito de 2010 seria o primeiro sem o que ele chama "trogloditas de direita" (sic), ignorando que a variedade de correntes ideológicas é apenas benéfica para a democracia.

Há dois anos, inspirado por este texto do Serjão (que, por sinal, anda meio sumido), escrevi o que considero uma espécie de "monopólio esquerdista da moral", em que todo e qualquer ato que não seja perpetrado por movimentos "progressistas" é visto como reacionário, enquanto ditaduras comunistas são endeusadas até hoje, e onde prevalecem as máximas dos fins que justificam os meios e dos inimigos dos inimigos que, automaticamente, se tornam amigos e aliados. Curiosamente, o Brasil parece ser o único país da civilização ocidental* em que não estar à esquerda parece ser um crime digno de ser perseguido por toda a vida - o que nos faz voltar à questão do movimento partidário.

Os poucos partidos vistos como direitistas, hoje, ora são insignificantes a ponto de sumirem, ora são arremedos do que chegaram um dia a ser (o PFL, por exemplo, mudou seu nome para DEM em 2006 e, desde então, só faz diminuir de tamanho; já o PP faz parte da base de apoio ao governo Lula). A falta de opções conservadoras no Brasil é tão gritante que o PSDB (partido de centro-esquerda baseado nos movimentos social-democratas europeus) é tratado por esquerdistas como um partido de... direita! Mais recentemente, isso ocorreu com o PPS e o PV, principalmente depois da aliança com os tucanos e, no caso específico dos verdes, da entrada da senadora Marina Silva (AC), saída do PT.

Isto posto, o que falta na política brasileira? Um partido que atenda às necessidades da maioria dos eleitores. Um partido que proponha uma maior valorização da nossa democracia. Que não se dobre a quaisquer imposições de quem quer que seja, venha de quem vier. Que dê o seguinte recado para aqueles que querem bagunçar o que já não está arrumado em nosso país: há limites que têm que ser respeitados, e leis que precisam ser cumpridas. Enfim: um partido conservador de verdade.

* Bolívia, Cuba e Venezuela não contam, evidentemente.

Um comentário:

Yashá Gallazzi disse...

Belo texto realmente. A falta de uma direita eleitoralmente viável faz mesmo muito mal à democracia brasileira, pois confunde o eleitor e cerceia o debate.

E pensar que, aqui, o DEM é chamado de direitista... Absurdo! Qual político de relevância do DEM se diz abertamente contra o aborto e ao assistencialismo público?