O anúncio da morte do ditador norte-coreano Kim Jong-Il neste domingo, um dia depois de seu acontecimento, é mais um capítulo na história de um dos países mais, digamos, exóticos do planeta. A Coreia do Norte, duas décadas depois da derrocada do comunismo, ainda sobrevive como o último grande bastião da Guerra Fria, sendo mais realista que o rei em inúmeros momentos (visto que até a China, sua aliada histórica, adota um mercado capitalista mesmo sem abrir mão do regime de partido único).
A República Democrática (sic) e Popular da Coreia surgiu da própria Guerra Fria, como resultado da divisão da Península da Coreia no ano de 1948, pouco tempo depois da Segunda Guerra Mundial e da desocupação do Japão, em que a parte norte ficou sob influência da União Soviética, e a parte sul (República da Coreia, ou simplesmente Coreia do Sul), dos Estados Unidos. Os dois países se enfrentaram na Guerra da Coreia (1950-1953), sem assinar nenhum tratado de paz depois disso. Com o passar dos anos, as diferenças entre os países e suas respectivas filosofias se acentuaram: enquanto a Coreia do Sul avançava e progredia, sendo um dos países mais desenvolvidos do mundo atual (muito em parte devido aos maciços investimentos em tecnologia e educação de qualidade), a Coreia do Norte concentrava seus esforços meramente em autodefesa, tendo um dos maiores exércitos do mundo e uma enorme quantidade de ogivas nucleares, além de ter uma das maiores concentrações de riqueza e um dos mais altos índices de miséria de que se tem notícia.
Não bastasse isso tudo, o regime norte-coreano levanta ao restante do mundo sérias dúvidas acerca da sanidade mental de seus comandantes. Desde a criação do país, a mesma família comanda o governo (o que lembra uma monarquia absolutista), calcado no culto à personalidade, expediente tipicamente comunista levado às últimas consequências. Kim Jong-Il chegou ao poder em 1994, substituindo o seu pai Kim Il-Sung (líder durante 46 anos), falecido naquele mesmo ano. Tudo indica que será sucedido por seu filho caçula Kim Jong-Un, já que os demais não parecem demonstrar interesse em assumir o poder.
Visto sob a ótica dos dias de hoje, o comunismo já não é considerado algo sério. Mas o que ocorre na Coreia do Norte chega a ser surreal. É um comunismo de opereta, uma reles caricatura do que acontecia na antiga União Soviética - principalmente na época de Stálin, falecido no mesmo ano em que a Guerra da Coreia (o mais próximo do que seria um conflito bélico entre norte-americanos e soviéticos, o que só se repetiria em vários conflitos no Oriente Médio nas duas décadas seguintes) se encerrou. O país pertencente aos Kim parece viver nos anos 1950 ou 1960, em pleno início do século XXI. Comparado ao rico vizinho do sul ou a algumas regiões da China, então, chega a dar vergonha.
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