2.9.11

Se a Turquia não sabe brincar, que não desça pro play



Relatório da ONU sobre o ataque da Marinha de Israel ao barco turco Mavi Marmara, divulgado nesta semana, relatou que a ação israelense foi excessiva para tentar conter a embarcação que, supostamente, levava ajuda humanitária da Turquia à Faixa de Gaza. Apesar disso, o relatório não apontou quaisquer falhas no que se referia à defesa israelense em águas territoriais, e que o bloqueio a Gaza está dentro das normas internacionais.


Entretanto, apesar das restrições do relatório da ONU à ação israelense, a Turquia não está satisfeita. Em protesto contra o que considera uma pena branda demais (o documento exorta Israel a declarar seu pesar pela ação e a pagar indenizações às famílias dos mortos), o governo turco decidiu expulsar de Ancara os diplomatas israelenses acima do nível de segundo secretário. Algo que muitos poderiam classificar de protesto diplomático, mas prefiro qualificar como pura e simples pirraça, mesmo.


É até compreensível que a Turquia (oficialmente laica) se sinta atingida em seus sentimentos - primeiramente com o caso da flotilha "humanitária", e agora com esse relatório com ares de derrota judicial. Mas ninguém mandou radicalizar o discurso, praticamente abandonando sua histórica laicidade política e adotando um discurso religioso. O atual primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, é de um partido islamista e tem fama de ser mais linha-dura que qualquer um que tenha passado pelo cargo nas últimas décadas. Mas parece que os altos índices de popularidade o fizeram imaginar que poderia alcançar qualquer coisa que estivesse ou não em suas mãos. Comportamento, por sinal, muito parecido com o de um certo ex-presidente de um país da América do Sul...


O governo turco exige um pedido formal de desculpas por parte de Israel. Os governantes israelenses, obviamente, sequer cogitam essa hipótese. Além do mais, antes de exigirem que outro país peça perdão, os turcos deveriam primeiramente olhar para o próprio rabo. Nem falo sobre o genocídio armênio do começo do século passado, pois pra eles isso nem existiu - guardadas todas as devidas proporções, seria o mesmo que a Alemanha negar o Holocausto nazista. Mas houve algo bem recente e posterior a qualquer problema que Israel tenha tido com os palestinos: o bombardeio da Turquia a curdos no norte do Iraque. Algo que não está sendo divulgado como deveria, diga-se de passagem. Mas se fosse uma ação israelense contra habitantes de Gaza, da Cisjordânia ou mesmo do sul do Líbano, certamente seria bem diferente.


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