As eleições municipais de 2004, ao contrário das expectativas que havia quatro anos antes, eram repletas de pessimismo para o eleitorado carioca. Afinal, não existia candidato algum que pudesse satisfazer plenamente os anseios dos eleitores.
O segundo mandato de Cesar Maia como prefeito do Rio era cercado de críticas, principalmente no trato com os preparativos da cidade para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007. A prefeitura não podia contar com a ajuda do governo estadual, de Rosinha Matheus, e muito menos do presidente Lula, mais preocupado em tentar reeleger Marta Suplicy prefeita de São Paulo. Aliás, nos dois primeiros anos de seu mandato, Lula dedicou mais da metade de seu tempo e de seus esforços (inclusive políticos e financeiros) à capital paulista, o que gerou muitos protestos de várias partes do Brasil, inclusive do Rio (tanto o estado quanto a cidade). O que era comentado na época é que, se o Pan de 2007 (cuja sede foi definida em agosto de 2002, quando o presidente ainda era Fernando Henrique Cardoso) fosse em São Paulo e não no Rio, todas as instalações já teriam sido prontas três anos antes, o que deixaria os chineses vermelhos de inveja...
Pois bem. Se Cesar Maia (que também tentava a reeleição, pelo PFL) era criticado por grande parte da população, seus concorrentes não inspiravam a menor confiança. Entre outros, estavam o senador Marcelo Crivella (PL), pastor licenciado - ou não - da Igreja Universal do Reino de Deus; o então vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB), ex-aliado e agora desafeto de Cesar; e os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB) e Jorge Bittar (PT), que juntos já seriam fracos, quanto mais separados. Bittar manteve uma estranha coligação com o PTB (que lançara a vitoriosa candidatura de Cesar Maia quatro anos antes), cujos motivos seriam revelados no ano seguinte, com a crise do mensalão denunciada pelo então deputado federal e presidente do partido, Roberto Jefferson, que não recebeu sua parte e decidiu abrir o bico.
A campanha, como o esperado, foi no esquema todos-contra-um. Era mais enxuta - diferentemente das eleições anteriores, desta vez havia apenas 10 candidatos à prefeitura do Rio. Alguns meses antes do pleito, ainda na época de definição dos candidatos, a deputada federal Denise Frossard, que tinha sido a mais votada do estado em 2002, se desentendeu com o seu então partido, o PSDB. Seu presidente regional, o ex-governador Marcello Alencar, decidiu apoiar o prefeito Cesar Maia - inclusive nomeando seu candidato a vice, Otávio Leite. Isso causou a saída de Frossard das hostes tucanas, e seu apoio ao obscuro deputado estadual André Corrêa, do PPS. No ano seguinte, Frossard se filiaria ao partido de Roberto Freire, pelo qual concorreria ao governo do estado em 2006, apoiada por PV e... PFL! Não foi eleita (perdeu para o senador Sérgio Cabral Filho, do PMDB, no segundo turno), mas fez um bom nome para eleições futuras.
Voltemos a 2004. Com uma candidata forte a menos, nem é preciso dizer que Cesar Maia apenas administrou a campanha até o fim do primeiro turno, mesmo porque os adversários não inspiravam confiança, como já tinha escrito neste texto. Mesmo assim, a dúvida persistia, inclusive em mim. Na manhã do primeiro turno, 3 de outubro, ainda não tinha definido quem receberia meu voto para prefeito, ainda mais com um debate televisivo desastroso, repleto de acusações entre os cinco primeiros colocados que lá estavam, três dias antes. Pesei os prós e contras de cada um e, no final, optei pelo menos pior: o próprio prefeito, Cesar Maia. Entre o errado e o duvidoso, escolhi o duvidoso...
Muitos fizeram o mesmo - possivelmente com medo de que o senador Crivella fosse ao segundo turno. Deu resultado: desde que o segundo turno em eleições do Executivo foi adotado em 1989 (em eleições municipais, essa possibilidade existe desde 1992), pela primeira vez o prefeito do Rio foi eleito no primeiro turno. Além disso, houve o primeiro reeleito: Cesar Maia (PFL) venceu, com 1.728.853 votos (50,11% dos votos válidos). Marcelo Crivella (PL) ficou em segundo, com 753.189 votos (21,83%). O então vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB) foi o terceiro, com 385.848 (11,18%); a então deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) ficou em quarto, com 238.098 (6,90%); e o deputado federal Jorge Bittar (PT) foi o quinto, com 217.753 (6,31%). Resultados que marcaram a eleição mais nivelada por baixo da história da cidade do Rio de Janeiro.
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