6.10.08

...E O RIO RESPIRA ALIVIADO



Não poderia ser melhor o segundo turno nas eleições municipais no Rio de Janeiro. Para uma cidade que pensava seriamente em colocar como disputa final um duelo entre Marcelo Crivella (PRB) e Jandira Feghali (PCdoB), a decisão entre Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) é um grande alento.

Mesmo com uma urninha teimosa que não quer ser apurada de jeito nenhum até a escritura deste texto (até o momento, 99,99% das urnas foram apuradas na cidade), ficou decidido que o ex-secretário de Esportes, Lazer e Cultura do estado, apoiado pelo governador Sérgio Cabral Filho (mas nem tanto por Lula), e o deputado federal mais votado do estado em 2006 farão o segundo turno, no próximo dia 26. Inicialmente, Paes é o favorito para ocupar o Palácio da Cidade a partir de 1º de janeiro de 2009, mas Gabeira promete surpreender novamente. Que ninguém duvide disso.

Há uma grande discussão a respeito dos acordos e apoios que os candidatos poderão ter, que possam se refletir no eleitorado. Eduardo Paes, por exemplo, notorizou-se por bater forte no governo federal durante as CPIs de 2005, quando ainda era deputado federal pelo PSDB (que, nesta eleição, apóia Gabeira). Isso pode atrapalhar a trajetória eleitoral de Paes neste segundo turno, visto que sua polêmica mudança de partido, no ano passado, poderá ser interpretada como demonstração de oportunismo eleitoreiro. Além disso, a repentina mudança de opinião de Paes (que antes batia em Lula, e agora quer seu apoio) não é bem vista por muitas pessoas.

Por outro lado, Gabeira também poderá ter problemas neste segundo turno. O eleitorado de Marcelo Crivella, o terceiro colocado na eleição, tende a votar em Paes, na sua maioria, visto que não se identifica ideologicamente com as propostas do deputado federal - como se o prefeito pudesse ter atribuições de ocupantes do cargo legislativo. Além do mais, o apoio do PSDB e do PPS, dois partidos centro-esquerdistas que fazem oposição ao governo federal, é visto por muitos, ainda mais à esquerda como PCdoB, PT e PDT, como uma traição aos ideais da esquerda. Acontece que os tucanos têm pouca relevância no cenário político fluminense, e não mudaria muita coisa em caso de eleição de Gabeira. Se tem uma coisa de que o Rio menos precisa, é que nacionalizem a campanha municipal.

De todo modo, é extremamente salutar este segundo turno entre Paes (o menos populista entre os peemedebistas fluminenses, apesar dos pesares) e Gabeira (um sopro de dignidade na política brasileira, tão machucada nos dias de hoje). Muito melhor do que termos que aturar Crivella (populista-religioso que aderiu ao governo federal muito antes de Paes, depois de bater no próprio governo em 2004) ou Jandira (que demonstra caráter desagregador mais uma vez, como havia demonstrado nas campanhas anteriores). E meu voto, novamente, irá para Gabeira, na minha opinião o melhor candidato. Pelo visto, estou em ótima companhia.

  • AH, TÁ! O RESTANTE DO ESTADO

A grande maioria das cidades fluminenses elegeu seus prefeitos neste domingo. Além da capital, apenas em Petrópolis haverá segundo turno, entre Paulo Mustrangi (PT) e Ronaldo Medeiros (PSB). De resto, eleição garantida - inclusive nas cidades da Baixada Fluminense em que o segundo turno era visto como certo.

Como em Duque de Caxias, em que José Camilo Zito (PSDB), velho coronel político da região, ganhou pela terceira vez, derrotando o atual prefeito, Washington Reis (PMDB), apoiado pelo governador e pelo presidente. O mesmo ocorreu em São João de Meriti, onde Sandro Matos (PR) venceu Marcelo Simão (PHS), que era visto como o favorito e também era apoiado por PMDB e PT.

A decadência do PDT na capital (onde Paulo Ramos foi relegado a uma, até certo ponto, empolgante disputa pelo sétimo lugar com Chico Alencar, do PSOL) não se refletiu nas duas mais importantes cidades do interior do estado. Em São Gonçalo, Aparecida Panisset foi reeleita com larga margem de votos, o mesmo ocorrendo com Jorge Roberto Silveira, que se elegeu prefeito de Niterói pela quarta vez. Não deixa de ser um sopro de esperança para os pedetistas, principalmente em relação aos niteroienses.

Dois petistas também se deram bem, desta vez na Baixada: Lindberg Farias foi reeleito em Nova Iguaçu, numa coligação altamente eclética (que contou, entre outros partidos, com PDT, DEM, PV, PR e PTB), vencendo o deputado federal e ex-prefeito da cidade, Nelson Bornier (PMDB). Em Belford Roxo, Alcides Rolim venceu a também peemedebista Sula do Carmo. Nas duas cidades, os candidatos apoiados por Lula derrotaram os apoiados por Cabral.

A surpresa (ou não...) ocorreu no interior do estado. Em Campos, a ex-governadora Rosinha Matheus (PMDB) venceu de forma avassaladora a disputa pela prefeitura da cidade do Norte Fluminense, com quase 79% dos votos válidos. Além disso, sua filha Clarissa se elegeu vereadora na capital. É a Era Garotinho, que teima em não acabar. Paciência.

  • E NO RESTANTE DO BRASIL...

Em todo o país, as eleições também foram bem disputadas. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, confirmou-se o segundo turno entre Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT). A surpresa foi o atual prefeito ter acabado o primeiro turno na primeira colocação, ao contrário do que as pesquisas apontavam. Em Belo Horizonte, haverá segundo turno entre Márcio Lacerda (PSB), apoiado pelo atual prefeito, petista, e pelo governador mineiro, tucano, e Leonardo Quintão (PMDB), que começa a surgir como o favorito. Em Salvador, João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT) farão a disputa final, deixando ACM Neto (DEM) de fora. Em Porto Alegre, José Fogaça (PMDB) e Maria do Rosário (PT) farão o mesmo, deixando de fora Manuela d'Ávila (PCdoB).

O destaque entre as capitais foi a reeleição, em Curitiba, de Beto Richa (PSDB), com mais de 77% dos votos válidos. Também merecem menção a reeleição de Luizianne Lins (PT) em Fortaleza (depois de, mais uma vez, ser ignorada pelo próprio partido) e a eleição de Micarla de Souza (PV) em Natal, depois de uma campanha acirradamente contrária do presidente Lula, que apoiava a também petista Fátima Bezerra.

Pois é. No dia 26, ou em 2012, tem mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

A Garotinha teve 77% porque os votos ao seu maior adversário foram computados como nulos, já que teve a candidatura suspensa. Agora, todas as esperanças repousam na decisão do TRE (ou do TSE, em nível recursal, não me lembro ao certo) sobre o caso.

Blogildo disse...

Cara, que alívio! Ufa!