15.12.05

OS HINOS DA AVENIDA (1ª PARTE)

Como prometido há tempos, coloco aqui as minhas opiniões sobre os sambas de enredo do Carnaval de 2006. No geral, o CD é de bom nível, condizente com os novos rumos (como os enredos caça-níqueis que andam infestando as escolas), e levando-se em consideração que se trata do primeiro CD de sambas totalmente inéditos lançado em três anos. Vamos aos sete primeiros (os outros sete serão publicados posteriormente):
  • BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS ("Poços de Caldas Derrama Sobre a Terra Suas Águas Milagrosas: Do Caos Inicial à Explosão da Vida... Água, a Nave-Mãe da Existência"): A escola de Nilópolis, que tenta o tetracampeonato, conseguiu um milagre (não tão surpreendente em se tratando da Beija-Flor, que tem a melhor ala de compositores do Carnaval): fazer um samba épico usando como tema um enredo caça-níqueis como a cidade mineira de Poços de Caldas. Como é de praxe, uma história delirante que tenha relação com o enredo: o risco de extinção da Humanidade por causa da falta dágua e da falta de amor do homem pela Natureza. Poços de Caldas ajuda o mundo a se manter como a grande fonte de águas naturais etc. De resto, bons versos e refrões bem cadenciados.
  • UNIDOS DA TIJUCA ("Ouvindo Tudo o que Vejo, Vou Vendo Tudo o que Ouço"): Disparado, o samba-enredo mais decepcionante do ano! Depois de dois vice-campeonatos seguidos, em que mostrou enredos originais com sambas magníficos, a escola do Morro do Borel desta vez levará um samba oco, sem emoção nem carisma. É o mais vivo exemplo de como pegar um enredo criativo (a música) e fazer um saba chocho. Sem contar o cacófato do verso "Com a música, ganha o coração"...
  • ACADÊMICOS DO GRANDE RIO ("Amazonas: O Eldorado É Aqui"): Bom samba-enredo vindo de um enredo repetitivo (o Amazonas, já cantado pela Portela em 2002). Uma letra bem didática para os moldes atuais, com riqueza de detalhes e bons versos. Uma das boas surpresas, com tudo para crescer na Avenida.
  • IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE ("Um por Todos e Todos por Um"): Na minha modesta opinião, o melhor samba-enredo do ano. A escola da Leopoldina mostra um samba que lembra os hinos dos Anos 70 e do início dos 80. A letra que fala sobre Anita Garibaldi (embora o enredo tenha sido explorado pela Viradouro, em 1999) e a homenagem a Santa Catarina (mote inicial do enredo) contribuem para a letra e a música fazerem uma combinação emocionante. O ritmo, bem marcheado, também ajuda.
  • ACADÊMICOS DO SALGUEIRO ("Microcosmos: O que os Olhos Não Vêem, o Coração Sente"): Letra mediana, mas que pode crescer no momento do desfile. Como é de tradição na escola, um refrão principal popular, que combine melodia e letra que "peguem". O enredo de Renato Lage, conhecido pela originalidade, poderia ser mais bem aproveitado pelos compositores, pois o samba não levantou do jeito que poderia.
  • ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA ("Das Águas do Velho Chico, Nasce um Rio de Esperança"): A Mangueira fez um samba tradicional e não tão "engajado" quanto o da Independente da Praça da Bandeira, do Grupo B, que explora o mesmo tema e defende a transposição do rio São Francisco. A verde-e-rosa falou sobre as tradições culturais das regiões banhadas pelo rio, identificando-o com o Nordeste brasileiro. E o fez com uma melodia rica e letra coerente com o enredo.
  • UNIDOS DO PORTO DA PEDRA ("Divina És Tu Entre as Mulheres do Brasil"): A escola de São Gonçalo não fez um bom samba. Arrastado, fraco e sem conteúdo, o samba não atende satisfatoriamente ao enredo sobre as mulheres. Refrões óbvios, cadência lenta, um dos piores do ano.

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