17.6.09

O IRÃ E SEUS APOIADORES (AINDA QUE NÃO SE DEEM CONTA DISSO)


Os protestos nas ruas de Teerã contra a suspeita apuração das eleições presidenciais iranianas demonstram o quanto a opinião pública é poderosa - mesmo correndo o risco de morrer, como aconteceu com pelo menos sete manifestantes, eles vão às ruas protestar contra a provável fraude que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad (mesmo porque nem no Brasil, onde o voto é 100% eletrônico, a "apuração" foi tão rápida quanto no Irã, onde o voto é manual).

Os eleitores de Mir-Hossein Moussavi o fizeram, diga-se, contra tudo e contra todos: governo (que claramente apoiava o atual presidente e só depois de muita insistência mudou de ideia quanto à recontagem de votos, ainda que apenas em redutos da oposição), polícia (ou a Guarda Revolucionária, que baixa o sarrafo nos manifestantes, segundo relatos de habitantes locais), imprensa (que, controlada pelo governo, apenas libera imagens de manifestações pró-governistas)... e governantes de outros países, como o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou a situação com uma briga entre torcedores de Flamengo e Vasco. E ainda exprimiu o desejo de visitar Ahmadinejad ainda esse ano! Para um país que decidiu abrir embaixada na Coreia do Norte, nada mais surpreende.

Como eu disse aqui, nada iria mudar nas relações iranianas com o Ocidente, fosse qual fosse o eleito. Mas não deixa de ser impressionante a quantidade de gente que tenta contemporizar quando das reações oficiais aos protestos, dizendo que fazem parte de um processo democrático. Acontece que democracia inexiste no Irã - nunca existiu. Até 1979, o país era governado pelo xá Reza Pahlevi (apoiado pelos Estados Unidos), que dominava o país com mão de ferro. Houve a Revolução Islâmica e a consequente troca de uma ditadura por outra - como ocorrera em Cuba 20 anos antes. Com a diferença de que, desta vez, é uma teocracia que mais parece inspirada em moldes comunistas de governo (baseado em vazias demonstrações de poder e no culto à personalidade), por mais paradoxal que possa parecer. Saiu a monarquia opressora da população, porém apoiadora dos americanos (por isso, odiada pela esquerda), entrou o regime dos aiatolás também opressor da população (porém, amado pelo incoerente, senão hipócrita, "progressismo").

Apenas pelo prazer de serem contrários aos Estados Unidos e a Israel (que não são santos, mas mesmo assim, por serem democracias plenas e sólidas, são preferíveis a qualquer ditadura), não raro esquerdistas apoiam o regime iraniano. Alguns chegam até a acusar Moussavi (que já foi primeiro-ministro do país, já participou ativamente do regime - ou não teria sido aprovado pelo líder supremo Ali Khamenei para ser candidato à presidência - e apoia o polêmico programa nuclear) de ser uma espécie de agente de interesses norte-americanos e israelenses. Como se fizesse alguma diferença ele ser eleito.

Mas os dias de hoje permitem ter uma visão mais abrangente dos fatos, com a rapidez de informação, assim como a facilidade em obtê-la e divulgá-la. O Twitter e o Facebook se tornaram grandes armas de denúncia contra o que está acontecendo. Isso tudo ecoa também aqui no Brasil, e o blogueiro Pedro Doria se destaca com sua cobertura do caso. Assim, pode ser que as pressões internacionais sobre o Irã surtam algum efeito. Como disse o colega Mr. X, pode ser que o regime dos aiatolás saia chamuscado do processo eleitoral e, com um pouco mais de esforço (sonhar não custa nada, já dizia aquele velho samba-enredo), até tenha seu fim. Embora eu, pessoalmente, ache difícil isso acontecer.

2 comentários:

Frodo Balseiro disse...

Dá pena ver uma população tentando se encontrar com seu destino, e ser reprimida da forma que foi.

patricia m. disse...

Eu acho que serviu para mostrar as rachaduras do sistema. Isso eh sempre bom.