2.6.11

O dom de "reescrever" a História



Todos estamos vendo os esforços do governo federal em colocar nas nossas cabeças que o Brasil nasceu em 2003, assim que Lula colocou a faixa presidencial no peito, não 503 anos antes, com a chegada de Cabral a Porto Seguro. Isso passa pelo veto do ex-presidente da República (1985-1990) e atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), às referências ao impeachment do também ex-presidente (1990-1992) e atual senador Fernando Collor (PTB-AL) em uma exposição permanente nos corredores do Senado. Quando indagado sobre o fato, Sarney disse que a saída de Collor naquela ocasião, após grande clamor popular que tomou as ruas durante meses e resultante de graves (além de devidamente comprovadas e documentadas) denúncias de corrupção, foi "um acidente" e que "não deveria ter acontecido". A referência ao impeachment seria recolocada na tal exposição, mas o estrago perante a opinião pública mais esclarecida já estava feito.


Ao menos o presidente da casa deixou às claras, sem esconder de ninguém, a nada convincente aliança entre ele, Collor e Lula, provando que os interesses políticos (algo que vem de décadas, senão séculos, em nosso país) estão acima de qualquer coerência - e que a população não se importa em nada com isso, a não ser que comece a faltar dinheiro no bolso e comida na mesa, como acontecia há 19 anos. Assim, fica fácil reescrever a História do país a seu bel prazer, ignorando - quando não negando, mesmo - fatos históricos (ainda que bem recentes e ocorridos em plena era da Internet, como o mensalão).


Dessa forma, Lula começa a pavimentar seu caminho para se candidatar novamente à Presidência já em 2014 - principalmente se a inflação voltar a bater em nossas portas e o desgaste do governo Dilma Rousseff se intensificar, sobretudo com o PMDB, como ocorreu no caso entre o ministro Antônio Palocci e o vice-presidente Michel Temer. Mas que Lula tome muito cuidado: o efeito do Plano Real, depois de 20 anos, já pode ter passado - e sua aura de santidade pode se esvair de vez.

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