19.8.08

ESCONDER NÃO ADIANTA NADA


O clima de velório que tomou conta das arquibancadas do Estádio Nacional de Pequim na manhã deste domingo, quando o corredor Liu Xiang - o grande ídolo do esporte chinês desde que conquistou o ouro nos 110 metros com barreiras nas Olimpíadas de Atenas - não conseguiu chegar à primeira barreira de uma eliminatória devido a uma contusão, mostra como a manipulação de toda uma população em busca da imposição de um mundo perfeito pode levar a conseqüências imprevisíveis.

Há três meses, na mesma época em que perdeu o recorde mundial da prova para o cubano Dayron Robles (que, desde então, tornou-se o grande favorito ao ouro na prova em Pequim), Liu sentiu uma contusão na parte posterior da coxa. O fato foi escondido durante esse tempo todo, presumivelmente porque não havia intenção de alarmar mais de um bilhão de pessoas que tinham a medalha de ouro do atleta como certa.

O fato é que essa frustração coletiva - dizem, comparável a cada chinês ter perdido um parente querido, ou coisa pior - é resultado de uma estratégia massacrante de marketing raramente vista. Imagine conquistar, de forma inesperada, uma medalha de ouro numa Olimpíada num esporte que não tem tradição alguma no seu país. Agora, imagine ter a responsabilidade de defender o título olímpico em sua própria nação, com todo tipo de pressão vindo de patrocinadores, torcedores e (principalmente) do governo. Agora, imagine sofrer uma contusão a poucos meses da disputa olímpica e lutar com todas as forças para poder competir. Na hora do vamos-ver... O corpo o trai diante de um estádio lotado só para vê-lo. Foi o que ocorreu com Liu Xiang no Estádio Nacional de Pequim.

É realmente uma situação difícil, certamente a mais dramática enfrentada por um atleta nesta Olimpíada. Mas foi um choque de realidade para os chineses. Serve para que eles aprendam que esconder os fatos, na maioria das vezes, não adianta nada.

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