Desde que assumiu o cargo de presidente da República, Lula vem se notabilizando em usar o dom da oratória para entoar frases, digamos, não muito condizentes com o cargo que ocupa. Às vezes dizendo que estaria para nascer alguém que pudesse discutir sobre ética com ele (no auge da crise do mensalão) ou professando trocadilhos fora de hora (quando disse certa vez que deixava o otimismo na privada e dava a descarga, ou que a única coisa que diminuía no Brasil era o salário), já deixava os assessores desesperados com a sua espontaneidade. Entre uma metáfora (várias vezes futebolística) e outra, muitos enfim identificaram o presidente com o povão - o que contribuiu para sua reeleição, no ano passado.
A "liturgia" do cargo, pelo visto, não o conscientizou de que é preciso medir as palavras antes de dizê-las, ou sofreria as conseqüências. A última (ou melhor, a mais recente) foi no fim do mês passado, quando disse que a violência, muitas vezes, "é uma questão de sobrevivência". Foi dita alguns dias depois de mais um crime bárbaro no Rio de Janeiro: o assassinato de três franceses integrantes de uma ONG, por um de seus funcionários - um ex-menino de rua, abrigado pela organização, que lhe deu a oportunidade de aprender uma profissão -, acusado de ter desviado uma grande soma de dinheiro, ajudado por dois cúmplices.
Apesar de ter sido dita com a melhor das intenções, essa frase dá, indiretamente, a bênção presidencial para cometer crimes, por mais exagerado que possa parecer - a bandidagem pode usá-la como mero pretexto. Ao contrário que disse o presidente, a ajuda que ele propôs (a geração de empregos, a universidade para todos, o aprendizado de empregos) não é suficiente para acabar com a violência - o crime da ONG só comprova essa tese. A nossa legislação é frouxa, como eu já disse aqui neste espaço, e contribui para aumentar a violência, pois os criminosos sabem que dificilmente serão punidos com rigor.
3 comentários:
Nossa sociedade é baseada na punição. Não dá pra criar um monte de medidas preventivas e esperar que, de uma hora pra outra, os crimes deixem de acontecer. Não vão. Punições rigorosas pra gente são uma questão de sobrevivência.
As frases são patéticas e devem agradar àquela fatia ignorante (no sentido de ignorar o real caráter da política do Brasil) do eleitorado.
Infelizmente tem muita gente letrada que acha o máximo as máximas lulistas. Eu acho patéticas!
Abraço!
Sempre pode piorar: o Lullita agora tá com essas manias de botar metáfora sexual nas frases, deixando um pouco as sobre futebol de lado. Ele falou sobre "achar o ponto G" que me doeu os tímpanos.
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