O filme Meu Nome Não É Johnny, de Mauro Lima, de certa forma ajuda a complementar o grande sucesso do cinema nacional no ano passado (Tropa de Elite, de José Padilha). Afinal, enquanto o longa estrelado por Wagner Moura aborda a questão da criminalidade e do tráfico de drogas sob a visão do batalhão policial responsável por combatê-los, o filme que tem Selton Mello como protagonista fala sobre o assunto pela ótica de quem gera (e, neste caso, também sofre com) o problema.
Mello interpreta João Guilherme Estrella, jovem de classe média alta do Rio de Janeiro, que de simples baseados consumidos entre uma onda e outra como surfista, progrediu para dependente químico e, daí em diante, tornou-se um dos maiores traficantes cariocas entre os anos 80 e 90 - exemplo de bem-nascido que enveredou pelo mundo do crime. Na verdade, é um caso de traficante-consumidor-gastador - com destaque para esta última característica (com direito a uma excursão pela Europa, resultado de "negócios" internacionais, mostrando o quanto ele estava deslumbrado com aquilo tudo), criando um círculo vicioso (com o perdão do trocadilho) em sua vida, fazendo com que fosse preso em meados da década passada.
O filme mostra com detalhes a ascensão, o apogeu e a queda de Estrella, com cenas fortes mas também com alguns momentos de humor - como a velhinha (interpretada por Eva Todor) que, para disfarçar a remessa de cocaína para João Guilherme, chama a droga de "ambrosia", e também a tradução "adaptada" feita pelo mesmo Estrella entre os presidiários de sua cela e os africanos também detidos. Momentos de relaxamento no meio de uma história tão pesada.
De todo modo, é um filme bem produzido que mostra que é possível, sim, recuperar alguém que sofre de um problema tão grave. Basta lembrar que trata-se de uma história real, e que Estrella hoje é produtor musical.
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