31.1.08

A TÊNUE FRONTEIRA ENTRE A FESTA E AS DORES DA HISTÓRIA



A apenas três dias do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, a Unidos do Viradouro recebeu ordem judicial para desmontar um carro alegórico que representava o Holocausto nazista na Segunda Guerra Mundial. Era uma cena forte: o carro tinha esculturas de cadáveres empilhados, exatamente como havia nos massacres de judeus, ciganos e demais minorias étnicas, causados pela insana política de "pureza racial" de Hitler.

O próprio ditador nazista, aliás, acabou sendo o grande fiel da balança, no meio dessa polêmica toda. Pensava-se que não haveria qualquer destaque no carro alegórico, até que a ficha técnica do desfile veio à tona - e nela estava previsto que o carro teria um único destaque, representando o líder alemão. A escola havia determinado que o destaque teria que estar sério e quase que imóvel durante o desfile, mas de nada adiantou.

O carnavalesco Paulo Barros afirmou que a abordagem de protesto contra a intolerância e o racismo que pretendia fazer usando a alegoria seria mais aceita se fosse feita por outra manifestação cultural que não um desfile de escola de samba - o que é verdade. O Carnaval carioca, há anos, é palco de denúncia contra diferentes formas de preconceito e humilhações de ordem étnica, como a escravidão, por exemplo. Porém, também é visto por muitos como algo que não se possa levar a sério, o que é totalmente errado. Pra mim, o Carnaval em suas diferentes vertentes, desde que conduzido com responsabilidade, é uma manifestação cultural que está há tempos na vida dos brasileiros.

Por outro lado, é muito difícil que algo que tenha ocorrido há menos de um século (algo ainda recente, se comparado com a época da escravidão) seja visto no Carnaval sem polêmicas. Pelo visto, a sociedade ainda não está de todo preparada para ver um assunto como o Holocausto nazista ser representado na Avenida.

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