DE BOAS INTENÇÕES...

Muito boa, louvável até, a intenção do presidente norte-americano Barack Obama de reestabelecer relações com o Irã. Afinal de contas, oito anos de George W. Bush na Casa Branca fizeram crescer ainda mais o abismo entre Ocidente e Oriente. Mas, como diz a famosa frase, de boas intenções o inferno está cheio.

Apesar de ter recebido relativamente bem as declarações de Obama, o regime religioso iraniano (que é quem manda no país de fato) não me parece nem um pouco disposto a dialogar com o Ocidente, pelo menos a médio prazo. As passadas e documentadas declarações polêmicas e belicistas do presidente Mahmoud Ahmadinejad não serão esquecidas de uma hora para outra, apesar das eleições presidenciais que serão realizadas no país este ano. Seja qual for o vencedor, ele certamente terá que se submeter às vontades dos aiatolás que comandam o Irã há 30 anos.

Além disso, parece-me ingênuo da parte de Obama (que, disposto a exorcizar a passagem de Bush a qualquer custo, chega a se aproximar de regimes como o da Venezuela de Chavez) imaginar que simples rodadas de conversações irão sustentar a paz no Oriente Médio. Desde que assumiu o cargo, Obama aparentemente se espelha no ex-presidente Jimmy Carter (1977-1981), conhecido pelo histórico acordo de paz de Camp David, em 1979, entre o primeiro-ministro israelense Menachem Begin e o presidente egípcio Anwar Sadat, que fez Israel devolver a Península do Sinai ao Egito depois de doze anos. Por outro lado, Carter afrouxou-se no caso da própria Revolução Islâmica Iraniana, e principalmente no sequestro à embaixada norte-americana em Teerã naquele mesmo ano, que só terminou no último dia de seu governo, quando foi sucedido por Ronald Reagan. Atualmente, Carter se dedica à defesa da "causa palestina" - recebendo polpudos petrodólares árabes para isso, o que desqualifica qualquer coisa que ele diga.

Sei não, mas às vezes tenho a ligeira impressão de que Obama vai terminar seus dias como Carter. Espero estar errado.