A incursão da Polícia Militar do Rio na Ladeira dos Tabajaras e no Morro dos Cabritos, na Zona Sul carioca, é mais um tijolo que a Lei coloca numa imensa construção: o reestabelecimento da paz e da ordem na cidade, ainda que seja um trabalho de longuíssimo prazo. Isso se iniciou com as operações na Cidade de Deus e no Morro Santa Marta que, por ora, não têm mais problemas com o tráfico.
Os traficantes expulsos das favelas ocupadas pela polícia, evidentemente, invadem novas favelas, duelam com os traficantes lá existentes e levam terror aos moradores do morro e também do asfalto. Foi o que houve nesta semana na Zona Sul carioca, onde há maior renda, maior valorização e maior possibilidade de algo virar notícia. É bom que isso aconteça para que saibamos o que está acontecendo, para que possa ser mostrada a real dimensão do problema da falta de segurança. Assim como a crescente favelização da cidade, outro problema sério.
Agora, um fato raro que deve ser registrado: o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, voltou a responsabilizar o usuário de drogas pelo estado de violência que vivemos. Tem toda a razão. De fato, assim como os traficantes e fornecedores, os usuários também têm uma enorme parcela de culpa. Enquanto houver um narizinho nervoso e pessoas dispostas a cometer, comprar e consumir ilegalidades (isso passa por mercadorias roubadas e pirataria), o estado de violência e insegurança permanecerá. Deveria haver uma campanha ostensiva e convincente de conscientização sobre isso.
Todos temos que fazer nossa parte, da sociedade ao governo.
Um comentário:
Daniel, esse assunto, da co-responsabilidade de usuários é controversa. Para mim inclusive, que ainda não formei opinião final sobre o assunto. Falo como leigo, e não usuário.
A criminalidade decorrente da proibição, e por conseguinte da repressão ao ilícito, é fundada exatamente na forma a lei, e como ela é aplicada.
Veja-se o caso americano, da Lei Seca, que fez florecer o período de
maior banditismo, violência e corrupção da história americana!
Guerras entre gangues disputando áreas de influência, (a exemplo do que ocorre hoje nos morros e nas periferias das cidades) fizeram a fama de "gangsters", "famiglias" e de filmes de Hollywood que imortalizaram capos, consiglires, e "godfathers".
Foi acabar com a proibição da venda e consumo do álcool, que trouxe o fim dos Capones da vida!
Ou seja, a criminalidade vivia, nesse período, da proibição imposta por lei!
Por essa e muitas outras razões, é que defendo a DISCUSSÃO da lei. Leis, não são perfeitas por definição. São instrumento de manutenção de certa ordem social, aplicadas a determinados momentos históricos, e "funcionam", quando funcionam, se você me entende...
Lembre-se que no Brasil, por exemplo, até o "biquini" já foi proibido por lei (de Jânio Quadros quando Presidente).
Ou seja, dizer que o usuário é culpado parece ( veja bem, eu disse parece) ser uma simplificação, um reducionismo meio inconsequente de quem não se aprofundou muito na questão!
Em tese, proibir tudo o que faz mal, seria o paraíso da humanidade. Mas será isso que queremos?
O que virá depois das droga, do álcool, do cigarro?
A proibição do colesterol, da carne vermelha, do açúcar, da soja transgênica?
São apenas reflexões, de quem TAMBÉM não sabe qual seria o caminho ideal, para ao mesmo tempo reduzir a criminalidade, e manter as liberdades individuais.
abs
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