As últimas eleições do século XX prometiam ser as mais equilibradas em muito tempo no Rio de Janeiro. Vários fatores em anos anteriores contribuíam para isso.
Derrotado por Anthony Garotinho (PDT) na eleição para governador do estado, dois anos antes, o ex-prefeito Cesar Maia queria voltar ao comando da cidade. O então prefeito, Luiz Paulo Conde, vinha tendo boa aceitação popular - tanto que o então deputado estadual Sérgio Cabral Filho (que trocara o PSDB pelo PMDB no ano anterior) desistiu de uma candidatura a prefeito, na qual ele teria muitas chances de se eleger, para apoiá-lo. Ou seja, os dois primeiros colocados nas eleições municipais anteriores, desta vez, estavam juntos. Uma aliança aparentemente imbatível, muitos pensavam. Pois é... Só faltou combinarem com o ex-prefeito.
Pouco tempo após a derrota nas eleições estaduais de 1998, Cesar e Conde se desentenderam, o que causou a saída de Maia do PFL e sua adesão ao PTB de Roberto Jefferson. O partido trabalhista, depois da Era Vargas, da ditadura militar (quando teve suas atividades suspensas) e da abertura política (quando foi recriado pelo grupo de Ivete Vargas, que derrotou o grupo de Leonel Brizola, que mais tarde criaria o PDT), nunca teve muita relevância no cenário político brasileiro, e no Rio não foi muito diferente. Portanto, a filiação de um forte nome como o de Cesar Maia acabaria por ser um alento para os petebistas, esperançosos em, finalmente, crescer num grande reduto político como o carioca.
Mas a luta não seria fácil. Desde o início da campanha de 2000, Conde era o líder absoluto das pesquisas de intenções de voto. Enquanto isso, Cesar Maia se engalfinhava pelo segundo lugar com a petista Benedita da Silva (vice-governadora na época), derrotada por ele no segundo turno oito anos antes. Como em 1996, havia 14 candidatos à prefeitura do Rio - entre eles, nomes experientes como o ex-governador Leonel Brizola (PDT), tentando reverter um pouco sua inevitável decadência política, que culminaria no seu fracassado projeto de se eleger senador, em 2002; incomuns como Alexandre Cardoso (PSB), que tentara se eleger prefeito de Duque de Caxias em 1996, e tentaria novamente fazê-lo em 2004; e ilustres desconhecidos como Gilberto Ramos (PPB), que foi traído descaradamente por um correligionário: o então deputado federal e futuro presidente do Vasco, Eurico Miranda, que declarou apoio a Conde.
Ligeiro momento pessoal: enquanto rolava o fim da campanha do primeiro turno, eram realizados em Sydney, na Austrália, os Jogos da XXVII Olimpíada da Era Moderna. A campanha brasileira foi um fiasco (depois de 24 anos, o Brasil não ganhou nenhuma medalha de ouro) e a cerimônia de encerramento foi realizada no dia da eleição, 1º de outubro. Varei a madrugada assistindo o último dia dos Jogos pela TV - quem me conhece, sabe que a minha tara pelas Olimpíadas não é segredo pra ninguém - e, logo depois da cerimônia de encerramento, fui votar. Eram cerca de oito horas da manhã. Pesei os prós e contras de cada candidato e optei por Cesar Maia. Na época, ele era visto como um bom administrador - a campanha dava ênfase a isso -, o que pesou na decisão. Para vereadora, votei em Patrícia Amorim, do PMDB. Deu certo: com mais 24.650 votos, ela foi eleita, sendo a segunda mais votada de seu partido.
Na eleição para prefeito, como esperado, Luiz Paulo Conde (PFL) ficou em primeiro lugar na primeira votação, com 1.124.915 votos (34,69% dos votos válidos). Cesar Maia (PTB) ficou com 747.132 votos (23,04%), seguido bem de perto por Benedita da Silva (PT), com 733.693 votos (22,62%). Ou seja: o segundo turno seria entre dois ex-aliados políticos. Afundado em sua cada vez mais crescente irrelevância política, Leonel Brizola (PDT) ficou em quarto, com 295.123 votos (9,10%). A curiosidade fica por conta do último colocado, Paulo Sérgio Ribeiro de Pinho, do então novato PCO: apenas 555 votos, 0,01% dos votos válidos. Nunca um candidato à prefeitura do Rio obteve tão poucos votos. Seria o início da trajetória de pífias votações obtidas pelos candidatos do eternamente nanico Partido da Causa Operária.
Pois bem: era a hora da verdade. Luiz Paulo Conde e Cesar Maia, o ocupante e o ex, disputariam o segundo turno das eleições municipais de 2000 no Rio de Janeiro. Como o previsto, Conde começou bem nas pesquisas; porém, logo depois, as coisas começaram a se equilibrar. A campanha foi bem agressiva, com acusações de ambos os lados, mas Conde mantinha a dianteira - ainda que por pouco - mesmo assim. Até que uma frase infeliz, dita por Conde num debate em uma rádio, começou a fazer sua campanha ruir. Falando a jornalistas, o então candidato à reeleição disse "mentir menos" que Cesar. Tudo que um candidato à prefeitura, numa campanha bem disputada, não precisaria falar. Nem precisa dizer que Cesar aproveitou isso.
O resultado viria no segundo turno, em 29 de outubro. Numa apuração emocionante, Cesar Maia foi, pela segunda vez, eleito prefeito do Rio de Janeiro. Obteve 1.610.176 votos (51,06% dos votos válidos), enquanto Conde conseguiu 1.543.327 votos (48,94%). A eleição de Cesar abriu caminho para sua volta ao PFL, conseguida logo após a saída de Conde do partido, no ano seguinte.
Mesmo tendo sido derrotado, Conde obteve certa notoriedade política, ainda que discretamente. Filiou-se ao PSB, juntamente com o grupo do então governador Garotinho. Em 2002, elegeu-se vice-governador, graças à eleição de Rosinha Matheus como governadora do estado. Com os Garotinhos e seu grupo, filiou-se ao PMDB, onde aderiu ao grupo de Cabral (que, àquela época, era senador) e concorreu novamente à prefeitura, em 2004. Mas isso é assunto pra outro texto.
Um comentário:
Boa retrospectiva, péssimas lembranças.
Postar um comentário