1.10.10

2006: O medo venceu a razão... e a omissão

As eleições de 2006 poderiam ter começado a ser decididas em 2005, quando o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou um esquema de corrupção dentro do governo Lula. O chamado mensalão consistia em pagamento mensal a deputados para votar a favor dos interesses do governo. Vários integrantes do governo federal caíram (como o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, braço direito de Lula e muito cotado na época como seu sucessor), dissidentes do PT formaram um novo partido (o PSOL)... Apenas a oposição não parece ter aproveitado o embalo. O preço seria pago no ano seguinte.

Oito candidatos à Presidência entraram em campanha, entre eles o presidente Lula, que tentava a reeleição - o PT contava com o apoio do recém-fundado PRB (partido do vice José Alencar e pertencente à Igreja Universal) e do PCdoB (o único partido, além do próprio PT, a apoiar Lula em todas as eleições presidenciais). Seus principais adversários eram o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB/PFL), a senadora alagoana Heloísa Helena (do PSOL, que conseguiu com que o radical PSTU participasse de uma coligação pela primeira vez em sua história; além disso, contou com o apoio do PCB, o que fez com que houvesse pela única vez até hoje uma frente ultraesquerdista numa eleição presidencial) e o senador brasiliense Cristóvam Buarque (PDT).

Entre os nanicos, a curiosidade estava com a candidata do PRP, Ana Maria Rangel: o TSE aprovou sua candidatura, mas ela se lançou candidata... contra a vontade do próprio partido! Depois, houve acusações de parte a parte: o partido pediu a exclusão da candidatura e chegou a ameaçar expulsá-la do partido, enquanto a candidata acusou o presidente do partido de pedir dinheiro a ela para que se candidatasse. Seu programa entrou no ar quando a campanha estava quase no meio e limitou-se a apresentar a candidata e sua família. Mesmo assim, Ana Maria Rangel conseguiu um surpreendente quinto lugar, com 126.404 votos (0,13%), mais do que José Maria Eymael (PSDC) e Luciano Bivar (PSL) juntos. O outro candidato, Rui Costa Pimenta (PCO), foi punido pelo TSE com a anulação de todos os votos a ele dados por irregularidades na prestação de contas na eleição anterior.

À medida em que a campanha avançava, ficava claro que o carisma de Lula era mais forte do que quaisquer escândalos que atingissem seu governo. Não importa o tamanho do problema: o presidente sempre tem um eleitorado cativo. Talvez seja creditado à ausência de Lula dos debates da TV e ao escândalo dos dossiês antitucanos o fato de ter havido segundo turno: o presidente conseguiu na primeira votação 46.662.365 votos (48,61% dos votos válidos), enquanto Alckmin teve 39.968.369 votos (41,64%). Heloísa Helena teve 6.575.393 (6,85%), e Buarque, 2.538.844 (2,64%).

O segundo turno foi, digamos, desigual: um governo que impôs o medo de que os adversários privatizassem as estatais caso eleitos, com uma oposição que parecia envergonhada com as conquistas do mandato anterior, aceitava o jogo da situação e praticamente entregou a eleição de mão beijada ao governo. O ápice foi a imagem de Alckmin quase fantasiado de garoto-propaganda do Banco do Brasil. Claro que não poderia mesmo ter dado certo: o ex-governador de São Paulo conseguiu menos votos no segundo turno que no primeiro (37.543.178, 39,17% dos votos válidos). Lula acabou reeleito com 58.295.042 votos (60,83%).

No estado do Rio, onze candidatos a governador tentaram o Palácio Guanabara. Desgastada com um governo muito criticado (talvez o pior desde a fusão de 1975), Rosinha Matheus decidiu não tentar a reeleição. Assim, lembrando a eleição presidencial de 1989, todos os candidatos se declararam oposição - inclusive o do próprio partido (PMDB), o senador Sérgio Cabral Filho (apoiado por PP, PTB e várias pequenas agremiações). Entre os principais adversários do favorito candidato, estavam o senador Marcelo Crivella (PRB), o veterano político (e rejeitado pelo próprio partido, que decidiu apoiar Garotinho, em 1998) Vladimir Palmeira (PT), o deputado federal (e então crítico de Lula) Eduardo Paes (PSDB), o futuro ministro (e presidente nacional de seu partido na época) Carlos Lupi (PDT) e o jornalista Milton Temer (PSOL, que repetiu a coligação nacional com PSTU e PCB). Mas uma surpresa cresceu na reta final e chegou ao segundo turno: a juíza e deputada federal Denise Frossard (PPS, apoiada por PFL e PV), cotada para se candidatar a prefeita do Rio dois anos antes e rejeitada pelo seu partido na época, o PSDB, que preferiu apoiar a reeleição de Cesar Maia (PFL). Frossard acabou em segundo lugar com 1.965.003 votos (23,8%), enquanto Cabral foi o primeiro colocado com 3.422.528 votos (41,4%). No Senado, Francisco Dornelles (PP), da coligação de Cabral, foi eleito, derrotando a favorita Jandira Feghali (PCdoB).

Começou a campanha do segundo turno e também a formação daquilo que conhecemos na política fluminense nos dias de hoje. Primeiramente, Cabral (que até então estava neutro na eleição presidencial) declarou seu apoio a Lula no segundo turno. Depois, o tucano Eduardo Paes, contrariando recomendação do seu partido na época (que apoiou Frossard), declarou apoio a Cabral, dizendo recusar-se a apoiar uma candidata apoiada pelo PFL, partido de seu ex-aliado e desafeto Cesar Maia. Isso tudo, combinado a uma declaração infeliz da candidata Frossard, de que votaria nulo na eleição presidencial depois de ver Alckmin (apoiado informalmente pelo PPS) recebendo o apoio de Anthony Garotinho e família, foi fatal para as pretensões da juíza. No segundo turno, Cabral foi eleito com 5.129.064 votos (68%), enquanto Frossard conseguiu 2.413.546 (32%).

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