Essa eleição presidencial brasileira anda bem estranha, para dizer o mínimo. Neste segundo turno, a candidata Dilma Rousseff (PT), primeira colocada no primeiro turno com quase metade dos votos válidos, anda atirando na candidatura de José Serra (PSDB) como se estivesse atrás nas pesquisas, quando todos os institutos indicam exatamente o contrário. Seu programa de TV vive comparando o governo Lula com o de FHC, afirmando que este foi melhor em todos os aspectos (notadamente o social) do que o do antecessor. Um desavisado que veja o programa de Dilma seria capaz de afirmar que a eleição do dia 31 se tratará da luta do Bem (ela própria) contra o Mal (os "outros") que ditará os destinos do país nos próximos quatro anos, não de uma disputa presidencial.
Não é difícil detectar os motivos da intempestiva e agressiva campanha da candidata petista neste segundo turno. Ela, provavelmente, estava levando a campanha no piloto automático no decorrer do mês passado, alentada pelos 30 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, pela crise que acometia a candidatura tucana e, principalmente, pela possibilidade de ser eleita já no primeiro turno - muito mais por causa da alta popularidade do presidente Lula do que por seus próprios méritos. O fato de Dilma ter tido menos da metade dos votos válidos para presidente no último dia 3 (devido, entre outros fatores, ao chamado "efeito Marina", visto que a candidata verde ganhou muitos votos de indecisos nos últimos momentos) a acordou para a dura realidade, e ainda fez renascer a candidatura de Serra, que estava para baixo nas semanas anteriores à primeira eleição. Aos poucos, o eleitorado parece abrir os olhos para o programa pouco convincente de Dilma, assim como para a sua "luladependência" nesta campanha - nada garante que será diferente caso ela seja eleita e tome posse no primeiro dia do ano que vem.
Esta é a sexta eleição presidencial pós-redemocratização. Das cinco anteriormente realizadas, três delas também foram decididas no segundo turno. Em todas elas (1989, 2002 e 2006), o primeiro colocado no primeiro turno (Collor na primeira e Lula nas demais) foi eleito presidente. A possibilidade de algo inédito acontecer neste ano existe, já que nota-se que Serra está em tendência de subida, ao mesmo tempo em que Dilma parece cair. Isso explica a agressividade petista (lembrando os velhos tempos em que o PT ainda era oposição) numa eleição em que antes navegava em velocidade de cruzeiro, rumo a uma consagradora vitória que parecia líquida e certa. Mas pode muito bem resultar num histórico naufrágio eleitoral.
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